sábado, junho 25, 2011

MULHER LEITE NINHO

Por Letícia Vidica


- Nossa, Betina, o que houve? Te liguei ontem o dia todo e você nem retornou!

- Aposto que estava com o Luquinha... – alfinetou a Lili

- Luquinha? Quem é esse gente? Que parte do babado eu perdi? Pode me atualizar! – reivindiquei.

- É o novo peguete da Betina, Di. – respondeu Lili.

Só pelo diminutivo do nome, pude constatar que o garoto ainda devia estar na fase das fraldas. Aliás, apesar de toda a seriedade e maturidade da Betina, minha amiga adorava um bezerrinho. Ou, se não adorava, pelo menos, sempre atraía um. Era incrível. Mas, para não acabar com sua fama de bruxa má, ela ia logo se justificando, usando de todos os seus argumentos advocatícios. Se defendendo quase que em um tribunal.

- Não consigo te entender, Bê. Toda cheia de teorias sobre os homens e não para com essa mania de pegar para criar? – eu dizia.

- Aí é que se enganam. O bom dos novinhos é que a imaturidade se justifica pela pouca idade. Coisa que eu não agüentaria num velho babão. Sem contar que eles são cheios de pique, divertidos e me tratam como uma rainha. Me sinto a Deusa da sabedoria.

- Só você mesmo ... – ria Lili.

Ao contrário da Lili, eu sempre preferi os homens mais velhos. Não sei porque mas eles me passam a (falsa) impressão de que são mais maduros. Porém, a cada relacionamento que tenho, quanto mais velhos eles são, parecem que mais imaturos são também. Estou começando a achar que a minha teoria da maturidade está indo por água abaixo. Mas, mesmo assim, ainda insisto em dar murro em ponta de faca, atraindo-me pelos maduros imaturos.

***

Porém, não é sempre que, nós, mulheres, somos fieis às nossas preferências e ideais. Quando bate a carência, esquecemos de tudo e renegamos até nossas origens, se preciso for, para matar essa sede. E era justamente o que começava a acontecer naquela fase terrível que começava a me assombrar de novo.

Eu estava sem namorar há um tempo, sem ficar com ninguém, nenhum chamego, nenhum lance, nenhuma transa...estava cada dia mais difícil suportar. E difícil também estava suportar as investidas sobre mim do auxiliar de almoxarifado lá da agência em que eu trabalho. Ele era uma gracinha, mas tinha um pequeno probleminha...era quase 10 anos mais novo do que eu.

- Será que hoje você aceita o meu convite para almoçar, gata? – dizia o auxiliar debruçado na minha mesa.

- Bruno, você é um gentleman, mas hoje não vai dar...eu estou atrasadíssima com uma campanha...

- Sempre me dando bota né? Mas eu sou insistente! Não vou desistir. – dizia ele, pegando a minha mão e dando um beijo com cara de safado.

Confesso que me arrepiei, mas tive de me conter. Eu e ele seria um crime. Mas, mesmo assim, ele realmente não desistia. Sempre me elogiava, ficava me olhando quando eu passava, insistia em me chamar para almoçar...e eu sempre negando. Primeiro porque queria evitar comentários na empresa de que eu era pedófila. E, segundo, porque eu não queria trair os meus princípios.

- Para de ser boba, Diana. Aproveita! Cai nas garras do gatinho e tira essa teia de aranha. – incentivava Betina.

- Bê, o menino é uma criança. Tem vinte anos. Mal saiu das fraldas.

- E daí? Agora vai ficar dando uma de Madre Teresa?

Antes que eu pudesse responder, fomos interrompidas por um carro com um som alto, tocando funk, que tinha parado na porta do bar do Pedrão. Coincidências ou não do destino, o Bruno desceu do carro. Tentei me esconder, mas não deu.

- Gata!!! Que surpresa maravilhosa! Será que hoje finalmente poderei pagar um chopp pra você?

- Claro, gatinho...pode sentar aí...e a primeira rodada é por minha conta...- respondia Betina.

Não tive como fugir. O Bruno sentou na mesa, junto com dois outros amigos, que deviam ter a metade da idade dele. Pedimos mais cerveja, petiscos e ficamos conversando na mesa. Ele até que me surpreendeu. Tinha um papo interessante, se mostrou um garoto interessado...foi até que divertido.

Na hora de ir embora, ele insistiu em me levar para casa, já que a Betina já tinha caído nas garras de um dos amigos dele.
No caminho...

- Porque você foge de mim? – perguntou.

- Eu não fujo. – disse suando frio, ao pensar que rumo aquela conversa tomaria.
- Tá sempre inventando uma desculpa para não sair comigo. Mas viu como Deus é bom? Nos encontramos hoje...e aí vai fugir?

Antes que eu pudesse responder, ele me prensou na capô do carro e me roubou um beijo. Como eu não era de ferro, não resisti. A carência extremada, misturada com o ardor da adolescência, resultou em uma noite calorosa e agitada de amor e com o Bruno amanhecendo na minha cama. Somente pela manhã, ao vê-lo na minha cama, foi que redobrei a consciência.

- Bruno, acorda! – chacoalhei ele.

- O que foi? – ele disse ao acordar assustado.

- Olha, esqueça tudo que aconteceu entre nós ok?

- Como assim? Foi maravilhoso. Você é uma loba... – dizia ele tentando me abraçar.
- Foi muito bom, mas foi só isso ok? Você tem idade pra ser meu...meu...sobrinho! E isso é um crime...

- Para de ser quadrada, Diana. Hoje em dia, esse lance de idade não tem nada a ver...
- Tem sim. Eu sou muito velha para você. Você tinha que se interessar pela estagiária lá da agência...e não por mim!

- Se quer saber, eu adoro mulheres mais velhas. Agora pára de besteira e vem aqui.
A campainha tocou. Me enrolei nos lençóis e fui atender. E tudo que eu menos queria aconteceu. Minha mãe tinha ido me visitar. Naquele momento de crise de identidade, era tudo que eu menos precisava.

- Mãe?! – eu disse assustada.

- Nossa, porque o susto? Te liguei mil vezes e você não atendeu...vim assim mesmo...estava tomando banho? – disse ela ao me ver nua enrolada no lençol.

- Não é que...

Antes que eu respondesse, o Bruno apareceu nu na sala. Minha mãe deu um grito e fechou os olhos. Ele correu para o quarto.

- Diana? O que é isso? O que está virando a sua casa? Quem é esse?

- É um amigo, mãe.

- Amigo? Diana, esse garoto é um moleque. Tá ficando louca? Isso é crime.

- Mãe, tudo que eu menos preciso agora é de sermão. Pode voltar outra hora?

Enquanto isso, o Bruno saiu todo sem graça. Pediu desculpas a minha mãe, me beijou e disse que me ligava. Resultado: minha mãe passou a tarde inteira dando sermão, como se eu ainda fosse uma adolescente.

***

- Gente, acho que fiquei louca mesmo...nunca vai dar certo isso.

- Agora que tá ficando bom, Diana! – dizia Betina – Para de ser boba.

- Não dá, Betina, eu bem que tentei. Ele é ótimo de cama, mas não dá. O garoto está no cursinho pré-vestibular, vive escutando aqueles funks no carro, outro dia, fui na casa dele e ele estava num campeonato de Playstation...sem contar que a mãe dele me fuzilou né? É demais para mim...

- Você não sabe o que está perdendo...

- Será?

Eu realmente não sabia. Acho que estava começando a ficar envolvidinha com ele. Ao contrário dele, que já estava de quatro por mim. Tudo que eu queria de um homem, mas que estava recebendo de um menino.

Outro dia, fomos passear no shopping e tive a impressão de que as pessoas nos olhavam. Eu mal conseguia pegar na mão dele e evitava os abraços. Me sentia uma pedófila.

- Diana, o que está acontecendo? – ele perguntou. – Tem algo te incomodando?

- Ai, tem. Você não vê, parece que tá todo mundo olhando para mim e me chamando de pedófila...

- Olha, gata, gosto muito de você...mas se você entrar nessa pilha de ficar enlouquecendo pela nossa diferença de idade não vai dar certo. Eu estou 100% nessa relação,mas e você?

Eu não soube responder. Apenas pedi um tempo para que eu pudesse absorver aquela idéia de namorar um garoto. Um pouco contrariado, ele aceitou. Começamos até a nos evitar de conversar no trabalho para não gerar assunto. Ele me ligava insistentemente, me deixava recados no Facebook, sempre me olhava discretamente na agência, e eu evitando todas as investidas. Afinal, eu ainda não sabia o que eu queria.

Até que, um dia, enquanto almoçava com uma amiga de trabalho, vi o Bruno chegando para almoçar com a estagiária da agência, uma paquitinha que não passava dos vinte anos. Fiquei bege. E, antes que eu dissesse algo, a Paloma, minha amiga de trabalho disse:

- Tá sabendo do novo casal da agência? Os dois estão ficando.

Eu não consegui esboçar reação. Apenas me calei, inventei uma desculpa qualquer e voltei para o trabalho. Então, ele já tinha colocado outra em meu lugar?

- Diana...- ouvi Bruno me chamar no estacionamento, enquanto eu pegava o meu carro.
- A gente precisa conversar.

- Sobre?

- Sei que você me viu com a Suzana lá no restaurante, é que a gente...

- Não precisa me dizer nada. Já entendi perfeitamente. E você está certíssimo...a gente não ia dar certo...você é jovem e merece alguém da sua idade...

- Mas, se você disser que me quer, termino com ela hoje mesmo.

- Não faça isso. Não quero magoar mais um coração.

Beijei-o na face, entrei no carro e parti aos prantos.

- Não creio que até o bebezinho me passou a perna? – eu reclamava e chorava.

- Pera lá, Diana. Vamos fazer jus aos fatos. O garoto estava de quatro por você e você? Fez doce. Ficou cheia de pudores. Queria o que? A fila anda né?

- Mas tinha que ser justo com a estagiária?

- Ué, não é você quem dizia que ele precisava de alguém da idade dele? Ele arrumou.
Agora, engole né?

E foi o que eu fiz tive que engolir.

PAPO DE CALCINHA: E, você, gosta de homens (mulheres) mais novos (as)?

quinta-feira, junho 09, 2011

CAMPANHA DO AGASALHO: ADOTE UM SOLTEIRO NO INVERNO



POR LETÍCIA VIDICA

Definitivamente, o inverno não foi feito para os solteiros. Eu acho que só devia ficar no inverno quem quisesse, ou melhor, apenas os casais apaixonados, o que não é o meu caso atualmente. Acho que deveria ter tipo uma excursão para os solteiros no inverno. “Embarque rumo ao sol. Deixe o inverno para trás e curta o verão. O ano inteiro.”

Verão é tão mais calor, tão mais curtição, tão mais azaração. Ótimo para quem está solteiro. Já o inverno é tão mais gelado, tão mais frio, tão mais solidão, tão mais filminho em casa no DVD abraçadinho no sofá, tão mais dormir de conchinha....ai que ódio!!!!

Aquele era mais um sábado frio que havia chegado. Eu e minhas amigas tínhamos feito planos para sair no sábado à noite, mas a temperatura brochou todo mundo.

- Ai, Di, vamos deixar para outro dia? Acordei com uma dor de garganta e uma dor no corpo. – era Betina ao telefone.

- Amiga, não fica triste? O Otávio me convidou para comer um fondue na casa dele e com esse tempinho tem coisa melhor? – era a sortuda da Lili se esquivando do nosso passeio para se aconchegar com seu macho.

E eu? Sozinha e solteira num sábado frio. O que fazer? Ninguém para ligar, nenhum colinho para deitar, nenhum ombrinho para chorar ou um cobertor de orelha para aquecer. Mas, tudo bem, não vou deixar esse frio me abater. Já sei vou tirar o dia para mim e me curtir...sozinha, mas vou me curtir. Ou, pelo menos, tentar.

A primeira tentativa de me aquecer foi ir para cozinha e encher a pança. Incrível como no frio a gente fica com uma fome danada. Ótimo também para ganhar uns quilinhos a mais que a gente só vai perceber que ganhou no verão. Os casacos nos impedem de enxergamos isso. Preparei uma suculenta macarronada só para mim e de sobremesa um brigadeiro de panela. E, para complementar, abri aquele vinho que há tempos eu sonhava em tomar ao lado do meu príncipe encantado, mas já que ele não veio ainda, vai sem ele mesmo.

Toda aquela sessão calórica a fim de me aquecer me deixou bem preguiçosa. Me enfiei embaixo da coberta com uma barra de chocolates (não conta para ninguém) e fui pesquisando na tevê algum filme com cara de inverno e adivinha o que eu achei? Um romance melado e adocicado que eu já assisti mil vezes, mas adorava. Sabe daqueles filmes que a gente sabe todas as falas, colocou a trilha sonora na playlist e chora nas mesmas cenas? Era um daqueles.

Terminei a sessão pior do que comecei e com os olhos inchados. Não teve jeito. A solidão e a carência me arrebataram de vez e tudo piorou quando fui lembrada pelos intervalos comerciais do filme de que o Dia dos Namorados se aproximava. Mais um. Mais um em que estou sozinha.

Diana, qual é o seu problema hein? O que você faz de errado para os homens? Eu juro que ando na linha, sou fiel, sou boa cozinheira, adoro fazer carinhos, acho que não transo mal, sou romântica, bonita, trabalhadora, inteligente, formada, independente... Se é tudo isso porque está sozinha com opção zero de companhia numa tarde fria de sábado com os olhos inchados de chorar depois de assistir uma comédia melosa e se empanturrar de chocolate, brigadeiro, massa e vinho? Nossa, Diana, precisava ser tão cruel? Quer que eu me mate agora ou dá para esperar mais um pouco?
Não, eu não podia ficar assim. Eu tenho que vencer isso. Afinal, eu não posso ficar três meses do ano em depressão total né? Mas fazer o quê? Checar a minha agenda? Desatualizadíssima. Desde que me separei do Pierre, não atualizei muito a agenda. Ou, pelo menos, não me envolvi com ninguém a ponto de ter a quem recorrer nessa hora fria de desespero.

Cantar, dançar, navegar na web, ler um livro, uma revista...nada conseguia desviar o meu pensamento da fria solidão e desse inverno desgraçado que me deixa cada vez mais carente. Socorro, help me alguém!!!!

- Betina, me salva! Tô quase enlouquecendo aqui no meu apartamento. Eu definitivamente não nasci para ser solteira e, muito menos, no inverno. – era eu choramingando ao telefone para a minha terapeuta de plantão.

- Lá vem você com esses papos, Diana...

- É, sério. Você, doente. A Lili ... nem quero pensar no que ela está fazendo agora...ai, que inveja. Claro que eu não queria o canalha do Luis Otávio, mas até a Lili arrumou um cobertozinho de orelha e eu? Tô aqui afogando minhas mágoas com um brigadeiro de panela? Que triste fim!

- Não seja dramática!! Faz assim...ano que vem promova uma campanha...a campanha do agasalho: adote um solteiro no inverno. Mas anuncia no verão para não ficar nessa paranóia no inverno hein?

- Sabe que não é uma má idéia? – respondi pensando cá com os meus botões.

Meninas solteiras do meu Brasil varonil, essa é a solução. Vou começar hoje essa campanha. CAMPANHA DO AGASALHO 2011 – ADOTE UM SOLTEIRO NO INVERNO. Aceito doações (boas hein?). Quem sabe não conseguimos um corpinho ainda para essa estação? Vamos correr, meninas! Afinal de contas não dá para ficar o inverno todo namorando o brigadeiro de panela e quase se suicidando toda vez que a temperatura cai né?

PAPO DE CALCINHA: E, você, já adotou o seu solteiro para esse inverno ou ainda tá batendo os queixos sozinha (o)?

quarta-feira, junho 01, 2011

GAROTA FITNESS



POR LETÍCIA VIDICA


- Lili, que demora! Estávamos quase indo embora.- reclamava Betina com seu habitual mau humor, até mesmo nos dias de happy hour no bar do Pedrão como era aquele.

- Desculpem, amigas...é que eu estava na academia...vim correndo!!!

- Ué, mas de manhã quando eu te liguei você também me disse que estava lá? – eu dizia – Passou o dia todo enfurnada na academia, madame Lili?

- Praticamente! – respondia nossa amiga enquanto pedia um suco – Eu tinha aula de aeroboxe agora à noite e não podia perder né? O verão tá quase aí...

- Não seja exagerada, vai Lili! Mal entramos no outono!!! – eu exclamava ao me deliciar com um gorduroso, mas delicioso caldinho de feijão com torresmo.

- ...e além do mais o professor é um pecado!!!! – deliciava-se Lili.

- Eu sabia!!! Só podia ter homem no meio né? Você tá malhando para malhar o pecado depois né?

- Quase isso, Betina. Na verdade, malhar é saúde viu? Vocês é que deviam mexer o bumbum e começar a malhar né, mocinhas?

- Eu já malho bastante ...olha aqui quanta malhação...Pedrão , desce mais uma? – gritava Betina como quem pede ao instrutor da academia um alteres.

Será que eu deveria mexer o bumbum e encarar a tal da academia? Eu sempre odiei malhar. Não nego que já tentei inúmeras vezes encarar a malhação, mas sempre paro na metade do caminho e das últimas vezes parei no início mesmo. Até que seria bom tentar mais uma vez. Minhas calças que não fecham mais e o meu espelho agradeceriam pela colaboração. Sem contar que ando me sentindo cada dia mais ‘vagaba’. Só trabalho e não faço mais nada. Outro dia, travei a coluna brincando com os meus sobrinhos e perdi o fôlego subindo quatro degraus da escada do meu prédio (ai, como eu quis matar aqueles pestinhas lá do condomínio que quebraram o elevador!!!).

Será que eu teria pique? Eu jamais teria o pique da Lili. Isso é fato. Falando nela, minha amiga é (digamos assim) a gostosona do grupo. Sempre super preocupada com o corpo, adora malhar e, inclusive, malhação é a única coisa que a faz recusar um convite do Luis Otávio, o seu canalha encantado. Malha de segunda a segunda, faça chuva ou faça sol. Já a Betina nem quer ouvir falar de algo que lembre academia. Mas vamos combinar que a minha amiga é um caso à parte: ela convive muito bem com suas gordurinhas localizadas e é feliz assim. Já eu? Eu sou uma tortura chinesa. Sou do tipo mulher sanfona. Engordo e emagreço. Resultado: sempre tem uma banhinha pulando aqui, uma estria acolá, uma celulite nascendo ali e eu continuo não fazendo nada para vencer essa batalha incansável, mas sempre quero me matar quando percebo a presença desse trio parada dura atacando novamente.

***

- Sabe que não seria uma má idéia? Acho que vou encarar a academia sim!!! – falei convicta ao convite da Lili, depois de divagar sobre o assunto.

- Tá de brincadeira né, Diana? Você? Fala sério!!! Vai entrar na academia para ficar um dia? – ironizava Betina.

- Não liga para ela não, Di!!! Ótimo. Eu estava mesmo precisando de uma companhia para malhar. Começamos na segunda. Vai ser super divertido, você vai amar!!! – dizia Lili toda empolgada como uma filha única que vai receber a visita de uma coleguinha da escola para dormir esta noite em casa.

Nem preciso dizer que passei o final de semana todo pensando e repensando e pensando na minha decisão. Só não voltei atrás porque a minha querida amiga Lili não parava de me ligar para fazer planos para a nossa malhação de segunda.

****

‘Ding dong’

Acordei assustada com a campainha e mais assustada ainda com a hora. Quem seria às cinco e meia da manhã. Hoje não é sábado?

- Bom diaaaaa!!! E aí pronta para malhar? – era Lili toda empolgada e me fazendo lembrar que aquele seria o grande dia.

- Nossa, Lili, tomou pó de guaraná? Que animação!! Para quê malhar tão cedo?

- Pode levantar, lavar essa cara, colocar uma roupinha e bora borá... de manhã é o melhor horário para malhar...já dizia Digão, o meu personal.

Não tive escolha. Lutei um sumô contra o sono, mas venci a batalha.

- Diana, pelo amor de Deus. Você não vai para academia com essa roupa de faxineira né? – me recriminava Lili.

- Ué, Lili, eu vou apenas malhar e é a roupa mais confortável que eu tenho.

Lili se produzia toda para a malhação. Maiô rosa colado ao corpo, deixando a mostra todas as suas curvas e quase que também as suas estrias (se ela tivesse). Cabelo preso, luvinha, toalhinha... e blábláblá... Não adiantou bater o pé. Ela foi logo mexendo no meu guarda roupa, achou uma roupa mais adequada, segundo ela, e saímos após eu jurar para ela que sairíamos para comprar roupas melhores.

Cheguei na academia e levei um baita susto. O sol nem tinha raiado ainda e já havia centenas de pessoas naquele lugar. Ninguém dorme não? Em que mundo que eu vivo? Lili, que já era famosa na academia, foi me apresentando todo o complexo porque aquilo mais parecia uma cidade do fitness e depois fui para a tal da avaliação física.

Só não sai de lá e cortei os pulsos porque o tal do avaliador era um gato. Mas o gato só me reafirmou tudo que eu sabia e não queria ouvir: que estou sedentária, estou quase no sobrepeso e, falando em peso, eu não reconheci aquele número que apareceu na balança. Era alto demais. Depois daquela sessão de tortura, fui liberada para malhar. Lá fui eu encarar a esteira.

Enquanto eu fazia o aparelho e tentava prestar atenção na conversa da Lili que parecia uma matraca, fiquei observando aquele ambiente. Eu precisava tentar me situar ou me sentir mais em casa. Vi um mar de corpos suados e malhados. Mulheres invejosamente sem barriga, com bumbum definido, coxas grossas exibindo seus dotes na área da musculação. Ao lado de homens maravilhosos - e outros nem tanto – porém todos com tanquinhos que eu lavaria minha roupa inteira umas quinze vezes, deixando seus músculos a mostra ao puxar todo aquele ferro. Confesso que quase me excitei ao ver aquela cena. Porém, logo percebi que ali era uma área vip que eu jamais poderia entrar enquanto não perdesse uns sete quilos. Ali era para os Vips.

Será que não há pessoas normais nessa academia? Tinha e elas estavam bem ao meu lado. Todas se matando na esteira ou na bicicleta para perder uns quilinhos. Aquelas eram realmente normais...pneuzinhos a mostra, barriguinhas arrebitadas...Ali sim era o meu lugar.

- Vamos para musculação? – convidava Lili.

- Acho que ainda não estou preparada, amiga. Vai lá. Acho que vou encarar uma aula de step.

Lá fui eu para tal da aula. Logo que entrei na sala vi que todos os olhos se viraram para mim. Incrível como a gente se sente uma Mané quando vai fazer uma primeira aula. O professor dava as orientações como se fosse a minha aula particular. Eu parecia uma desengonçada. Errava todos os passos e me envergonhava com a cena que via naquele espelho. Falando em espelho, meu Deus, para quê tanto espelho num lugar só?

- Gostou da aula? É a sua primeira né? – perguntava o professor de step.

Será que ele não notou? Ou achou que sou desengonçada por natureza mesmo?

- Pode ficar tranqüila, mocinha. É super fácil. Na próxima aula, você estará bem melhor.

Quem dizia aquilo não era o meu professor e sim uma senhora de seus sessenta anos com a metade do meu peso, músculos definidos, sem barriga, com o dobro do meu ânimo tentando me animar. Vou cortar os pulsos. Não tenho dúvidas.

***

- E aí, amiga, gostou? Amanhã tem mais hein? – despedia-se Lili toda empolgada.

Será que teria? Será que eu encaro o segundo dia? Não, não posso desistir agora. É uma questão de honra! Preciso provar para Betina que eu não vou ser fraca dessa vez. Falando em fraqueza, foi assim que eu acordei no dia seguinte. Fraca e com dores em partes do meu corpo que eu nem sabia que existiam. Mal consegui levantar da cama. Se não fosse a Lili tocando a minha campainha às cinco e meia da manhã, eu teria desistido. Mas, a partir do segundo dia em diante, fiquei mais animada. Fiz até umas amizades, uma delas foi com a tiazinha da aula de step. Que pique invejável!!! Ela malhava há 3 anos , não faltava nunca e fazia todas as aulas. A que ponto eu cheguei? Sendo incentivada por uma pessoa que tem mais que o dobro da minha idade!!! A Lili?! A Lili gostava era de puxar ferro e de se exibir. E ficar na musculação era o harém para ela. Eu ainda preferia a ala das pessoas normais.

***

Um mês havia se passado e eu andava até que bem animada com a malhação. Confesso que até diminuí a comida para compensar tanta malhação. Eu andava tão regrada, minhas roupas andavam caindo tão bem no meu corpo que não havia dúvidas, eu tinha emagrecido. Resolvi então encarar a balança só para constatar o que eu já sabia: eu tinha emagrecido.

Como assim??? Foi o que berrei na balança da farmácia quando aquele número apareceu. Eu acordo todo dia com as galinhas, vou malhar, faço aula de tudo quanto é coisa, tenho que ficar ouvindo conselhos de uma personal vovó, parei de comer tudo que eu gosto e eu só emagreci 250 gramas?

- Calma, Diana, tem que ter calma!!! – tentava me acalmar Betina.

- Não me vem você com seus conselhos. Você venceu. Eu desisto.

- Diana? Pode ir largando esse copo de cerveja...-dizia Lili que acabara de chegar ao happy hour, mais uma vez, atrasada por causa da aula de aeroboxe.

- Eu não vou tomar só esse copo como a caixa inteira.

- O que aconteceu, Diana? Hoje você nem foi na academia.

- E nem vou mais. Perder meu tempo para quê? Para perder 250 gramas???? Melhor guardar dinheiro e encarar uma lipo.

- Diana, é devagar que o resultado aparece...

- Devagar? O meu resultado tá vindo de mula né? Eu malho todo dia como uma louca e perco 250 gramas? É brincadeira! Valeu pelo apoio, Lili, mas eu tô fora. Eu me rendo.

- Pensa bem, amiga...

- Vou pensar sim...garçom, me vê mais uma!

E foi assim que mais uma tentativa frustrada de malhar terminou. Confesso que ainda tenho algumas recaídas, mas nenhuma ainda me fez voltar a malhar. Eu ainda ando muito traumatizada com as 250 gramas. Falando nelas, o que levei um mês para perder, recuperei em 3 horinhas de happy hour no Pedrão. Matemática engraçada e desgraçada essa não? Não podia ser o contrário, meu Deus?

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ TAMBÉM VIVE EM PÉ DE GUERRA COM A ACADEMIA? OU É REALMENTE UMA GAROTA FITNESS?