quinta-feira, novembro 26, 2015

PAPO DE BAR


POR LETÍCIA VIDICA


"Cadê a senhorita?".
Era a mensagem da Betina no balãozinho do meu whatsapp me recrutando para comparecer no nosso quartel general: o bar do Pedrão. A semana tinha passado voando, mais uma sexta-feira tinha chegado e, assim como um ritual, o nosso encontro marcado e sagrado era no bar do Pedrão.

Para variar, eu estava atrasada e enrolada entre o final de um email, a assinatura de um relatório, a espera de uma ligação que não chegava e o olhar da moça da faxina que esperava ansiosa para que eu desocupasse a minha sala e terminasse o meu trabalho para que ela pudesse começar o dela.

"Saindo em 3,2,1..." respondi no nosso grupo das Divas de Plantão do zap zap. Uma conferidinha no batom, uma arrumadinha no cabelo, uma borrifada de desodorante e perfume e tchau.

***

Cheguei correndo no bar e, como de costume, ele já estava lotado. Pessoas exaltadas colocavam todo o estresse da semana para fora em cada gole de cerveja. Usavam aquelas mesas como verdadeiros divãs enquanto desabafavam sobre a semana pesada, os prazos malucos que não foram cumpridos e a falavam (mal) sobre a vida de alguém do trabalho.
Não tive trabalho para localizar as meninas. Estavam lá sentadas na mesma mesa de todas as sextas.

- Desculpa, gente...

- ... já sei. Você se enrolou toda no trabalho ...- era Betina quem completava a minha frase.

- Ai, nem me fala... oi, João! Opa, valeu hein? - era o nosso querido garçom João, nosso camarada, que já me trazia aquele chope gelado do jeito que eu gosto. Bebi como se fosse água e acho até que suspirei. - Nossa, como eu precisava disso. Eu estou à beira de um ataque de nervos. Eu já disse para o meu chefe que preciso de um assistente. Eu não dou mais conta de fazer tudo... o dia que eu explodir, eu quero ver. Ando saindo cada dia mais tarde daquele escritório.

Era eu quem iniciava a pauta número um da nossa noite: reclamar do trabalho.

- Ainda bem que eu não tenho chefe viu? Mas eu tenho clientes. - essa era a Betina. - Não aguento mais aquela Dona Custódia. Ela reclama todo dia que o processo tá demorado, que tem que pagar as custas... a mulher é podre de rica!!! O pior tipo de gente é o rico mesquinho, viu?

- Ai, meninas, relaxa! Andam muito estressadas.

- Lili, fácil falar quando se é herdeira né, meu bem. Queria ver se você virasse assalariada. - conclui rindo com a Betina.

- Aí vocês se enganam, bonecas. Estão olhando para a mais nova empresária, ou melhor, empreendedora da cidade.

Depois de fazermos cara de paisagem, Lili - ou melhor - a empresária Liliana Bittencourt nos contara que estava entrando como sócia em uma nova franquia de clínica de estética junto com uma amiga da faculdade. O negócio era a cara dela mais também um passo muito grande na vida da socialite que a nossa amiga era.

- Mas isso merece um brinde!!! Mais um chope, João. - gritava Betina.

- Agora, eu vi vantagem em ser sua amiga. Quero ser vip em todos os tratamentos hein? - eu dizia.

- Olha, até eu que não sou nada ligada nesse lance de estética, acho que vou precisar também. Quase que eu venho pro Pedrão de pijamas. Nenhuma calça minha queria entrar. Como assim?! - reclamava Betina.

Iniciada a pauta número dois da nossa noite: reclamar o quanto estávamos gordas, como as dietas não funcionavam e, claro, pegar dicas de novas dietas.

- Vocês estão perfeitas, meninas. - esse era João, o nosso querido garçom que trazia mais alguns chopes acompanhados por uma porção de mandioca para gente.

- Você não vale, João. Diz isso só para gente não desistir dessa porção maravilhosa de mandioca - eu dizia, já de boca cheia, provando aquela tentação dos deuses. - Eu nem deveria comer isso, mas eu mereço! Hoje é sexta né?

- O problema é quando vira sexta todos os dias - ria Betina. - Me inscrevi na academia lá do prédio mas pergunta se eu fui algum dia? Não consigo. Não dá... o meu corpo me cobra... sou quase uma senhora de 40 anos. Já não tenho mais o metabolismo de uma mocinha de vinte anos, mas não dá. Eu odeio aqueles aparelhos, eu odeio musculação... por que levantar copos não me ajuda a emagrecer?!

- Nossa, amiga. Isso merece um brinde!!!

Lá íamos nós novamente a brindar pelas nossas gordurinhas a mais que a Lili estava prestes a salvar.

- Mas, Lili, agora que vai virar empresária... o que vai ser do Tavinho hein? Já anunciou que vai parar de trabalhar? - brincava Betina.

- Não me fala daquele lá... - bufava Lili. - Ando de saco cheio dele.

Aberta a nossa terceira pauta: falar mal dos homens.

- Qual foi a parte da história que eu perdi? Vocês não estavam planejando morar juntos até a semana passada? - eu perguntava sem entender aquele novo capítulo da vida da minha amiga.

- Esse é o problema. Até a semana passada. Pergunta se o Tavinho mexeu alguma palha para isso? Não! Eu cansei de carregar ele nas minhas costas.

- Nossa, Lili, nem parece você. Mas, desculpe, você sempre bajulou o Tavinho e esperava que ele mudasse agora?

- Ah, eu super entendo a Lili. Esses homens são mal acostumados. A gente fica bajulando e fazendo tudo para agradar. Daí, eles se acomodam. O Pedro também anda assim. Muito mal acostumado.

- Homens, homens viu? Ruim com eles, pior sem eles né? Isso merece o quê?

E lá íamos nós brindar a noite toda. Ou melhor, até a hora que o Pedrão nos expulsasse. Isso porque o nosso papo de bar costumava se estender por algumas horas. E a nossa pauta seguiria a noite toda. Afinal, é sempre assim. Era sempre assim.

PAPO DE CALCINHA: E, VOCÊ, TAMBÉ TEM UM PAPO DE BAR? CONTA PRA GENTE COMO SÁO OS SEUS ENCONTROS NOS BARES COM AS AMIGAS E AMIGOS.

terça-feira, outubro 13, 2015

XEQUE MATE


- Nossa, posso saber qual o motivo de tanta aflição? – era Betina quem abria a porta do seu apartamento para a amiga desesperada dela. A amiga era eu.

- Acho que fiz mais uma cagada – eu dizia, inconsolada, jogando meu corpo em cima dos ombros da minha amiga.

Betina me deu abrigo no seu sofá e, a base de um copo de vinho, expliquei a burrada que eu tinha feito. Para quem não se lembra: deixei o Pedro, praticamente, falando sozinho no apartamento dele. Virei as costas e entreguei meu namorado de bandeja para a amiga de infância deslumbrante (insuportável!!) dele que tinha caído de paraquedas de Paris para o meio da minha relação.

- Ciúmes. Isso é pura crise de ciúmes misturado com um recalque imenso. – concluía a minha psicóloga de plantão com aquele tom de tapa na cara com luva de pelica que só ela sabe dar.

- Espera aí, amiga. Eu aqui abrindo o meu coração para você e você ainda diz que a culpa é minha? Que eu sou ciumenta e recalcada??!! – arregalei os olhos inconformada – Tem certeza que você ouviu o que eu acabei de falar?

- Não só ouvi, como vi tudinho no churras da semana passada. E eu não achei nada demais. Apenas uma amiga, linda...tudo bem. Temos que admitir que ela é um avião, mas...

- Ficar elogiando aquela bolinha não vai me ajudar, Betina.

- Mas e o Pedro? O que ele acha de tudo isso? Afinal, você nem deixou o coitado se explicar né?

- Não sei. Deve estar tomando um vinho em cima da Torre Eifel com a Paulinha. Faz uma semana que a gente não se fala. Acho que ele tá me ignorando.

Antes que a Betina desse mais um tapa daqueles na minha cara, o meu celular tocou. Eu nem queria atender, mas o toque estava tão insistente que resolvi atender. Número desconhecido.
Alô. Era a Paulinha. Gelei. Coloquei a ligação no viva-voz para que a Betina pudesse ouvir sem que ela percebesse. Paulinha estava me chamando para conversar. Confesso que a minha vontade inicial era desligar o telefone na cara dela. Que despautério!!! Depois a recalcada sou eu. Mas segui as ordens da minha terapeuta de plantão e cedi ao convite.

....

Em menos de uma hora, cheguei no bar do Pedrão. O meu divã das sextas-feiras estava prestes a virar um ringue dependendo do que aquela bolinha fosse me dizer. Confesso que eu não segui as recomendações da Diana. Cheguei no bar totalmente armada, mas fui recebida pela Paulinha (super pontual) com aquele sorriso irritantemente Colgate e com um abraço de quem parece tirar um peso dos ombros.

- Que bom que você veio!! – dizia Paulinha – Achei que não ia aceitar o meu convite.

- Adivinhou... eu quase não vinha mesmo, mas talvez seja bom mesmo a gente esclarecer algumas coisas. – eu respondia com cara de poucos amigos e depois de pedir uma cerveja para aliviar a minha tensão.

- Bom... – Paulinha tentava iniciar o assunto um pouco nervosa – Não sei nem por onde começar... eu queria te pedir desculpas...

Desculpas?! O que ela tinha aprontado além de cair de paraquedas na minha relação?

- Eu não queria causar confusão entre você e o Pedro. Essa não foi a minha intenção. Inclusive, ele nem sabe que eu estou aqui. Mas eu vi o quanto ele ficou abalado depois de domingo, o quanto a relação de vocês é importante para ele e eu achei que eu tinha que ser sincera com você...

Pedro?! Abalado comigo?! Acho que a conversa está começando a ficar boa.

- Paula, você não precisa me pedir desculpas... – mentira! Eu tinha adorado aquela cena – Eu fiquei chateada sim, mas não foi com você (mentira!) – Fiquei triste porque o Pedro mentiu para mim.

- A culpa foi minha, Diana. Eu pedi pro Pedro não comentar nada com ninguém. Eu não voltei pro Brasil porque quero apenas expandir negócios. Eu estou falida. Eu quebrei. Não tem negócio nenhum... estou aqui tentando bancar a empresária poderosa, mas eu estou fudida, sem um puto no bolso...e eu recorri ao Pedro para me salvar. A única pessoa com quem eu posso contar agora... – a voz da Paulinha ficou embargada e os olhos marejaram. Confesso que fiquei surpresa com aquela declaração e com tudo o mais que estava por vir.

Paulinha Bolão contou que investiu tudo o que tinha e o que não tinha em uma empresa em Paris. Tudo ia bem até ela conhecer um gigolô barato por quem ela se apaixonou e que não só a iludiu como desviou toda a grana da empresa e sumiu no mundo. Bolão ficou iludida e quebrada. Como a família dela também não tem condições e também emprestou dinheiro para a empresa, Paulinha não podia falar nada para eles agora. Por isso, lembrou do Pedro e resolveu pedir ajuda. E o meu namorado, Madre Teresa de Calcutá, resolveu dar abrigo para a amiga.

- ... minha família nem sonha que eu estou aqui no Brasil. – terminou de me contar sua história triste e se acabar em lágrimas.

Caraca! Acho que a Betina tinha razão. Eu estava sendo recalcada. Onde estava agora aquela mulher toda diva que eu eu revi há menos de uma semana neste mesmo bar? Poxa! Fiquei tocada com a história dela, mas ainda não estava tão comovida. Será que não era mais uma carta na manga para me desviar do foco?

- Poxa, Paula. Não sei nem o que te dizer...

-Você tem toda razão para ter raiva de mim. Eu me enfiei lá no apartamento do seu namorado, causei na relação... eu sou mulher. Sei como é.

Já que o momento era de sinceridade, resolvi abrir o meu coração também. Confessei para a Bolão que estava com ciúmes dela, que eu não estava nem um pouco convencida de que aquele amor platônico pelo Pedro tinha ficado só na infância, mas que eu ia relevar tudo isso e dar um voto de confiança para ela. Será que eu estava fazendo a coisa certa?
Eu não tinha a resposta naquele momento, mas a Paulinha tinha uma outra dica para que eu fizesse a coisa certa. Me encorajou a procurar o Pedro e eu? Me desbanquei do bar do Pedrão para a casa dele. E ainda por cima emprestei a chave do meu apartamento para ela passar a noite lá – já que eu esperava que a minha fosse beeem longa na casa do Pedro.

....

Cheguei no prédio e para a minha surpresa o Pedro não estava. Tinha saído, mas o porteiro me entregou a chave reserva e eu subi.

Como ele estava demorando um pouco, acabei cochilando no sofá e fui acordada com um beijo na testa.

- Demorou demais para me procurar, dorminhoca. – era Pedro quem chegara. Agarrei ele pelo pescoço e dei um daqueles beijos longos de adolescente.

- Me desculpa, meu amor. Eu fui uma boba, ciumenta, tola e recalcada... me perdoa?

- A Paulinha te procurou?! – desconfiava Pedro.

- Não, ela não me procurou não... ah tá... eu não vou mentir não. Ela me procurou sim e me contou toda a verdade. Me senti muito mal por julgar ela e pensar bobagem da relação de vocês. Mas eu não gostei que você mentiu para mim.

- Diana, eu não menti. Eu omiti. É diferente. E você entende agora que essa história não era minha? Eu apenas fui chamado para ajudar. Respeitei a intimidade dela.

- Eu sei, eu sei... mas eu sou sua namorada, poxa. Eu conto tudo pra você. E o que você queria que eu pensasse ao ver esse espetáculo de mulher rondando o meu namorado?!

- O único espetáculo aqui é você, Diana. Ninguém mais.

Gente, preciso dizer que meu coração derreteu com aquela frase? Não só meu coração como todo o meu corpo no colo daquele homem? O final? Ah, vocês já sabem né?
Só espero que meu voto de confiança valha a pena e que não seja mais um xeque mate.


PAPO DE CALCINHA: VOCÊ ACHA QUE A DIANA FEZ A COISA CERTA? VOCÊ DARIA UM VOTO DE CONFIANÇA PARA A AMIGA?