terça-feira, abril 26, 2011

NA BALADA



Por Letícia Vidica


- Diana, anda logo! Desse jeito, a gente vai pegar o maior trânsito!!!!

- Já vou, Betina! Só vou terminar a maquiagem e colocar o meu sapato.- eu respondia gritando para Betina que estava na sala me esperando. – A Lili já chegou?

- Para variar, não né? Caramba, a Lili é foda! É sempre a mesma coisa!!!

E era mesmo. Toda vez que a gente ia para a balada o roteiro era o mesmo. A Betina chegava na hora marcada para me buscar, mas eu quase sempre ainda não estava pronta, daí ela ficava berrando e me acelerando (porque a Betina é a rainha da pontualidade), porém ela também costuma esquecer que a Lili nunca chega na hora. E ficava puta com o atraso dela. E eu aproveitava o atraso da Lili e o momento de fúria da Betina para terminar de me arrumar.

- Meninassss...cheguei!!! – era Lili que chegava gritando com duas garrafas de bebida nas mãos – Oi, florzinhas, desculpe o atraso é que...

- Lili, não precisa explicar. Eu não sei por que eu ainda te espero...

- Por que você me ama, Betina!!! – respondia Lili beijando Betina na bochecha só para irritar.

- Tá, tá...mas agora vamos??? – perguntava Betina já de chaves nas mãos, bolsa e na porta pronta para sair.

- Só um minutinho, Bê, eu só preciso fazer a maquiagem, não deu tempo.

- Ai, Lili, você é fogo né? Além de se atrasar, ainda não terminou de se arrumar? Vamos, vamos...você termina isso no carro.

E lá íamos nós, correndo colocando o sapato no elevador, retocando a maquiagem no espelho do hall do prédio e entrando correndo no carro da Betina. Eu e a Lili nem ligávamos para o nervosismo dela (até porque ele ia passar),íamos cantando, fazendo planos para a nossa noite e fazendo um esquenta básico no carro.

***

- Ai, eu não acredito que além de enfrentar meia hora para parar o carro no vallet, a gente ainda vai ter que ficar nessa fila para entrar? Pegar fila na balada ninguém merece hein? – bufava Betina.

- Calma, Bê, esqueceu que essa balada é do Helinho e eu sou Liliana Bittencourt? Temos vip’s, meu amor.

A gente sempre esquecia. A Lili é baladeira nata e, além disso, conhece quase todos os donos e promoters de balada da cidade e sempre consegue uns VIP’s para gente. Sem contar que acho que ela já deu mole para todos eles. E, mesmo não gostando muito de admitir que tem sangue azul, quando se identifica como Liliana Bittencourt as portas se abrem para ela...e, para nós, suas fiéis escudeiras.

E lá íamos nós em cima de nossos saltos Luis XV esbanjando charme com nossas escovas progressivas, seguindo para a entrada VIP, enquanto as pessoas nos olhavam curiosas (algumas fuzilavam) querendo saber que tipo de celebridade nós éramos ou quem conhecíamos ou para quem a gente tinha dado para entrar com exclusividade. Chamo isso de meus 15 minutos de fama!!!

- Diana! – alguém gritava meu nome na fila e era uma voz masculina – Nossa, tá poderosa hein? Nem conhece mais os pobres.

Era o Pedro. Um dos melhores amigos do Pierre. É incrível! Por que a gente sempre tem que encontrar amigos, primos, tios e afins dos seus ex-namorados nas baladas? Vamos combinar que esse não é o lugar e o momento para que algo te faça lembrar deles né? Mas é a lei de Murphy. E quase sempre o tal amigo age como se fosse o seu melhor amigo também.

- Oi,Pedro. – eu disse – Nem te vi, desculpa.

- E aí como você está?

- Eu tô bem.

- Não vai pegar fila não? Tá ficando metida hein?

- Desculpe mas eu tenho que ir. Minhas amigas estão me esperando. A gente se vê lá dentro.

Quase sempre sou salva pelas minhas amigas. E evito que o cara tente entrar na minha aba.

Toda vez que a gente entra numa balada algo é sagrado. Ir ao banheiro para dar uma conferida e aproveitar que ele ainda não tem filas quilométricas. Incrível que, em alguns casos, a gente perde mais tempo na fila do banheiro do que aproveitando a balada.

- Ai, que saco, meu cabelo desmanchou. – reclamava Lili.

- Tá ótimo! – eu dizia.

- Será que esse vestido ficou bom? – perguntava Betina.

- Você tá uma gatona!!! – respondia Lili.

Depois de auto aprovarmos os nossos visuais e conferirmos se estávamos sexies e poderosas o suficiente para a noite render, a gente finalmente ia curtir. Enquanto eu e a Betina, íamos procurar a nossa mesa, a Lili ia ao bar para pegar nossas bebidas e começar a se aquecer.

- Lugar bacana aqui né? – eu dizia.

- Pelo menos, parece. Só espero que tenha homens maduros o suficiente. – analisava Betina.

- Oi, genteeeee!!! – era Lili que chegava gritando (ela adora gritar na balada) – Olha o que eu trouxe!!! Tequila!!!... E vocês não sabem, conheci um carinha no bar...gatooooo!!

- Mas já?! – perguntava Betina – A gente mal chegou.

- E a Lili por um acaso perde tempo, Betina?

- Ele está naquele camarote com uns amigos...falou para gente ir lá...vamos?

- Calma, Lili...não seja tão fácil assim...

- Ih, Betina, sem pudor hein? Isso aqui é uma balada e não uma igreja!

E lá íamos nós arrastadas pela empolgação da Lili conhecer os amigos dela. Era sempre assim. A Lili sempre se dava bem ou parecia que ia dar e se dava bem. Não importa. E nós como boas amigas sempre tínhamos que acompanhá-las para conhecer os tais amigos. Que nunca eram bonitos quanto o cara que ela conhecia. Já reparou como isso é engraçado? Sua amiga conhece um cara lindão que sempre está acompanhado de mais amigos que nunca são tão bonitos quanto ele. E foi o que comprovamos ao conhecê-los.

Um parecia o Faustão antes da cirurgia, cheio de piadinhas e com cara de quem ainda era virgem. Foi logo se engraçando pro lado da Betina e outro lembrava o Bill Gates misturado com o Lobão. Era tímido e não conseguia trocar meia palavra comigo. Enquanto isso, a Lili parecia se entender muito bem com o Brad Pitt.

- Vocês nos dão licença? A gente vai dar uma volta,ok? – eu dizia tentando fugir dos monstrinhos e puxando a Betina pelo braço. A Lili? Ah, a Lili, já tinha se arranjado.

Eu e a Betina fomos logo caindo na pista e fomos azarar. No caminho, troquei olhares com alguns caras bonitos, me desvencilhei dos urubus de balada (aqueles caras chatos que ficam puxando o seu cabelo ridiculamente ou o seu braço ou a sua mão ou tentando te beijar a força. Como eu odeio tudo isso!!!)...era uma longa batalha passar por entre as pessoas que dançavam e se espremiam naquele lugar até chegar na pista.

- Ufa!! Até que enfim... – eu dizia suada depois da longa trilha.

- Esse lugar tá cheio demais!!

- Nossa, Bê, olha só que gato...- eu dizia ao ver um belo moreno no bar.

- Lindo mesmo...se não fosse aquele bambolê no dedo...

- Ele é casado? – incrível como eu nunca presto atenção a esses detalhes. – Então deixa para lá...

Depois disso, eu desencanava e caía na pista para dançar. Adoro paquerar e ser paquerada na balada, mas também adoro me acabar de dançar. E foi o que fiz. Eu e a Betina dançávamos feito duas bobas, inventando passinhos ridículos, nos enturmando com um ou dois carinhas que sempre chegam para dançar com a gente, libertando todas as nossas feras na pista...até sermos interrompidas por uma multidão de machos que aplaudiam e assoviavam para uma pessoa que dançava em cima do balcão...e quem era? Era a Lili.

- Ai, meu Deus, agora fudeu. Olha lá a Lili. – dizia Betina.

- Tá bem louca já hein?

- Vamos lá tirar ela dali.

- Deixa, Betina, vai ser pior.

- Dianaaaaa....Betinaaaa...uhuuuu...vem aqui – chamava Lili ao nos avistar no meio da pista e quase caindo do balcão.

De repente, ela pulava do balcão. Era segurada por uma dezena de homens e vinha até a gente.

- Gente, demais! Esse lugar é maravilhoso. – dizia ela.

- Lili, você é doida.

- Eu sou feliz, Diana. A gente não leva nada dessa vida mesmo, né? Vamos ser feliz. Mais uma tequila?

Antes que eu impedisse nossa amiga de tomar mais uma dose, lá ia ela rumo ao bar, cantando e dançando.

O ápice da balada era quando a Betina começava a se invocar e sempre arrumava briga com alguém. E dessa vez tinha se enfezado com uma menina que passara sem pedir licença, quase nos levando junto e pisando no sapato da Betina...novinho!!! Foi quiaca na certa.

- Não sabe pedir licença não? – dizia Betina nervosa para a peituda ruiva.

- Tá falando comigo? – ela respondeu.

- Calma, Betina. – essa era eu tentando apartar.

- Calma o caramba... tudo bem que eu não posso pedir conforto numa balada entupida como essa, mas educação é tudo.

- Escuta aqui...eu pedi licença...você foi quem não ouviu. – respondia a peituda.

- Ah pediu? Eu não ouvi...por favor, dá para pedir de novo? Ou vou ser obrigada a reclamar com a gerência que esse lugar anda muito mal freqüentado...eu sou advogada e sei bem dos meus direitos...

Ixi, quando falava que era advogada e que sabia dos direitos o circo ia pegar fogo. E a essa altura já estávamos rodeadas por curiosos loucos para ver as duas arrancarem os cabelos umas das outras. Mas sempre chegava um segurança e acabava com o show. A Betina dava muita sorte. Até hoje ninguém desmanchou a progressiva dela.

- Que absurdo! Que menina folgada!

- Calma, Betina, não precisa de tanto. Vamos sentar lá na mesa para você se acalmar.

- Eu quero ir embora! Para mim, esse lugar já deu. Cadê a Lili hein? Ela é outra também!! – bufava Betina.

Nesses momentos, prefiro nem me meter. Sentamos à mesa, pedimos algo para comer e beber e ficamos admirando a balada.

***

Lá pelas tantas, quase no fim da noite, nada tinha rendido ainda. Mas eu me divertia mesmo assim falando besteiras com a Betina e vendo as maluquices da Lili que se dividia entre a nossa mesa, o camarote do Brad Pitt e o balcão.

Até que...

- Nossa, Diana, que cara lindo...e está olhando para você. – comentava Betina.

- Pode ser para você também...- eu comentava sobre um lindo rapaz que nos flertava da mesa em frente.

- Mesmo que fosse não faz meu tipo...e vou deixar o território livre para você...- dizia Betina se levantando e me deixando sozinha.

Claro que fiquei sem graça e tentei desviar os olhares, mas ele sorria insistentemente. Levantou um copo de bebida como quem me oferece, neguei. E depois acenou pedindo permissão para falar comigo. Sorri como quem diz ‘Vem logo, meu amor’.

- Com licença. Prazer, Gustavo...e você?

- Diana.

- Diana...lindo nome...onde você estava Diana que eu só te vi agora?

Sabe que eu ia fazer a mesma pergunta??? Passei a noite toda rodando feito um periquito na gaiola dentro dessa balada atrás de uma boca para beijar e só aparece agora ...no final??? Só podia ser brincadeira do cupido. Sempre era. Acho que eles ficam com dó de mim e sempre me mandam alguém no final da balada, quando já estou com sono, suada, fedida, sem maquiagem e... sem muita paciência para enrolação...e terá que ser pá pum.

Ele me ofereceu uma bebida. Dessa vez, aceitei. Falou sua idade, onde morava, que não ia muito àquela balada, sua profissão. Coisas banais e básicas só para que eu não fique com a impressão de quem nem sei quem é que estou beijando. E assim como nossa intimidade fugaz se sela os nossos lábios também.

- Desculpe interromper, Di, mas vamos? Já tá tarde. – era Betina toda sem graça por quebrar o clima.

- Claro!

- Pode me dar seu telefone?

A gente sempre dá né e sempre espera pela ligação, mesmo cansada de saber que alguns casinhos de balada terminam assim que você pega o seu carro no vallet. Mas resolvi arriscar.

- Gatinho hein? – comentava Betina enquanto esperávamos o carro.

- Pois é...deu pro gasto...e a Lili?

- Ah, minha filha, adivinha?

- Foi embora com o Brad Pitt?

- Óbvio né? E ainda queria colocar o Faustão e o Bill Gates na nossa vida...caí fora. Ela que resolva os B.O.s dela né?

E lá íamos eu e a Betina para casa, cansadas e felizes por mais uma night. Com direito a uma parada em uma padaria charmosa para comer algo porque a gente sempre sai faminta de uma balada né? E depois prontas para chegarmos em casa e nos jogarmos na cama para um sono profundo que dependendo da intensidade do cansaço nos impede até de tomarmos um banho...fato que será imediatamente lembrado às 3 da tarde do dia seguinte quando você é acordada por algum tipo de alarme do olfato... e que venha a próxima!!

PAPO DE CALCINHA: E na sua balada, o que rola?

segunda-feira, abril 18, 2011

PRIMEIRA VEZ



Por Letícia Vidica


- E aí, Di? Pronta para uma baladinha hoje? – perguntava Lili ao telefone.

- Ai, amiga, hoje não vai dar. Vou sair com o Eduardo, aquele cara que eu bati no carro dele, lembra?

- De novo? O negócio tá sério hein? Desse jeito vou ficar com ciúmes!!!

- Não fique. É por uma boa causa... tô sentindo que hoje vai rolar.

- Como assim? Vocês ainda não transaram?

- Não...e, por isso, mesmo estou pressentindo que será hoje. Intuição feminina.

Intuição feminina traduza-se ‘hoje eu vou liberar geral’. Afinal de contas, se a gaiola não abrir o passarinho não voa, não é mesmo?

Eu e o Eduardo havíamos saído mais algumas vezes, mas sempre para encontros inocentes. Um jantar, um cinema, um passeio no parque...nada mais picante ou parecido com isso. Mas, eu sentia que o clima entre a gente estava esquentando e eu andava ansiosa para provar daquela fruta.

E, naquela tarde, novamente abriguei a colônia de borboletas no meu estômago e meu coração voltou a tocar no ritmo da bateria. Incrível que não importa o quanto de caras que você já tenha transado, a primeira vez é sempre a primeira vez.

Isso me fez até lembrar a minha primeira vez de fato. Não foi nada de especial. Não vi fogos de artifícios, não tocaram um soneto para mim, mas foi a primeira vez. Foi com um namoradinho de colégio. Meus pais não estavam em casa e resolvi levá-lo para casa para estudar, mas o clima esquentou e deixamos a matemática de lado para estudar a anatomia. Entre suores, tremores e cinco camisinhas desperdiçadas (só tentando descobrir como usar), perdi minha virgindade. Foi dolorido, suado, mas especial. E da mesma maneira que me senti naquele dia, eu me sentia agora. Era como se eu tivesse voltado aos meus dezessete anos.

Como eu pressentia que daquela noite não passaria, fui logo preparar o território. Marquei depilação, comprei lingerie nova e, dessa vez, não tive pudor ao escolher uma roupa que valorizasse o meu corpo e me deixasse sexy e irresistível. (Depois os homens ainda acham que são eles que nos levam para a cama? Ledo engano, baby, somos nós que deixamos vocês acreditarem nisso só para não perder o encanto. Mas o poder está em nossas mãos e peitos e bundas e decotes).

Na hora combinada e pontual como sempre, Eduardo chegou. Ele tentou disfarçar, mas pude perceber que ficou sem palavras quando me viu naquele visual ‘femme fatale’.

- E então qual vai ser o roteiro de hoje? – insinuei após abraçá-lo e beijar carinhosamente a sua nuca. Pude sentir que ele ficou arrepiado.

- Bem...eu pensei em sairmos para jantar...mas desse jeito...não sei não...- dizia ele me puxando para dar um beijo demorado e um abraço apertado – Você está um espetáculo!!!! Mas você decide, baby, a noite é uma criança.

É claro que, à essa altura, tanto eu quanto ele já tínhamos percebido as nossas intenções. Porém, ainda preferíamos falar em códigos. É o que chamo de começo das preliminares.

No carro a caminho do restaurante, Eduardo me beijava ferozmente entre um farol fechado e outro e pegava mais nas minhas pernas do que na marcha do carro. Nessa hora, agradeço por ser mulher e conseguir ter autocontrole sobre minha excitação. De boca fechada e sem evidências aparentes, a gente poderia até passar por freira num momento desses.

***

Eu tinha gostado tanto do restaurante preferido dele do nosso primeiro encontro que Edu me levou lá novamente. E dessa vez não teve embates gastronômicos, foi à moda da casa na lata, com direito a uma boa taça de vinho tinto. Uma bebida quente para uma noite que também promete ser quente.

Não sei se ele olhava mais para o meu decote ou para os meus olhos. A disputa estava acirrada. Confesso que estava amando ser desejada e adorava ainda mais tentar imaginar o que ele estava pensando naquele momento, mas preferi quebrar o silêncio.

- E então? O que me conta de novo?

- Ahn, eu? Desculpe...você está tão linda hoje que estou meio atordoado...

- Só hoje? – lá vai um docinho básico para ganhar um elogio.

- Hoje e sempre. Você é linda. Nem sei por que deu mole para um mané como eu.

- Adoro fazer uma caridade. – eu dizia em tom de segundas intenções, emendando um gole de vinho tinto, lutando contra uma gota que insiste em escorregar pelo canto da minha boca, transformando aquele momento excitante em patético. E enquanto me ajeito para limpar a gota e impedir que ela caía no meu seio, Eduardo se diverte e vai à lua com aquela cena. Posso ver nos seus olhos de peixe morto. Tarde demais. A gota venceu. Cai no meu seio e no meu vestido novinho. – Ai, desculpe, sou meio desastrada às vezes.

- Não...continua...

Continuar o quê? Me senti como se estivesse fazendo um striptease seguido de pole dance em cima da mesa. Porém, o garçom (o mesmo que nos apresentou ‘a moda da casa’ aquele dia) tinha chegado com o nosso prato, esfriando um pouco do clima. Comemos em silêncio, mas trocando insistentes olhares fatais e sorrisos maliciosos.

- Sobremesa, minha princesa?

Hoje eu vou aceitar. Isso também faz parte do plano. E não vou ter pudor! Quero logo uma banana split para dois, a qual dividimos com direito a colherzinha na boca e uma sessão lambança. Sorvete que cai novamente no meu seio (NÃO É POSSÍVEL!!! Acho que eles tem um imã ou o triângulo das bermudas fica lá). Mas, dessa vez, Eduardo se atreve ao tentar limpar. Calda que cai no queixo dele e eu (carinhosamente) limpo com minha língua. Pois é, amigas, quem disse que a comida não ajuda a esquentar a relação?

A conta chega e, mais uma vez, ele insiste em pagar e nega meus sinais de pagamento. Não me atrevo a perguntar pela segunda vez, até porque vou pagar muito bem mais tarde viu?

****
Não sei se dessa vez ele deu uma caixinha gorda para o manobrista, mas conseguimos nos beijar ardentemente na porta do restaurante e, abraçadinhos, pude perceber que no ‘hemisfério sul’ alguém já tinha despertado.

- E então vamos para onde agora? – perguntava ele ao entrarmos no carro.

É óbvio que nós sabíamos aonde queríamos ir. Porém, o charme é tudo.

- Ah, não sei, tem alguma opção? – respondi – Só não queria ir para casa. Ainda está cedo e a noite está tão linda né? – completo dando a deixa.

- Realmente, quero te curtir mais um pouco – diz ele me beijando novamente e apertando minha coxa. Como quem diz ‘Te quiero, muchacha’. – De repente, a gente podia ir para algum lugar mais reservado...só você e eu...

Incrível como nesses momentos, todo mundo sabe que a intenção é ir para o motel, mas ninguém tem coragem de pronunciar a palavra. Ela soa quase como um pecado. Então ao invés de sermos diretos, preferimos os sinônimos: ‘Ir para um lugar mais reservado’, ‘esticar a noite’, ‘um lugar mais tranquilo’ e assim vai. Aposto que lembrou de mais algum sinônimo agora, não é safadinha?

- Acho uma ótima idéia. – concordo sem rodeios.

- Tem alguma sugestão?

Nessa hora acontece a amnésia moteleira, todas as indicações das minhas amigas de motéis bacanas ou todos aqueles que sempre tive vontade de ir somem da minha mente. Não me lembro de um bendito lugar para falar e, geralmente, quando essa decisão é tomada estou em alguma parte da cidade onde o motel mais próximo fica há umas duas horas.

E lá vamos nós para a nossa saga moteleira em busca do tal lugar mais reservado. Depois de enfrentar o congestionamento das baladas até encontrar o motel mais próximo, começamos a nossa peneira. Primeiro, olho se tem uma cara bonitinha e logo visualizo o que posso encontrar lá dentro. Alguns, nem preciso visualizar é não na certa. O único problema é que geralmente os mais legais, mais descolados estão sempre cheios. Parece até que todo o congestionamento da Marginal Tietê se muda para a porta do motel e toda a lotação do metrô em horário de pico vai parar na sala de espera deles.

Depois de quase duas horas rodando atrás de um sagrado local reservado que não tenha fila na porta e nem esteja em rush na recepção, o clima caliente começa a esfriar e, quase sempre, fico irritada.

- Acho melhor deixarmos para outro dia. – sugiro desanimada.

- Nunca. Relaxa que a gente vai achar. – responde prontamente ele como quem diz ‘Não vou deixar você escapar. Vai ser hoje e pronto’.

E é nessa hora que a gente encontra um motelzinho bacana escondido numa rua que você nem sabia que existia e que parece que ainda não foi explorado e descoberto pelos casais excitados do sábado à noite. Porém, como nada é perfeito, vamos ter que esperar uns 20 minutinhos até a arrumação do quarto. O que corta todo o clima em pensar que outros usaram aquele ambiente antes de você.

Enquanto isso, aguardamos na recepção do motel assistindo a um filme preto e branco suuuuper animador (por que eles não colocam algo mais animadinho?) ao lado de outros casais com cara de quem estão indo a missa se confessar de um pecado. Ninguém fala. Ninguém se olha. Ninguém quase que respira. E saem todos aliviados quando o número do quarto escolhido ou o nome do casal é anunciado para que possam entrar.


***

Quarto liberado. Vamos ter que recomeçar do zero. Afinal de contas, a demora para encontrar o lugar reservado, o filme preto e branco da recepção e os casais com cara de santos quebraram todo o clima né? Mas antes de reacender, preciso fazer um check-up no quarto. Manias de mulheres. Cada uma tem a sua e a minha é checar o banheiro. Banheiro limpo e arrumado = motel beleza.

Depois disso, chega a pior hora. O que fazer? Corro e agarro ele? Ou espero que ele faça isso? A gente nunca sabe como agir à beira de transar com um cara pela primeira vez. Será que ele prefere que eu tire a roupa ou ele é do tipo de gosta de se despir? São tantas e tantas e mais tantas perguntas difíceis de se responder.

Porém, nessa hora, sempre digo que surge um anjinho ou capetinha, sei lá, que nos toca com um espetinho ou uma varinha de condão e tudo acontece naturalmente.
Eduardo começa a me beijar, me pressiona contra a parede e, quando vejo, já estou rolando e trocando carícias na cama. Nem me lembro mais quem se despiu primeiro. Até mesmo a vergonha com relação ao meu corpo, passa. Da maneira que ele parece me desejar me sinto a mulher mais gostosa da face da terra.

Antes do fato consumado, claro, apelo para a camisinha. O que também costumo chamar de estraga prazer dos espermatozóides. ‘Pois é, meus amigos, hoje não vai ter festa no gueto’. Nessa hora é que a gente também testa o grau de responsabilidade dos caras. Há os que não se opõe e num passe de mágica estão com ela, há os que tentam te enrolar e sem dizer nada querem ultrapassar a barreira, há os que dizem que não se dão bem com ela, há os que nem sabem como usá-la e assim vai...mas comigo, sem ela não rola!!! Caso resolvido e é só cair para o abraço.

E, como todas as outras, a primeira vez soa natural. As peças vão se encaixando no ritmo de cada um. Uma hora testa um jazz,mas o outro prefere um samba...e assim vai indo...aos poucos nossos corpos vão se entendendo, vão se conhecendo e tudo corre muito bem. Bem até demais. O Eduardo me surpreendeu!!!

No fim, a gente sempre acaba suada, esbaforida, com a escova desmanchada, ofegante, mas feliz (em alguns casos, nem tanto ou fingindo). Mas, nesse, eu estava feliz.

- Gostou? – pergunta ele enquanto acaricia meu cabelo.

Por que, cargas d’água, os homens sempre fazem essa pergunta?! Acho que funciona como uma espécie de auto aprovação do desempenho masculino. Será que eles acham mesmo que vamos responder ‘Olha, você foi uma bosta. Eu esperava mais, poderia ter sido melhor...’. O Eduardo recebeu uma resposta sincera, mas já tive alguns que mereciam a resposta anterior.

Hora do banho e do check-up também. O calor do início fez com que eu esquecesse dos meus defeitinhos, mas agora relaxada...ele não pode ver as minhas gordurinhas!! E se ele me achar barriguda? E as minhas estrias?

- Pode ir na frente, eu já vou.

- Nada disso, quero tomar banho com você.

Então, toco o foda-se. Banho tomado, começamos a nos trocar e começa a findar ali a nossa primeira vez. Na saída, quem paga a conta? Dessa vez, me ofereço a dividir também, mas ele diz que vai pagar com gosto e com prazer. Melhor assim.

- Mais uma vez, adorei a nossa noite. Foi incrível. Eu vou querer repetir hein. – diz ele me apertando contra o carro na porta do meu prédio e me demonstrando mais uma vez que o hemisfério sul está acordado...ainda.

- Eu também adorei. – respondo beijando-o.

- Vou ser muito chato se te ligar novamente?

- Nem precisa pedir,deve!!!

E deve mesmo porque eu sei que vou esperar pela ligação no dia seguinte para comentar como foi incrível a noite de ontem. E se ele não ligar vou encarar como se tudo tivesse sido uma bosta.

Nos despedimos com mais um beijo demorado, um abraço apertado, no qual ele insiste em não me largar. Sempre que ameaço sair ele me puxa pelas mãos para mais um beijo e mais outro e mais outro...e entre um beijo e outro o dia vai amanhecendo e finalizo mais uma primeira vez.

Ao entrar no meu apartamento, me jogo na cama podre, quebrada, mas feliz. Arrastada, me jogo num banho quente e depois embalo um sono profundo, mas dos deuses. A gente sempre dorme bem e relaxada depois de uma boa noite de sexo né? Mas também acorda morrendo de fome capaz de comer um leão.

E foi comendo o leão que fui flagrada pelas minhas amigas que foram dar plantão logo cedo lá em casa para saber de todos os detalhes da noite anterior.

- Hmmm...pele boa, sorrisão, comendo feito uma porca...deu a noite inteira, né, sua safada? – dizia Lili depois de fazer uma análise minuciosa da minha pessoa. Ela podia até não entender muito de homens, mas de sexo...

- Foi ma-ra-vi-lho-so!!! – respondi.

- Nossa, pelo jeito, o cara deu no couro mesmo hein? – dizia Betina surpresa.

- Foi tudo perfeito. E sem contar que ele manda muito, mas muitíssimo bem.

Homens não se assustem. Nós, mulheres, não contamos detalhes, mas sempre fazemos uma análise sobre vocês.

- Se valeu a pena é o que interessa! Só quero saber de uma coisa, superou? Superou o Pierre? – perguntava Lili.

Fiquei muda pensando por um instante. Ah, meninos, é normal também compararmos um com outro. Comparações fazem parte do show.

- Olha, sem dúvidas, ele vai para o ranking dos meus preferidos sim!!! E acho mesmo que vou pedir para o Pierre tomar umas aulinhas com ele ...

E assim segue...entre uma risada e outra...um comentário e outro. É sempre assim. Assim como os primeiros encontros, as primeiras vezes são únicas e o script também é sempre o mesmo.

PAPO DE CALCINHA: E como são as suas primeiras vezes? o script também é sempre o mesmo? Alguma em especial?

domingo, abril 10, 2011

PRIMEIRO ENCONTRO



Por Letícia Vidica

Parecia que uma colônia de borboletas estava morando no meu estômago e fazendo uma animada festa rave lá dentro. Minhas mãos suavam. Eu não conseguia me concentrar em nada. Passei o dia todo alheia numa mistura de preocupação e ansiedade. Tudo culpa daquele encontro.

Eu - uma mulher quase à beira dos 30 anos, macaca velha e descolada depois de milhares de encontros - parecia uma adolescente virgem de 16 anos que acaba de ser convidada pelo bonitinho da sala para ir ao cinema, depois de passar anos renegada por todos. E uma adolescente virgem, boba e louca para que o expediente acabasse para contar às suas amigas.

*****

- Nossa, Diana, fala logo que eu não agüento mais de tanta curiosidade... o que você tinha de tão importante para falar? - perguntava Betina que chegava esbaforida ao meu apartamento - Deve ser realmente importante para transferir o encontro sagrado do bar do Pedrão para o seu apartamento!

- Eu tenho um encontro. Eu tenho um encontro! Eu tenho um encontrooooo!!!! - eu dizia cantando, pulando e rodando no meio da minha sala feito uma idiota.

- Com quem?! - perguntavam Lili e Betina sem nada entender.

- Quem é o bofe da vez?

O bofe da vez era o Eduardo. Nos conhecemos numa situação muito inusitada. Eu bati no carro dele. Um dia desses, voltando do trabalho, me distrai com o meu celular que caiu do meu bolso e, ao tentar pegá-lo (naquela velha mania das mulheres de dirigir, trocar de marcha, olhar no espelho e passar batom ao mesmo tempo), eu bati no carro dele. Claro que eu fiquei super envergonhada e nervosa com a situação. Do jeito que minha conta estava no vermelho, pagar pelo conserto do carro de outro não estava nos meus planos. Porém, o Eduardo foi um gentleman. Pediu para que eu ficasse tranqüila, apenas pediu o meu telefone por conveniência e que eu ligasse para ele na semana seguinte só para comprovar que nada tinha acontecido ao carro. E foi o que eu fiz. Liguei e comprovei que não ia ter uma dívida nova e sim uma amizade nova.

O papo que começou sobre a batida do carro terminou em uma conversa descontraída sobre quem éramos. Depois das apresentações formais, Eduardo me convidou para sair para que pudesse conhecer melhor a motorista nervosa, como ele me chamava. E eu? Aceitei claro.

- Diana, só com você essas coisas acontecem. Só você para conhecer um cara depois de bater no carro dele. – comentava Betina.

- É a história mais maluca que já ouvi e também confesso que a mais excitante. – dizia a animada Lili.

- E que tal irmos agora lá no Pedrão comemorar o seu encontro? Isso merece algumas cervejas!!!

- Nada disso, Betina. Hoje vocês não arredam o pé daqui enquanto não me ajudarem a encontrar uma roupa decente para sair com o Eduardo. Olha, tem cerveja gelada na geladeira e beliscos no armário.

- Nossa, Diana, duvido que você não tenha uma roupa decente para ir a esse encontro!!!

Será que eu tinha? Foi o que fui comprovar. Por mais roupas que se tenha no guarda roupa, elas nunca são suficientes para um primeiro encontro. Passei horas provando as mais possíveis e improváveis combinações de roupas do meu armário, mas nada me agradava. As meninas bem que tentavam, mas ou era sexy demais ou freira demais ou executiva demais ou adolescente demais ou me lembravam encontros ruins e blábláblá...

- Definitivamente, eu não tenho uma roupa decente para sair com esse cara. – eu dizia me jogando em cima da trouxa de roupa que se formara sobre a minha cama. – Acho que vou desmarcar.

- Tá louca??? Não seja por isso. Amanhã mesmo vamos ao shopping. – dizia Lili para me animar.

E foi o que fizemos. Na manhã seguinte, com a Lili e a Betina a tira colo, fui ao shopping. Acho até que fomos as primeiras clientes do lugar. Também passei horas no provador de uma loja experimentando as roupas de uma coleção inteira até achar o modelito perfeito para aquele encontro. Já que o meu guarda roupa não tinha colaborado, nada mal comprar uma roupinha nova né?

- Finalmente, agora sim. Essa roupa é perfeita! – eu dizia já suada e esbaforida dentro daquele provador apertado. – Agora, posso ir para casa.

- Casa? E o seu cabelo? E as unhas? – questionava Lili.

Tinha me esquecido completamente disso. Minhas mãos pareciam de lavadeira e meu cabelo uma espiga de milho desbotada. Claro que saí correndo e apelei para o Beto que abriu uma exceção e me encaixou na sua agenda. Ele fazia de tudo para me ver desencalhar.

Depois de mão, pé, depilação, tintura no cabelo, escova e maquiagem...finalmente, fui para casa para me arrumar. E faltavam apenas duas horas para o Eduardo chegar. Incrível como as mulheres sempre se atrasam...ah, mas faz parte do show e do suspense.

- Não esquece de colocar uma lingerie decente, hein, Diana?

- Ai, Lili, eu só vou sair com o cara...eu não vou dar para ele.

- Nunca se sabe...por isso é melhor uma lingerie decente do que ser flagrada com as calcinhas da sua avó hein.

- Tá bom, tá bom. Mas agora vão! Não quero que o Eduardo chegue e veja vocês aqui. Amo vocês. Valeu por tudo.

- Não esquece! Amanhã cedo...liga para mim hein? – cobrava Betina.

***

Pontualmente, ele chegou. Meu coração parecia bateria de escola de samba e minhas pernas bambeavam como vara verde. Ele me esperava do lado de fora. E agora? O que eu faço? Dou a mão? Beijo ele na bochecha formalmente ou vou logo dando um beijo arrasador? Independente do número de encontros que se tenha, é sempre a mesma coisa. A gente nunca sabe o que fazer nessa hora.

Ele me olhou como quem analisa se estou boa o suficiente para entrar no carro e sair com ele e depois me deu um abraço apertado. Ufa, mais fácil. Assim não fiquei com cara de idiota sem saber o que fazer.

- Eu não merecia tanto. Você está linda. – disse ele abrindo gentilmente a porta do carro para mim.

Acho que fiquei corada nesta hora. Tudo bem, sempre fico.

- E aí onde a gente vai? – perguntava ele.

Essa é a hora do encontro que mais odeio. O cara te convida para sair e não sabe onde te levar?! Eu bem que poderia dizer que quero jantar no restaurante mais caro da cidade, será que ele levaria? Prefiro não arriscar.

- Você é quem sabe...como o convite foi seu...vou aonde você quiser.

Essa é a pior resposta para se dar numa hora dessas, mas sempre funciona. Sempre que digo isso percebo que o cara me olha de canto e dá um sorrisinho malicioso como quem pensa: ‘Então tá, gatinha, deixa comigo. Te levo pro motel agora mesmo!!’

- Então deixa comigo. Vou te levar para jantar no meu lugar preferido.

Sabia que ele tinha algo em mente. Eles sempre têm. E geralmente é sempre no lugar preferido. Nunca sei se é o preferido deles ou o preferido para levar uma mulher num primeiro encontro. Mas não importa.

Entre um silêncio e outro, uma música e outra que toca no MP3 player, entre perguntas banais sobre como foi o dia, como São Paulo tem congestionamento mesmo num sábado à noite, entre uma olhadinha indiscreta de canto de olho num semáforo vermelho...chegamos ao tal lugar preferido. Era um restaurante bem aconchegante e romântico também. Com direito à meia luz e velas na mesa. Gostei da preferência.

- Espero que goste. O lugar é simples, mas a comidinha aqui é ótima. – comentava Eduardo

- Boa noite, senhores. O que vão pedir? – perguntava o garçom.

Essa é a hora crucial. É o primeiro passo para saber se vocês tem alguma afinidade e se o relacionamento vai dar certo. Decidir o que pedir para comer quando se sai pela primeira vez com uma pessoa que não conhece é tarefa dificílima.

Ficamos os dois por alguns minutos pesquisando todo o cardápio e os valores (claro!). ‘Hmm adoraria comer isso, mas acho que é muito caro. O cara vai me achar abusada demais’, eu pensava. ‘Ai , meu Deus, tomara que ela não peça isso. Não tenho grana e não sei se meu limite do cartão já estourou.’, era o que eu pensava que ele pensava.

- Que tal esse assado com alcachofras? – sugeria Eduardo.

- Não me leve a mal, mas eu não gosto de alcachofras. Pensei em pedirmos esse peixe. – sugeri.

- Não fique triste também, mas eu não como peixe. – respondia ele.

Pronto. Nada de afinidades gastronômicas. E agora? Nessa hora, o garçom com cara de Mané e com vontade de fuzilar o casal indeciso sugere ‘a moda da casa’. Incrível como ‘a moda da casa’ sempre salva esses momentos? Deveria chamar-se ‘a salvação dos casais indecisos que saem para um primeiro encontro’.

- Então, moça, está tão calada...o que houve?

Como iniciar um assunto em um primeiro encontro? Falar sobre o que? Geralmente, o motivo do silêncio acaba sendo um início.

- Não sei se já me perdoou pela batida.

- Depois desse convite, ainda tem dúvidas? Acho até que se tivesse dado algum dano, eu não te cobraria.- disse ele me olhando e rindo maliciosamente.

- Mas eu faria questão de pagar... Não gosto de ficar devendo.

- E então, Diana? Publicitária? Fale mais de você. Estou curioso para conheça-la melhor.

Falar o que? Como se apresentar a alguém que não conhece? Claro que só posso exaltar as minhas qualidades e jamais posso dizer que estou louca e desesperada a procura de um namorado. Melhor ser formal.

- Bem, tenho 28 anos, moro sozinha, sou publicitária...o que mais quer saber?

Claro que ele queria saber tudo. Gostos musicais, livros preferidos, gosta de sair, curte que tipo de balada, que tipo de música e blábláblá.

- Mas e você, Eduardo? Fala de você ou só eu vou ficar falando aqui?

Eduardo tinha 32 anos, era solteiro, morava com a mãe (os pais são separados), tem dois irmãos mais novos, é engenheiro de formação, mas trabalha como consultor em uma empresa de logística.

E, enquanto tagarelávamos sobre a vida, o que fazíamos, o que gostávamos... íamos também se deliciando com ‘a moda da casa’, acompanhada de um bom suco. Cerveja? Melhor não causar uma impressão ruim de cara. Na primeira, um suco sempre cai bem.

- Aceita uma sobremesa?

Ah, eu bem que adoraria comer uma banana split agora, mas não posso deixar o meu lado Magali assustar de cara.

- Não quero mais nada, obrigada.

- Não mesmo? Você não comeu quase nada!

A comida estava ótima mesmo, mas eu não podia repetir (apesar da vontade). O meu nervosismo e a ansiedade também haviam acabado com a fome.

Chegara então o momento crucial número 2: a conta. Quem paga? Me ofereço para pagar também? Não vejo problema em dividir contas, mas confesso que num primeiro encontro acho bem mais romântico se ele colocar a mão no bolso. Mas se o bolso estiver furado porque não dividir?

Porém, quando insinuei pegar a minha carteira, o Eduardo logo me brecou. Disse que fazia questão de pagar, que ele tinha me convidado e não ia aceitar um centavo. Saí no lucro. Bati no carro do cara, ganhei um encontro e não paguei a conta? Mega sena total.

Saímos do restaurante e antes de entrar no carro ficamos nos encarando fixamente. Será que era agora que ia rolar o beijo? Eduardo aproximou o corpo dele ao meu e me perguntou:

- Está afim de fazer algo ou quer ir para a casa dormir?

Sei muito bem o ‘algo’ que ele queria fazer, mas um suspense é sempre bom.

- Adoraria esticar, mas amanhã tenho um compromisso e tenho que acordar cedo. Não vai ficar chateado?

- Jamais. Adorei essa noite. Você foi uma companhia maravilhosa. – disse ele olhando para meus olhos e depois para os meus lábios.

Silêncio. Respiração ofegante e finalmente o beijo. Interrompido pela buzina do manobrista que trazia o carro. Por que o carro sempre chega na melhor hora?

Seguimos o caminho mais descontraídos, já não éramos mais dois estranhos. Parecíamos até que já tínhamos bastante intimidade.

Ao chegar à porta do meu prédio...

- Obrigada pelo convite. Adorei a noite. – eu disse dando um beijo nele.- A gente se vê então.

- Com certeza e será em breve, mocinha. – disse ele me retribuindo com outro beijo.

Era a deixa para um próximo encontro.

- Só tome cuidado na direção para não bater no carro de outro hein? Não vou gostar nada se alguém quiser te chamar para um encontro. – dizia ele rindo e depois partindo com o carro.

Fiquei parada mais alguns minutos na porta do prédio, suspirando como uma adolescente virgem e boba que beijou pela primeira vez no escurinho do cinema. É sempre assim. Ele parte e você fica suspirando e entra cantarolando e se joga na cama e reprisa os melhores momentos da noite na sua cabeça e adormece com a roupa que chegou e acorda assustada com o telefonema de uma amiga querendo saber tudo, tudinho sobre o encontro.

Pois é, minha amiga, os protagonistas podem até mudar, mas o roteiro é sempre o mesmo e sempre será. Não importa o número de encontros que se tenha.

PAPO DE CALCINHA: Como são seus primeiros encontros, amiga (o)? Sempre o mesmo roteiro? Algum mais especial?

domingo, abril 03, 2011

QUER NAMORAR COMIGO?


Por Letícia Vidica

'Quer namorar comigo?'

O que eu responderia? Posso pensar? Como assim?! Passei tanto tempo me recuperando da ausência do Pierre, depois tanto tempo me preparando para conhecer um cara novo e depois mais um bocado de tempo para achá-lo e... quando acho um cara bacana, bonito, que me entende e corajoso ao ponto de me pedir em namoro (mesmo sabendo o poço de confusão que mora dentro de mim), eu não sei o que responder? E preciso de tempo para pensar? Para o mundo que eu preciso descer!
Pois é, eu precisava descer. Eu realmente não sabia o que responder e precisava de um tempo.

- Pera lá, Diana...como assim você não sabe se aceita namorar aquele Deus? Até eu iria contra os meus princípios para namorá-lo!! - era Betina me recriminando e se rendendo aos encantos do peixão.

- Depois fica aí reclamando que tá sozinha. Se fosse eu... - dizia Lili.

- Tá, tá. Eu sei que eu sou confusa, mas o que eu posso fazer?! Eu não sei se estou preparada para um namoro agora. - eu dizia tentando enfiar cinco pedaços de frango a passarinho na minha boca. (Confesso que a gula é um dos meus maiores pecados)

- Diana, calma. Isso é super normal...você tá com medo de passar tudo o que passou com o Pierre. É normal. Minha terapeuta chama isso de 'síndrome do próximo'.

Ai, meu Deus, será que eu estava vivendo essa tal Síndrome? Seja lá qual for o nome dela e o mal que eu sofro, eu realmente estava confusa.

*************

Recapitulando:

O motivo da minha confusão chamava Jean. Conheci o Jean no lugar mais improvável da face da terra: no meu salão de cabeleireiro. Ele é filho de uma das clientes do Beto, meu cabeleireiro. Ou seja, conheci a sogra antes do pretendente. E nas minhas constantes conversar com o Beto, entre uma escova e outra, a tal mulher pode perceber que eu estava solteira e à procura. E comentou sobre o tal filho - que à primeira vista era perfeito demais pelas descrições suspeitas da mãe.

Coincidências ou não, o príncipe começou a buscar a mãe gentilmente no cabeleireiro. Fomos apresentados, trocamos telefones, marcamos um encontro...foi maravilhoso...e nosso rolo engatou. E a mãe dele não estava exagerando. O Jean é realmente perfeito!! Até demais...

A gente se entende. Melhor, ele me entende. É carinhoso, inteligente, bem humorado, bem sucedido, uma ótima companhia...não chega a ser um príncipe William, mas é bem bonito. Acho até que comecei a gostar dele. Pelo menos, era o que eu concluía por conta da saudade que eu sentia quando ele não estava comigo. E eu nem pensava no Pierre na maior parte do tempo.

- Nossa, Di, já faz seis meses que a gente tá junto. O tempo corre né? - dizia ele enquanto acariciava os meus cabelos.

- Pois é...parece que foi ontem que sua mãe começou a te xavecar para mim...

- Eu te ganhei e não minha mãe, lindona. - dizia ele apertando minha bocheca e me dando um selinho demorado.

Ele odiava a idéia de admitir que a mãe dele agiu como cupido na nossa relação. E jurava de pés juntos que era pura coincidência o fato de ele passar a buscar a mãe dele todo sábado no cabeleireiro. Mas não importava. Importava o quanto a gente estava feliz, o quanto ele me fazia feliz, o quanto a companhia dele se tornara boa e necessária para mim.

E, sendo assim, eu me sentia no controle total da situação e dos meus sentimentos. Estaria apenas espairecendo e curtindo uma companhia legal. Namoro? Era uma palavra que não fazia parte do meu vocabulário e aquela relação não ia acabar em namoro. Era apenas um lance.

Porém, fui surpreendida novamente no meio daquele jantar surpresa maravilhoso que ele preparou para mim em seu apartamento. Em meio a um gole de vinho, engasguei com a pergunta.

- Di, você quer namorar comigo?

Confesso que faltou pouco para cuspir o vinho na cara dele , tamanha era a minha surpresa.

- Di, você me ouviu? Quer namorar comigo?

- Eu?! - Meu Deus, eu queria?

Simplesmente, fiquei muda e não sabia o que responder. Era como aquelas cenas de filme em que a mocinha fica com cara de boba e rola uma cena de remember. Foi o que aconteceu. Um remember rolou com meus miolos. Me vi amando o Pierre, sendo abandonada por ele, chorando-sofrendo-engordando por causa dele, depois me recuperando dele, me livrando dele, encontrando o Jean...e agora sendo pedida em namoro pelo Jean.

- Pela sua demora em responder e sua cara de espanto, acho que não perguntei em boa hora né? - dizia Jean com os olhos tristonhos.

- Não, não é isso...eu quero...mas eu não sei se quero agora...você me entende?

- Não, eu não te entendo.

- Realmente, acho que você não me entende...acho que nem eu me entendo...olha, vamos fazer assim...não ache que eu sou uma adolescente...mas acho que preciso pensar.

- Se não quer, tudo bem. Eu vou tentar entender e se fiz algo errado também me fala.

- Você não fez nada. O negócio é comigo mesma. Me concede esse tempo?

Um pouco contrariado e desconfiado, ele concedeu e eu resolvi abusar da sorte mais uma vez.

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Como assim eu não queria namorar agora? Era o que eu tentava explicar para a Betina.

- Be, eu adoro demais o Jean. Ele é um cara fantástico, mas eu não estou preparada para um namoro agora. Não estou preparada para as burocracias, as rotinas, a monotonia, as brigas, as obrigações de um namoro entende?

- Diana, você nem tentou e está dizendo que será terrível assim?

- Mesmo que não seja terrível, eu vou ter que passar por isso. Poxa, me libertei agora! Tem tanto para voar ainda. Não quero podar a minha liberdade...não quero ter que dar satisfações a ninguém...não quero ter que transar , beijar e ficar com um cara só...não quero ser fiel agora...entende? Você deveria me entender...afinal eu é quem estou te estranhando, senhorita liberdade!

Até mesmo a Betina que tem respostas para tudo não sabia o que me dizer e o que me aconselhar depois daquele meu discurso a lá Sex and the City. Mas não importava. Importava que eu tinha que admitir para mim mesma, sem o menor pudor que eu não queria namorar agora. E por que o medo?

Era simples. Eu diria 'não' e tudo seguiria bem. A gente continuaria ficando numa boa e eu não teria que dar satisfação a ninguém, não teria que ligar e nem esperar pela ligação de ninguém na calada da noite, dormiria sozinha e esparramada na cama e, quando tivesse afim, teria uma companhia fixa. Simples? Até demais. Mas será que ele aceitaria?

Era aquela resposta que eu fui almejar ao convidá-lo a vir jantar em casa.

- Jean, pensei na sua proposta. Quero que você me entenda do fundo do meu coração...não é nada contra você, mas eu não estou preparada para namorar agora.

- Ou seja, isso é um não?

- Não queria ser tão direta assim...mas é um não com possibilidade de sim futuramente...veja por esse lado. – eu disse sorrindo para quebrar o clima tenso.

Ele me olhava com cara de ET e não dizia nada. Resolvi continuar falando para amenizar a situação.

- Olha, eu adoro estar com você. Você é um cara incrível. Mas eu também estou vivendo uma fase incrível e não queria me amarrar a ninguém agora. Quero muito poder continuar com você mas sem o peso do compromisso. Porque a gente não deixa como está?

Ele levantou, acendeu um cigarro e saiu para fumar na varanda. Traduzindo: ao invés de gritar comigo, me chamar de louca, me dar um soco ou sair batendo a porta, ele preferiu ir conversar com o cigarro. Nessas horas, o melhor conselheiro dos fumantes. Respeitei os dez minutos de silêncio e nicotina entre nós.

- Diana, eu nunca , mas nunca vou entender as mulheres. E nem vou arriscar entender. Eu adoraria chamá-la de minha namorada...mas se o peso dessa palavra vai estragar tudo...prefiro te chamar de amiga, rolo, amante, caso...ou qualquer outro termo que não a assuste.

Essa foi a melhor declaração de amor e respeito que eu tinha recebido. Era como se ele dissesse: 'olha, eu só quero te fazer feliz...é isso que te faz feliz? Então vamos ser felizes'.

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- Diana, esse cara não existe. É lindo, perfeito...você foi apresentada a ele pela mãe...o cara te pede em namoro, você não aceita e para ele tudo bem? Será que tem outro desses na família? - perguntava Betina abismada pela situação e mais abismada ainda porque suas teses sobre como todos os homens são canalhas iam por água abaixo.

- Nem eu acreditei, amiga. O Jean é demais. Sei que corro o risco dele enjoar de mim, dele zoar comigo depois disso...mas eu não me importo...fui sincera comigo mesma. Não quero namorar por protocolo ou só para dizer ao mundo que tenho um namorado ou para fazer meus pais felizes.

- Você está certíssima. Nada como ser sincera com a gente mesma. Mas tenho que admitir que você me surpreendeu dessa vez.

- Pois é, dona Betina...não me subestime hein?

Rimos e brindamos a minha solteirice com um copo de chope e vários frangos a passarinho naquela noite quente de sexta em que eu bebia com minha amiga e voltaria para casa sem ter que dar satisfação a ninguém sobre o que fiz, com quem e quando cheguei. Apenas dormiria e, se quisesse, no dia seguinte ligaria para ele e teria um dia acompanhada e com direito a romance.

Ah...viva a independência das mulheres e viva as mulheres que tem coragem de assumir a sua independência...mesmo que para isso seja preciso dizer 'não' a um pedido de namoro, casamento ou coisas afins.

PAPO DE CALCINHA: E você, já recusou alguma proposta de namoro, casamento ou coisas afins? Conte seus motivos e suas histórias para gente.