segunda-feira, agosto 22, 2011

AMADO AMIGO: AQUELE BEIJO QUE EU TE DEI



Por Letícia Vidica


- Te dou meia hora para tirar esse pijama horrível, essa pantufinha de infância e melhorar essa cara para a gente sair para jantar.

Foi tanta informação que o meu cérebro ainda um pouco sonolento demorou para processar que quem falava comigo na porta do meu apartamento era o Pedro. Pedro? Ele mesmo. O meu querido (amado) melhor amigo que vive em terras cariocas. (Ops, tá perdida na história? Dá uma lidinha em 'AMADO AMIGO'). Voltando...

- Pedro? Tá fazendo o quê aqui? - eu dizia ainda tentando processar a informação. Tico e Teco estavam de férias, gente!

- Esqueceu que eu estou de férias? Te mandei um email. - falando em férias, esqueci completamente das do Pedro.

- Nossa, desculpa, Pe. Eu ando meio fora do mundo sabe? Faz mais de um mês que não checo minha caixa postal, mas entra.

- Tô vendo que você não tá nada bem né?- dizia ele me dando um abraço caridoso. Tudo que eu precisava naquele momento. Um bom ombro amigo. - Por isso mesmo pode se trocar que eu vou te levar naquele restaurante japa que você adora.

- Restaurante? Agora? Não quer pedir umas pizzas? Eu não tô no clima...

- Nada disso, dona Diana. Sei muito bem mocinha que você anda aí toda chorosa e depressiva e me mandaram te resgatar. Pode ir se arrumar. Tô contando no relógio.

Com o Pedro não adiantava contrariar, ele era cabeça dura como eu. Fui logo tentar me animar e arrumar uma roupinha decente. Um jeans, uma camiseta básica e um tênis bacaninha me salvaram. Um look casual e sem sal para o meu humor.

***

- O senhor pode me dizer quem é o passarinho verde que anda falando de mim para você? Como você sabia que eu não estava bem? - perguntava à ele enquanto seguíamos para o restaurante.

- Segredo de estado,mas nem precisava adivinhar muito. Esqueceu que eu te conheço mais do que você mesma? - dizia ele acariciando minha mão e olhando no fundo dos olhos.

- Só você mesmo para me consolar ne, Pedrinho? Sempre um anjo na minha vida, aparecendo quando eu mais preciso...eu realmente tô péssima...

- E aposto que foi coisa daquele mané do Pierre... - eu não sei por quê mas o santo do Pierre e do Pedro nunca bateram muito.

- Não fala assim dele...ou, melhor, pode falar. Ele é um mané. Ele reapareceu de novo na minha vida, com um papo de que quer voltar, me confundindo os miolos, mas eu não sei se quero mais...

- Diana, ainda não sei porque você perde seu tempo com ele. Tem tanta gente mais interessante. Você fica só se desgastando com esse cara e deixando oportunidades passarem...

- Que oportunidades, Pedro? Eu acho que nasci para ser uma tiazona solteirona sabe? Acho que Deus jogou fora a forma do meu príncipe e esqueceu completamente da receita.

Pedro me olhou diferente naquele momento, algo em seu semblante me fez achar que ele queria se candidatar para aquela forma, mas acho que era coisa da minha cabeça. Eu realmente amo o Pedro, mas é um amor de amigo, de irmão... Resolvi esquecer e saboreei do jantar japa e da companhia maravilhosa dele naquela noite. Era sempre bom tê-lo ao meu lado. Adoro a Lili e a Betina, mas o Pedro é homem e uma opinião masculina, mesmo que ríspida e grosseira, em alguns determinados momentos da sua vida não tem preço. Digo sempre que toda mulher tinha que (obrigatoriamente) ter duas fiéis amigas, um gay , um homem e um cabeleireiro bom para ser feliz e compreendida.

- A noite foi maravilhosa, Pedro. Sem palavras para agradecer... - eu dizia me despedindo dele na porta do meu prédio.

- Já sei como você vai me agradecer...

- Lá vem você com seus pedidos...

- Vamos viajar sábado? Fiz uma reserva de um chalé em um hotel fazenda bem bacana, estou precisando me desestressar e aposto que vai ser bom para você ficar longe dos seus problemas pierrianos...

- Que fofo você é. Obrigada pelo convite, mas tenho uns projetos para entregar, tá tudo atrasado, acho que vou ficar em casa mesmo no final de semana...

- Olha,pensa bem hein? Sabe que eu não aceito não. Além do mais não é todo dia que você tem o meu corpinho do seu lado hein.

Caímos na gargalhada, Pedro me abraçou e só foi embora depois de mil recomendações e me fazendo prometer que eu iria pensar na proposta.

- E você ainda tá aí pensando por quê, posso saber? - era Betina que tinha ido em casa no dia seguinte para saber como eu estava.

- Ah, Bê, eu tô meio sem clima de viagem. Vou acabar estragando e o Pedro tá de férias...

- Você vai estragar se não for !!! - ralhava Betina comigo.

- Como assim? Tá insinuando o quê, dona Betina?

- Nada, nada...- logo desconversou de assunto.

- Sabe que eu achei até estranho o Pedro aparecer assim tão de repente em casa, dizendo que tinham pedido para ele me resgatar, sabendo de tudo sobre mim e o Pierre... sei que ele me conhece bem, mas não é para tanto né? Aposto que minha mãe andou dando com a língua nos dentes...

- Ah, nada a ver, Diana. Vocês são amigos há tanto tempo que vai ver ele realmente te conhece bem né? - respondia Betina como se quisesse desconversar de algo.

Passei o resto da semana desanimada e ainda sem saber se eu iria ou não viajar com o Pedro. Até que não seria mal passar um final de semana longe de tudo e com uma companhia agradável. Boas risadas, pelo menos, eu saberia que ia ter. Mas eu não queria ficar enchendo as férias do Pedro com os meus problemas e, se a gente viajasse, ia ser inevitável não fazer dele o meu divã. E agora? O que eu faria? Ou , melhor, o que eu fiz? Fui logo tratar de arrumar minha mala, chutar aquela deprê, ligar para o Pedro e cair na estrada. Afinal de contas, o Pierre não ficaria choramingando por mim. E eu tinha que começar a pensar um pouco mais em mim.

****

O hotel fazenda era simplesmente fantástico. Acho que meu salário inteiro não pagaria uma diária daquele lugar. Era um luxo mesmo. Nossa, o Pedro tinha investido na viagem hein? O chalé, então, muito romântico, mas com um detalhe: éramos apenas amigos.

- Pedro, mas cadê a outra cama? - perguntei ao perceber que apenas uma cama de casal sorria para gente.

- Di, não fica brava, mas quando eu fiz a reserva não tinham mais quartos com camas de solteiro disponíveis, mas se você se incomodar eu durmo no chão.

- Dormir no chão? Que isso! Nem é justo. Vou me sacrificar e aguentar o seu chulé e o seu ronco...

- Tá ficando folgada hein? - dizia Pedro simulando um soco na minha barriga e me fazendo cair feito uma pamonha na cama. Detalhe: o Pedro caiu em cima de mim e ficamos nos olhando fixamente, respiração ofegante e a um mílimetro de nossas bocas se unirem. Mas... retomei a consciência.

- Você é um bobo mesmo. Quer saber? Vou tomar um banho, colocar um biquini e cair naquela piscina. Topa? - eu dizia em tom juvenil.

- Aí sim. Assim eu que eu gosto de te ver.

Depois de um banho relaxante e de tentar me acostumar um pouco com aquela situação, coloquei meu biquíni e fomos para a piscina. Estava um sol maravilhoso e eu queria mais era aproveitar aquele momento. E a cada segundo ao lado do Pedro, eu percebia o quanto ele era incrível e agradecia por ter um amigo tão bom assim.

- Tá me olhando assim por quê? - eu perguntava ao Pedro que tinha ficado em silêncio e com olhar fixo para mim.

- Você é linda, sabia? - dizia ela em um tom que eu nunca tinha ouvido antes. - Nem parece aquela magrela metida a meninoca que eu conheci - dizia ele, como se tivesse retomado a consciência do que tinha dito.

- A gente muda né? Mas são seus olhos e os seus elogios não valem, é como elogio de mãe, de irmão sabe? Mas falando em beleza e aquela bonitona lá do Rio? - desconversei.

- Bonitona? Que bonitona? - perguntava Pedro como se tentasse recompor a memória.

- A loirona que você estava ficando...

- Ah,a Cíntia...já era. Muito fútil. A gente não tinha nada a ver...quero algo mais especial.

- Ih, então somos dois. Mas a gente vai arrumar, amigo...eu tenho fé. Você é um cara muito bacana e merece alguém legal do seu lado.

- Até nisso a gente combina né? Já sei como resolver isso. Vamos ficar juntos! - dizia ele rindo.

Passamos a tarde toda estirados à beira da piscina, tomando sol, bebendo cerveja e todos os drinques que nos ofereciam. Ficamos falando bobagens e rindo das besteiras que falávamos. Mal pude perceber que eu nem sequer tinha pensado no Pierre naquela tarde. Incrível que, quando estou ao lado do Pedro, parece que o mundo pára e eu não lembro dos meus problemas. Ops, que coisa estranha!

E mais estranho ainda foi flagrar o Pedro peladão dentro do quarto, quando eu voltei da sauna. Acho até que pimentão é branco perto do meu rosto. Ele tinha acabado de sair do banho e lá fui eu entrando sem bater. Pedi desculpas, mas confesso que algo me chamou a atenção. Acho que desde pequeno nunca tinha visto ele assim. Pedro, bem-humorado como sempre, brincou com a situação, se trocou e fomos jantar. Detalhe: à luz de velas na varanda do restaurante do hotel em uma mesa reservada, sob a luz da lua cheia.

- Nossa, Pedro! Que lugar incrível. Eu não mereço tanto.

- Merece sim e muito mais. Achou o quê? E você ainda não viu nada.

- Mas para quê tanta surpresa?

- Por que eu quero te fazer feliz. Você sabe que é especial para mim...e pessoas especiais merecem coisas especiais.

- Só você mesmo. - ri um pouco sem graça - Sabe que eu nem pensei no Pierre hoje?

- Tinha que falar o nome daquele verme justo agora? - pelo tom o Pedro parecia não ter gostado nada do meu comentário.

"Verdade, porque eu tinha lembrado dele no meio daquele jantar maravilhoso?"

- Mas pode falar, sei que você precisa se abrir.

- Pedrinho, eu não sei o que fazer. Eu não sei se gosto mais dele. Perdi a confiança sabe? Ele é inseguro demais e eu não preciso de alguém assim. Tenho medo de me envolver de novo e ele me abandonar na primeira oportunidade. O que eu faço? Por que vocês homens são tão cruéis? - eu questionava e bebendo minha primeira taça de vinho como se fosse água.

- Olha, você sabe bem o que eu penso sobre o Pierre, mas faça o que você achar que tem que fazer. Eu acho que não dá para ser feliz na insegurança. O cara tem uma mulher tão bacana como você e tá inseguro com o quê?

Estendemos a conversa regada de muito vinho até às tantas da madrugada. Voltamos para o quarto rindo muito alto e cambaleando. Entramos tão altos no chalé devido a enorme quantidade de vinho que bebemos que nem sei te dizer quem caiu na cama primeiro. Só sei que despencamos os dois, totalmente tontos e rindo à toa. Eu não conseguia parar de rir (sabe aquele riso inocente e idiota de bêbado, mas que costumo chamar de melhor riso do mundo?), mas algo no olhar do Pedro me fez parar.

Sem me dar conta, estávamos deitados na cama, ofegantes de tanto riso, de mãos dadas, quando Pedro ficou em silêncio e me olhou profundamente. Era um olhar tão intenso que eu nem pude dizer nada, apenas me deixei ser olhada (eu precisava ser olhada daquele jeito e, por um momento, nem liguei que quem me olhava daquele jeito era o meu melhor amigo). Sem dizer nada, Pedro acariciou o meu rosto e me beijou. E eu? Eu beijei.

Nem sei por quanto tempo nos beijamos. Era engraçado que, por um instante, esqueci que eu estava beijando o Pedro. Mas um surto de lucidez me trouxe à realidade e eu caí na real.

- Pedro? O que você está fazendo? O que a gente está fazendo? - eu dizia parecendo uma louca andando de um lado para o outro do quarto. Ainda confusa. Feliz pelo beijo maravilhoso e puta porque o beijo maravilhoso era do meu melhor amigo.

- Estou apenas fazendo o que a gente tinha que ter feito há muito tempo, Diana. - dizia ele com a maior naturalidade do mundo como quem diz as horas.

- Que parte da história que eu perdi que eu não tô entendendo? Com o assim, a gente?

- Diana, não tenta se enganar. Tá na cara que a gente nasceu um para o outro. Há tempos eu tento te dizer isso. O meu sentimento por você é muito mais do que amizade. Senta aqui.

- Pedro, você só pode estar ficando louco... quer dizer que todo esse tempo você bancou o bom moço, o amigo camarada só para dar o bote? Tô te entendendo... bancou que me entendia, sempre escurraçando o Pierre, me chama para esse hotel maravilhoso no meu momento de maior fraqueza e crau??? Você me dá nojo agora!!! - eu dizia puta, feliz e chorando. Estranho mas era assim que eu me sentia.

- Diana, pára !! - Pedro me agarrava tentando impedir que eu arrumasse as minhas malas - Você tá entendendo tudo errado. Bem que a Betina disse que não seria fácil.

Betina? O que a enxerida da Betina tinha a ver com isso? Eu bem sabia que essa história tinha dedo de algum passarinho verde conhecido.

- Pedro, chega! Eu não sei de você, mas eu vou embora agora. Não passo mais um minuto do seu lado. - bati a porta do chalé e fui chorar na grama.

Passei a noite toda ao relento pensando em tudo que tinha acontecido. Como assim o Pedro gostava de mim? Como assim eu tinha beijado ele? Como assim aquele beijo tinha sido tão bom de um jeito que eu nunca tinha sido beijada antes? Como assim eu tô achando isso? Como assim eu tinha me esquecido completamente da minha paranóia pelo Pierre naquelas horas que eu passei ao lado do Pedro? Como assim eu estava cheia de 'como assim' na cabeça?

Já deu para sacar que eu tinha ficado confusa né? Pela manhã, arrumei minhas malas e, sem trocarmos uma única palavra, fomos embora. O Pedro ficou mudo o caminho todo, mas eu senti que ele estava mais era respeitando o meu momento porque , se dependesse dele, ele tinha me levado dali para igreja. O pior de tudo é que eu temia que aquele beijo selasse o fim da nossa amizade. E , por falar em amizade, eu só pensava em matar a Betina, mas o final dessa história eu conto na próxima.

PAPO DE CALCINHA: Diana, quer saber, e agora o que fazer?


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terça-feira, agosto 16, 2011

MAIS UMA CHANCE (?)



Por Letícia Vidica


- Posso saber onde a mocinha foi ontem que ficou incomunicável? – perguntava para Lili durante uma das sessões tricô no meu apê.

- Sei que vocês vão me matar, mas vou contar. Saí com o Luis Otávio. Pronto. Falei. – confessava minha amiga sem o menor pudor em admitir que tinha saído com canalha encantado dela – Ele me convidou para ir no aniversário de um amigo dele. E vocês não vão acreditar no maior babado. Adivinhem só quem eu encontrei na festa? O Pierre.

- O Pierre?! Mas o que ele estava fazendo lá?

- Pois é, Diana, mundo pequeno. Acreditam que o melhor amigo do aniversariante é primo do Pierre?

- Aposto que ele estava acompanhado com aquela Olívia Palito...

- Errado, amiga. Solteiríssimo da silva. Eu vi e ouvi com esses olhos e ouvidinhos aqui. E ainda perguntou de você ...

Pára tudo que eu quero descer. Acho que perdi a respiração e meu coração parou. Como assim o Pierre perguntou por mim? O que depois de tanto tempo ele ia querer saber de mim?

- Perguntou se você estava bem e ficou me cercando só para ver se eu ia dizer algo mais sobre você...

- E aposto que disse né?

- Disse mesmo, Betina. Falei que ela está vivendo a melhor fase da vida dela.

Confesso que até eu me surpreendi com a resposta da Lili. Eu estava vivendo a melhor fase da minha vida? Era isso mesmo que eu queria que ele soubesse? Que estou muito bem sem ele, muito obrigada? Ou, no fundo, eu queria que ela dissesse que anseio muito a volta dele?

Minha cabeça e meu coração ficaram num mix de emoções desde a conversa aquele dia com a Lili. Confesso que fiquei bem feliz em saber que ele ainda queria saber de mim.

Numa noite de insônia qualquer, fiquei fuçando no Facebook para ver se alguma alma penada com insônia pudesse me fazer companhia. Foi quando, entre uma piscada e outra, vi o nome do Pierre brilhar na tela. Meu coração acelerou e foi do pé até a boca. E agora? Respondo? Se responder rápido, vai parecer que estou disponível demais. Melhor dar uns minutinhos, assim ele vai achar que estou conversando com outra pessoa. Enquanto resolvia o dilema, teclar ou não eis a questão, ele ficou offline. Bem feito! Quem sabe assim aprendo a ser mais decidida?

Depois disso, resolvi tentar dormir. Foi quando meu telefone tocou. Quem podia ser aquela hora da noite? Só pode ser notícia de morte, doença ou coisa ruim parecida...

- Diana? Sei que não é hora de ligar, mas te vi online e resolvi arriscar...tudo bem? – era o Pierre.

Gelei. Parecia que um filme tinha passado na minha cabeça naquele momento. Depois de tanto tempo, tanta espera, tanta dúvida...eu ouvia a voz dele novamente.

- Oi, Pierre. Tudo bem. Pois é...eu estava indo dormir...- menti, claro.

- Só queria saber se você estava bem. Faz tanto tempo que a gente não se fala né?
- pude perceber que ele também estava nervoso.

- É, né. – o que eu diria? Acho que durante esse tempo você estava um pouquinho ocupado?

- Olha, eu não quero te atrapalhar ... posso te ligar amanhã? Ou, melhor, podemos nos ver amanhã?

O quê? Como assim? Me dá um pé na bunda, reata comigo, me dá um pé na bunda, me troca por uma Olívia Palito, desaparece e volta assim numa noite qualquer ligando altas horas na minha casa me convidando para sair? Acha que é bagunçado assim?

Dormi, ou melhor, tentei. Confesso que fiquei contando as horas para o sol raiar e para o nosso encontro. Ah, gente, eu sou mulher né? Quero olhar no fundo dos olhos dele para dizer tudo que está engasgado. Eu não podia negar esse convite né?

Resolvi manter o nosso reencontro em sigilo até saber onde isso ia dar. Depois do expediente, combinamos de nos encontrar em um restaurante. Quando cheguei, o Pierre já estava lá. Parecia que ele estava diferente, mais gordo talvez? Ele parecia nervoso com o momento também.

- Nossa, quanto tempo! - dizia ele me abraçando e me dando um beijo apertado na bochecha. – Continua muito bem ... – disse ele me medindo dos pés a cabeça.

- Obrigada! Você mudou hein... – eu não podia deixar de alfinetar.

- Pode ser sincera, Diana. Estou mais gordinho né? Parei com o futebol.

- Nossa, poderosa hein.

- Quem?

- Desculpe, pensei alto demais, mas acho que sua namorada deve ser porreta para te fazer desistir do futebol né?

Ele riu. Aposto que estava se divertindo com aquela situação. A atual em casa e a ex na mesa.

- Não tem namorada. Eu estou solteiro. Ou acha que seria louco ao ponto de te chamar para sair?

Ufa! Jura? Solteiro? Por essa, eu não esperava. Ou, melhor, eu desejava. Passamos uma hora falando bobagens da vida. Pierre me contou sobre seu novo negócio, sua família, seus planos...desatou a falar. Parecia que há tempos ninguém parava para ouvi-lo.

- Desculpe, to falando aqui sem parar e nem deixei você falar nada. É que é sempre tão bom contar as coisas para você. Senti muita falta disso.

- Sentiu falta do meu ouvido amigo?

- Não só dele - dizia pegando nas minhas mãos por cima da mesa – Vou direto ao ponto, Diana. Fui um bobo em te perder. Achei que ia dar certo, mas só dá certo com você. Se você ainda me quiser...

Por quantas noites sonhei em ouvir isso? Desejei esse momento? Mas era engraçado que, mesmo sendo mágico, mesmo ouvindo tudo que tanto quis, algo me faltava. Eu não me sentia totalmente segura.

- Pierre, as coisas não são tão simples assim. Você não pode chegar e sair da minha vida a hora que você bem entender. Eu te dei uma segunda chance e você? Logo desistiu, como sempre com essa história de que não quer se apegar. Que não está preparado... quem garante que agora você está? Quem me garante que não vou sofrer de novo?

Pierre calou-se e ficou me olhando em silêncio.

- Acho que quem cala, consente, Pierre.

- Prometo que você não vai se arrepender.

- Eu não sei. Preciso pensar.

Podem acreditar. Eu estava insegura. Não sabia se aquele voto de amor eterno era verdadeiro ou apenas mais uma fase carente do Pierre. Claro que eu recorri à minha amiga terapeuta.

- Diana, até eu estou surpresa com você. Mas acho que foi a melhor atitude.

- Eu gosto dele, Betina. Mas eu não confio mais que ele vai mudar, que ele não vai sair correndo na primeira oportunidade...

- Acho que o Pierre tem que amadurecer e parar de ser esse garoto mimado que tem tudo que quer. Você tem que mostrar para ele que o negócio é mais embaixo.

- Será que eu fiz certo? Será que ele vai me esperar?

Eram tantos ‘serás’ que minha cabeça parecia explodir. Mas eu precisava daquele tempo para mim, precisava tentar confiar novamente e ver se eu realmente queria novamente. Você me entende, cara amiga? Ou, melhor, me ajuda aí...o que eu faço?

PAPO DE CALCINHA: Você acha que a Diana tem que dar mais uma chance para o Pierre?