domingo, novembro 18, 2012

ENCONTRO DE CASAIS - PARTE 2



POR LETÍCIA VIDICA


Acordei ainda um pouco tonta e tentando recompor a minha consciência sobre qual dia era, onde eu estava e que horas seriam. A imagem ainda embaçada me revelava vagamente de que aquele não era meu quarto. Porém, rapidamente, a imagem daquele Deus grego sem camisa aos pés da cama me ajudou a recompor a memória. Depois do jantar quase fatídico da noite passada, eu tinha dormido na casa do William. E, agora, deliciosamente ele me olhava aos pés da cama, descabelada, e com algo que parecia ser um café da manhã.

- Bom dia, dorminhoca!

- Que horas são? - respondi apavorada, procurando o meu celular - Meu Deus, perdi a hora. Eu já devia estar em casa.- disse ao ver que me celular marcava dez e meia da manhã.

- Nossa e para quê tanta pressa? O que você tem de tão importante para fazer na manhã de um domingo que nem pode tomar café comigo?

Oi?! Aquilo tinha sido alguma espécie de declaração de amor, xaveco ou algo assim? Só sei que me desarmei na hora e abri um belo sorriso para ele. Rapidamente, ele se achegou e me deu um beijo sufocante esfregando aquele peitoral espetacular sobre mim.

- Bom dia né? - respondi sem graça depois da minha grosseria - Você não precisa se incomodar. Eu só vou lavar o rosto e vou para casa. Não quero incomodar. - eu disse ameaçando levantar da cama.

- Jamais. Não admito isso. - disse me recriminando - Afinal, não é todo dia que tenho uma deusa assim na minha cama. - jogou mais um de seus xavecos. Ele era bom nisso.

- Será? Aposto que ontem tinha uma bela deusa aquecendo sua cama que até te fez esquecer do jantarzinho comigo. - alfinetei.

- Nossa! E eu achando que já estava perdoado... - dizia ele fazendo beicinho.

- Mas está. Foi apenas uma constatação. Quem sou eu para cobrar você né? - insinuei levantando da cama e me dirigindo ao banheiro.

- Você é uma tremenda gata gostosa que eu quero comer todinha agora. - uau! Que homem insaciável!

Era incrível como eu também desejava aquele homem. Desde a primeira vez que eu vi o William, foi coisa de pele. Obviamente, eu não fiz nenhum doce e deixei ele me espremer contra a parede, beijar o meu pescoço, arrancar o que ainda sobrava da minha roupa e me comer no chão do quarto dele. Um belo café da manhã, diga-se de passagem.

- Você costuma brindar as suas deusas sempre com esse tipo de café da manhã? - eu disse, de propósito, para instigá-lo.

- Você ainda não viu nada, baby. Poucas tem esse privilégio. - disse ele se espreguiçando depois da adrenalina e esparramando aquele biceps maravilhoso para mim.

- Bom, hora de ir para casa né? - eu disse recolhendo minhas roupas pelo chão.

Antes que ele respondesse, fomos interrompidos pelo celular do William que tocava. No início, achei que podia ser uma das deusas dele ligando, mas depois pelo tom dele percebi que era o Tavinho.

- Acho que você não vai se livrar de mim tão rápido assim, não. - dizia ele me abraçando por trás e me dando um beijo na nuca, depois de desligar o celular. - Tavinho acabou de ligar e tem a parte dois. Ele vai fazer um churras lá na casa dele.

- Churras? Nossa, o Luis Otávio está mudando mesmo hein? - espantei com o bom humor e o sentimento comunitário dele. Em outros carnavais, ele já teria dispensado a Lili para traçar a próxima.

- Pois é. Uma hora todo mundo muda. Bora para um banho? - disse William se despindo na minha frente e me deixando um pouco tonta e excitada.

Oi?! O que foi esse comentário? Alguma espécie de confisão? Do tipo, gata, eu também era um garanhão e me regenerei?

****

Apesar de toda a minha relutância, não consegui convencer o William a me deixar ir para casa, tomar um banho decente no meu chuveiro e mudar de roupa. Ele bateu o pé e venceu essa batalha. Tive que tomar banho com ele e deixá-lo me levar até o meu apartamento sob muita cara feia.

Chegamos à casa do Tavinho de mãos dadas e todos logo nos olharam com sorrisinhos maliciosos. Tavinho foi o primeiro a alfinetar.

- E aí, Will, conseguiu domar a fera? - dizia ele dando um tapinha nas costas do amigo.

- Tavinho! Para de pegar no pé da Diana. - recriminava Lili

- Isso mesmo, Lili, acho bom ele mudar o foco porque se eu começar a falar dele... a coisa não vai ficar legal. - respondi a altura.

- Bem, que tal irmos agilizando o almoço, meninas? - era Betina quem abafava o caso, incrivelmente. Não é que o Dudu tá fazendo um bem para ela?

...

- Dona Diana, pode ir contando tudo e nos detalhes hein? - era Lili quem dava um tapinha na minha bunda, curiosíssima com o desempenho da minha noite passada.

- Resolveu garantir a sua sobremesa e parar de fazer doce? - era Betina quem queria confirmar.

- Não só garanti a sobremesa como o café da manhã também. - suspirei ao confessar a noite maravilhosa para as meninas.

- Ai, meu Deus, tá até suspirando é, nega? Pelo jeito, o gatão aí recompensou o atraso muito bem. - ria Lili.

- Olha, uma coisa eu tenho que confessar: ele sabe o que fazer viu? E muito bem!!! - ri também.

- Posso saber por que as mocinhas estão rindo tanto? - era Luis Otávio quem atrapalhava o nosso clube da luluzinha.

- Coisas de mocinhas, amor. - disse Lili dando um selinho na boca do amado.

- Esse é o meu medo. Bem, enquanto a minha orelha não arder! A gente tá indo comprar carvão e já volta ok?

- Não demora tá? - era Lili quem se melava toda para o amado.

- Vamos num pé e voltamos no outro. Aproveitem para continuar com as coisas de mocinhas... - alfinetava ele.

Voltamos a cozinhar e, obviamente, a fofocar também. Enquanto Betina descascava os legumes, confessava que tinha tido mais uma noite agitada com Dudu. O garotão estava no pique e não deu um segundo de paz a ela. As olheiras que Betina carregava não deixavam ela mentir. Por sua vez, Lili, que lavava o arroz, confessava que Tavinho tinha dado uma e depois caído em sono profundo e ela não tinha pregado o olho de raiva e também na esperança de que ele acordasse e terminasse o serviço, mas tinha sido em vão. E eu, comecei a ser sabatinada pelas meninas, enquanto fazia um vinagrete.

- Depois dessa noite maluca de amor, então, quer dizer que vai render? -perguntava Betina.

- Não sei, gente. O William é um cara legal, gostoso, transa bem, mas não me passa confiança. Meu sexto sentido diz que é melhor eu não me animar tanto assim.

- Lá vem você com o seu pessimismo e as suas confusões. - dizia Lili.

- Não é isso gente! É a segunda vez que eu vejo o cara. Hoje, mais especificamente, a terceira. E em todas as outras vezes, a gente transou, foi bom e só. O cara é um galanteador, galinha. Isso vocês não podem negar... como eu posso confiar assim?

- Ok se você não confia, mas bem que pode ir tirando uma casquinha. Um amigo colorido faz um bem danado. E acho que você precisa de um. Vai fazer bem para sua pele. Olha só para você! Parece até que saiu de um peeling.

Rimos com o comentário da Lili e continuamos a tagarelar sobre nossos possíveis relacionamentos e a preparar o almoço.

****

Almoço pronto e nada dos meninos voltarem. Começamos a ficar intrigadas e com a pulga atrás da orelha. Lili já tinha ligado um trilhão de vezes para Tavinho, mas só dava caixa postal.

- ONDE VOCÊ ESTAVA?! - berrou Lili quando Tavinho abriu a porta com Dudu se escondendo atrás para não levar bordoadas também.

- CALMA, Liliana! Não seja exagerada! - gritava ele - Eu demorei para encontrar um posto com carvão. Só isso.

- E o seu celular? -perguntava ela de braços cruzados - Por que não atendeu?

- Eu não ouvi tocar. Agora será que eu posso ir colocar a carne para assar?

- Só uma coisinha. - perguntei - Cadê o William? - perguntei ao perceber que ele não tinha entrado na casa.

- Ele recebeu uma ligação e disse que já vinha para cá. Parecia preocupado. Acho que mais um problema familiar. - dizia Dudu

- Mais um?! Quantos parentes ele tem afinal? - perguntei intrigada.

Dudu e Tavinho seguiram para a churrasqueira nos deixando intrigadas.

- Calma, meninas! Diana, relaxa! - dizia Betina.

- Agora entendem porque eu não confio nesse cara? Em menos de 24 horas, dois problemas supostamente familiares e me deixou de boba. Ele não me conhece... - peguei uma cerveja e fui bater as tamancas no sofá.

- Lili?! Vamos mudar esse bico? Não vamos estragar o clima do churrasco né, gente?

- Clima, que clima, Betina? Vai brigar com o Tavinho porque ele já estragou. Ele acha que eu sou uma idiota? Eu já cansei dos truques baratos dele. Não tá me custando nada meter uns bons chifres na cabeça dele. Não me dá atenção, vive cheio dessas historinhas furadas e ainda anda brocha. Tá merecendo! - bufava Lili de um lado a outro da sala.

- Então é isso que você acha de mim, Liliana? Que eu sou um bosta mentiroso e brocha?

O circo estava armado e o barraco do casal pimenta ia começar. Luis Otávio chegava na sala e flagrou o desabafo da Lili.

- Gente, acho que não é hora e nem lugar para lavar roupas sujas né? - eu dizia tentando acalmar os animos.

- Agora que começou eu quero que ela vá até o fim, Diana. Deixa a sua amiguinha falar. Continua, Lili? - Tavinho já começava a ficar alterado e ia se aproximando de Lili como cão raivoso.

- Calma, Tavinho! - era Dudu quem tentava amansar a fera.

- É isso mesmo, Luis Otávio. Eu estou cansada de você me tratar como uma idiota mimada. Acha mesmo que eu acreditei nessas historinha de não achar carvão? Confessa! Qual das suas piriguetes vocês foi visitar? Fala, fala!!! - ninguém segurava Lili quando estava brava.

- Acha mesmo que eu ia armar um churrasco na minha casa para as amigas da minha namorada se eu quisesse comer outra garota? Você mesma se tira de idiota, Lili! Vai continuar com a ceninha?! Eu que sou um idiota mesmo. Enquanto eu me preocupo em arrumar uma tarde agradável, você fica me difamando para suas amiguinhas. Quer dizer que não dou conta do recado? Tá insatisfeita é? Os incomodados que se mudem.

- É o que eu vou fazer mesmo. Para mim, esse churrasquinho já deu. Eu vou embora.

- Lili, Lili... - dizia Betina que saiu correndo atrás dela.

Fiquei paralisada olhando para a cara do Luis Otávio. Ainda estava desacreditada da cena.

- Não se sinta culpada, Diana. Pode ir também. Acho que a Lili vai precisar muito mais de você do que de mim. - Tavinho dava as costas desconsolado. Não sei por quê, mas tive dó dele.

****

Ao chegar no hall do prédio, trombei enlouquecida com William que chegava todo perdido e atrasado.

- Epa! Peraí, gata. Tá indo onde? - dizia ele ainda tentando me abraçar.

- Me larga! - empurrei ele - Você chegou tarde demais. Eu tenho que ir.

- Calma aí! - William me pegou pelo braço - Eu tive um problema. Você vai aonde? E o churrasco?

- Foda-se você e o seu problema. Ou melhor, leva ele para sua cama. O churrasco acabou para gente, mas acho bom ir consolar o Tavinho porque ele vai precisar.

Aproveitei a fúria da Lili e despejei nele. Saí correndo e deixei William com cara de idiota na porta do elevador. Por pouco não fiquei para trás, saí gritando atrás do carro da Betina que quase virava a esquina. Me joguei dentro dele e fomos em disparada para a casa da Lili, que só chorava de soluçar no caminho.

***

- Bebe essa água e tenta se acalmar! - eu dizia entregando um copo de água com açúcar para tentar acalmar os animos da Lili que só tremia.

- Eu mato aquele canalha! Como ele ousa me enganar daquele jeito? Vocês viram como ele me tratou na frente de vocês? - dramatizava ele.

- Mas você bem que provocou também. Vamos ser sinceras, Lili. - Betina trazia o tom da realidade.

- É, Lili! Não que eu queira defender ele, mas acho que o Tavinho estava sendo sincero. Você tinha que ver o olhar de cachorro sem dono dele quando você saiu da casa. - era minha sinceridade falando por mim.

- Esse olhar não me comove mais, Diana! Ai, meninas, me desculpe por estragar o churrasco. Vocês estavam tão animadas. Mas é que o Tavinho me tira do sério... e o Dudu? Coitado. E o William, chegou? Eu vi ele entrando correndo no prédio quando a gente saiu.

- Não se preocupa, Lili. O importante é você se acalmar. Terão outros churrascos e o William teve o que mereceu.

Passamos a tarde a acalmar e distrair a nossa ferinha indomável chamada Liliana. Apesar de saber o final da história, a gente sempre cuida dela. E, confesso, que nossa tarde de coisas de mocinha foi bem mais divertida.


PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ TEVE ALGUM ENCONTRO DE CASAL DESASTROSO? DIVIDA COM A GENTE!!! OU DÊ SUA OPINIÃO SOBRE O ENCONTRO DE LILI, BETINA E DIANA.

domingo, novembro 04, 2012

ENCONTRO DE CASAIS



POR LETÍCIA VIDICA


- Meninas, lembram daquele meu amigo que ia inaugurar o bistrô? - relembrava Lili enquanto nos refrescávamos largadas na varanda do meu apartamento em mais domingo quente em São Paulo. - Então, a inauguração vai ser semana que vem e a gente já tem mesa reservada!! – comemorava.

- Que tudo! Nada como ter amigas influentes. - completei.

- Mesa para seis! – retrucou Lili inesperadamente.

- Como assim, mesa para seis?! Você e Tavinho, Betina e algum dos pirralhos dela e eu e quem?! - perguntei desanimada com a falta de opção. - Eu agradeço o convite, mas eu não vou de vela hein? – bati o pé.

- Não seja dramática, Diana! Você não está tão jogada às moscas assim... - completava Betina enquanto se abanava debruçada ao parapeito da sacada.

- Ah não? E qual é a minha opção? – perguntei tentando trazer minhas adoradas amigas de volta à minha triste realidade: a solidão.

- Adivinha quem perguntou de você para o Tavinho essa semana?! Quem? Quem? – ela Lili fazendo um suspense para me agradar - O gato do William. - dizia batendo palminhas como um golfinho.

- William? Aquele amigo do Tavinho lá da praia? Nossa, ele ainda lembra de mim? - cocei os cabelos intrigada com a história. - Achei que, depois daquela noite caliente lá na praia, nossa história tinha acabado... – eu tinha certeza absoluto que aquilo não tinha passado de apenas um sexo sem compromisso.

- Enganou-se, bobona. E, claro, pedi pro Tavinho convidar ele também. Daí, fechou!! Jantarzinho romântico no bistrôzinho novo a seis. - era Lili quem encerrava o assunto.

***

Fazia tanto tempo que eu não tinha um encontro com uma pessoa diferente, que não fosse o Pierre ou o Pedro (os meus últimos fantasminhas camaradas), que tinha me esquecido de alguns detalhes básicos, como marcar cabeleireiro, manicure, depilação e, sem falar, na roupa perfeita.

A minha semana tinha sido tão atarefada que, se não fosse a minha personal dating Liliana Bittencourt, eu iria a esse encontro parecendo o diabo da Tasmânia.

- Lili, tem certeza que o William vai a esse jantar? - eu perguntava enquanto fazíamos a unha no salão no sábado de manhã.

- Ih, Diana, relaxa! Tá tudo certo. – respondia confiante.

- É que... sei lá, ele nem me ligou... não mandou uma mensagenzinha no Facebook... olha lá,hein? Você sabe que eu odeio forçar a barra Se ele não quiser ir, tudo bem. Eu vou ao bistrô em algum outro dia. – tentei sair pela culatra antes de passar carão.

- Hmmm... tá surtada, hein, Mona? - era Beto, meu cabeleireiro amado, que chegara para escovar meus cabelos. - Quem é o bofe?

- Betinho, dá um sossega leão na nega, por favor? - recriminava Betina que acabava de chegar no salão.

- E aí, Bê, vai levar quem? Até agora, você não me disse nada. - perguntava Lili curiosa.

- Lili, seremos cunhadinhas essa noite. O Dudu é meu quebra-galho fiel. Vou levar o irmão do Tavinho. Por isso, pode tacar pepino na minha cara porque eu preciso rejuvenescer uns 30 anos! - brincava Betina.

- Já vi tudo. A noite vai ser boa... ou melhor, promete. - dizia Beto - Mas quem é o bofe, Lady Di?

- Ai, Beto, é um amigo do Tavinho. A gente saiu, ou melhor, transou uma vez e só. Na praia. - eu dizia ainda um pouco embaraçada com a situação.

- Que dilicia! Mais uma noite de sexo selvagem e sem compromisso... quer coisa melhor? – dizia soltando um gritinho - Tá nervosa por quê? E o modelito? Tem que ir fatal hein?

- Não sei. - eu disse baixinho, esperando a onda de fúria que as meninas e o Beto soltariam sobre mim.

- Como assim?! Diana, a gente tem um jantar daqui a menos de seis horas e você não sabe o que vestir? - bufava Lili.

- Eu tive uma semana corrida, gente. Eu coloco qualquer vestidinho lá do guarda-roupa. - desbaratinei.

- Eu te proíbo de colocar qualquer vestidinho do seu guarda-roupa - era minha personal dating quem falava - Saindo daqui a gente vai em disparada para o shopping. Ai, ai, viu?!

Nem respondi mais nada porque em matéria de encontros, a Lili era mestra. E nada deixava ela mais nervosa do que um encontro mal planejado. Passamos a tarde na sessão beleza, rindo e fofocando com o Beto e depois partimos para o shopping.

*****

Depois de várias lojas, trocas e destrocas, chorinhos por descontos, roupas que não entravam, roupas que não combinavam, fila para o caixa, fila para o estacionamento... consegui comprar o meu modelito encontro. Claro que a Lili me pressionou muito a comprar aquele vestidinho roxo estilo Juju Panicat, mas até que eu curti o modelo piriguete. Como a gente já estava atrasada, para variar, fomos todas nos arrumar na minha casa.

- Gente, o interfone... alguém atende? - eu gritava do banheiro, enquanto terminava de modelar o meu cabelo com a prancha.

Do banheiro pude ouvir duas vozes masculinas, mas não escutei a terceira. Meu coração acelerou temendo ser o que eu pensava.

- Com todo respeito, quem é essa gata? - era Luis Otávio que me media e me elogiava ao me ver entrar na sala.

Nem retruquei o elogio porque estava mais preocupada em saber onde estava o William que não estava na sala ao lado do Dudu e do Tavinho.

- O Will vai direto. Ele teve um probleminha em casa e ficou de nos encontrar lá. - dizia Tavinho - Vamos?

Que beleza, hein? Respirei fundo e inventei que tinha esquecido uma coisa no quarto, afim de poder falar com a Betina.

- Betina, já vi tudo. O cara não vai. Eu estou me sentindo ridícula. Eu não vou mais. Podem ir. Desce e diz que me deu um piriri, sei lá, torci o pé no elevador... inventa qualquer coisa... mas eu não vou ficar de vela de sete dias.

- Diana, calma! O Tavinho não disse que o cara vai? Então, ele vai.. E eu não vou deixar você perder o dinheiro de todo esse investimento... Olha no espelho, mona. Tu tá um espetáculo!!! Sorte sua que eu não gosto da fruta hein? Se não, atacava você. - dizia Betina, rindo para tentar me distrair.

Descemos correndo porque a Lili já estava berrando lá da rua. Fui o caminho toda calada e com a cara colada no vidro porque o pentelho da Betina já dava sinais de hormônios exaltados, agarrando ela no banco traseiro do carro e a Lili estava com tique na mão boba toda vez que o carro parava no semáforo. A minha esperança era que, ao descer na porta do bistrô, o Will estivesse lá... mas não estava.

******

O lugar era realmente incrível. Meia-luz, ambiente num mix de áreas abertas e fechadas, decoração com flores e plantas tropicais. Apesar de ter, no máximo, umas quinze mesas, o lugar estava bombando.

- Estão gostando? - perguntava o dono do restaurante, amigo da Lili.

- Juquinha, isso aqui é um espetáculo!!! Pode crer que eu virei cliente cativa agora. Você vai se dar mal... - era Lili quem lambia o amigo.

- Querem que eu tire essa cadeira para não incomodar? - perguntava ele querendo tirar a cadeira vazia do Will que estava do meu lado. Mico total né?

- Não, não... meu amigo já está chegando - dizia Tavinho olhando para o relógio e para mim - um tanto quanto sem graça.

- Com licença, eu vou ao banheiro. - eu disse afim de fugir daquele lugar, mas a Lili e Betina foram mais rápidas no gatilho e me acompanharam.

...

- Vamos lá, podem dizer a verdade, eu aguento... foi tudo armação né? O cara não vem. - eu dizia andando de um lado a outro do banheiro.

- Calma, Diana. Ele está chegando. – era Lili que tentava me acalmar.

- Calma, calma... como calma? A gente já tá aqui há mais de uma hora e nada. Vocês querem que eu tenha mais calma? Não precisavam ter me deixado bancar a solteirona ridícula... - eu dizia num mix de raiva e quase choro. - Olha, eu vou sair. Se ele não chegar em 10 minutos, eu pego um táxi e vou para casa ok? E não me peçam mais calma!!

Saí do banheiro feito um trovão e tive que engolir a minha língua ao ver o William sentado na mesa. Respirei fundo e segui em direção a eles tentando conter a minha raiva. Percebi que eles também interromperam algum assunto.

- Não vou brigar se você me der um tapa. Pode bater. Mil perdões. Eu tive um problema de família. - dizia William levantando, me dando um beijo e puxando a cadeira para mim. - Eu jamais deixaria esse espetáculo de mulher me esperando.

- Que isso! Não tem problema. - mentira! Se ele soubesse que minha vontade era jogar aquele champanhe na cara dele, mas tudo bem. Vou relevar. Afinal, não é todo dia que eu tenho um encontro e que um gato sobe no meu telhado e me chama de 'espetáculo de mulher'.

- Ainda bem que você chegou, mermão! Elas já estavam fazendo o seu vodu lá no banheiro. – dizia Tavinho com sua sinceridade sem graça.

- Luis Otávio! – recriminava Lili – Não seja deselegante!!!

- Estou falando alguma mentira? O que três mulheres fazem em bando num banheiro? – respondia ele.

- Tudo bem. A Diana pode me espetar à vontade... – dizia William com uma segunda intenção na voz.

- Alguém está com fome? – eu perguntei tentando mudar o rumo da conversa.

- Vocês ainda não comeram nada? – perguntou William.

- Estávamos esperando você, gatinho. – completou Betina.

Enquanto saboreávamos a comida, William tentava se redimir pelo atraso sendo gentil e me olhando o tempo todo. O problema é que o tesão tinha acabado para mim. Mas, às vezes, eu tinha que me segurar para não olhar muito para ele porque as lembranças do sexo animal na areia da praia ainda estavam fortes em minha mente.

- Ainda está brava comigo? – cochichou ele no meu ouvido.

- Eu?! Esquece isso. Muito boa essa comida né? – desbaratinei.

- Alguém quer mais vinho? – perguntava Dudu.

- Então, vocês são cunhados agora? – perguntou William para Betina.

- Não. Não somos cunhados, amor. – respondia Betina parecendo já um pouco alterada pelas taças de vinho.

- Mas você e o Dudu...estão juntos... então...

- Gatinho, eu e o Dudu somos amigos de longa data e de horas emergenciais se é que me entende.

- Poxa, essa é novidade para mim. – respondia Dudu parecendo marido traído.

- Não fica triste, baby. A vida é assim mesmo. – respondia Betina emendando um beijinho na boca de Dudu.

- Olha o vinho! - gritava Betina levantando a taça.

William resolveu bancar o cavalheiro e servir o vinho para mim. Desastre total. Ele derrubou a bebida no meu vestido novinho. Era o que faltava para ele entrar para o meu caderninho negro.

- Ai, meu Deus! Me desculpe! – dizia ele todo atrapalhado tentando me secar com um guardanapo.

Enquanto eu me preparava para responder à altura, Betina me deu um pisão no pé por debaixo da mesa e se prontificou a me ajudar com a mancha no banheiro.

- Diana, te dou cinco minutos para engolir esse bico e mudar essa cara! – ralhava comigo enquanto limpava a mancha do meu vestido.

- Espero que você também tenha a receita para isso. O cara chega atrasado e ainda derruba vinho no meu vestido novo? Eu disse que era melhor usar qualquer coisinha do meu armário. Ai que ódio! Juro que se ele não fosse um tesão de homem e essas lembranças da praia não parassem de me perseguir, eu já teria saído daqui. – respondi bufando.

- Então, aproveita as boas lembranças que ainda restam e salve a sua noite. Seja doce e garanta a sua sobremesa.

- E quem disse que eu quero sobremesa? É apenas um jantar e nada mais.

- Não seja inocente, Diana. Você tem duas escolhas: ou vai para casa com um gato incrível ou estraga tudo e vai dormir chupando o dedo... no máximo, te empresto o Ted.


Voltei para a mesa e eles já tinham pedido a conta. Me recompus e resolvi fingir que nada tinha acontecido.

- A mancha saiu? Eu sou um desastrado mesmo. – dizia William.

- Não se preocupe! Nada que uma boa lavanderia não cure. Depois eu mando a conta para sua casa. – eu dizia rindo para quebrar o gelo.

Nesse momento, fomos surpreendidos por mais uma. Avistei Pierre e Olívia saindo do bistrô. Tentei desbaratinar, mas nossos olhos se cruzaram teimosos. Pronto, tudo que eu precisava para aquela noite perfeita. Claro que Pierre não se conteve e se aproximou da nossa mesa.

- Nossa, nem chamam mais os amigos hein? – brincou ele.

Que pessoa deselegante né? Pior é que o Tavinho, que tinha virado amiguinho dele, começou dar trela para a conversa.

- Oi, Diana, tudo bem? Prazer, amigo. – disse ele medindo William dos pés a cabeça.

- Vamos, Pi. Já está tarde. A gente ainda tem que pegar a pequena na casa da minha mãe. – relembrou Olívia, acho que também um pouco desconfortável com a situação e evitando um papelão.

Os dois se despediram e Pierre ainda fez questão e me dar um abraço apertado. Não adianta. Ele não se toca!!!

- De onde você conhece esse cara? – perguntou William num tom autoritário, como quem tinha se ofendido por quererem mijar em seu território.

- É uma longa história. Não vale a pena contar agora. – respondi enquanto todos olhavam desesperados para mim.

- E aí o que vai ser agora? – perguntou Dudu me salvando daquela situação.

- Com você eu não sei, irmãozinho, mas eu tenho bons planos com a minha coelhinha. Uma noite longa! – dizia Tavinho.

- Espero mesmo que seja longa! – dizia Lili relembrando as duas pimbadinhas clássicas de Luis Otávio.

- Lili, se a de vocês vai ser longa eu não sei, mas a minha está garantida. Meu bebê não falha. – dizia Betina só para irritar Tavinho.

- Papo animado esse né? – respondi sem graça.

- Eu diria que é um papo inspirador, você não acha? – dizia William com um sorrisinho malicioso e colocando o braço sobre os meus ombros. Me arrepiei na hora. Ai, que ódio! Ele sabia o que fazer.

Nos despedimos na porta do bistrô. Os quatro seguiram juntos no carro do Tavinho à procura de algum motel para um bom pernoite e eu e o William ficamos parados na porta do restaurante.

- Bom e agora? – perguntava ele.

- Agora o quê? – eu respondia.

- Mereço uma segunda chance ou fui eliminado do Big Brother Brasil?

- Na sua ou na minha casa? – respondi diretamente.

William me abraçou, chamamos um táxi e seguimos para a casa dele. Resolvi ser doce e garantir o meu petit gateau, como disse Betina. Eu não estava a fim de dormir com o Ted ou chupando o dedo.
Se Deus tinha me dado a oportunidade de ter um encontro, bora aproveitar. E foi o que fiz.

CONTINUA...


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