segunda-feira, outubro 31, 2011

PRIMEIRA NAMORADA



Por Letícia Vidica


Outro dia, escutei de alguém – muito sábio por sinal – que a primeira namorada só se fode. Eu ainda não tinha provado dessa sábia tese até ser surpreendida aquele dia ao entrar na minha agência bancária. Enfurecida por causa de uma cobrança indevida na minha conta e enputecida por ter que tirar todos os trecos da minha bolsa (e quase a roupa toda) para passar naquela porta automática (acho que seu eu fosse um ladrão eu não teria esse problema...), quase caí para trás quando fui atendida pelo gerente da minha conta.

A minha vontade era mandar o tal gerente para lugares impronunciáveis quando perguntou no que poderia me ajudar, mas ao levantar os olhos, enfartei.

- Douglas? Não acredito!

O gerente da minha conta era o Douglas, o meu primeiro namorado. Nessa era de internet onde (quase) tudo se resolve no internet banking, eu mal falava com o meu gerente, mas naquele dia pude ver que quem administrava todo o saldo negativo da minha conta era o Dodô, como eu costumava chamá-lo, mais conhecido como Gina (dos Palitos Gina porque na época ele era um magricela de óculos, aparelhos e cheio de espinhas estouradas na cara...ai, gente, mas eu era apaixonada por ele mesmo assim).
Mal pude acreditar que o Dodô tinha se transformado no Sr. Douglas e estava...estava...lindo de morrer naquele terno cinza.

- Diana? Esse mundo é mesmo pequeno demais. – ele dizia.

Nos abraçamos surpresos e meio sem jeito com a fria intimidade, afinal de contas fazia anos que não nos víamos. Estranho como você é apaixonada por uma pessoa um dia e no outro ela te parece um mero estranho.

Depois de resolver o meu probleminha, Douglas me convidou para almoçar com ele. Como eu tinha um tempinho livre, resolvi aceitar. Na verdade, estava curiosa em saber mais sobre a vida do Dodô. E uma das grandes novidades é que ele tinha um carro possante importado daqueles que a gente só vê nos filmes do Velozes e Furiosos. Uau! Quem diria , hein, Dodô?

Na minha época, ele tinha uma motinho velha que fazia um barulho infernal (algo como pipoca estourando), mas eu achava o máximo andar na garupa da motoca, fazendo inveja para as outras meninas do bairro. A não ser quando acabava a gasolina e eu tinha que ajudar a empurrar. Se eu soubesse que você ia ter um possante, teria ficado mais tempo com você.

- Espero que não se importe. O lugar é simples, mas costumo almoçar aqui todos os dias porque a comidinha é uma delícia. – dizia ele sobre o restaurante que tinha me levado.

Eu? Me importar? Vai lá no quilão que eu como todos os dias. Isso aqui é o restaurante dos deuses, meu bem. Além do mais, para quem só me levava para comer o dogão do Seu Zé que ainda aceitava passe (nossa, lembra disso?)...isso é um tremendo upgrade.

- Mas então o que anda fazendo da vida? – era Douglas que me fazia a pergunta clássica.

- Ah eu me formei em Publicidade, hoje sou responsável por uma conta da agência, moro sozinha...não tenho filhos... - o que dizer para um homem que há tempos não faz mais parte da sua vida?

- Uau! Publicidade? Para quem queria fazer veterinária, mudou bastante hein? E, nossa, nunca achei que você fosse sair da casa dos seus pais... ainda tem medo do escuro? – perguntava Douglas, relembrando detalhes sórdidos do meu passado que eu já tinha até esquecido.

- Pois é...grandes mudanças mesmo...mas e você? Gerente de banco e pensar que você odiava matemática – Douglas, odiava matemática, ou melhor, odiava estudar. Será que ele se formou por correspondência?

- É...não teve jeito né. Na verdade, consegui um emprego de Office boy no banco e acabei meio que sendo forçado a seguir carreira. Me formei, fiz Pós e acabei de voltar de um mestrado na Inglaterra. A gente tem que evoluir né...

Como assim? Para tudo! O Douglas odiava estudar e como assim ele acaba de voltar de um mestrado na Inglaterra? Meu Deus, por que o Senhor não me avisou que aquele magricela espinhudo ia ter um futuro?

- Mas e você? Casou? Tem filhos?

- Achei que tinha notado. – impulsivamente levei meus olhos até aquele aliança de ouro que agora ofuscava meus olhos - Três anos. Sou casado há 3 anos e serei papai daqui 3 meses. – dizia ele com sorriso de papai orgulhoso e marido feliz.

- Nossa! Que legal! Puxa, parabéns!

Confesso que fiquei meio tonta com tanta informação. Primeiro porque o Douglas sempre me disse que não acreditava no casamento e achava coisa de gente brega. Tudo bem que ele tenha me dito isso aos 14 anos, mas sempre zombava de mim quando eu dizia que queria casar de véu e grinalda. Segundo, quem é a sortuda filha da mãe que pegou o Dodô na melhor fase da vida? Não é justo. Eu chupo o osso e a outra come o banquete?

- E você?

- Eu? O quê? – ainda estava meio tonta com a informação. – Ao contrário de você, eu não sou casada e nem tenho filhos. Espero que um dia isso aconteça. E eu estou meio que namorando... lembra do Pedro?

- Pedro? Pedro? ‘Peraí, o Pedrinho, o seu vizinho?

- É, ele mesmo. Uma história doida.

- Poxa, que bacana! Eu sempre soube que ele era caidinho por você. Vocês tem tudo a ver... A gente precisa marcar de nos encontrarmos então... anota o meu telefone.
Vamos combinar de vocês irem jantar lá em casa.

Um pouco estranho ver como o mundo dá voltas. O Dodô que até então eu era apaixonada se transformou num homem invejável muito bem casado e futuro papai e que agora me convidava para jantar na casa dele junto com o Pedro, o meu vizinho, que hoje é meu namorado? A vida é mesmo uma comediante.

- Foi muito bom te ver de novo, Diana. – dizia Douglas me olhando profundamente nos olhos. Aquele olhar tinha um ‘quê’ de nostalgia. – Você se transformou numa linda mulher ... – disse ele me deixando sem graça.

- Obrigada. Digo o mesmo para você. Fiquei feliz em saber das suas vitórias.

- Pena que éramos dois adolescentes imaturos né? Mas, deixa eu ir que o trabalho me espera. Apareça mais vezes.

Douglas me deu um abraço apertado e um beijo no rosto. Eu fiquei ali, parada no meio do estacionamento, tentando decifrar o que tinha sido aquela frase. ‘Pena que éramos dois adolescentes imaturos’...será que o Dodô também sentiu o mesmo que eu? O Primeiro só se fode?

PAPO DE CALCINHA: Você já reencontrou algum ex-namorado(a) e ele estava bem melhor do que antes?

terça-feira, outubro 25, 2011

SEXO SEM COMPROMISSO



Por Letícia Vidica


- Nossa, sinto que alguém está radiante hoje hein? – eu dizia para a Paloma, minha amiga de trabalho, em nosso horário de almoço.

- Jura que não está dando para disfarçar? – dizia ela com cara de quem queria me dizer algo – Ai, Diana, eu preciso contar uma coisa para você. Promete que não vai contar para ninguém?

O negócio parecia tão sério que fui logo jurando por toda a minha família e por todos os santos.

- Tive ontem a melhor transa da minha vida!!! – dizia Paloma com quem joga a batata quente na mão de outro.

- Sabia que essa sua carinha não me enganava hein... Mas qual é o problema? – até então ter a melhor transa da sua vida não é um problema e sim uma solução!

- Eu estaria mais calma se eu não tivesse transado com um cara que ao menos sei onde mora, o que faz...foi tudo tão de repente. Fui num bar com minha amiga, nos olhamos, nos beijamos e transamos enlouquecidamente no banheiro da balada. E agora me sinto culpada por isso.

- Culpada, Paloma? Sai dessa! Qual é o problema? Você apenas seguiu os seus instintos e nada mais... Mas, olha quem fala né, eu te entendo já passei por isso e confesso que também me culpei por um tempinho... – revelei a ela que eu não era esse poço de segurança que eu queria passar.

- Jura? E aí como foi? – depois que dividi o meu ‘segredinho’ com ela, Paloma ficou curiosa e pareceu mais aliviada por descobrir que não era a única mulher na face da terra que tinha transado com um desconhecido por apenas uma noite e nada mais.

***

A minha ‘apenas uma noite e nada mais’ começou quando resolvi aceitar o convite (sob forte insistência e pressão) da Lili para ir a Maresias na casa de praia do canalha do Luis Otávio. Um julgamento complicado salvou a pele da Betina, mas a minha não. O jeito foi arrumar as malas e cair na estrada.

- Lili, se eu ficar de vela o final de semana todo, eu mato você hein? – eu comentava enquanto seguíamos para a praia.

- Relaxa, Diana. Confia no meu taco. Já pedi pro Tavinho levar uns amigos...e ele tem uns amigos bonitinhos viu...opção não vai faltar, mas em caso de dúvida...fica com todos! – dizia ela rindo.

- Ih, Lili, tô fora... não esqueça que quem curte um prazer coletivo aqui é você hein.

Resolvi então relaxar e curtir a viagem. Afinal de contas, a companhia da Lili sempre me garantia boas risadas. Chegando a tal casa, Luis Otávio já esperava pela ‘gatinha’ do lado de fora...porém sozinho! Sinal de que eu seria o ‘empata foda’ deles né?

- Diana, que prazer te ver aqui!!! Olha, fica a vontade. A casa é sua.

Fui logo tratar de conhecer o meu quarto, enquanto o casalzinho apaixonado foi fazer um check-up no deles, se é que me entendem. Enquanto desarrumava a minha mala, fui surpreendida por uma voz.

- Diana?? Que surpresa maravilhosa!!!

- William? Nossa, eu que diga – quase caí para trás quando vi que o gato do William seria a minha companhia naquele final de semana que, até então parecia infernal, mas agora havia sinais de que seria dos deuses. Bem, o William é um amigo do Luis Otávio que eu sempre paguei um pau, achava gatérrimo, mas até então não tinha tido nenhum oportunidade de conhecê-lo melhor. Seria o cupido me dando uma segunda chance?

- Cadê o casal apaixonado? – perguntou ele sentando na cama bem ao meu lado.

- Adivinha? Estão lá no ninho de amor deles.

- Então que tal a gente pegar uma praia? – dizia ele passando os braços pelos meus ombros. Acho que me arrepiei naquela hora.

- Só se for agora. – um convite desses a gente não recusa.

Me troquei e fomos à praia. No caminho, não sei se prestei muito atenção na conversa porque os músculos dele e aquele corpo moreno escultural tiravam a minha atenção.

- A Lili me disse que o Otávio ia trazer uns amigos, mas não esperava que fosse você.

- Decepcionada? – perguntava ele me dando um sorriso malicioso como quem diz ‘é o que tem para hoje, baby’.

- Eu? Jamais. Surpresa, vamos dizer assim. Mas, pelo menos, eu não serei a vela dos dois sozinha né? Porque, pelo jeito, eles vão passar o final de semana trancados naquele quarto.

- Até que não seria nada mal né? – ele disse piscando para mim e se levantando para ir dar um mergulho no mar.

Fiquei hipnotizada vendo aquele corpo moreno suado caminhar para a praia e imaginando mil loucuras que eu poderia fazer com ele. Ai, meu Deus, mas é muita areia para o meu caminhão. Só caí em mim, quando fui acordada pelos gritos da Lili.

- Nossa, achei que só ia te ver amanhã na hora de ir embora.- eu dizia.

- Vou deixar as damas fofocando um pouco e vou cair na água.- dizia Otávio.

- E aí? O que achou? O Will é uma companhia à altura?

- Lili, tenho que confessar que não podia ter feito escolha melhor. O cara é um Deus e você bem sabe que eu acho ele maravilhoso. Mas é só uma amizade...ele nem quer nada comigo.

- Diana, para de ser modesta. Tá na cara que o Will vai dar o bote logo mais. Escuta o que eu tô te falando. – apesar da Lili entender muito bem sobre investidas de homens, duvidei.

Passamos o resto da tarde na praia até o anoitecer, comendo, bebendo e rindo das besteiras do Will que, além de lindo, era super bem humorado. À noite, Tavinho resolveu atacar de cozinheiro e fez uma das suas gororobas especiais.

- Ai, gente, agora para o jantar ser perfeito só está faltando o Will tocar né? – dizia Lili.

- Tocar? – me assustei.

Para a minha surpresa, além de gostoso e engraçado, ele também tocava violão e tinha uma voz maravilhosa. Voz que me deixou embriagada (mais ainda do que o vinho que eu tinha tomado). As músicas e o vinho estavam servindo como um ótimo afrodisíaco. A cada canção, ele cantava olhando profundamente para mim e com um sorriso safado de enlouquecer qualquer mulher. O Will é do tipo desses caras que tem o dom hipnotizador sabe? Fiquei tão hipnotizada que nem percebi que a Lili e o Otávio tinham saído pela culatra e indo para o habitat natural deles – o quarto.

- A noite tá tão linda. O que acha de dar uma volta na praia? – sugeriu o Deus de Ébano.

Pegamos mais uma garrafa de vinho, o violão e fomos nos sentar à beira do mar. Enquanto eu detonava a garrafa de vinho, Will cantava para mim numa espécie de serenata particular. Vamos combinar: tem como resistir a uma preliminar dessas?

De repente, no fim de uma canção surgiu aquele silêncio mortal. Ele ficou me olhando e eu sorri sem graça. Não sabia o que dizer. E muito menos pensar. Eu só queria me deixar levar. Will se aproximou de mim, passou os dedos suavemente nos meus olhos, depois no meu nariz, acariciou meus lábios, cheirou o meu pescoço e começou a beijar suavemente o meu ombro até parar próximo aos meus seios. Eu já estava em Marte nessa hora, amiga.

Inconscientemente, agarrei ele e começamos a nos beijar. Daí, minhas amigas, foi deixar acontecer naturalmente. Transamos à beira mar. Como eu esperava, o Will tinha uma pegada incrível. Foi uma das melhores transas da minha vida e, o pior de tudo, foi com ele que tive um dos meus melhores orgasmos.

***

- Mas e aí? – perguntava Paloma, ansiosa pelo fim da história.

Aí que a transa que começou na beira da praia acabou no meu quarto. Foi a noite toda sem parar. Pela manhã, acordei ainda meio zonza (afinal tinha gastado muita energia) e o Will não estava mais lá.

- Bom dia, margarida!!! – era Lili que entrava sorridente. – A noite foi boa?

- Lili, eu não acredito. A gente transou. – eu disse colocando a mão na cabeça para retomar a consciência sobre o meu ato.

- Que maravilha! E aí? Foi bom?

- Foi ótimo. Uma das melhores, mas Lili...eu mal conheço ele e agora? O que ele vai pensar de mim? Mas eu não consegui me controlar...aconteceu...todo aquele vinho, aquele mar, aquela lua, aquela música, aquele homem...eu fiquei hipnotizada...não pude esboçar reação. – desabei na cama e fiquei olhando para o teto.

- Diana, querida, para de ser quadrada! Aconteceu e pronto. Foi uma transa sem compromisso. Relaxa. Você não é a única mulher do mundo que fez isso. Para de se culpar hein? Veste seu biquíni que os meninos nos esperam para ir a praia. – dizia Lili, em tom natural, afinal sexo sem compromisso é bem natural para ela.

- Eu não vou. Como eu vou olhar na cara dele?

Apesar da noite ter sido maravilhosa e de eu saber que, hoje em dia, sexo sem compromisso faz parte de algumas ficadas, me senti culpada. Todo o machismo da sociedade eu joguei sobre mim. O que ele vai pensar? Vai achar que eu sou dessas mulheres fáceis? Vou ser mais uma no seu álbum de coleção de transas de uma noite só?

- O que foi, gata, tá tão calada. Aconteceu alguma coisa? Depois de uma noite tão maravilhosa, achei que ia merecer mais né? – era William que tinha notado a minha tensão.

- Não foi nada, Will. Só uma dor de cabeça.- claro que eu menti. Eu não podia deixá-lo perceber que eu me sentia culpada.

- Então vem aqui. – dizia ele me abraçando.

***

- E vocês se viram depois? – perguntava Paloma.

- A gente até trocou telefone e tals, mas nunca mais rolou de sairmos de novo. Foi só naquele dia e pronto. O Will é do tipo de cara aventureiro sabe?

- E como você encarou isso? – perguntou ela insaciável por uma solução.

- Resolvi não me culpar, afinal eu também estava a fim de transar com ele naquela noite. Não fiz nada que eu não quisesse não é? E se ele me usou, eu também usei e abusei daquele corpinho maravilhoso. Claro que não saio dando logo para o primeiro que aparece ou fica comigo, mas sexo sem compromisso, transas de uma noite só acontecem... faz parte do jogo. E, como todo jogo, é preciso abrir exceções não é mesmo?

Paloma ficou me olhando, mas sorriu como quem entende o recado e acho até que naquela hora ela tocou o foda-se em todo o seu sentimento de culpa. Terminamos o almoço que já tinha virado sorvete e retornamos para o trabalho. Afinal, o sexo pode até ser sem compromisso, mas o trabalho não.

PAPO DE CALCINHA: Sexo sem compromisso também faz parte da sua história? O que acha de relacionamentos de uma noite só e nada mais? Encara numa boa?

terça-feira, outubro 18, 2011

PLANO B



Por Letícia Vidica


- Nossa, Lili, que demora! Quem era no telefone? – eu perguntava curiosa para minha amiga que tinha saído da mesa para atender a uma chamada no celular do lado de fora do bar do Pedrão, deixando eu e Betina curiosíssimas (claro!).

- Vocês não vão acreditar...era o Rômulo! – respondia Lili com brilho nos olhos.

- Rômulo? Quem é esse? – perguntávamos tentando puxar do fundo de nossa memória qual dos rolos da Lili seria esse Rômulo.

- Aquele que eu conheci lá na praia, lembra?

- Ah o casado que prometeu que ia separar da mulher? – dizia a memória da Betina que tinha funcionado melhor do que a minha.

- Ué, você não tinha voltado com o Luis Otávio? – perguntei ainda um pouco perdida na história.

- Ai, meninas, o Luis Otávio me deu mais um bolo esse final de semana. Então, vamos partir para o plano B né?

- Plano B de quem, Lili? Só você não se tocou que VOCÊ é que é o plano B desse tal de Rômulo. Não só dele como de todos os caras que você se envolve né? – precisa dizer que era a Betina falando?

- Tá, tá, Betina. Agora eu não tô afim de sermão ok? Olha, meninas, eu vou ter que ir para casa porque o Rômulo vai passar lá em uma hora. Beijinhos. – disse Lili dando um último gole na cerveja e saindo rapidamente pela culatra.

- Ah se ele desistir, estaremos aqui hein? – ironizava Betina rindo e tomando um gole de chope ao ver Lili sair desesperada.

- A Lili não tem jeito né? Eu não entendo. Ela é tão bonita, tem tudo para ter um cara legal, mas fica aí se sujeitando a cada coisa.

- Diana, não adianta falar. Você viu. Eu tentei, lavo minhas mãos. Mas prepare-se porque vai ser no nosso ombro que ela vai vir chorar hein? Enquanto isso, vamos beber... Garçom!

***
Irritada e, entre várias olhadas no relógio do meu celular (porque o meu ginecologista estava com a minha consulta atrasada em mais de uma hora e eu não sabia mais qual desculpa dar no meu trabalho pelo meu atraso), fui surpreendida enquanto lia uma daquelas matérias de leitoras sobre suas histórias picantes de sexo (tentando esconder a revista para que ninguém percebesse que eu lia ’10 POSIÇÕES QUE VÃO ENLOUQUECER SEU HOMEM’), vi que quem saía de dentro do consultório do meu médico era uma mulher de rosto familiar. Tentando puxar na memória, levei um susto ao ver que o doutor me chamava, mas entrei na sala ainda encucada com a tal mulher.

- Doutor, acho que conheço aquela sua paciente... – eu disse enquanto ele olhava o meu prontuário.

- Quem? A Dona Olívia? – respondeu ele em tom natural, como quem diz, ‘como você não conhece a Dona Olívia?’

- Olívia, Olívia... Claro, Olívia! – repentinamente me lembrei que aquela moça era a ex-namorada do Pierre. Aquela que ele namorou enquanto estivemos separados.

- Doze semanas. É minha paciente antiga. – continuou o doutor.

- Doze semanas?! – o que isso significa?!

- É, ela está grávida. Uma gravidez perfeita. Inclusive, amanhã ela estará aqui com o pai da criança...acho que é ... Pierre o nome dele...ele sempre acompanha ela nos ultrassons...acho isso super importante. – respondia o médico babão emocionado com a responsabilidade do papai Pierre.

Nesse instante meu coração parou. Como assim a Olívia estava grávida? Como assim o Pierre é o pai da criança? Como assim 12 semanas? ‘Peraí, então ele já sabia que ia ser pai e não me contou nada? E como assim ele já sabia que ia ser pai, não me contou nada e ainda queria voltar comigo? Ah mas eu vou tirar essa história bem a limpo viu!

Nem sei como a consulta terminou. Só sei que fui para casa com pensamentos fuzilando minha cabeça. Eu me sentia uma tremenda tonta ao (quase) acreditar que o Pierre tinha mudado, mas ainda bem eu tinha optado pelo Pedro. Mas aquilo não podia ficar assim. Confesso também que fiquei magoada e senti meu mundo caindo ao saber que agora o Pierre seria pai de uma criança que não era minha. Confesso que, no fundo, eu ainda carregava uma esperança de que se não desse certo a minha história com o Pedro eu poderia apelar para o Pierre, mas agora era diferente...

- Diferente em que, Diana? Não tô entendendo porque desse estresse todo...- perguntava Betina enquanto eu explicava a história para ela.

- Betina, eu não posso mentir para você. Eu ainda gosto do Pierre. Eu sei que não é certo. Tô tentando esquecer ele. Estou me dando uma segunda chance com o Pedro, mas um filho não estava nos meus planos... – eu dizia me jogando no sofá da minha casa inconformada.

- E não tem que estar nos seus planos mesmo, Diana. Até porque isso agora é um problema que o Pierre é quem tem que se preocupar... Problema dele. Vacilão. Mais uma prova de que ele não tinha que ser seu...

- Betina, mas agora ele vai ter um laço afetivo eterno com essa Olívia entende? Mesmo que se a gente voltar um dia...a Olívia e o Olivinho estarão sempre presentes na nossa vida... Pior...ela tá de 12 semanas...isso significa que ele já sabia disso, mas ainda queria me esconder e me enrolar...queria voltar comigo para fugir da raia e ainda me tachar de madrasta? – concluía minha tese ainda inconformada.

- Diana, esquece o Pierre e para de fazer dele o seu plano B também.

Antes que eu dissesse algo, o interfone tocou. Coincidências do destino à parte, mas era o Pierre. Betina, que adora ver um circo pegar fogo foi se esconder no meu quarto, porque como ela disse ‘essa eu não perco por nada’.

Apesar da minha vontade incontrolável de socar a cara do Pierre quando abri a porta e vi a cara lavada dele fazendo o tipo cachorro sem dono, resolvi bancar a boa samaritana. Ofereci uma bebida e fiquei escutando suas ladainhas...a cada palavra eu imaginava ele numa cruz e eu pregando cada pedacinho do seu corpo (Ai, como eu sou perversa!!!)

- Vim aqui para saber se você mudou de idéia... – dizia ele tentando se aproximar de mim no sofá.

- Sobre? – levantei rapidamente. Eu não (podia) queria cair em tentação.

- Sobre eu e você... seu prazo já venceu né? E eu sei que você vai cansar do Pedro...ele não é homem para você. – olha só quem está falando né?

- Ah não? E quem seria, Pierre? Você? – ironizei dando uma risadinha sarcástica.

- Claro!! Diana, não faz sentido a gente ficar separado. A gente foi tão feliz quando estávamos juntos. Vamos recomeçar... – dizia ele pegando em minhas mãos.

- Pierre, eu já recomecei, mas sem você. E acho que você também fez o mesmo. – estava aí a deixa que eu precisava.

- Como assim? – perguntava ele bancando o desentendido.

- Você ia esperar até quando para me contar que vai ser pai, hein, Pierre? – coloquei a mão na cintura e mostrei que sou de arerê.

Naquele momento, o olho dele arregalou e ficou mudo por alguns minutos.

- Eu ia te contar... – disse ele de olhos baixos.

- QUANDO? – acho que berrei nessa hora - Quando eu caísse mais uma vez na sua ladainha cheia de promessas e daí você ia me dizer que estava num momento confuso, que precisava de um tempo porque daqui nove meses eu ia ver o resultado? Pierre, chega!!! – respondi bufando e batendo as tamancas de um lado a outro da minha sala.

- Calma, Diana! Foi de repente – dizia ele tentando me segurar porque eu andava de um lado a outro da sala me segurando para não tacar a garrafa de cerveja na cabeça dele. – A Olívia descobriu meio sem querer... e a gente já não estava quase que juntos...

- Como assim não estava QUASE que juntos? Então, vocês estavam juntos? Ou, melhor, vocês estão!!! Já entendi tudo, Pierre, mais uma vez, eu seria o seu plano B. Se eu aceitasse voltar, você daria um pé na bunda da Olívia, mas se a Olívia te aceitasse, era eu quem seria descartada né? Esse é o seu problema, Pierre. Você nunca sabe o que quer, mas sempre quer ter um plano B. Mas, escuta aqui, eu cansei de ser o seu plano B. Ou, melhor, eu não vou ser o plano B de ninguém. Se não for para ser a primeira opção, a segunda, meu bem, eu também não quero. E estou muito feliz porque agora tenho quem me queira única e exclusivamente como primeira opção. Por favor, Pierre, não perca mais o seu tempo comigo. Agora você tem uma criança que precisa de você...tchau!!! – eu disse abrindo a porta e apontando para ele onde ficava a saída.

Pierre ainda tentou gaguejar mais meia dúzia de palavras, mas a minha fúria não me permitia ouvir. Ele levantou, me deu um beijo na bochecha e saiu como um cão molhado de chuva com o rabinho entre as pernas.

- Amiga, você foi fenomenal! Espetacular! Mal te reconheci! – dizia Betina batendo palminhas e me abraçando pela performance.

- É, foi difícil, mas pronto, falei. Acho que estou me sentindo melhor. – me joguei no sofá para digerir aquele momento.

- Isso merece uma comemoração!!! Tem champagne nessa casa?

Enquanto a Betina comemorava, eu fiquei hipnotizada e confusa. Não é que eu finalmente tinha criado coragem e botado o Pierre para correr? O sentimento continua o mesmo e vai continuar por um tempo ainda eu sei, mas consegui me valorizar e me posicionar...

... coisa que a Lili ainda não tinha conseguido muito porque apareceu lá em casa aos prantos como a Betina previa.

- Quem te deu o pé na bunda dessa vez, Lili? – perguntei já meio sem paciência.

- O Rômulo. Ele sumiu. Marcamos de nos ver hoje, mas ele desapareceu. Daí, entrei no Facebook dele e vi que ele viajou com a família. – dizia ela com a voz embargada como a de um bebê embargada.

- E por que você tá chorando? O cara não é casado? Ele vai ficar com você quando conseguir uma folga com a família, poxa! Não é assim que você gosta? – respondia Betina com paciência zero.

- Mas é sempre assim? – chorava Lili.

- É sempre assim porque você quer que seja assim, Lili – eu dizia – Olha para você. Uma loiraça bonita, rica, inteligente...

- É, Lili, tá mais do que na hora de você se ligar e parar de ser a segunda opção dos outros hein? Até quando vai comer os restos, garota?

Lili ficou nos olhando sem resposta, mas como conheço minha amiga sei que ela ficou pensativa. Se ia parar de ser a segunda opção dos homens, eu já não sei e nem me arrisco a colocar a mão no fogo por ela porque em questões de amor Dona Liliana não é muito confiável, mas o que sei é que eu não vou mais ser plano B, C, D, E, F de ninguém... se não for o A, nem adianta arriscar o resto do alfabeto.

PAPO DE CALCINHA: E, você, já foi o Plano B de alguém ou já teve um Plano B na sua vida?

domingo, outubro 09, 2011

AMADO AMIGO: A ESCOLHA

Por Letícia Vidica


- Meninas, ainda estou em tempo de desistir. Isso pode ser um sinal do destino. – eu dizia tremendo feito vara verde na sala de embarque do aeroporto ao ouvir anunciar que o voo para o Rio de Janeiro estava atrasado.

- Desistir? Jamais. Agora, meu amor, é entrar naquele avião e correr para os braços do Pedro. – dizia Betina.

- E se ele não quiser mais saber de mim? Eu posso me poupar disso. É tão mais fácil levar um fora à distância né? – esse ainda era o meu último fio de esperança, temendo mais um fora.

- Ele vai desistir de você se for um louco... e agora que estou aqui só volto para casa depois de pegar uma corzinha nas areias da Barra da Tijuca. – dizia Lili.

Eu tinha convencido, ou melhor, as minhas amigas me convenceram a embarcar com elas naquele avião rumo ao Rio de Janeiro atrás do Pedro. Para mim, tudo aquilo era uma loucura. Ou era assim que eu preferia que fosse. A Lili dizia que era uma linda prova de amor e a Betina dizia que eu estava fazendo a coisa certa. E foi assim que me convenci a subir naquele avião.

Chegando no Rio e fomos assentar pouso num apezinho na família da dona Liliana Bittencourt na Barra daTijuca. No diminutivo, só tinha a minha fé porque o apartamento dava uns cinco dos meus. Colocamos nossos biquínis e fomos bolar nosso plano infalível sobre como encontrar o Pedro,pegando uma cor na areia da Barra.

- Meninas, ainda não acredito que estou aqui. Isso é a maior loucura. Eu quis dar uma chance para o Pedro, mas vai ver que o encontro dos dois lá em casa foi um sinalzinho do destino dizendo que não vai dar certo e que eu tenho que ficar com o Pierre mesmo...

- Diana, você tem que parar com essa insegurança toda. Você quer ou não ficar com o Pedro? Acho bom usar sua folguinha para pensar sobre isso porque ele não me parece querer apenas uma aventura.

Betina estava certa. Eu não podia estar ali por brincadeira. Falando nisso, aproveitamos para curtir o sol maravilhoso que fazia, bebendo uns drinks e água de coco e refrescando o corpinho no mar, não só o corpinho porque também tentei refrescar a minha mente que estava a mil bolando milhões de possibilidades sobre o meu (re)encontro com o Pedro.

À noite, vesti um look de arrasar e fui com as meninas para o apê do Pedro. Chegando lá, o porteiro me disse que ele tinha saído, mas não sabia dizer se demoraria. Achei que era mais um sinal de que eu deveria desistir daquela idéia maluca. O meu desespero devia ser tanto que o porteiro me disse que o Pedro costumava ir comer uns petiscos num quiosque na praia e que eu poderia encontrar ele lá. Praticamente arrastada pelas meninas, seguimos até o tal quiosque.

O Pedro não estava lá, mas como a noite estava infernalmente quente, pousamos por lá mesmo para beber uma aguinha de coco.

- Meninas, é um sinal. Eu já disse. Amanhã mesmo volto para São Paulo.

- E não encontrar o bofe?! Enlouqueceu né? – questionava Lili

- Acho bom você desistir da ponte aérea...aquele ali não é o Pedro?

E não só era o Pedro que chegava como já estava bem acompanhado de uma linda morena, pele cor de jambo queimada de sol. Nossa, ele realmente tinha sido rápido não?

- Diana, tá esperando o quê para ir lá falar com ele?

- Eu?! Não tá vendo que ele está acompanhado, Betina? Olha o papelão que vocês me fizeram passar...- eu dizia numa mistura de raiva e lágrima nos olhos.

- Muda essa cara agora e vamos lá. – Betina me puxou pelo braço e me levou até a mesa do Pedro.

- Betina?! Diana?! – Pedro assustou-se ao nos ver. Imagino que devia estar pensando qual desculpa daria. – O que vocês estão fazendo aqui?

- Já vou logo dizendo que isso foi loucura da Betina, eu não queria ter vindo...e eu também não quero estragar nada... – eu dizia olhando para a morenaça e virando as costas.

- Pera’í! Afinal de contas, você não veio ao Rio a toa né? – dizia Pedro me segurando pelo braço.

- Oi, Diana, Prazer. Eu sou a Lívia. Sou prima do Pedro. Ele tem falado muito de você esses dias...acho bom mesmo que tenha aparecido.

Minha cara, claro, caiu no chão. Mas meu coração se aliviou ao saber que o Airbus era parente dele e não mais um jatinho que já tinha pousado na pista dele. A prima acabou indo sentar na mesa com Lili e Betina e eu e o Pedro fomos andar na areia. Ficamos andando alguns minutos em silêncio. Eu sabia que o Pedro estava esperando eu dizer algo, mas eu não sabia o que dizer.

- Confesso que estou bem surpreso.

- Por quê?

- Essa era a última coisa que eu esperava. Não achei que você viria atrás de mim. Que honra! Dona Diana enfrentou o seu orgulho...

- Também não precisa apelar, Pedro. Eu precisava vir, eu tinha que te ver, eu tinha
que me explicar...

- Não precisa falar nada, Diana. Esqueceu que te conheço mais do que a você mesmo? – dizia Pedro pegando nas minhas mãos e olhando profundamente nos meus olhos.

- Mas agora é diferente. Você me conhecia como amiga e agora sou mais do que isso. Eu queria te pedir desculpas. Eu queria ter te contado do Pierre, mas foi tudo de repente...eu e ele...não vou te enganar, foi forte, gostei muito dele, marcou...mas já não me faz mais feliz.

- E quem te faz feliz, Diana?

- Você. Você me deixa feliz de um jeito que eu nunca fui. – eu me declarei, agarrando Pedro e o beijando apaixonadamente nas areias de Ipanema.

Como tudo pareceu um sonho, como sempre parece quando estou ao lado do Pedro, só voltei à realidade quando fui acordado pelo beijo do Pedro na manhã seguinte na cama dele e sendo surpreendida por um lindo café da manhã.

- Você não existe!!!! – eu dizia ainda sonolenta.

- Sempre existi. Você que não me enxergava... queria te fazer uma pergunta...

- Todas.

- E agora como vai ser? Voce vai voltar para São Paulo. Eu vou ficar aqui. O Pierre vai estar lá, vai te procurar e aí?

- Aí o quê? Tá achando que vou dar mole para ele?

- Não foi o que eu disse...

- Fique tranquilo. Meus sentimos estão mais organizados. E sei bem como afastar o Pierre. Agora chega de falar disso e vamos curtir nosso dia juntos ok?

Pedro me beijou novamente e recomeçamos nossas horas intensas de amor. Dali eu não tive dúvidas de que não tinha mais porque ter insegurança. Agora é só curtir com o Pedro e ver no que vai dar. Confesso que o Pierre ainda tem lugar no meu coração, mas está cada dia sendo mais e mais espremido pelo Pedro que tá ficando bem espaçoso por lá também...