domingo, julho 31, 2011

AMIGAS, MAS...HOMENS À PARTE!



Por Letícia Vidica


Já reparou que o bicho homem está em extinção? Mas não estou falando do bicho homem - homem e mulher. E sim do homem mesmo com H maiúsculo e tudo o mais maiúsculo que ele puder e tiver. Depois que muitos resolveram sair do armário (nada contra!) ou decidiram procriar ou, até mesmo casar, diminuiu muito as possibilidades de homens que não sejam gays, não tenham filhos, não sejam compromissados e ainda sejam bonitos, inteligentes, ricos, carinhosos e assim vai. Por conta dessa escassez da espécie masculina, a concorrência tem ficado desleal. E mais desleal ainda é quando a sua concorrente é a sua melhor amiga. E uma concorrência daquelas começava naquela noite.

Eu e as meninas tínhamos resolvido sair para azarar. Era a noite do 'libera geral'. A carência das três era tanta que saímos pro tudo ou nada. Cada uma ao seu estilo, investiu na produção mais femme fatale possível: Betina, no seu estilo, 'sou inteligente, mas posso ser sexy', esbanjava um charme misterioso; eu, sempre confusa, resolvi fazer o estilo ' sou mulherão, poderosa e decidida (às vezes), tá esperando o quê para me beijar?' e Lili, como sempre, resolveu deixar os dotes à mostra e apostou no look 'piriguete sexy, olhe para os meus peitos agora, lindão!".

Ao entrarmos no bar (que não era o do Pedrão porque resolvemos dar uma variada para ver se a fila anda mais rápido), logo os olhares masculinos voltaram-se para nós. Também em uma balada com mesa de sinuca, homem era o que não faltava no pedaço!!!

- Meninas, se hoje eu não receber nem uma piscada, abomino de vez essa história de homem hein? Só estou apelando porque o vibrador já não está resolvendo! - essa era Betina com seu habitué mau-humor.

- Calma, Bê, tô sentindo que hoje vai ser diferente. - eu dizia ansiosa e cheia de expectativas para aquela noite.

Enquanto bebíamos alguns drinks, aproveitei para dar uma pescoçada pelo salão para avaliar a homarada de plantão. É sempre bom reconhecer o ambiente. E logo reconheci: no fundo do salão avistei um Deus de ébano que bebia sozinho no balcão do bar. Pele morena queimada de sol, barba por fazer, olhos cor de mel com um brilho hipnotizante, um charme inexplicável e um sorriso Colgate maravilhoso que sorria para mim.

- Diana, Diana? O que foi? - perguntava Lili.

- Acabei de ver um Deus. - eu dizia sem conseguir tirar os olhos dele.

- Tá olhando para quem? - perguntava Lili curiosa e acompanhando o meu olhar. - Minha Nossa Senhora, que homem!!!

- Pode tirar o olho que é meu. Vi primeiro hein? - eu recriminava Lili antes que ela jogasse eu feitiço. Ou melhor, a sua periquita de ouro cheirando Victoria Secret's em cima do Meu Deus.

- Ai, amiga, com a escassez de homem, nem me importo em dividir. - dizia Lili (até aí achei que era uma brincadeirinha né? Olha que isso é coisa séria.)

- Acho bom as periquitas baixarem o fogo que o Deus tá vindo para cá, viu? - era Betina nos trazendo à realidade.

...

- Nossa, o que três damas lindas fazem sozinhas nesse lugar? - era o Deus quem perguntava e,por sinal, tinha uma voz de anjo. - Pablo, prazer. Incomodo?

- Não... - dizíamos eu e Lili babando feito idiotas por aquele homem.

- Pode sentar, amigo. Sempre tem lugar para mais um. - era Betina acabando com toda aquela palhaçada e facilitando a nossa vida.

Muito simpático, Pablo dividiu algumas cervejas conosco e nos contou que estava esperando por alguns amigos que pareciam ter dado o cano nele e então resolveu se socializar. Enquanto ele falava, eu apenas ouvia. O cara era tão incrível que teve o poder de me travar geral e o meu poder de femme fatale parecia ter ido por água abaixo.

- É sempre tão tímida assim?

'Oi, o quê? Falou comigo?' Ele tinha falado comigo e eu não conseguia responder.

- Acho que estou sendo inconveniente né? - ele dizia.

- Que isso. Ela é assim mesmo. Envergonhada - era a filha da mãe da Lili respondendo por mim.

- Já que estamos de bobeira que tal uma partidinha de sinuca? - ele sugeria - Sabe jogar, gata?

A gata, por incrível que pareça, era eu.

- Ai, desculpe, eu não sou muito boa nisso. Eu iria te envergonhar ainda mais.

- Sinuca? Nossa, adoro sinuca. Sou campeã... - Lili se candidatava.

- Que bom. Então, vamos lá, parceira. - dizia ele puxando-a pelas mãos e os dois saíram conversando e rindo.

- Não acredito. Mais uma vez, perdi o lindão para a Lili. - eu dizia desanimada.

- Como assim, perdeu? Diana, hello. O cara estava caidinho por você, vai? Ficou o tempo todo tentando puxar papo. O que aconteceu?

- Ah, não sei. Travei.

- E cadê aquela história de libera geral?

- Acho que não vai ser hoje. Vamos beber. Garçom!

E foi bebendo algumas caipirinhas de saquê que tentei afogar minhas mágoas, mas eu só conseguia era aumentar a minha raiva e inveja da Lili a cada gole que eu bebia. Enquanto eu me afogava em saquê com a Betina, a espertinha da Lili colocava seu plano em prática. Fingia não saber joga sinuca, enquanto o bonitão ficava atrás dela ensinando como ela pegava no taco. Taco esse que, com os olhares que ele lançava na bunda e nos peitos dela, ela pegaria mais tarde também na casa dele.

- Eu vou matar a Lili. Olha só! Ela não pode ver um homem! Olha como ela tá se jogando pra ele, Betina!!! Eu disse para ela que eu estava afim dele... Olha como ele tá babando nela, na bunda dela, nos peitos dela...essa eu perdi, mas a Lili me paga.

- Diana, com aquela roupa de piriguete da nossa amiga até o Papa Bento XVI olharia para ela. Relaxa, você sabe muito bem que as armas da Lili não duram mais do que uma noite ou quinze minutos de prazer. Relaxa que o cara ainda tá na sua.

Eu podia estar louca ou muito pessimista, mas eu não conseguia acreditar que o cara estava na minha vendo os dois rindo, se insinuando, se tocando e quase transando naquela aula de sinuca. Me explica direito porque essa parte eu perdi. E achei ter perdido mais ainda, quando...

- Meninas, o Pablo convidou a gente para irmos tomar um vinho na casa dele, o que acham? Vamos?

- Obrigada, Lili, mas eu já bebi demais por hoje. Vou para casa apelar pro vibrador. Se a Diana quiser ir...

Eu? Ir para casa do Pablo para quê? Para fazer um ménage a trois ou para ficar assistindo a sessão sexy de sábado à noite de camarote? Com muita raiva e inveja no coração, neguei e deixei o caminho livre para a Lili que saiu saltitante cheia de amor e (vontade) de dar para o Pablo.

***

Fui para casa puta da vida. Como assim eu estava toda trabalhada no estilo "sou mulherão, poderosa e decidida, tá esperando o quê para me beijar?" e fui para casa chupando o dedo e perdendo para minha própria amiga!!!. Amiga? Mas que tipo de amiga a Lili era? Amiga que dá em cima do paquera da outra amiga? A Lili é uma egoísta! Agora quer todos os machos da face da terra para ela? Confesso que mal preguei o olho naquela noite só de pensar na Lili e no bonitão bebendo vinho juntos e enlouquecidos de tesão numa noite de sexo feroz casual. E eu? Chupando o dedo.

- Bom dia, Di! - era Lili que acordara com o típico bom humor de quem deu a noite toda e quer dividir o sentimento com todas as pessoas do mundo.

- Fala, Liliana! - mas eu não estava a fim de dividir nada naquele dia.

- Nossa, que voz é essa? Olha, o Pablo convidou a gente para um churrasco na casa de uns amigos dele, vamos?

- Ai, não tô afim...estou com dor de cabeça.

- Ih, tá de TPM, Diana? O que foi?

- Nada , Lili...aproveite bastante, assim como aproveitou com ele na noite passada e me poupe dos detalhes sórdidos.
- Se ainda tivessem detalhes, se quer saber ficamos bebendo vinho, ele ficou falando da vida, mas não rolou sexo se você quer saber... É inacreditável, mas apenas nos beijamos e nada mais.

"Como assim? O Meu Deus não quis comer a Lili? Nem mesmo com aquele visual piriguete sexy? Que alívio! Alívio nada! Mas eles se beijaram! Continuo puta com ela e não irei ao churrasco!" Confesso que passei à tarde bem mais aliviada e até me animei a cozinhar e convidei a Betina para experimentar meu novo quitute. Aproveitamos para tricotar um pouco.

- E o vibra? Foi companheiro ontem?

- Ai, menina, cheguei com tanta dor de cabeça por conta daquele saquê barato que até esqueci dele...mas você tá mais alegrinha hoje hein? O que houve?

- A Lili me ligou. Disse que não rolou nada entre ela e o Pablo...

- Como assim??? Eles não transaram? O mundo vai acabar. Pela primeira vez, a Lili sai com um cara e não dorme com ele na mesma noite? Não te falei que ele tá na sua?

- Mais ou menos né? Eles ficaram. Se beijaram, mas já me alivia saber que a intimidade não foi tão profunda. Ela até parecia estar um pouco chateada no telefone porque o Deus não quis a periquita de ouro, sei que é uma questão de tempo, mas... confesso que fiquei bem feliz. Bem feito! Quem manda ela furar o olho dos outros?

- Diana, pega leve. E cadê ela?

- Foi para um churrasco na casa dos amigos do Pablo. Ela me convidou, mas eu estou com tanta raiva dela e dele que sou capaz de colocar os dois na brasa.

Caímos na gargalhada e resolvemos ficar na brasa da minha churrasqueira elétrica mesmo. Passamos uma tarde agradável e até esqueci do Deus e da Lili.

Só no começo da noite, Betina resolveu ir embora. Como estava uma noite quente, resolvi descer até o portão do prédio para me despedir dela. Depois que Betina foi embora, me bateu uma vontade repentina de andar e saí andando pelo meu quarteirão. Foi quando, de repente, um farol acenou para mim. Pensei que ia ser sequestrada, mas logo me aliviei e me assustei quando vi o Pablo dentro do carro.

- Sabia que eu era sortudo, mas nem tanto.

- Pablo? O que você está fazendo aqui?

- Deixei a Lili em casa e ela me disse que você morava aqui perto.

'Tolice a minha pensar que ele tinha ido me ver. Foi apenas um acaso depois de deixar a namoradinha em casa...'

Ele estacionou o carro e ficamos conversando junto a porta do meu prédio. Naquele momento, esqueci completamente que ele tinha ficado com a minha melhor amiga. Por um instante, nem lembrei dela. Ficamos jogando conversa fora, falando bobagens até que ele confessou que tinha forjado aquele encontro ao acaso.

- Queria te ver.

'Como assim me ver?"

- Nem conseguimos conversar direito lá no bar... Eu tinha que te ver. - ele dizia me olhando da mesma maneira que me olhou no bar naquela noite antes da Lili atravessar o caminho.

- Eu não estou te entendendo. Mas você e a Lili...

- Somos amigos.

- Amigos que se beijam na boca?

- Nossa, as notícias correm né?

- Não, elas não correm. Somo amigas e dividimos confidências. Eu que não estou te entendendo. Você saiu, ficou com a minha amiga e agora vem com esse papo...Olha, você é uma gracinha, mas se acha que eu vou dar mole assim para você sair dizendo que beijou duas amigas...

'Peraí, Diana, como assim? Até ontem esse Deus não era tudo que você queria? Ele te paquerou primeiro no bar. A Lili se insinuou para ele e não hesitou em beijá-lo'. E sem hesitar também não hesitei àquele beijo que ele me deu me agarrando ao capô do carro. Uau, que pegada!!!

- Preciso provar mais alguma coisa para você se convencer de que, desde o começo, eu queria ficar com você?

- Precisa. Eu não entendo esse tipo de xaveco, no qual você fica com a amiga primeiro...

- Diana, eu já te expliquei. Eu não estou interessado na Lili. Desculpe, sei que ela é sua amiga, mas conheço o tipinho dela. Desde o começo , eu percebi que ela só queria uma noite de sexo comigo e pronto. Sem contar que eu não curto mulheres vulgares demais...desculpe de novo ela é sua amiga...

"Sei que ela é minha amiga, mas eu estava adorando toda aquela história, mesmo que isso seja apenas um xaveco habitual para me levar para cama"

- ok, mas você a beijou...

- E como eu não ia beijar se ela me agarrou no meio da minha sala?

Eu podia até achar que tudo aquilo era mentira, mas infelizmente eu conheço bem a minha amiga. Falando nela, Lili apareceu.

- Pablo? Diana?

- Eu posso explicar, Lili - eu dizia retomando a consciência.- Independente do jeito fácil da Lili, ela era minha amiga e eu não queria magoá-la.

- Explicar? Algo tem que ser explicado que eu não estou sabendo? - dizia Lili com cara de bebê chorão.

- Pablo, acho melhor ir embora. Eu cuido disso.

- Tudo bem. Posso te ver amanhã, gata? - ele dizia sem o mínimo de consideração pela Lili e arrancou o carro.

***

- Diana, vocês ficaram né? Eu sei, pode falar. - dizia Lili com os olhos vermelhos.

- Lili, não foi por querer...ele apareceu aqui com um papo de que... Além do mais, você se insinuou para ele. Sabia desde o começo que eu estava afim dele e foi lá tacar a sua periquita na cara dele.

- Eu me insinuei? Nunca! Ele é um cara bem bonito, charmoso sim, mas desde o começo eu fui eu mesma...desculpe se o meu jeito te incomoda... e o cara ficou jogando o maior xaveco para cima de você e você não fez nada, achei que tudo bem se eu me aproximasse....

- Tudo bem se você não tivesse se aproximado tanto...não tivesse ficado com ele né, Lili!!!

- Diana, aconteceu...

- Eu sei bem o que aconteceu...sei bem que você o agarrou na sala...

- EU agarrei?? Foi isso que esse filho da mãe disse? Diana, vai acreditar nele ou em mim? O cara ficou com o maior xaveco para cima de mim e o beijo rolou...eu quis e ele quis... mas acredite em quem quiser ok? Fui.

Lili nem deixou que eu me explicasse e saiu batendo a porta do meu apartamento. Poxa, em quem acreditar? Nas verdades de um homem desconhecido cheio de charme que pode me oferecer alguns momentos de prazer ou nas verdades da minha melhor amiga que, independente do seu jeito liberal de ser, nunca vacilou comigo e sempre me ofereceu sua fiel companhia quando mais precisei? Optei pela segunda opção, mas com ressalvas para a Dona Liliana: com a escassez de homens por aí ficamos acordadas em uma coisa - amigas, amigas, mas homens à parte. Não vamos mais misturar amizade com negócios, se é que me entendes?

PAPO DE CALCINHA: E, você, já dividiu 'negócios' com alguma amiga(o)? Já ficaram afim da mesma pessoa?

terça-feira, julho 26, 2011

AQUELE SONHO



Por Letícia Vidica


Parei o carro no semáforo e abri os vidros porque aquele calor estava insuportável e, como meu carro não tem ar condicionado, tive que apelar para a ventilação natural. Olhei no carro do lado e me surpreendi. O Pierre era o motorista e me olhava profundamente nos olhos com um brilho misterioso e um sorriso afetuoso. Quando ele hesitou em me dizer algo, o farol abriu e o carro partiu.

Acordei assustada e suada, levantando da cama numa rapidez ofegante. Mais uma vez, aquele sonho tinha me perseguido. Fazia semanas que eu andava sonhando com o Pierre. E era sempre a mesma coisa, a gente se via, se olhava e ninguém dizia nada, apesar de parecer querer dizer. A primeira noite que sonhei com ele, achei normal. Podia ser saudade, coincidência, sei lá, mas aquela era a centésima noite que aquele sonho me perseguia e não havia nada de normal naquilo.

Olhei no relógio e vi que eram apenas duas e meia da manhã. Levantei e fui tomar um copo d’água para me acalmar. ‘Calma, Diana, você não está louca. Foi apenas um sonho. Volte a dormir que amanhã será um longo dia’. Tentei acalmar a mim mesma de que aquilo não seria paranóia. Em poucos minutos, adormeci. Acho até que dormi com um olho aberto a fim de tentar vigiar meus pensamentos e temendo que o Pierre aparecesse no quarto tentando se infiltrar em meu subconsciente.

Acordei com uma cara péssima. Parecia que um trator tinha passado no meu rosto e entrado na minha cabeça, tamanha era minha dor de cabeça. O pior é que eu tinha uma reunião logo cedo e tinha acordado atrasada. Tudo culpa daquele sonho maldito que, por sinal, insistia em me perseguir em pequenos flashes durante todo o meu dia.
Eu tinha que dar um jeito naquilo e só uma pessoa poderia me ajudar. Não hesitei e corri para o consultório da Jane, a minha terapeuta, no final do dia.

- Pela sua carinha, minha flor, posso até adivinhar sobre quem você veio falar...- dizia Jane ao me dar um daqueles abraços maternais e adivinhando que o Pierre era o motivador da minha ida ao consultório às dez da noite de uma sexta-feira.

- É ele mesmo. O Pierre. Jane, eu não sei mais o que fazer! Eu não paro de sonhar com ele. O Pierre tá me perseguindo até em sonho!!!

Contei para ela sobre os sonhos que andava tendo com ele e como eu me sentia toda vez que isso acontecia.

- Diana, isso é muito mais do que um sonho. Pode parecer loucura, mas é mais realidade do que você imagina.

- Como assim? Quer dizer que eu tenho encontrado o Pierre de verdade?

- Digamos que sim. A gente tem o poder de se manter conectado , através de nossas energias e pensamentos, com quem tem alguma ligação especial conosco. Já reparou que, às vezes, você pensa em uma pessoa e logo ela liga? Te procura? É o que está acontecendo com vocês. A energia de vocês está ligada e vocês andam se procurando. Vocês se falam no sonho?

- Nunca. Tenho sempre a impressão de que ele quer me dizer algo ou que eu quero falar, mas algo sempre acontece e eu acordo.

- E o que você sente quando sonha com ele?

- A sensação é boa. Sinto tudo aquilo que eu sentia quando estávamos juntos, mas quando acordo fico me punindo pelo que senti e pelo sonho. Isso me atormenta demais. Eu não agüento mais, Jane. Tem algum remédio para isso? - eu suplicava.

- Minha linda, não se culpe. Isso é normal e significa que vocês ainda tem questões a resolver. E estão tentando fazer isso no sonho, mas não está dando muito certo né? A melhor saída seria vocês se encontrarem e conversarem para finalizar o que ainda ficou aberto.

- Eu? Encontrar o Pierre? Jamais! Se ele quiser, ele que me procure. Ainda mais agora que está namorando aquela Olívia Palito...

- Diana, não faça isso por ele. Faça por você. Aposto que vai se sentir melhor e vai ter noites maravilhosas de sono.

Será que eu me sentiria melhor? Será que eu devia procurar o Pierre? Saí do consultório, como sempre, com a cabeça cheia de minhocas. Procurar o Pierre não fazia parte dos meus planos. Depois daqueles nossos encontros, tudo o que eu menos queria era vê-lo de novo, além do mais motivado por mim. Mas, por outro lado, eu não suportaria continuar a ter aqueles sonhos indesejáveis. O que eu faria? Só um chope e alguns franguinhos a passarinho me ajudariam naquele momento. Parti pro Pedrão. E, obviamente, minhas fiéis escudeiras me esperavam lá.

- Diana, onde você estava? A gente tava quase ativando a Polícia Federal para te achar – dizia Lili.

- Pela carinha, aposto que não está nada bem. – analisava Betina com seu tom maternal.

- Eu estava na Jane, minha terapeuta.

- O que aconteceu?

- Questão de saúde pública. Preciso de um chope urgente. Acontece que eu não paro de sonhar com o Pierre e ando cada dia mais atormentada com isso.

- Num creio que nem em sonho ele te deixa em paz?

- Pra você ver, Betina. Tenho sonhado constantemente com ele. É sempre a mesma coisa.

A gente se vê, se olha , quer falar algo e não fala. Daí, eu acordo esbaforida, atormentada e a cena se repete. Tive que apelar para Jane.

- E qual foi o conselho espetacular que ela te deu dessa vez? – zombava Betina.

- Não brinca não que é coisa séria! Ela disse que eu e o Pierre ainda estamos ligados e, por isso, temos no encontrado em sonho . Disse que ainda temos questões mal resolvidas e que eu devia procurá-lo.

- Procurar o Pierre? Você não vai fazer isso né, Diana? Chega dessa história! – palpitava Betina.

- Eu acho que ela tem que procurar sim. Se você acha que ainda tem algo para falar para ele, Di, procura sim. Deixa esse orgulho bobo de lado. – dizia Lili.

- Lili, você é a última pessoa que pode aconselhar a Diana, já que correr atrás de homem é o seu dom.

- Calma, meninas! – eu dizia para acalmar os ânimos – agradeço os conselhos, mas vou pensar porque não sei o que fazer. Não fiquem bravas, mas eu não tô legal. Passei aqui só para dar um ‘oi’, vou para casa.

- Quer que a gente te acompanhe?

- Obrigada, mas preciso ficar um pouco sozinha. Amo vocês, meninas. Dou notícias quando resolver o que fazer.

Entrei no carro e comecei a dirigir sem rumo. Ou, melhor, eu tentava achar um rumo. Continuar a sonhar com o Pierre ou procurá-lo? Para qual direção eu devia seguir? Eu não sabia. Na verdade, acho que no fundo uma voz me dizia que eu devia ir conversar com ele. Dizer tudo o que eu pensava, expor todo o meu sofrimento, mas de quê adiantaria? Depois de quase dois anos de separação, nada mais parecia fazer sentido. O Pierre me olharia e diria:’Ok, muito obrigado, mas o que eu posso fazer a essa altura? Só agora você vem me dizer isso?’ E o que eu responderia? Só sei que ficaria com cara de tacho.

Em meio a minha confusão, resolvi não procurá-lo e deixar a vida seguir seu rumo natural. Acredito que se a gente tiver que se cruzar, nós vamos nos cruzar. E se tivermos de conversar e nos olharmos frente a frente para colocar os pontos nos ‘is’, também o faremos. Só peço a Deus para que me prepare para esse momento e que eu possa ser racional. Enquanto isso não acontece, prefiro tentar amansar o meu inconsciente e pedir para ele cortar o fornecimento de energia entre eu e o Pierre. Prometo que pago essa conta depois.

PAPO DE CALCINHA: ALGUM SONHO JÁ TE PERTURBOU?

terça-feira, julho 19, 2011

O REENCONTRO (PARTE II - A FILA ANDA)



Por Letícia Vidica


- Diana, respira. Mantenha a calma e presta bem atenção no que eu vou te dizer... – era Betina que se aproximava de mim no balcão do bar e tentando me acalmar de algum tsunami que estava por vir – O Pierre acabou de chegar na balada...

- O Pierre? O que ele tá fazendo aqui? Ele odeia esse lugar??? – nem preciso dizer que quase tive um treco.

- Pois é...e tem mais...ele tá acompanhado. – era Betina em tom de quem tinha jogado a bomba no meu colo e que se sentia mais aliviada sem ela.

Acho que fiquei sem respirar e meu coração parou de bater por alguns instantes. Era muita informação que eu precisava processar. Enquanto isso, pedi um whisky duplo ao barman. Como assim? Tudo que eu menos queria era encontrar o meu ex-namorado na balada. Pior ainda. Tudo que eu sempre temi e menos queria era encontrá-lo acompanhado.

Já fazia um tempo que a gente tinha terminado o relacionamento. E também fazia um bom tempo que a gente não se via desde aquele nosso encontro frio no supermercado. E vê-lo naquela noite – acompanhado da mulher do macarrão, a mesma que eu tinha visto no supermercado naquela madrugada* - seria como enterrar todas as minhas possíveis esperanças. *(não entendeu nada? Sugiro que pare a leitura e leia – O Reencontro (Parte I: Fria Intimidade). Espero você aqui!)

- Diana? Diana? Você tá bem? – perguntava e me sacudia Betina.

- Eu, eu? Eu tô ótima!!!

- Se quiser ir embora, tudo bem.

- Embora? Agora? Agora que a balada ficou boa? Os incomodados que se mudem né? –
respondi e respirei fundo tentando convencer a mim mesma de que eu ficaria bem e que não me importaria com aquele situação, mas ...

... eu não só queria ir embora, como queria sair correndo. Mas eu tinha que fingir para mim mesma que estava tudo bem. Dizendo e tentando acreditar que o Pierre era passado. Porém, a cada beijo trocado entre os dois, a cada olhar entre eles, um punhal cravava no meu peito. Minha vontade era ir correndo até a mesa dos pombinhos, puxar a vagaba pelo cabelo e exigir o que um dia foi meu por direito. Eu não sabia se estava mais incomodada com o fato do Pierre estar acompanhado ou com o fato de que eu estava solteirona e à caça naquela balada.

- Tanta balada para ele escolher por que vir justo na Club’s Ele sempre odiou esse lugar! Quantas vezes eu insisti para que ele viesse comigo e ele não queria. Agora trazer essa sirigaita aqui tudo bem? – eu desabafava enquanto bebia mais um copo de whisky duplo.

- Relaxa, Di. Ela nem é tão bonita assim!!! – era a doce Lili tentando me animar.

- Você tá certa, Lili! Sou mais eu né? – será que eu era mesmo? – E quer saber eu não vou estragar a minha noite por isso. E vou dançar com o primeiro Zé Mané que eu encontrar.

Saí em direção a pista e comecei a dançar com o primeiro que me olhou. O Pierre também estava na pista. Dançava com a talzinha. Ele tentava disfarçar, fingindo que não tinha me visto, mas era impossível não ver alguém dançando tão escandalosa como eu. Inconscientemente, eu queria que ele me visse dançando. Visse o quanto eu estava bonita, fatal, o quanto os homens me desejavam, o quanto eu estava bem livre dele, leve, solta , independente... Nossa, será que eu estava assim mesmo? Não, eu não estava. Eu estava péssima, mas eu não podia cair do salto logo agora né?

***

Porém, quando cheguei em casa, não só desci do salto como caí em prantos. Acho até que as bebidas que tomei ajudaram um pouco. Aquela cena do Pierre com outra que não era eu, não saía do meu pensamento. Pior do que encontrá-lo foi ver que outra ocupava o meu lugar.

- Diana, acalme-se! – era Betina que me acudia aos prantos – Você nem sabe se ela é namorada dele. Eles apenas estavam juntos. Pode ser apenas um casinho.

- Não era, Bê. Eu sei disso. Eu sinto. Eu conheço o Pierre. Além do mais, era a mesma menina do macarrão. E o jeito que ele olhava para ela, o jeito que ele dançava com ela...aquela quebradinha de pescoço para beijá-la...é sério!! Era tudo que ele fazia comigo.

- Tudo bem, eu desisto de tentar te convencer. Mas e se ele estiver namorando, qual é o problema? Você não vive dizendo que está em outra, que esqueceu do Pierre, que ele não te merece e blábláblá?

- Tá, Betina, não precisa me lembrar disso. Eu disse tudo isso, mas foi antes de comprovar com meus próprios olhos de que ele foi muito mais rápido do que eu. – eu lamentava.

No fundo, acho que o problema maior não era a nossa separação. E sim o fato de ele ter outra pessoa e eu não. Aquela mulher ao lado dele soava aos meus ouvidos como quem diz ‘Baby, a fila anda. E você ficou para trás’. Poxa, eu devo ter algum tipo de problema mesmo, se até o Pierre já se arranjou? O que há comigo? Será que é algum castigo, punição sei lá que eu estou pagando nessa vida? Eternamente solteira?

***

Se não bastasse aquela cena que não saía da minha cabeça, encontrei a mãe do Pierre no shopping num sábado. Bem no dia em que fui às compras justamente para afogar as mágoas causadas pelo filho dela.

- Diana, minha querida!!! – berrava minha ex-sogra no corredor do shopping – Que bom te encontrar.

Pena que eu não podia dizer o mesmo. Eu queria me livrar dela o mais rápido possível. Eu temia que, a qualquer momento, o Pierre e sua namoradinha chegassem.

- Você anda sumida...nem vai mais lá em casa...

- Desculpe. Eu ando meio corrida sabe? – o que eu iria fazer na casa dela? Ser vela
do filho dela?

- Sabe que sinto sua falta né? Esquece do Pierre, quero que você vá me visitar. Nossa, não fazem mais noras como você. Ah, você deve saber né, o Petico tá namorando umazinha aí, mas eu não fui com a cara dela. Sou muito mais você.

Tudo que eu já temia se comprovou. E na boca de fonte confiável. A mãe dele. Quase desmaiei quando ela disse aquilo. Confesso que deu até uma tontura que, depois de nos despedirmos, tive que correr pro banheiro para tomar um ar. Não havia mais dúvidas. A fila do Pierre não tinha andado...tinha corrido.

E, para o meu azar maior, enquanto eu andava sem rumo pelo corredor do shopping me deparei de frente com o Pierre e tal namoradinha. Parecia cena de novela. Nos olhamos profundamente, percebi que ele ficou sem graça e eu – queria sumir – ou melhor, queria voar no pescoço dela e no dele.

- Oi, Diana, tudo bem? Que surpresa! – disse Pierre todo sem graça.

- Nossa, digo o mesmo. Acabei de encontrar sua mãe.

- É, eu vim buscá-la.

Nossa, tá até buscando a mãezinha no shopping? A perereca dessa menina deve ser de ouro né? Quando era comigo não queria buscar nem um pão na padaria da esquina!!!

- Ops, desculpe, essa é a Olívia.

Eu lá quero saber o nome dessa aí? Sei muito bem quem é ela. Inventei uma desculpa qualquer para terminar com aquele papo furado e me despedi dos dois. Confesso que saí do shopping aos frangalhos e corri direto para o colo de quem me entendia...

- Bê, tá tudo acabado. O Pierre tá namorando mesmo. – eu dizia chorando no colo da Betina. – Se eu tinha alguma esperança com ele, aquela Olívia Palito enterrou todas.

- Diana, mais cedo ou mais tarde, você teria que encarar isso. É normal. O relacionamento de vocês acabou e a vida segue em frente né?

- Seguir é apelido né? A vida do Pierre saiu em maratona e a minha? Congelou né? E pensar que ele terminou comigo porque não estava pronto para se apegar a alguém. Que idiota que eu fui!

- Di, você viveu, foi bom e acabou. Bola para frente, nega. E você tá julgando só pelo seu lado, você sabe se ele tá tão bem assim com aquela garota?

- Aposto que está. Vou até me preparar para a chegada do convite de casamento. Ele tá diferente...aposto que ela mudou ele...até buscar a mãe no shopping ele tá indo agora!

- Di, a fila anda, amiga. Muda o disco. Deixa o Pierre para lá.

Por mais que minha amiga tentasse me animar, nada me animava. Era duro admitir que havia outra no lugar que um dia foi meu. Confesso que sempre desejei que ele morresse solteiro e que se alguém tivesse que arrumar outra pessoa, que esse alguém fosse eu.
Mas a vida é uma comediante né? Tá sempre nos aprontado uma pegadinha aqui, outra ali e rindo da nossa cara. E aquela era mais uma pegadinha da vida. Até agora eu não achei graça nenhuma, mas depois de um tempo decidi que também não ia chorar mais por isso. E se a fila anda, tenho mais é que fazer a minha andar né?

PAPO DE CALCINHA: E a sua fila já andou? Ou a do (a) ex andou primeiro? Como reagiu ao encontro?

segunda-feira, julho 11, 2011

O BLOG VIROU LIVRO!!!!



QUERIDOS BLOGUEIROS E BLOGUEIRAS,

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BJKS,
LETÍCIA VIDICA

domingo, julho 03, 2011

O REENCONTRO (PARTE I: FRIA INTIMIDADE)



Por Letícia Vidica


Aquela cena podia parecer um pouco incomum para quem me olha à primeira vista. Mas era muito habitual para mim. Sim, lá estava eu fazendo compras às três da madrugada em um supermercado. Sim, eu adoro fazer compras de madrugada. Não só porque eu gosto, mas também porque odeio filas, crianças berrando e esperneando no meio dos corredores implorando a bolacha da moda, aquele congestionamento de carrinhos de compras, donas de casa palpitando sobre a melhor marca de molho e aquela que você tem que comprar porque é muito boa e barata. Por isso, para fugir dessa loucura, eu amo fazer compras de madrugada. E, lá estava eu em mais uma madrugada de compras, entre a lata de óleo e o molho de tomate, quando uma voz familiar me chamou.

- Diana? Tudo bem?

Era o Pierre que me olhava com cara de quem não teria ficado tão assustado se tivesse visto uma alma penada. Que lugar mais ridículo para uma situação mais ridícula para o encontro de dois ex namorados.

E o que eu ia responder? Não estou péssima. Sofri muito por você. Fiz loucuras por sua causa. Inclusive, bom te encontrar porque eu vou lá no carro buscar a fatura pelas horas gastas no terapeuta tentando me entender para entender o porque você me deixou, pelos doces , bombons e doces afins que comi para conter a ansiedade e não ligar para você desesperada quando eu chorava no meio da noite. Bom te ver mesmo. Aqui está a fatura. E estou sendo boazinha cobrando sem juros e correção monetária. Mas não. Apenas respondi...

- Tudo bem.

Antes que o nosso pequeno diálogo pudesse progredir, fomos interrompidos por uma outra voz não tão familiar para mim, mas que parecia ser para o Pierre.

- Amore, encontrei o macarrão! – dizia a mulher que se aproximava de nós.

- Tchau! – eu disse e virei as costas antes que eles pudessem perceber que uma lágrima teimosa queria pular dos meus olhos.

Depois daquele encontro nada casual, um ano e meio depois da nossa separação, no meio daquele supermercado, perdi o rumo. Já não sabia mais o que eu tinha comprado, o que eu precisava. Só pensava enlouquecidamente naquele encontro. Incomum e frio. E pensar que juntos já chegamos aos 80ºC !!!

Logicamente, eu e minhas compras desbancamos no meio da madrugada até a casa da Betina pedindo socorro e abrigo.

- Diana, o que houve? – dizia ela com a cara toda amassada – Achei que era algum golpe quando o porteiro disse que era você.

- Eu vi o Pierre.

- Onde? Como? Calma, explica direito que eu não to assimilando muito.

Ainda um pouco nervosa, esbaforida e chorosa, eu expliquei a ela aquele encontro.

- Mais que coisa mais maluca! Tanto lugar para você encontrar o Pierre e vocês dois se encontram numa madrugada no meio de um supermercado?!

- Pois é, Betina. Foi muito estranho. Acho até que eu e o meu porteiro temos muito mais intimidade do que eu e o Pierre tivemos hoje. Parecia que a gente nunca tinha se visto antes!!! Sem contar naquela mulher...será que é a nova namorada dele?

- Ah, num sei, mas não quero te desanimar...talvez seja bem provável...quem mais ele levaria para um supermercado na madrugada?

- Será que ele já me esqueceu?

Foi o que me perguntei por muitos e muitos dias. O Pierre ainda gostava de mim? Teria me esquecido? Mas aquele encontro no supermercado ao lado daquela mulher indecifrável não fazia parte do script do nosso reencontro.

Por noites sonhei e planejei como seria. A gente se encontraria e eu linda e poderosa num tubinho preto escutaria as juras de amor dele, implorando para voltar. Dizendo que estava arrependido, suplicando o meu perdão. Mas não. Nosso encontro foi totalmente fora do script. Eu estava horrorosa de moleton e sapatos croqui (nada poderosa) e ele não tinha implorado para voltar. Pelo contrário, a moça do macarrão era como se ele tivesse me dito.’Tô em outra’. E agora, sem resposta, eu me questionava se ele tinha me esquecido.

Aquele encontro não saiu da minha cabeça. Deprimi total. Minha vontade era pegar o telefone, ligar para ele e dizer: ‘Escuta aqui. Eu mereço uma explicação. Quem era aquela mulher? Como assim a gente se amava ontem e hoje mal consegue conversar?’ Mas, antes que eu cometesse uma loucura, minhas amigas vieram me salvar.

***

Para me tirar daquela paranóia e daquele buraco negro, Betina me convidou para ir a um jantar da Ordem dos Advogados com ela. Prometeu que eu ia me divertir, ver homens com H maiúsculo, bonitos, bem sucedidos e que meu ego sairia agradecido de lá. Com pouca fé, resolvi acreditar naquele jantar salvação.

- Diana, dá para mudar essa cara de velório?

- Desculpe, Be, mas acho que não sou uma boa companhia hoje. Não paro de pensar no Pierre, no macarrão...

- Vai ficar velando esse cara até quando, Diana? Dá para enterrar ele logo? Nem que seja por hoje?

Antes que eu decidisse se daria procedimento ao funeral do Pierre naquela noite, um homem (muito elegante, por sinal) se aproximou e tirou Betina para dançar. Fiquei observando os dois. Bailavam lindamente no salão. Assim como eles, os meus pensamentos também divagavam e bailavam na minha cabeça.

- Nossa, quem é o gato hein? – eu perguntava enquanto Betina sentava na mesa.

- O Guto.

- Guto...Guto...GUTO???!!! O SEU EX NOIVO??? – perguntei inconformada com a calma a qual ela me respondia.

- Ele mesmo. Em carne e osso. – respondia friamente Betina, dando o último gole no champagne.

- E você fala assim com essa tranqüilidade depois de tudo que ele fez com você????? E você ainda consegue dançar com ele? Você é surpreendente, Betina!

- Diana, ao contrário do que as mulheres pensam, ignorá-lo seria quase como dizer ‘Olhe para mim , pelo amor de Deus. Eu te amo. Mas não se aproxime porque esse amor que tá aqui quietinho pode despertar’. Não existe mais esse amor. Eu não sinto mais nada por ele.

- Quando crescer quero ser como você! Mas vocês pareciam tão íntimos...

- Ele estava me elogiando, dizendo que fiquei mais bonita, que estou diferente...

- E você? Não balançou?

- Não. Só disse que devo tudo a ele. Que a mulher que eu sou hoje é graças a ele. Fui obrigada a mudar por ele. Só que a mulher que eu sou hoje não o ama mais. E não suportaria amá-lo hoje.

- Será que um dia eu vou falar isso pro Pierre?

Era o que eu não conseguia parar de pensar. Adoraria ter a mesma frieza e serenidade da Betina (não é à toa que eu a admiro), mas eu não tinha. Tudo que eu tinha era um coração quebrado com os cacos colados com superbonder e que ainda tentava se recuperar. Com aquele coração na UTI, eu jamais conseguiria ter uma postura como a da Betina. Ainda estava muito atrás de toda aquela maturidade amorosa superiora.
Eu ainda tinha muitas perguntas que eu gostaria que o Pierre respondesse e só assim eu tiraria o meu coração da UTI. Por quê ele me deixou? Por que a insegurança tinha tomado conta dele quando estávamos juntos? Para onde tinha ido toda aquela nossa intimidade que se esfriara tanto naquele encontro no supermercado? Será que a mulher do macarrão era melhor do que eu?

Continua...

PAPO DE CALCINHA: Já reencontrou algum(a) ex? Qual foi a sua reação?