segunda-feira, janeiro 13, 2014

RÁ TIM BUM


POR LETÍCIA VIDICA

Desliguei o telefone ainda um pouco passada com aquela ligação. Apesar do meu esforço em tentar ignorar aquele fato e despistar o Pedro, tudo foi em vão.

- Que cara é essa? Quem era ao telefone? – perguntou ele que, até então, parecia tão concentrado com o jogo do Corinthians.

- Era a Olívia. – respondi fria e secamente. Eu queria encerrar o assunto, mas ele queria iniciar.

- A Olívia?! Do Pierre? E o que ela queria? – perguntou Pedro, parecendo também um pouco surpreso com a ligação.

- Você acha... ela ligou para convidar para o aniversário de um ano da filha deles. – desabafei, sentando ao lado do Pedro no sofá.

- Poxa, que legal! Quando vai ser? – respondeu todo animado como quem não tinha ainda identificado muito bem quem eram os anfitriões.

- Legal?! – pasmei – Vai ser sábado agora. Agradeci, mas claro que a gente não vai ne? Nada a ver!

- Por quê? Eu adoro festa infantil. Além do mais, acho muito chato recusar um convite.

Não. Eu não estava escutando aquela declaração!

- Pedro, nem vou te dizer o que é chato. Além do mais, a gente nem tem crianças para levar nessa festinha. – disse em tom de quem quer encerrar o assunto.

- Não seja por isso. A gente aluga os seus sobrinhos. – disse ele me abraçando e se jogando em cima de mim. – Eu não vejo problema nenhum em ir a esta festa. A não ser que você se incomode... – com ar típico de Pedro, ele jogava a bola para mim.

Claro que eu me incomodava com tudo aquilo. Eu não tinha mais nada a ver com aquela história e não queria, mais uma vez, ficar no meio daquele casal problema. Mas eu também não queria deixar o Pedro com pulga atrás da orelha, achando que eu ainda me incomodava com o Pierre. Apesar de ser a mais pura verdade. Fui vencida pelo cansaço.

***

- Como assim você vai à festinha de aniversário da filha do Pierre? – era Betina quem pasmava enquanto eu me trocava para ir a tal festinha.

- Pois é, amiga. Eu me fiz a mesma pergunta. O que eu vou fazer lá? Mas o Pedro insistiu e quer porque quer ir nesta festa. Tô achando tudo muito estranho. Até agora, ele está achando muito normal sabe?

- Olha, eu adoro o Pedro, mas ele me surpreende cada dia mais. – respondia Betina. – Mas por que você não disse para ele que não queria ir? Afinal de contas, esta história maluca é sua. E você tem todo o direito de não querer ir.

- E deixar ele pensando que eu ainda me incomodo com o Pierre? Jamé! Agora deixa eu correr para o banho que já já o Pedro vai chegar aí com os meus sobrinhos.

- Vai te entender, Diana!

****
Chegamos a tal festinha com meus três sobrinhos a tiracolo. Assim que entramos no salão, os pestinhas já correram para piscina de bolinhas, atropelando os convidados e garçons. Eu fiquei estática olhando tudo aquilo. Aqueles balões, a música infantil, aquela família que poderia ter sido a minha e a Olívia com sua simpatia (irritante) se aproximando de nós.

- Que bom que vocês vieram! – disse ela dando beijinhos doces no meu rosto – Fiquem à vontade.

- Cadê o Pierre? – perguntou Pedro como quem pergunta do amigo de infância.

- Foi resolver um negócio sobre o chope e já volta. Mas fiquem à vontade. – dizia ela.

Tentei ser o mais discreta possível, mas antes que chegássemos a nossa mesa, fui parada pela mãe do Pierre.

- Diana, minha flor! Que bom te ver! – dizia minha ex-sogra, nada espalhafatosa. – Olha, Lourdes, ela não continua uma belezura?
– dizia ela sobre mim para a tia do Pierre.

- Oi, tudo bem? – respondi sem graça – Este é o Pedro, meu amig-namorado. – engasguei.

- Olha, se o Pierre não fosse meu filho, eu diria que você fez uma bela troca. – ria ela.

Pedro olhou para mim e caiu na gargalhada também. A única que não achava graça de todo aquele circo era eu. Acho que Pedro percebeu a saia justa e disse que ia ver se as crianças estavam bem. Enquanto isso, minha ex-sogrinha do coração me acompanhou até a mesa. E tudo o que eu queria era apenas respirar sozinha no banheiro.

- Como você está? Que saudades de você! Você sabe que minha neta é uma graça, mas eu sou sua fã. Ai, como eu adoraria que você tivesse ficado com o Pierre. Incrível, como esse menino era muito melhor com você. A Olívia é educada e tal, mas eu não consigo gostar dela como eu gosto de você. Ah, o seu namorado é um espetáculo. O que ele faz? E blablablablabla – a mulher desatou a falar. Eu apenas concordava com a cabeça ou grungunhava algum som.

Graças a Deus, alguém a chamou para tirar fotos e pude finalmente respirar.

- Tá tudo bem? – perguntou Pedro que flagrava com cara de desesperada.

- Tá sim. Só estou com sede.

- Só isso mesmo? – perguntava ele em tom de Sherlock Holmes.

- Só. E as crianças? Onde estão?

- Se afogando na piscina de bolinhas. – ria Pedro. – Mas ainda estou te achando estranha...

- Nada. A mãe do Pierre que continua a mesma matraca. Ela fala tanto que fico até tonta.

- Aposto que ela tentou te convencer a voltar com o filhinho dela? – ironizava Pedro.

- Nem que ela me pagasse a mega sena acumulada! Estou muito bem com um tal de Pedro viu?

- Tem certeza disso? – perguntava ele olhando profundamente nos meus olhos.

- Só não te agarro agora porque estamos numa festa de família. – sussurrei no ouvido dele.

- Não seja por isso.

Pedro me lascou um beijão de surpresa que fiquei até tonta.

***

- Se a festa não fosse da minha filha, eu diria que a melhor coisa da festa é a sua presença.

Me assustei com a declaração do Pierre que me flagrava na área externa do salão.

- Oi, Pierre, tudo bem? Pa-rabéns. A festa está linda. Fiquei surpresa com o convite.

- Antes que você brigue comigo, a ideia foi da Olivia. Ela fez questão de que vocês viessem. Eu não sei por que, mas você também
enfeitiçou a minha esposa. – ria Pierre.

- Isso não tem graça, Pierre. Muito legal o convite, mas acho bom parar por aqui.

- Parar o que? Não foi você mesma quem disse que somos apenas bons amigos? O Pedro se incomoda com isso?

- Não. O Pedro faz parte do clube da Olívia. Tá achando tudo lindo. Mas eu não estou. Não tem nada a ver eu ficar invadindo a vida de vocês, a festa de vocês...

- Diana, não pira. Não tem nada a ver. Tenho que admitir que o Pedro é um grande cara. Se fosse eu no lugar dele, não ia gostar nadinha disso.

- Viu só? Até mesmo você que é um desmiolado, tem mais lucidez do que ele nesta historia.

- Adoro quando você fica assim irritadinha. Fica ainda mais bonita. – dizia Pierre se aproximando de mim.

Antes que eu pudesse recrimina-lo pelo abuso do ato, Olívia entrou procurando por ele.

- Pierre, todo mundo está te procurando. Hora de cantar os parabéns!

Pelo tom da voz e o olhar fuzilante dela para ele, acho que naquele momento ela se arrependera totalmente de me convidar para a festinha.

Entrei no salão e encontrei o Pedro sentado na mesa com meus sobrinhos.

- Onde você estava? – perguntou ele secamente.

- Fui tomar um ar lá fora.

- Com o Pierre?

- Pedro, não é nada disso que você está pensando.

- E o que eu estou pensando?

- Crianças, hora do parabéns!

Peguei meus sobrinhos e levantei puta da mesa. Achei um abuso aquele interrogatório. Afinal de contas, quem quis ir naquela festinha foi ele. Agora, aguenta as consequências.

Comemos o bolo, as crianças se lambuzaram de brigadeiros, mas não trocamos palavras tão doces quanto os beijinhos. Depois daquela minha resposta, o Pedro ficou um pouco calado e logo quis ir embora da festa. Nos despedimos dos anfitriões. Olivia continuou com sua doçura irritante e o Pierre estava um pouco mais contido com ares de quem tinha tomado uma enrrabada.

****

- Nos vemos amanhã. – dizia Pedro me dando um selinho na porta do prédio.

- Ué, você não vai dormir aqui hoje? – estranhei a reação.

- Vou para casa. Preciso resolver umas coisas por lá. – disse ele em tom de quem queria finalizar o assunto.

- A gente não tinha combinado de dormir juntos hoje?! E que coisas você tem para resolver agora? – questionei com ar de quem só estava começando a conversa.

- A gente se vê amanhã, Diana. Eu prometo. – desbaratinava ele, já com ares de irritação.

Fiquei em silêncio e olhando para os olhos dele, com quem diz’ fala que eu te escuto’.

- Acho que a gente não devia ter ido a festa mesmo. – dizia ele – Achei que eu já era capaz de lidar com tudo isso mas, às vezes,
me bate uma nostalgia e fico possesso em ver o Pierre perto de você. Ver como ele te olha, como ele te deseja e como ele aguarda, como uma raposa sorrateira, qualquer deslize meu para dar o bote. E eu sei também que ele ainda mexe com você.

- Pedro, eu não estou te entendendo agora. Quem quis ir nessa festa de aniversário foi você. Eu tentei dizer que eu não queria, mas você insiste em agir como se tudo fosse normal. Não é. Agora, eu não te dou o direito de desconfiar de mim. Aquela hora, eu estava tomando um ar e o Pierre apareceu. Se quer saber, ele ficou rasgando seda pra você, admirando a sua atitude de ir a festa.

- Só um babaca como eu mesmo para fazer isso. – dizia ele.

- Para com isso, Pedro. Já foi. Vamos nos preservar mais das outras vezes ok? Eles tem a vida deles e nós temos a nossa. Não precisamos fazer parte da historia deles e nem eles da nossa.

- É, você tem razão. – dizia ele acariciando o meu rosto e dando aquele sorriso maroto. – Mas confessa que ele deu em cima de
você? Aposto que ele aproveitou a brecha e foi te xavecar.

- Nem mil xavecos do Pierre se comparam ao seu charme irresistível que neste momento está me hipnotizando para ser levada para minha cama em seus braços. Vai insistir ainda com essa história de resolver negócios em casa? – questionei com a cara mais sexy que eu pude fazer.

- Acho que os negócios podem esperar.

Ufa! Tudo terminou bem. Depois da noite delicada, tivemos uma festinha particular com direito a muito RÁ-TIM-BUM.

PAPO DE CALCINHA: Você teria ido a esta festa? Já passou por alguma saia justa dessas?