quarta-feira, fevereiro 20, 2013

ESTILO MULHERZINHA



POR LETÍCIA VIDICA

- Aleluia! Até que enfim, vocês chegaram!!! Eu já estava faminta!!! – resmungava Lili ao ver eu e o William chegarmos na pizzaria. Aquela era mais uma noite de encontro de casais em mais um restaurante descolado de algum amigo V.I.P de Liliana Bittencourt.

- Desculpe, meninas! A culpa foi totalmente minha. Tive uma reunião de última hora no trabalho e me atrasei para pegar o William em casa. – eu dizia me desculpando enquanto ia puxando minha cadeira para sentar.

- Achei que o Will iria te pegar no trabalho. – questionava Betina.

- Eu insisti para isso, mas vocês conhecem a cabeça dura da amiga de vocês, né? – desabafava William.

- Eu já falei mil vezes que era meu caminho, qual o problema de pegar você? – respondi ríspida cansada daquela discussão repetitiva.

- Vamos logo pedir essa pizza? Meu estômago já está no pé. – ralhava Lili.

- Vai querer do quê, gatinha? – perguntava Tavinho para Lili.

- Ah, sei lá...pode escolher! A que você quiser, meu bem. – respondia Lili com voz mansa, nada parecida com o monstro faminto de alguns minutos atrás.

Dudu também perguntou para Betina qual pizza ela preferia. Para minha surpresa, ela também respondeu com a mesma voz mansa da Lili. Nada familiar para a Betina, ainda mais quando se trata de decidir alguma coisa. Eu, logo emendei, que eu queria uma portuguesa para dois e dois chopes gelados. Para quê tanta enrolação?

Enquanto esperávamos a pizza, fugimos para o banheiro para confraternizar. Na verdade, senti que eu ia levar algum tipo de sermão, mas até então ainda não sabia bem o por quê.

- Vocês estão doentes ou é algum tipo de complor? Que papelzinho é aquele de vocês duas na mesa? Me estranha muito te ver fazendo doce, Betina. – eu questionava enquanto retocava a maquiagem no espelho.

- Acho bom ficar bem na sua, Diana. Você que não se cuide não porque o seu mar não está para peixe... – cutucou Betina.

- Não estou entendo onde vocês querem chegar. – cruzei os braços com sinais de irritação.

- Hello, amiga! Que história é essa de VOCÊ ir buscar o William?!

- E qual é o problema nisso?! – perguntei sem entender.

- O mesmo problema de você ir pedindo a pizza de vocês, não esperar ele puxar a sua cadeira e outros mais... afinal quem é o homem dessa relação?

- Gente, é claro que ele é o homem. Que papo mais estranho!!! – bufei.

- Diana, você está tomando as rédeas de tudo isso. Você não percebe mas você age como o homem da relação. Deixe o Will sentir que
tem alguma utilidade na sua vida. Se você fizer tudo, qual a importância dele ao seu lado? – era a Betina que transformara aquele banheiro no meu mais novo divã.

- Faça o estilo mulherzinha, baby! É claro que eu sei que eu quero uma pizza bem suculenta de marguerita, mas prefiro bancar a indecisa e deixar o Tavinho decidir por mim.

- Não sei, gente. Acho que vocês estão exagerando!!! Não vejo problema nenhum em tomar algumas decisões. Onde fica aquele papo todo de mulher moderna?

- Depois não diga que avisamos hein?! Ou você muda agora ou pode ser tarde. Daí, não adianta cobrar o coitado. Faça o teste.

Voltamos para a mesa e os rapazes não estavam com cara de bons amigos. A pizza já tinha chegado e, gentilmente, eles nos esperavam para comer. Com exceção do Will que já devorara o terceiro pedaço da pizza portuguesa. Já seria uma consequência da minha tomada de decisões? Estranhei, mas preferi não encucar naquele momento.

Ao final do jantar, nos despedimos. As meninas cada uma seguiu no carro de seus respectivos e eu esperava a chegada do meu no vallet abraçada ao Will.

- Lindo, leva o carro para mim vai? – eu dizia com voz doce, começando a fazer o bendito teste.

- Não dá, gata. Leva você. Você quem trouxe! E outra eu bebi um pouco demais.

- Credo! Você bem podia ter pensado em mim e maneirado na bebida. Agora você me levaria para casa dirigindo ne? Eu estou tão cansadinha. – acho que fiz até biquinho.

- Eu insisti para te trazer e você não quis. Agora, não adianta chorar. E não faz doce porque não combina com você.

Nossa!! Que tapa na cara!!! Eu podia ter ido dormir sem essa, mas o que eu iria responder? Era a mais pura verdade. Perdi todo o tesão que eu tinha guardado para aquela noite, inventei uma enxaqueca, deixei ele em casa e segui para a minha bem pensativa. Será que as meninas estão certas? Estou sendo machona demais? Mas será que eu consigo bancar a mulherzinha? Não tinha outra escolha a não ser fazer o teste.

****

A primeira iniciativa que tive foi inventar um pneu furado no meio da semana e gritar socorro para o William vir me buscar. Resultado: ele recomendou que eu pedisse ajuda ao porteiro do prédio ou chamasse a seguradora. Além disso, ele não poderia vir me buscar porque estava sem carro. E custava dizer que ia pegar um taxi e me acompanhar até em casa porque era perigoso uma dama sozinha à noite? Que falta de cavalheirismo!

Na segunda tentativa, liguei para ele do bar do Pedrão pedindo para ele me buscar. Ele estava ocupado demais e pediu para eu voltar com uma das meninas.

Na terceira e última, saímos para jantar e ele não puxou a cadeira para mim, foi logo pedindo o nosso prato e achou que era frescura minha não saber o que queria comer.

- Eu desisto, meninas! Eu não nasci para bancar a mulherzinha. É muito difícil e o Will não está acostumado com esse tipo de mulher. – eu desabafava em mais um happy hour na mesa do Pedrão.

- A culpa é sua. Você acostumou ele com esse seu estilo de mulher-independente-resolve-tudo que agora ele não te leva mais a sério. – dizia Betina.

- Mas talvez eu realmente não seja esse tipo ou talvez eu não queira. É difícil demais para mim. Eu me rendo!!!

- Não desiste, amiga. Não é fácil para ninguém, mas tem hora que a gente tem que bancar a fragilizada para fazer os homens enxergarem que eles tem uma função na relação. Se não, é a gente que começa a conduzir tudo. Quando o Tavinho começa a folgar demais, eu me esqueço até como se abre uma lata de sardinha.

Rimos com a declaração da Lili. Minhas amigas estavam certas. No fundo do fundo do meu estilo mulher-independente-resolve-tudo, eu quero um homem com uma capa vermelha nas costas com superpoderes que apareça na hora que eu mais preciso e que cuide de mim. E que, acima de tudo, me faça sentir uma mulherzinha sim! Um homem com superpoderes que veja uma mocinha em mim e não a mulher maravilha que resolve tudo sempre.

O problema é que na falta desses super-heróis, eu tive que vestir a roupa da She-Ra e desfazer desse papel da noite para o dia é bem difícil. Ou não? Será que eu gosto de ser a She-Ra? Afinal de contas, ela se entende com o He-Man ne?

Olha, amigas, essa história não tem fim. Nem adianta eu terminar. Estou até hoje na luta entre ser mulherzinha e mulherzão. Ainda estou na opção entre ser uma e outra dependendo da situação e do super-heroi que tenho ao meu lado.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ ACHA QUE BANCAR A MULHERZINHA DÁ CERTO? GOSTA DE SER A MULHERZINHA? PARA VOCÊ, OS HOMENS GOSTAM DESSE ESTILO?