terça-feira, outubro 13, 2015

XEQUE MATE


- Nossa, posso saber qual o motivo de tanta aflição? – era Betina quem abria a porta do seu apartamento para a amiga desesperada dela. A amiga era eu.

- Acho que fiz mais uma cagada – eu dizia, inconsolada, jogando meu corpo em cima dos ombros da minha amiga.

Betina me deu abrigo no seu sofá e, a base de um copo de vinho, expliquei a burrada que eu tinha feito. Para quem não se lembra: deixei o Pedro, praticamente, falando sozinho no apartamento dele. Virei as costas e entreguei meu namorado de bandeja para a amiga de infância deslumbrante (insuportável!!) dele que tinha caído de paraquedas de Paris para o meio da minha relação.

- Ciúmes. Isso é pura crise de ciúmes misturado com um recalque imenso. – concluía a minha psicóloga de plantão com aquele tom de tapa na cara com luva de pelica que só ela sabe dar.

- Espera aí, amiga. Eu aqui abrindo o meu coração para você e você ainda diz que a culpa é minha? Que eu sou ciumenta e recalcada??!! – arregalei os olhos inconformada – Tem certeza que você ouviu o que eu acabei de falar?

- Não só ouvi, como vi tudinho no churras da semana passada. E eu não achei nada demais. Apenas uma amiga, linda...tudo bem. Temos que admitir que ela é um avião, mas...

- Ficar elogiando aquela bolinha não vai me ajudar, Betina.

- Mas e o Pedro? O que ele acha de tudo isso? Afinal, você nem deixou o coitado se explicar né?

- Não sei. Deve estar tomando um vinho em cima da Torre Eifel com a Paulinha. Faz uma semana que a gente não se fala. Acho que ele tá me ignorando.

Antes que a Betina desse mais um tapa daqueles na minha cara, o meu celular tocou. Eu nem queria atender, mas o toque estava tão insistente que resolvi atender. Número desconhecido.
Alô. Era a Paulinha. Gelei. Coloquei a ligação no viva-voz para que a Betina pudesse ouvir sem que ela percebesse. Paulinha estava me chamando para conversar. Confesso que a minha vontade inicial era desligar o telefone na cara dela. Que despautério!!! Depois a recalcada sou eu. Mas segui as ordens da minha terapeuta de plantão e cedi ao convite.

....

Em menos de uma hora, cheguei no bar do Pedrão. O meu divã das sextas-feiras estava prestes a virar um ringue dependendo do que aquela bolinha fosse me dizer. Confesso que eu não segui as recomendações da Diana. Cheguei no bar totalmente armada, mas fui recebida pela Paulinha (super pontual) com aquele sorriso irritantemente Colgate e com um abraço de quem parece tirar um peso dos ombros.

- Que bom que você veio!! – dizia Paulinha – Achei que não ia aceitar o meu convite.

- Adivinhou... eu quase não vinha mesmo, mas talvez seja bom mesmo a gente esclarecer algumas coisas. – eu respondia com cara de poucos amigos e depois de pedir uma cerveja para aliviar a minha tensão.

- Bom... – Paulinha tentava iniciar o assunto um pouco nervosa – Não sei nem por onde começar... eu queria te pedir desculpas...

Desculpas?! O que ela tinha aprontado além de cair de paraquedas na minha relação?

- Eu não queria causar confusão entre você e o Pedro. Essa não foi a minha intenção. Inclusive, ele nem sabe que eu estou aqui. Mas eu vi o quanto ele ficou abalado depois de domingo, o quanto a relação de vocês é importante para ele e eu achei que eu tinha que ser sincera com você...

Pedro?! Abalado comigo?! Acho que a conversa está começando a ficar boa.

- Paula, você não precisa me pedir desculpas... – mentira! Eu tinha adorado aquela cena – Eu fiquei chateada sim, mas não foi com você (mentira!) – Fiquei triste porque o Pedro mentiu para mim.

- A culpa foi minha, Diana. Eu pedi pro Pedro não comentar nada com ninguém. Eu não voltei pro Brasil porque quero apenas expandir negócios. Eu estou falida. Eu quebrei. Não tem negócio nenhum... estou aqui tentando bancar a empresária poderosa, mas eu estou fudida, sem um puto no bolso...e eu recorri ao Pedro para me salvar. A única pessoa com quem eu posso contar agora... – a voz da Paulinha ficou embargada e os olhos marejaram. Confesso que fiquei surpresa com aquela declaração e com tudo o mais que estava por vir.

Paulinha Bolão contou que investiu tudo o que tinha e o que não tinha em uma empresa em Paris. Tudo ia bem até ela conhecer um gigolô barato por quem ela se apaixonou e que não só a iludiu como desviou toda a grana da empresa e sumiu no mundo. Bolão ficou iludida e quebrada. Como a família dela também não tem condições e também emprestou dinheiro para a empresa, Paulinha não podia falar nada para eles agora. Por isso, lembrou do Pedro e resolveu pedir ajuda. E o meu namorado, Madre Teresa de Calcutá, resolveu dar abrigo para a amiga.

- ... minha família nem sonha que eu estou aqui no Brasil. – terminou de me contar sua história triste e se acabar em lágrimas.

Caraca! Acho que a Betina tinha razão. Eu estava sendo recalcada. Onde estava agora aquela mulher toda diva que eu eu revi há menos de uma semana neste mesmo bar? Poxa! Fiquei tocada com a história dela, mas ainda não estava tão comovida. Será que não era mais uma carta na manga para me desviar do foco?

- Poxa, Paula. Não sei nem o que te dizer...

-Você tem toda razão para ter raiva de mim. Eu me enfiei lá no apartamento do seu namorado, causei na relação... eu sou mulher. Sei como é.

Já que o momento era de sinceridade, resolvi abrir o meu coração também. Confessei para a Bolão que estava com ciúmes dela, que eu não estava nem um pouco convencida de que aquele amor platônico pelo Pedro tinha ficado só na infância, mas que eu ia relevar tudo isso e dar um voto de confiança para ela. Será que eu estava fazendo a coisa certa?
Eu não tinha a resposta naquele momento, mas a Paulinha tinha uma outra dica para que eu fizesse a coisa certa. Me encorajou a procurar o Pedro e eu? Me desbanquei do bar do Pedrão para a casa dele. E ainda por cima emprestei a chave do meu apartamento para ela passar a noite lá – já que eu esperava que a minha fosse beeem longa na casa do Pedro.

....

Cheguei no prédio e para a minha surpresa o Pedro não estava. Tinha saído, mas o porteiro me entregou a chave reserva e eu subi.

Como ele estava demorando um pouco, acabei cochilando no sofá e fui acordada com um beijo na testa.

- Demorou demais para me procurar, dorminhoca. – era Pedro quem chegara. Agarrei ele pelo pescoço e dei um daqueles beijos longos de adolescente.

- Me desculpa, meu amor. Eu fui uma boba, ciumenta, tola e recalcada... me perdoa?

- A Paulinha te procurou?! – desconfiava Pedro.

- Não, ela não me procurou não... ah tá... eu não vou mentir não. Ela me procurou sim e me contou toda a verdade. Me senti muito mal por julgar ela e pensar bobagem da relação de vocês. Mas eu não gostei que você mentiu para mim.

- Diana, eu não menti. Eu omiti. É diferente. E você entende agora que essa história não era minha? Eu apenas fui chamado para ajudar. Respeitei a intimidade dela.

- Eu sei, eu sei... mas eu sou sua namorada, poxa. Eu conto tudo pra você. E o que você queria que eu pensasse ao ver esse espetáculo de mulher rondando o meu namorado?!

- O único espetáculo aqui é você, Diana. Ninguém mais.

Gente, preciso dizer que meu coração derreteu com aquela frase? Não só meu coração como todo o meu corpo no colo daquele homem? O final? Ah, vocês já sabem né?
Só espero que meu voto de confiança valha a pena e que não seja mais um xeque mate.


PAPO DE CALCINHA: VOCÊ ACHA QUE A DIANA FEZ A COISA CERTA? VOCÊ DARIA UM VOTO DE CONFIANÇA PARA A AMIGA?