sexta-feira, dezembro 12, 2014

A AMIGA DELE


POR LETÍCIA VIDICA

- Desculpe o atraso, Pê. Tive uma reunião interminável e ainda peguei um trânsito do cão. – cheguei toda esbaforida no bar que o Pedro tinha marcado de me encontrar, o lugar que ele escolheu para me contar sobre a tal surpresa incrível que ele tinha para mim. Confesso que passei a tarde toda quase me suicidando de tanta ansiedade em saber o que poderia ser.

- Di, essa é a Paulinha, lembra dela? – disse Pedro apontando para a mulher G-A-T-A de morrer que estava sentada ao lado dele, vulgo, meu namorado.

Paulinha?! Fiquei hipnotizada e olhando para aquela mulher num mix de ódio e inveja daquele sorriso de comercial de pasta de dente e daquele cabelo de comercial de shampoo. De qual planeta tinha saído aquele avião? Eu bem que me esforcei mas a minha memória parecia não me ajudar. Eu não me lembrava e nunca tinha visto aquela mulher mais linda.

- A Paula, aquela minha amiga do colégio, lembra?

Opa! Paula Bolão? A gordinha espinhuda que estudou da primeira até a oitava série com o Pedro e que tinha um amor platônico por ele e que sempre arrumava confusão comigo quando vinha fazer trabalho de escola na casa dele?! Onde foi que eu parei no tempo e ela se transformou em Paula, a Espetacular?

- Ah, então, essa era a surpresa?! – confesso que perguntei um pouco decepcionada para o Pedro. Eu esperava tudo menos que a Paulinha fosse a tal surpresa. Para mim, ela estava me cheirando mais a uma bomba. – Oi, Paula, quanto tempo!!! Como você está diferente... – respondi educadamente, tentando me recompor do susto e sentando ao lado do Pedro para não desmaiar (só não sei se de ódio ou de inveja).

- Diferente é educação da sua parte, Diana. Pode ser sincera... eu era horrível mesmo!!! Emagreci um pouquinho ne?

A danada, além de magra e linda, ainda era bem humorada ou, pelo menos, ficou porque eu só me lembrava daquela gordinha espinhuda de boca cerrada e cara fechada. Quem diria que agora eu sentiria raiva daquele sorriso!!

- O Pedro tinha me dito que você estava morando na França... – emendei uma conversa para tentar mudar o rumo daquele sorriso e parecer um pouco interessada pela história dela. Confesso que umas boas goladas de chope me ajudaram a relaxar.

- Eu ainda moro lá, mas vim passar uma temporada aqui no Brasil para resolver uns assuntos profissionais. – dizia Paulinha rindo e piscando descaradamente para Pedro. Aquele código eu não tinha entendido. Qual foi a parte que eu perdi? O que o Pedro tinha a ver com os assuntos profissionais dela?! Será que tinha mais surpresa pela frente?

- E vai ficar muito tempo por aqui? – desculpa, gente, mas foi incontrolável. Eu tinha que saber por quanto tempo eu teria que aguentar aquele despautério de mulher no meio da minha relação.

****

- ...vocês precisavam ver a intimidade dela com o Pedro. Trocando confidências de infância descaradamente na minha frente e o Pedro parecia um bebê babão olhando para ela. – eu desabafava no bar do Pedrão com minhas amigas. – concluindo a conversa com um gole de caipirinha de saquê.

- Acho que você está exagerando, Diana. Eles são amigos. Não se veem há muito tempo... – era Lili quem tentava me acalmar. Muito estranho por sinal. Queria ver se fosse como Tavinho. Aposto que a Paula, ex-bolão já estaria sem dentes e sem sorriso.

- Não se esqueça que a Diana também era amiga e de infância do Pedro.

- Muito bem lembrado e esse é o meu medo, Betina. Tudo que eu menos precisava e desejava neste momento é ter concorrência.

- Também não seja precipitada, Diana. Menos. Tudo bem você ficar de olhos abertos mas até agora a talzinha aí não te deu motivo nenhum para você já ir jogando a tolha assim. Segura seu bofe mas sossega o facho. – mais uma vez, o lado budista da Lili falava por ela. Nem eu estava reconhecendo a minha amiga.

- Então, acho bom se preparar porque o Pedro tá vindo aí... – completava Betina olhando para a porta do bar.

Quase caí da cadeira quando vi o Pedro entrando no bar com a Paulinha, ex-bolão a tiracolo. E ele nem tinha me avisado. E de onde eles estavam vindo?

- Oi, meninas! Oi, meu amor. – era Pedro quem me cumprimentava. – Desculpe invadir o espaço de vocês, mas a Paula queria sair para conhecer a noite e nada melhor do que uma reunião de mulheres ne? Resolvi invadir o clubinho de vocês.

- Fiquem à vontade. Muito prazer, Paula. – cumprimentava Betina cordialmente mas dando uma conferida na garota dos pés a cabeça. Aposto que ela ia mudar rapidinho de ideia sobre aquele assunto.

- Oi, meninas. Desculpem vir aqui assim, mas o Pedro insistiu... – como a educação daquela mulher me irritava.

- Que isso. Fique à vontade. Se é amiga do Pedro, é nossa amiga também. – essa era Lili paz e amor quem fazia as honras.

A minha vontade era esganar o Pedro por tê-la trazido no meu ambiente, por ter passado o dia todo sem me dar um sinal de vida e de repente aparecer com essa musa assim de paraquedas.
Tentei quebrar o gelo e bancar a namorada educada. Passamos a noite conversando e ouvindo as fantásticas histórias do mundo perfeito de Paula em Paris. Pode ser coisa da minha cabeça mas o Pedro parecia um bobo babão. Tudo que ela falava ele ria, elogiava...

- .. muita coisa mudou por aqui mesmo. Eu mudei, ne, Pe? Nossa, como eu enchia o saco do Pedro quando éramos crianças. Não sei como ele me aguentava. E, você, Diana? Quem diria... fiquei muito feliz em saber de você e do Pedro. Foi uma surpresa para mim.

Aposto que ela queria estar no meu lugar. Surpresa é você estar aqui. Isso sim.

- Amiga, tenho que concordar com você. Ela é linda!!! E magra e educada e super simpática.

- Lili, desse jeito, você não está ajudando. – respondi enquanto fofocávamos no banheiro.

- E como me irrita ouvir as histórias do mundo perfeito dela. Você viu como o Pedro fica babando?!

- Seja esperta, Diana. Você precisa se unir ao inimigo. Não adianta fazer guerrinha. – dizia Betina com sensatez.

Resolvi seguir o conselho da minha guru e ser o mais agradável possível com a mulher perfeita. Até então, parecia que estava funcionando e a noite fluiu bem.

***

- Bom dia, meu amor. – eu disse cheia de amor pra dar e enchendo o Pedro de beijinhos enquanto entrava no apartamento dele para ajudá-lo a preparar o churrasco de boas vindas da bolinha preferida dele. Eu achava um pouco demais tudo aquilo, mas ele insistiu tanto que eu cedi.

Ao entrar no apartamento, me reparei com alguns itens um pouco fora de ordem. Percebi que a louça estava toda lavada e, se minha memória ainda não estava prestes a me trair, aquele não era dia da faxineira. Depois, vi uma mala rosa no corredor. Pelo que eu saiba, rosa ainda não era a cor preferida do Pedro. E, para completar a minha total surpresa, a Paula Bolão saiu lindamente do banheiro com andar de Gisele Budchen, cabelos ao vento e sorriso irritantemente Colgate.

- Paula?! Oi? Achei que eu seria a primeira a chegar ... – questionei estranhando o fato dela estar lá.

- Na verdade, não cheguei. – respondeu sem graça – Eu fiquei. O Pedro me convidou para ficar aqui... espero que não se incomode.

- Relaxa, Paulinha. A Diana é de boa. – respondeu Pedro me abraçando pelas costas e beijando minha nuca.

Apesar da minha vontade de socar a cara dele e arrancar os cabelos dela junto com aquele sorriso irritante, eu respirei e apenas sorri. Resolvi deixar mais essa de lado.

- A vida é mesmo engraçada não é mesmo? Aqui estamos nós três aqui de novo. Lembro da gente em pé de guerra na infância... – era Paulinha quem divagava sobre o nosso passado infantil enquanto descascávamos a batata da salada.

- Não diria que foi bem uma guerra... coisa de criança.

- Pode ser sincera, Diana. Eu bem sei que eu era uma pentelha mesmo. Não fica brava comigo, mas eu morria de ciúmes do Pedro. Queria ele só para mim. – essa era a parte sincera da Paula que resolveu falar.

- Jura?! – engasguei – Nunca percebi isso. – mentira!! Melhor tirar a faca da minha mão antes que ela tenha vontade própria.

- Parem de fofocar que o assunto chegou, hein? – esse era o Pedro que chegava do supermercado com as bebidas, acompanhado da Lili, Betina e Tavinho a tiracolo.

Fiquei aliviada deles interromperem aquela sessão divã, mas também incomodada com aquela declaração super sincera. Será que Paulinha ainda não tinha superado esse passado infantil? Dizem que traumas infantis não superados são as maiores causas das frustrações adultas. Será que ela voltou para tentar ter o Pedro só para ela?!

- Diana, não pira. Já te falei. A Paulinha é um amor de pessoa e isso foi coisa de criança. – essa era Lili que já tinha sido enfeitiçada pelo sorriso Colgate da ex-Bolão.

- Como eu não vou pirar?! Esse espetáculo de mulher se desbanca da França para cá, cai de paraquedas no apartamento do meu namorado que não me disse uma palavra sobre a nova hóspede e ainda vem com esse papo de que queria o Pedro só para ela?! – bufei e bebi um copo de cerveja numa golada só.

- Querem alguma ajuda, meninas? – essa era Paulinha que parecia ter ouvido a conversa para aparecer assim tão repentinamente.

- Nossa, você não morre mais. Estávamos falando de você? – essa era Betina com ares de quem ia bancar a detetive.

- Espero que bem ... – riu Paulinha com seus dentes brancos.

- Muito bem...afinal, o que pode ter de ruim na França.

- Ah, meninas, a França não é toda essa maravilha não. Já estou ficando cansada das baguetes. – riu

- Vai voltar então? – era Betina quem dava o xeque mate.

- Olha, eu nem ia falar nada, mas acho que posso confiar em vocês. Estou querendo voltar sim. Eu e o Pedro estamos tentando iniciar um negócio juntos. Unir a empresa dele com a minha e montarmos uma filial aqui no Brasil. Foram esses negócios que eu vim resolver aqui. Se tudo der certo, estarei de volta em breve. Amém! – sorriu aliviada.

Para tudo que eu quero descer. Qual foi a parte dessa novelinha que eu perdi? Por que o Pedro não me disse nada sobre isso? Eu não estava gostando nadinha desse suspense todo do Pedro e da sua amiguinha de infância.

- O Pedro comentou comigo, mas me pediu segredo. – respondi falsamente. Eu não podia bancar a namorada desinformada. Devorei mais um copo de cerveja.

- Podemos interromper o clube da Luluzinha? – era Tavinho e Pedro que entravam na cozinha.

- Minha orelha já estava ardendo. – brincou Pedro e tentando me abraçar mas me afastei.

- Que bom!! A gente estava aqui celebrando a sua sociedade com a Paulinha. Temos que brindar não? – levantei o copo.

Pedro me olhou sem graça com aquela carinha que só ele sabe fazer quando faz besteira e eu dei o meu melhor sorriso sarcástico de quem diz “me aguarde. Vamos conversar mais tarde”.

- Vamos botar fogo naquela churrasqueira, gente? – essa era Lili que tinha percebido o climão e tentou quebrar o gelo.

***

Tentei fazer de tudo para não estragar a tarde agradável que o Pedro tinha proporcionado para a Paula, mas minha cara sempre me trai quando algo não vai bem. Eu não conseguia rir das gracinhas do Pedro, nem retribuir os beijinhos dele e nem me sentir confortável com seus abraços. E a cada troca de confidências sobre a velha infância meu coração apertava, o ódio aumentava. Sem contar a cada sorriso Colgate e cabelos esvoaçantes da Paulinha.

Num momento de desatenção de todos, resolvi ir para o quarto para recompor as ideias e respirar. Nem percebi o tempo passar e fui flagrada pelo Pedro que tinha ido ao quarto me procurar.

- Meu amor, o que você está fazendo sozinha aí? – perguntava ele ao me ver deitada na cama.

- Nada. Acho que bebi demais. Eu já volto para lá. – menti.

- Vim te buscar. Vamos? As meninas estão querendo ir embora e estão te procurando. – ele esticou as mãos para me levantar e tentou me beijar.

- Agora não, Pedro. – respondi friamente.

- O que está acontecendo, Diana? Eu te conheço. O que eu fiz dessa vez? – realmente ele me conhecia.

- Com licença, pombinhos. Tá tudo bem? – essa era Betina que parecia ter percebido que o circo ia pegar fogo e veio tentar apagar as chamas.

- Tudo ótimo, Be. Vim trocar de blusa. – olhei profundamente nos olhos do Pedro e saí com a Betina. Ele ficou parado me olhando com cara de quem não tinha entendido nada.

Com muito sufoco, banquei a lady e disfarcei o meu mau humor até o churrasco acabar. Eu queria ir para casa junto com as meninas, mas Pedro insistiu que eu ficasse. Eu queria fugir daquele assunto naquela noite, mas ele não ia aceitar ficar sem uma explicação.

- E aí, vai me dizer o que eu fiz ou vou ter que te torturar a noite toda? – perguntava ele ao meu lado no sofá da sala enquanto Paula tomava banho.

- Achei que a gente tinha um relacionamento aberto e sincero. Esperava tudo de você, menos ter que descobrir pela boca da Paulinha que ela é a sua mais nova sócia e quem sabe, até mesmo, o motivo do seu retorno para o Brasil.

- Não seja ridícula, Diana. Não faz drama!

- Drama? Você esconde de mim que está tentando montar uma empresa com a Paulinha ... coloca ela dentro do seu apartamento sem que eu saiba e eu que estou sendo ridícula?! – perguntei inconformada. O que mais me irritava no Pedro era o jeito dele achar que tudo era normal e que eu sempre tenho que ser compreensiva com tudo.

- Eu ia te contar, mas a Paula me pediu segredo. Afinal, o negócio é dela. Eu não fechei nada com ela ainda. Estamos apenas conversando. Ela veio ao Brasil para me fazer a proposta.

- Aposto que a proposta vem com vestido de noiva... – ironizei.

- Ei, Diana!! – Pedro me sacudia – Calma. A Paula é apenas minha amiga... você não está com ciúmes dela ne? A gente brincava de lutinha quando criança...esqueceu? Paulinha Bolao!

- Eu também era sua amiga, Pedro. Amiga de maternidade e olha onde estou hoje.

- Diana, para com isso, por favor. – insistia Pedro.

- Você sabia que ela tinha ciúmes de você e confessou que te queria só para ela? Foi o que ela me confessou hoje lá na cozinha. Será que tudo isso passou mesmo?

- Acho melhor eu ir para um hotel. Não quero atrapalhar vocês. – essa era Paulinha quem flagrava a nossa discussão de relacionamento. Aposto que ela tinha ouvido tudo por detrás da porta.

- Que isso, Paula. Para de bobeira. Você é super bem vinda!!! – disse Pedro cordial como sempre e tentando disfarçar que estava tudo bem entre a gente.

- Pode ficar, Paula. Eu já estou indo. – respondi pegando minha bolsa.

- Você não vai dormir aqui? – perguntava Pedro com voz e cara de cachorro sem dono.

- Não. Eu vou para casa. Depois, a gente conversa. Boa noite, Paula.

Virei as costas, abri a porta do apartamento e fui embora. Eu podia estar cometendo a maior loucura da minha vida. Talvez tivesse deixado o Pedro de bandeja e cereja na boca para a gulosa da Paulinha, ex-bolão devorar, mas eu não podia ficar. Precisava de um tempo para digerir toda aquela história e para fazer a digestão da minha raiva....

(((CONTINUA)))

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ É DO TIPO QUE TEM CIÚMES DAS AMIZADES DELE OU LEVA NUMA BOA? JÁ TEVE ALGUMA HISTÓRIA ENVOLVENDO AMIGAS PARA NOS CONTAR?

terça-feira, dezembro 09, 2014

...PORQUE EU GOSTO DE VOCÊ


POR LETÍCIA VIDICA

Acordei incomodada com a luz de notificação do meu celular que piscava no escuro sem parar. Mais parecia uma luz de balada. Ainda sonolenta, abri levemente um olho, desbloqueei o celular e vi que era uma mensagem no whatsapp. Ao abrir a mensagem todo meu leve mau humor matutino se foi por água abaixo. Era uma mensagem de bom dia do Pedro acompanhada de carinhas, corações e florzinhas.

Suspirei. Suspirei e suspirei novamente.

Acho que eu nunca tinha parado para pensar o quanto aquelas duas palavrinhas tinham poder e mudavam o meu dia. Ainda mais se elas viessem do Pedro. Passei anos da minha vida recebendo as mesmas palavras do meu pai e da minha mãe, mas elas não tinham o mesmo poder. Depois passei mais um bocado de anos, acordando sozinha e dando eu mesma bom dia para a minha sala, para a geladeira e, até mesmo, para os pássaros que nunca pousaram na minha varanda.

Realmente, eu teria um bom dia e, desde que o Pedro retornou para a minha vida, o bom dia é realmente um bom dia.

****

A correria do nosso cotidiano nem sempre permite que eu e o Pedro nos falemos o dia todo. E eu também não gosto de ficar pentelhando, mas de um jeito ou de outro, ele sempre se faz presente no meu dia.

A sintonia é tanta que, as vezes, chego a achar que ele instalou uma câmera no meu escritório. Como ele consegue adivinhar os momentos que mais preciso de um afeto e me manda uma mensagem para dizer boa tarde ou que está com saudades ou simplesmente um Oi?!
Acho que nem ele sabe que essa é a melhor terapia que eu posso ter.

****

- Oi, linda, tudo bem? Pode falar ou te incomodo?

- Você nunca me incomoda. Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? – eu perguntava estranhando aquela ligação do Pedro que parecia fora de hora ou que não fazia parte do nosso cotidiano.
- Tá tudo bem. Só liguei para saber como você estava e dizer que estou com saudades.

Diz se isso não é para quebrar as pernas de qualquer mulher? Tem hora que acho que ele não existe.

- Dona Diana, dona Dianaaaaa....

Me assustei com o berro da minha secretária tentando me trazer de volta para Terra.

- Ahn, desculpe, o que foi? – me recompus.

- A senhora está bem? Aconteceu alguma coisa com Seu Pedro?

- Não, não...tá tudo ótimo. Ele só ligou para saber se eu estou bem. Fofo ne?

- A senhora tem sorte viu? Quem dera o meu Matias fosse assim. Eu posso morrer aqui e ele nem vai sentir falta. – desabafou com ares de mágoa a minha secretária que tinha um relacionamento não assumido de décadas.

- Nossa, mas se a coisa está tão ruim assim... por que você está com ele ainda?

- Por que eu gosto dele, dona Diana. – respondeu prontamente – E a senhora? Por que a senhora gosta do Pedro?

Uau! Bang, bang. Acho que minha terapeuta baixou na minha secretária. Pois é...por que eu gosto do Pedro? Me dei conta que a nossa história foi tão cheia de altos e baixos que eu nunca parei para me fazer essa pergunta. “Pedro, por que eu gosto de você?”

Aquele foi o mantra do meu dia, da minha tarde, da minha noite, das minhas madrugadas e do resto da semana. Fiquei tentando encontrar grandes momentos, grandes acontecimentos que me fizeram gostar dele. Achei vários claro! Mas nada suficientemente convincente para que eu afirmasse que era aquilo que me fazia gostar do Pedro.

- Tá no mundo da lua hoje, Diana? – perguntava Betina em mais um dos nossos clubes da Luluzinha na casa dela.

- Ai, gente, to incomodada com uma coisa. Essa semana, a Laura, minha secretária me perguntou o por quê eu gosto do Pedro... e eu estou tentando achar a resposta até então.

- Ihhh, já vi tudo. Diana e mais uma crise paranoica.

- Não é uma crise, Betina, mas é uma pergunta que eu nunca me fiz. A gente está junto há tanto tempo, já passamos por tantas juntos, mas eu nunca parei e me perguntei...”Diana, por que você gosta do Pedro?”. Tem que ter uma resposta. Eu tenho que encontrar!!! É uma questão de honra...

- Você não pode apenas gostar dele e ponto? Tem que ter uma explicação para tudo?

- Claro, Betina. Eu não dedicaria os meus dias, o meu tempo, o melhor de mim para alguém que eu não sei por que eu gosto.

- Talvez não tenha um motivo tão especial assim... seja isso e ponto.

- Concordo com a Betina, Di. Gosta e pronto. Olha o meu caso... o Tavinho é um safado, só me arruma confusão... mas eu gosto dele mesmo assim.

- Você gosta da confusão que ele traz para a sua vida, Lili. Isso sim.

- Pode ser, Betina, mas é o que me faz gostar dele.

- Viu só? Todo mundo tem um motivo para gostar de alguém. Eu tenho que ter um e eu vou encontrar.

Seguimos a noite filosofando e discutindo os nossos vários motivos para gostar ou não de alguém. Enquanto isso, os meus neurônios lutavam Muay Thay para chegar a uma conclusão.

Obviamente, a noite foi um tormento para mim. Eu tinha que sair daquela confusão mental de gostar por quê , por quê gostar se não eu ia pirar. Resolvi que se eu não achasse um motivo, talvez fosse melhor dar um xeque mate em tudo isso.

Acordei com o barulho da campainha. Levantei sonolenta, tropeçando no ar e fui abrir. Lá estava parado o motivo da minha confusão mental, Pedro.

- Resolvi trazer o bom dia pessoalmente – disse ele me beijando carinhosamente e cheio de amor para dar até me derrubar no sofá e me deixar sem folego.

- Uau!!! Não estava esperando por isso. Mas que horas são? Você não tinha que estar no trabalho? E eu também? – perguntei retornando para a Terra depois de alguns minutos na lua.

- Deveria, mas não vou. Hoje vamos tirar o dia para nós dois. O que acha? Ficar aqui juntinhos, sem fazer nada ou tudo o que você quiser...

- Mas, mas... não é muita loucura?

- Qual a graça da vida sem uma loucurazinha ne?

- Pedro, por que você gosta de mim? – soltei a pergunta assim de repente.

Ele me olhou com cara de quem não tinha entendido nada ou de quem se preparava para iniciar uma discussão de relação.

- Mas por que essa pergunta agora? Te fiz algo que você não gostou? Ta tudo bem?

- Calma! Tá tudo bem sim... eu só queria saber... a gente tá junto há tanto tempo, tantas coisas aconteceram e eu parei para pensar que eu acho que não sei porque você gosta de mim. Queria saber.

- Gosto de você porque é você. – disse ele me dando mais um beijo de novela.

- Só isso?! – perguntei um pouco desapontada, confesso.

- E precisa de motivo maior? – disse ele levantado as sobrancelhas e com aquele ar de quem lança mais uma pergunta enigmática no ar.

Eureca! Elementar, meu caro Pedro. Sem saber o Pedro me ajudara a encontrar a resposta para a minha pergunta. Gosto do Pedro não pelas grandes surpresas, pelos beijos cinematográficos ou pelas transas de filme pornô e nem pelas flores que ele já me deu. Gosto do Pedro pelo simples, pela simplicidade da nossa relação.

Gosto do Pedro pelo seu companheirismo, pela sua parceria, pela sua sintonia, pelo seu bom dia, pelas suas ligações inesperadas no meio do dia, pelas mensagens enviadas no momento em que estou pensando nele, pelo sorriso bobo, pelas piadas sem graça, pelo abraço na hora de dormir, pela sua ausência que me deixa louca e intrigada... por ele ser quem ele é e sem motivo maior. Gosto porque gosto. Simples assim.


PAPO DE CALCINHA: E VOCÊ, POR QUE GOSTA DELE (A)? JÁ SE FEZ ESSA PERGUNTA? CONTE OS MOTIVOS PARA GENTE.