domingo, abril 27, 2008

NADA É PIOR QUE O FIM


Por Letícia Vidica

Eu sempre odiei levar foras, mas odeio mais ainda dar o fora. Como é horrível terminar um relacionamento. Acho que não inventaram nada pior. Devia ser tudo mais fácil. As pessoas deveriam se olhar e dizer ‘não quero mais, tudo bem?’ e cada um deveria seguir sua vida sem maiores constrangimentos, sem choro nem vela. Infelizmente, não é assim!

Já levei muitos foras na vida, confesso! Foras de diversos tipos: leves, do tipo ‘é melhor assim’ que você fica meio mal, mas é só o cara virar as costas que você já telefona para uma amiga, como se nada tivesse acontecido, e parte para a balada. Sutis, do tipo educado, mas sincero. ‘Não é nada contra você, mas...’ Mas o quê? Esses deixam a gente meio encaraminholada por um tempo, mas nada que um bom chope e uma reunião com as amigas não cure. Graves, daqueles que você passa uma semana na cama, chorando e que não esquece jamais.

Nem gosto de lembrar dos foras que já levei, mas como diz alguém por aí ‘tudo que entra,sai’ e muitos já saíram de uma forma ou de outra da minha vida. Alguns deixaram marcas que a brisa apagou, outros deixaram eternas tatuagens que, mesmo que eu tente esconder, sempre arranjam um jeitinho de aparecer.

Porém, tenho que combinar: a coisa que eu mais odeio é dar um fora. Não um fora num ficante ou num cara que não presta, isto eu tiro de letra. Mas dar um fora num cara legal, aquele cara que era tudo que você sempre sonhou, porém na sua loucura de mulher, ele não tem a menor graça quando surge na sua vida. É legalzinho, mas não rola!

O César foi um desses legaizinhos que não rolou. Eu estava solteira fazia já uns 3 meses. A carência, a vontade de ouvir uma voz masculina do outro lado do telefone, de Ter alguém para te levar para passear...já começava a dar sinais cada vez mais fortes. Numa dessas, eu conheci o César. Num daqueles lugares e dias inesperados. A Paulinha, minha amiga, tinha um churrasco na empresa dela e não queria ir sozinha. Eu não estava nem um pouco afim, além do mais estava chovendo e o bendito do sítio ficava a umas duas horas de viagem, mas o que a gente não faz por uma amiga?! Eu fui!

Não conhecia ninguém e tive que ficar dando risadinhas daqueles piadinhas de empresa que só quem trabalha entende. Foi quando, resolvi dar uma volta pelo local e encontrei o César. Ele estava sentado frente a piscina e começamos a conversar, sobre o tempo ou coisa parecida. Quando me dei conta, já havíamos trocado telefone e a festa também já tinha acabado.

O César era o tipo do cara certo que aparece na hora errada. Ele era gerente administrativo da empresa em que a Paulinha trabalhava, 35 anos, divorciado (pra variar), morava sozinho, falava 3 línguas, conversava sobre qualquer coisa e sabia agradar uma mulher. Saímos pra jantar algumas vezes e, aos poucos, percebi o quão especial que ele era. Ele era o genro que mamãe pediu a Deus e o pai ideal para os meus filhos, com um detalhe: eu nunca quis Ter filhos.

A gente se dava muito bem. Eu gostava de MPB, ele também. Eu curtia ficar horas, conversando sobre política, ele também. Se eu não queria sair, ele entendia. Alugava um DVD, comprava umas pizzas e passava a noite toda comigo. Nossos gostos, ideais, pensamentos e tudo o mais era igual. A cada dia que passava, o César se envolvia mais e mais comigo, mas eu não sei por quê, achava que ainda faltava algo...

- Você está louca? Como assim não quer mais ficar com o César?


- Não sei, Paula...ele é legal, mas...

- Mas nada! O César é perfeito. Você não tem noção do quanto aquele homem é disputado naquela empresa e ele não dá mole para ninguém. É Diana pra cá, Diana pra lá e você me diz que não quer mais?

- Eu sei que ele é um cara legal, bonito, inteligente, mas falta alguma coisa...

- Falta ele sumir da sua vida,não é? Se ele não te ligasse, sumisse, te traísse, te tratasse com desprezo...você ia gostar, não ia? Eu não entendo nós mulheres!

- Não diga isso, Paula. Eu estou confusa, você acha que é fácil abrir mão assim...

- Então, não abre! Olha eu não te digo mais nada. Pensa bem, porque essa forma já foi jogada fora viu?

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Só eu sei, o quanto ensaiei para dizer que não queria mais. Porém, quando percebi que já estávamos praticamente namorando e quando ele veio com um papo de que queria que eu conhecesse a mãe dele, eu decidi cair fora.

- Olha César, eu não quero te magoar, mas acho que a gente está indo rápido demais com as coisas...

- Como assim rápido? Já fazem oito meses que a gente está junto!

- Eu sei, mas acho que não estou preparada pra encarar um relacionamento assim tão profundo como o nosso.

- O que eu te fiz? Eu fiz alguma coisa errada?

- Pelo contrário, você só fez a coisa certa. O problema não é você, é comigo.

- Então me diz o que eu posso fazer pra te ajudar?

- Nada. Você não pode fazer nada. Eu acho melhor a gente se afastar.

- Mas, Diana...ontem, estava tudo tão bem...eu achei que você estava gostando de mim.

- E estou mas...não sei, estou confusa e não quero te magoar

- E você acha que eu vou ficar bem sem você?

- César, não complique as coisas.

- Quem está complicando aqui é você...eu sei muito bem o que eu quero!
...

- Vamos tentar, Diana? Eu tinha tantos planos pra gente

- Nossa, mas a gente se conhece há apenas 8 meses?

- Só que você me balançou de uma forma que nem minha ex-mulher foi capaz...

- César, deixa eu pensar...vai ser melhor assim.

- Tudo bem, eu não vou mais forçar a barra. Você sabe onde me encontrar. Quando tiver uma resposta, é só ligar. Estarei esperando...tchau!

Acho de verdade que ele realmente esperou...o problema é que eu não liguei. Fiquei sabendo pela Paula que ele sofreu bastante e que, três meses depois, foi transferido para uma filial da empresa no Rio de Janeiro e nunca mais nos falamos. O César era um cara legal, espero que ele tenha encontrado alguém capaz de fazê-lo feliz porque infelizmente eu não pude. Ai, meu deus, será que não vou mais achar nenhum César por aí? Só que se for mandar, manda na hora certa tá? Será que estou pedindo demais?

Papo de calcinha: Quem já não conheceu aquele cara perfeito – que você tanto pediu a Deus – mas quando ele apareceu não rolou? Desabafe : lericiav@gmail.com

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2 comentários:

Bruno disse...

Achei esse blog no google, por acaso, e comecei a ler. Achei bem interessante, os textos são bem escritos e bacanas mesmo.

Mas esse post...ptz...que absurdo! Sua amiga Paula tem toda razão, faltou o cara te tratar mal, ser mais canalha! É duro mas é real: mulher detesta ser respeitada e bem-tratada 100% do tempo.

**Gi** disse...

Passei pela mesma situação que a Diana, mas com um diferencial: eu dei uma chance. Deu tão certo que casei com a pessoa :-)

Fui bem naquela, "deu certo deu, se não deu, parto pra outra". Já tinha sofrido demais com um "relacionamento" anterior e sabia que não tinha mais nada a perder. Foi aí que decidi agarrar a chance. E valeu a pena ^_^