sábado, dezembro 01, 2012

ENTRE TAPAS E BEIJOS




POR LETÍCIA VIDICA

- Qual parte do ‘não me procure mais’ você não entendeu, William? – eu disse irritada ao telefone ao atendê-lo no fim de um dia de cão, depois de inúmeras tentativas e ligações dele por longas duas semanas. Mas, naquela noite, não tinha dado para evitar.

- Boa noite para você também. – respondeu ele do outro lado da linha parecendo sussurrar um sorrisinho malicioso de quem se divertia com a minha fúria.

- Eu não estou brincando! Aliás, eu não tenho tempo para brincadeiras. Estou cheia de trabalho aqui. O que você quer?

- Você!

Aquela resposta me deixou sem ter o que falar por, pelo menos, um minuto. Como podia, meu Deus? Mesmo pisando na bola comigo, ele ainda conseguia me arrepiar. Parecia até que ele tinha sussurrado ao pé do meu ouvido.

- Aceita a minha proposta de ter você? Eu tentei falar com você feito um louco por todos esses dias, mas você não me dava bola... eu não arredo o pé daqui se eu não tiver você hoje. – disse decidido.

- Pois então arrume um banquinho com o porteiro porque você vai cansar de esperar. – respondi curta e grossa e desliguei o telefone.

Apesar da minha vontade ser a de colocar fogo naqueles relatórios das milhares de campanhas e descer correndo para o hall do prédio para arrancar as roupas dele e me atracar com ele na frente do porteiro mesmo, eu respirei fundo e tentei me concentrar.

Quase uma hora e meia depois daquela ligação, terminei meu serviço. Já não havia quase ninguém na agência. Acho até que fui uma das últimas a sair.

Enquanto esperava o elevador, comecei a me questionar se o William ainda estaria me esperando. Acho que não. Se ele tiver um pouquinho de dignidade, vai ter ido para casa, ou melhor, já dever ter se arranjado com outro rabo de saia. Esse foi o pensamento que me perseguiu quinze andares até o térreo.

Cheguei ao hall e não encontrei nenhuma alma sentada num banquinho me esperando. Confesso que fiquei um pouco decepcionada mas, quando fui retirar as chaves do carro com o porteiro, vi que estava errada.

- Dona Diana, desculpe me intrometer, mas tem um moço parado aí na porta do prédio há um tempão e pediu para avisar quando a senhora descesse. A senhora quer que eu chame a polícia? – perguntou o porteiro desconfiado de quem seria o maníaco.

Olhei para a calçada e vi que o William ainda estava lá. Meu coração deu uma acelerada e os pelos de todo o meu corpo se arrepiaram. Internamente, fiquei feliz, mas eu não podia dar o braço a torcer. Agradeci a preocupação do porteiro e fui até a rua.

- Achou que eu ia desistir fácil? Sou persistente quando tenho um objetivo. – dizia ele todo petulante tentando me dar um beijo, mas recuei.

- Pois saiba que só vim aqui confirmar que perdeu o seu tempo. Eu estou indo para casa.- ameacei dar as costas, mas ele segurou minha mão.

- Já disse que só saio daqui com você. Quero saber por que você está fugindo de mim.

- Achei que uma ida atrasada a um jantar e me largar num churrasco sozinha já eram motivos suficientes. Melhor a gente parar o que não começou. Estou cansada de confusão.

- Quer dizer que eu sou confuso? – perguntou ele intrigado.

- Você cheira confusão. E nessa colmeia eu não quero colocar a mão. Agora, vai para sua casa que eu estou indo para minha.

- Não sem antes te levar para jantar! – bateu o pé.

- Obrigada, mas eu não estou com fome. – respondi, mas logo fui traída pelo ronco do meu estômago que resolveu se manifestar na hora errada.

- Não é o que parece.- respondeu ele rindo – Prometo que não vai se arrepender. Você merece uma explicação e é o que eu vim te dar.

***

Não sei se foi a fome, o cheiro do perfume dele, a voz macia ou o tesão que ele despertava em mim que me fizeram aceitar o convite. Em menos de uma hora, estávamos jantando em uma pizzaria descolada na zona sul da cidade.

- Vai ficar muda mesmo? Já vi que não vai facilitar para mim né? – questionava ele depois de cansar do meu silêncio.

- Já facilitei o máximo que pude, William. – respondi seca e enfiando um pedaço de pizza de mozzarella na boca.

- O que eu posso fazer para você me perdoar? Você está totalmente enganada sobre mim, gata. – dizia ele começando a aproximar a mão dele da minha por cima da mesa – Eu não queria te preocupar com isso... nem gosto de comentar muito... mas ao contrário do que você pensa que eu te deixei no churrasco ou cheguei atrasado por algum rabo de saia... eu realmente tive um problema de família... minha mãe está doente...não anda nada bem e como eu sou filho único e ela mora sozinha... quando passa mal, eu sou a única pessoa para ajudá-la.

Nossa, que história mais triste! Ou será realmente história? Ele seria tão cara de pau de deixar a mãe doente só para garantir mais uma transa comigo?

- Se foi isso, por que você não disse nada? Eu jamais te proibiria de ir socorrer sua mãe. – questionei ainda desconfiada.

- Ai, gata, não é nada legal sair com uma mulher e logo na primeira vez ir contando os problemas. Ainda mais quando os problemas se referem a futura sogra. Será que agora você me entende? – perguntou ele com cara de cachorro sem dono e apertando a minha mão.

Depois disso, ficamos por mais umas duas horas na pizzaria falando bobagens, rindo e nos conhecendo melhor. Incrível como ele me despertava sentimentos e emoções tão opostos e com uma facilidade de alteração tão grande. Do ódio ao amor. Da fúria ao humor.

- Eu queria me desculpar por toda essa cena que eu fiz. – disse, ainda dentro do carro dele, estacionado na frente do meu prédio. – É que ... eu já me enrolei tanto que comecei a ficar vacinada sabe?

- Não precisa se vacinar contra mim. – respondeu ele com os dedos entrelaçados no meu cabelo – Sabe que eu até que gosto de mulheres difíceis? Você fica um tesão quando está brava.

William me puxou para o peito dele e, ainda com os dedos emaranhados no meu cabelo, me deu um beijo de tirar o fôlego. Com a outra mão, começou a acariciar minhas pernas, lentamente a desabotoar a minha blusa e numa fração de segundos estávamos com as mãos, braços e pernas entrelaçados no banco de trás do carro dele. Não sei como tudo começou só sei que transamos no banco traseiro do carro dele estacionados na porta do meu prédio, correndo o risco do porteiro ou chamar a polícia ou gravar a cena para postar no Youtube e eu ser apontada pelo filho adolescente espinhudo do meu síndico na próxima reunião de condomínio.

- Você é louco!!! – disse me recompondo de toda aquela adrenalina.

- Olha o que você faz comigo! Posso subir? – perguntou ele.

- Não! Acho que por hoje chega! Você ainda não está merecendo uma segunda chance. – dei um beijo longo nele e desci do carro.

Entrei no prédio de cabeça baixa para que o porteiro não reconhecesse quem era a moradora que tinha proporcionado aquele filminho privê gratuito mas, por sorte, era o plantão do Tonho que sempre dorme na portaria. Não viu nada. Pela primeira vez, agradeci o sono dele. Fui dormir feliz, contente e saltitante.

***

Fiquei tão relaxada com a transa da noite anterior que só acordei porque as meninas resolveram dar plantão lá em casa.

- O que houve que você não apareceu no Pedrão ontem? Não atendeu telefone, não avisou... – perguntava Betina.

- Fui praticamente raptada. O William resolveu dar plantão na porta da agência. Tanto insistiu que acabei indo jantar com ele e o resto vocês já sabem. Transamos mais uma vez na porta do meu prédio. Foi incrível!!!

- Uau! Quem te viu quem te vê. Até ontem estava fazendo a caveira do coitado e agora está fazendo sexo selvagem com ele? – ironizava Betina.

- Que ótimo! Quer dizer que vocês se acertaram então?

- É, Lili, digamos que sim. Ele me contou que ficou sem graça de me dizer, mas que chegou atrasado ao jantar e sumiu no churrasco porque teve que cuidar da mãe dele que é doente e tals e como ele é filho único...

- Mãe doente? Filho único?- interrompeu Lili com cara de intrigada – Que eu saiba os pais do Will moram no Rio de Janeiro. Inclusive a mãe dele é uma socialite que vive aparecendo em revista e está melhor de saúde e corpo do que nós. E ele tem uma irmã
que mora com eles, inclusive.

Minha cara, meu mundo e tudo o mais caíram. Me joguei no sofá.

- Que xaveco mais barato! Usar a própria mãe para te comer??? – dizia Betina abismada

– Não sei se fico mais puta com ele que inventou isso ou com você que acreditou.

- Podem me xingar e me bater, meninas. Eu estou merecendo. Se o sexo não tivesse sido tão bom, juro que eu matava ele agora. Mas, como eu ainda estou sem forças, eu mato depois. Ele me paga. Não quero ver esse cafajeste pintado nem de ouro na minha frente.

***

Depois da história da mãe doente, resolvi riscar de vez o nome do William da minha agenda e o corpo dele da minha vida, apesar do meu corpo me cobrar por muitas vezes, porém não atendi ao chamado. E proibi o porteiro e a minha secretaria de deixarem ele se aproximar do meu telefone e da porta da agência.

Enquanto eu e o Will tínhamos rompido o fugaz relacionamento que tivemos, a Lili e o Tavinho comemoravam pela centésima vez o retorno. Tanto que o Luis Otávio inventou de terminar o churrasco do fim fazendo o churrasco do recomeço. Sob muitas reclamações e bico, resolvi ir. Logo na portaria, encontrei o Will.

- Tudo bem, Diana? – perguntou ele ironicamente, com um quê de ódio no olhar.

- Estou ótima. E a sua mãezinha doente como vai?

- Continua na mesma.

- Que pena! Realmente o sol do Rio de Janeiro não faz muito bem para a pele.
William me olhou sem entender, mas ficou sem palavras. Enquanto isso, o elevador chegou e entramos.

- Como assim, sol? Rio de Janeiro? Que história é essa?

- EU QUE PERGUNTO QUE HISTÓRIA É ESSA, SEU IDIOTA! TÁ ME ACHANDO COM CARA DE BABACA? FICAR INVENTANDO HISTORINHA DE MÃE DOENTE SÓ PARA TRANSAR COMIGO???

A porta do elevador se abriu e fomos flagrados. Todos correram para o hall assustados com os meus gritos. Entrei na casa batendo as tamancas e pude ouvir o Tavinho perguntando o que tinha acontecido e o Will respondendo que eu era louca. Pois agora ele ia ver quem era a louca. Resolvi fazer da tarde dele um inferno.

- Diana, mantenha a postura hein? Vamos mudar essa cara. O William não merece que você se aborreça por causa dele. Lembra que estamos aqui pela Lili. – dizia Betina na sala, enquanto terminávamos de comer.

- Juro que se não fosse a Lili eu jogava esse canalha da sacada. Como ele pode ser tão cínico? E ainda nega que mentiu?

- Falando de mim, meninas? – era Will quem entrava na sala segurando uma jarra de caipirinha.- Estão servidas?

- Posso jogar na sua cara? – eu disse sem pensar.

- Com todo o prazer. Contando que você lamba depois. – insinuou ele.

- Eu tenho nojo de você.- eu disse levantando e olhando profundamente nos olhos dele

– A última coisa que eu faria seria isso.

- Ah, que pena, eu já estou morrendo de tesão só de pensar nisso.

Mais uma vez, aquela frase fez meu pelos arrepiarem e até pude imaginar a idéia. Que saco!! Eu estou com raiva desse homem. Como eu posso pensar em sexo, enquanto eu quero matar ele?

- Crianças, vamos parar? – era Betina quem se intrometia na cena – Já deu hein?

- Deu mesmo. Vou ao banheiro.

Como o banheiro da sala estava ocupado, resolvi ir até o da lavanderia. Entrei, lavei o rosto, olhei o meu reflexo no espelho, respirei e resolvi voltar para a sala de cabeça erguida e um pouco mais calma. Quando abri a porta do banheiro, quase tive um treco com o William parado na porta. Antes que eu gritasse, ele começou a me beijar e me empurrou para dentro do banheiro.

- Me larga, seu verme! Eu vou gritar! - eu dizia prensada na parede tentando me soltar dele.

- Grita,pode gritar. Você sabe que eu adoro ver você bravinha né? Adorei a sua cena na sala. Jogar caipirinha na minha cara? Que coisa mais perversa! – dizia ele lambendo a minha bochecha e me dando um selinho.

- William, eu não estou brincando. Sai daqui. Eu realmente estou com muita raiva de você. Sai!

William começou a me beijar novamente me deixando sem fôlego. Em pouco minutos, não resisti e me rendi. Quando dei por mim, o meu vestido já estava no pescoço e estávamos transando de pé no cubículo que Luis Otávio chama de banheiro em meio a detergentes , rodos, vassouras, baldes e água sanitária.

- Ainda vai me bater? – perguntava ele ao terminarmos o serviço.

- Isso é injusto. Não vá achando que está perdoado. – respondi sem folego tentando me recompor.

- Ainda não? No carro não bastou, no banheiro também não. Vou ter que ser mais criativo viu? Eu vou saindo na frente para não desconfiarem. Te pego na escada depois. – disse ele dando um beliscão na minha bunda.

Me olhei no espelho e vi que estava evidente que eu tinha acabado de transar. O que as meninas iam pensar de mim? O que elas falariam? Há poucos minutos eu queria matar ele e agora estou aqui louca de tesão querendo mais. Ai, Jesus, que confusão de sentimentos. Me ajuda!

A única saída foi sair do banheiro na maior cara lavada e encontrar todo mundo sentado na sala assistindo DVD.

- Algum problema, Diana? – perguntou Tavinho só para me irritar. Ele bem sabia o motivo da minha demora.

- Acho que a porta do seu banheiro está com problema, viu? Eu não conseguia abrir. – respondi.

- Por isso, o William foi lá te ajudar? – questionou Dudu.

- Eu só espero que tenham limpado a bagunça. – completou Tavinho.

Olhei para William e começamos a rir. Logo, todo mundo caiu na gargalhada e começaram a nos zuar sacando o que tinha acontecido.

- Acho que unimos mais um casal hein, gatinha? – dizia Tavinho.

- Como gato e rato viu? – ria Lili

- Peguem leve. Eu e minha gatinha aqui não gostamos de monotonia. – dizia Will me abraçando no sofá.

- Vocês curtem uns tapas e beijos isso sim! – completou Lili.

Ao contrário do último encontro, terminamos a tarde num clima de paz e descontração. Incrivelmente, William não recebeu nenhum telefonema da mãe doente ou do raio que o parta. Deixei essa história para averiguar mais tarde. Preferi curtir apenas os beijos e deixar os tapas para depois.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ VIVEU UM RELACIONAMENTO INTENSO ASSIM? ENTRE TAPAS E BEIJOS? JÁ FICOU TENTADA POR ALGUÉM QUE TE PROVOCAVA SENTIMENTOS TÃO OPOSTOS?

domingo, novembro 18, 2012

ENCONTRO DE CASAIS - PARTE 2



POR LETÍCIA VIDICA


Acordei ainda um pouco tonta e tentando recompor a minha consciência sobre qual dia era, onde eu estava e que horas seriam. A imagem ainda embaçada me revelava vagamente de que aquele não era meu quarto. Porém, rapidamente, a imagem daquele Deus grego sem camisa aos pés da cama me ajudou a recompor a memória. Depois do jantar quase fatídico da noite passada, eu tinha dormido na casa do William. E, agora, deliciosamente ele me olhava aos pés da cama, descabelada, e com algo que parecia ser um café da manhã.

- Bom dia, dorminhoca!

- Que horas são? - respondi apavorada, procurando o meu celular - Meu Deus, perdi a hora. Eu já devia estar em casa.- disse ao ver que me celular marcava dez e meia da manhã.

- Nossa e para quê tanta pressa? O que você tem de tão importante para fazer na manhã de um domingo que nem pode tomar café comigo?

Oi?! Aquilo tinha sido alguma espécie de declaração de amor, xaveco ou algo assim? Só sei que me desarmei na hora e abri um belo sorriso para ele. Rapidamente, ele se achegou e me deu um beijo sufocante esfregando aquele peitoral espetacular sobre mim.

- Bom dia né? - respondi sem graça depois da minha grosseria - Você não precisa se incomodar. Eu só vou lavar o rosto e vou para casa. Não quero incomodar. - eu disse ameaçando levantar da cama.

- Jamais. Não admito isso. - disse me recriminando - Afinal, não é todo dia que tenho uma deusa assim na minha cama. - jogou mais um de seus xavecos. Ele era bom nisso.

- Será? Aposto que ontem tinha uma bela deusa aquecendo sua cama que até te fez esquecer do jantarzinho comigo. - alfinetei.

- Nossa! E eu achando que já estava perdoado... - dizia ele fazendo beicinho.

- Mas está. Foi apenas uma constatação. Quem sou eu para cobrar você né? - insinuei levantando da cama e me dirigindo ao banheiro.

- Você é uma tremenda gata gostosa que eu quero comer todinha agora. - uau! Que homem insaciável!

Era incrível como eu também desejava aquele homem. Desde a primeira vez que eu vi o William, foi coisa de pele. Obviamente, eu não fiz nenhum doce e deixei ele me espremer contra a parede, beijar o meu pescoço, arrancar o que ainda sobrava da minha roupa e me comer no chão do quarto dele. Um belo café da manhã, diga-se de passagem.

- Você costuma brindar as suas deusas sempre com esse tipo de café da manhã? - eu disse, de propósito, para instigá-lo.

- Você ainda não viu nada, baby. Poucas tem esse privilégio. - disse ele se espreguiçando depois da adrenalina e esparramando aquele biceps maravilhoso para mim.

- Bom, hora de ir para casa né? - eu disse recolhendo minhas roupas pelo chão.

Antes que ele respondesse, fomos interrompidos pelo celular do William que tocava. No início, achei que podia ser uma das deusas dele ligando, mas depois pelo tom dele percebi que era o Tavinho.

- Acho que você não vai se livrar de mim tão rápido assim, não. - dizia ele me abraçando por trás e me dando um beijo na nuca, depois de desligar o celular. - Tavinho acabou de ligar e tem a parte dois. Ele vai fazer um churras lá na casa dele.

- Churras? Nossa, o Luis Otávio está mudando mesmo hein? - espantei com o bom humor e o sentimento comunitário dele. Em outros carnavais, ele já teria dispensado a Lili para traçar a próxima.

- Pois é. Uma hora todo mundo muda. Bora para um banho? - disse William se despindo na minha frente e me deixando um pouco tonta e excitada.

Oi?! O que foi esse comentário? Alguma espécie de confisão? Do tipo, gata, eu também era um garanhão e me regenerei?

****

Apesar de toda a minha relutância, não consegui convencer o William a me deixar ir para casa, tomar um banho decente no meu chuveiro e mudar de roupa. Ele bateu o pé e venceu essa batalha. Tive que tomar banho com ele e deixá-lo me levar até o meu apartamento sob muita cara feia.

Chegamos à casa do Tavinho de mãos dadas e todos logo nos olharam com sorrisinhos maliciosos. Tavinho foi o primeiro a alfinetar.

- E aí, Will, conseguiu domar a fera? - dizia ele dando um tapinha nas costas do amigo.

- Tavinho! Para de pegar no pé da Diana. - recriminava Lili

- Isso mesmo, Lili, acho bom ele mudar o foco porque se eu começar a falar dele... a coisa não vai ficar legal. - respondi a altura.

- Bem, que tal irmos agilizando o almoço, meninas? - era Betina quem abafava o caso, incrivelmente. Não é que o Dudu tá fazendo um bem para ela?

...

- Dona Diana, pode ir contando tudo e nos detalhes hein? - era Lili quem dava um tapinha na minha bunda, curiosíssima com o desempenho da minha noite passada.

- Resolveu garantir a sua sobremesa e parar de fazer doce? - era Betina quem queria confirmar.

- Não só garanti a sobremesa como o café da manhã também. - suspirei ao confessar a noite maravilhosa para as meninas.

- Ai, meu Deus, tá até suspirando é, nega? Pelo jeito, o gatão aí recompensou o atraso muito bem. - ria Lili.

- Olha, uma coisa eu tenho que confessar: ele sabe o que fazer viu? E muito bem!!! - ri também.

- Posso saber por que as mocinhas estão rindo tanto? - era Luis Otávio quem atrapalhava o nosso clube da luluzinha.

- Coisas de mocinhas, amor. - disse Lili dando um selinho na boca do amado.

- Esse é o meu medo. Bem, enquanto a minha orelha não arder! A gente tá indo comprar carvão e já volta ok?

- Não demora tá? - era Lili quem se melava toda para o amado.

- Vamos num pé e voltamos no outro. Aproveitem para continuar com as coisas de mocinhas... - alfinetava ele.

Voltamos a cozinhar e, obviamente, a fofocar também. Enquanto Betina descascava os legumes, confessava que tinha tido mais uma noite agitada com Dudu. O garotão estava no pique e não deu um segundo de paz a ela. As olheiras que Betina carregava não deixavam ela mentir. Por sua vez, Lili, que lavava o arroz, confessava que Tavinho tinha dado uma e depois caído em sono profundo e ela não tinha pregado o olho de raiva e também na esperança de que ele acordasse e terminasse o serviço, mas tinha sido em vão. E eu, comecei a ser sabatinada pelas meninas, enquanto fazia um vinagrete.

- Depois dessa noite maluca de amor, então, quer dizer que vai render? -perguntava Betina.

- Não sei, gente. O William é um cara legal, gostoso, transa bem, mas não me passa confiança. Meu sexto sentido diz que é melhor eu não me animar tanto assim.

- Lá vem você com o seu pessimismo e as suas confusões. - dizia Lili.

- Não é isso gente! É a segunda vez que eu vejo o cara. Hoje, mais especificamente, a terceira. E em todas as outras vezes, a gente transou, foi bom e só. O cara é um galanteador, galinha. Isso vocês não podem negar... como eu posso confiar assim?

- Ok se você não confia, mas bem que pode ir tirando uma casquinha. Um amigo colorido faz um bem danado. E acho que você precisa de um. Vai fazer bem para sua pele. Olha só para você! Parece até que saiu de um peeling.

Rimos com o comentário da Lili e continuamos a tagarelar sobre nossos possíveis relacionamentos e a preparar o almoço.

****

Almoço pronto e nada dos meninos voltarem. Começamos a ficar intrigadas e com a pulga atrás da orelha. Lili já tinha ligado um trilhão de vezes para Tavinho, mas só dava caixa postal.

- ONDE VOCÊ ESTAVA?! - berrou Lili quando Tavinho abriu a porta com Dudu se escondendo atrás para não levar bordoadas também.

- CALMA, Liliana! Não seja exagerada! - gritava ele - Eu demorei para encontrar um posto com carvão. Só isso.

- E o seu celular? -perguntava ela de braços cruzados - Por que não atendeu?

- Eu não ouvi tocar. Agora será que eu posso ir colocar a carne para assar?

- Só uma coisinha. - perguntei - Cadê o William? - perguntei ao perceber que ele não tinha entrado na casa.

- Ele recebeu uma ligação e disse que já vinha para cá. Parecia preocupado. Acho que mais um problema familiar. - dizia Dudu

- Mais um?! Quantos parentes ele tem afinal? - perguntei intrigada.

Dudu e Tavinho seguiram para a churrasqueira nos deixando intrigadas.

- Calma, meninas! Diana, relaxa! - dizia Betina.

- Agora entendem porque eu não confio nesse cara? Em menos de 24 horas, dois problemas supostamente familiares e me deixou de boba. Ele não me conhece... - peguei uma cerveja e fui bater as tamancas no sofá.

- Lili?! Vamos mudar esse bico? Não vamos estragar o clima do churrasco né, gente?

- Clima, que clima, Betina? Vai brigar com o Tavinho porque ele já estragou. Ele acha que eu sou uma idiota? Eu já cansei dos truques baratos dele. Não tá me custando nada meter uns bons chifres na cabeça dele. Não me dá atenção, vive cheio dessas historinhas furadas e ainda anda brocha. Tá merecendo! - bufava Lili de um lado a outro da sala.

- Então é isso que você acha de mim, Liliana? Que eu sou um bosta mentiroso e brocha?

O circo estava armado e o barraco do casal pimenta ia começar. Luis Otávio chegava na sala e flagrou o desabafo da Lili.

- Gente, acho que não é hora e nem lugar para lavar roupas sujas né? - eu dizia tentando acalmar os animos.

- Agora que começou eu quero que ela vá até o fim, Diana. Deixa a sua amiguinha falar. Continua, Lili? - Tavinho já começava a ficar alterado e ia se aproximando de Lili como cão raivoso.

- Calma, Tavinho! - era Dudu quem tentava amansar a fera.

- É isso mesmo, Luis Otávio. Eu estou cansada de você me tratar como uma idiota mimada. Acha mesmo que eu acreditei nessas historinha de não achar carvão? Confessa! Qual das suas piriguetes vocês foi visitar? Fala, fala!!! - ninguém segurava Lili quando estava brava.

- Acha mesmo que eu ia armar um churrasco na minha casa para as amigas da minha namorada se eu quisesse comer outra garota? Você mesma se tira de idiota, Lili! Vai continuar com a ceninha?! Eu que sou um idiota mesmo. Enquanto eu me preocupo em arrumar uma tarde agradável, você fica me difamando para suas amiguinhas. Quer dizer que não dou conta do recado? Tá insatisfeita é? Os incomodados que se mudem.

- É o que eu vou fazer mesmo. Para mim, esse churrasquinho já deu. Eu vou embora.

- Lili, Lili... - dizia Betina que saiu correndo atrás dela.

Fiquei paralisada olhando para a cara do Luis Otávio. Ainda estava desacreditada da cena.

- Não se sinta culpada, Diana. Pode ir também. Acho que a Lili vai precisar muito mais de você do que de mim. - Tavinho dava as costas desconsolado. Não sei por quê, mas tive dó dele.

****

Ao chegar no hall do prédio, trombei enlouquecida com William que chegava todo perdido e atrasado.

- Epa! Peraí, gata. Tá indo onde? - dizia ele ainda tentando me abraçar.

- Me larga! - empurrei ele - Você chegou tarde demais. Eu tenho que ir.

- Calma aí! - William me pegou pelo braço - Eu tive um problema. Você vai aonde? E o churrasco?

- Foda-se você e o seu problema. Ou melhor, leva ele para sua cama. O churrasco acabou para gente, mas acho bom ir consolar o Tavinho porque ele vai precisar.

Aproveitei a fúria da Lili e despejei nele. Saí correndo e deixei William com cara de idiota na porta do elevador. Por pouco não fiquei para trás, saí gritando atrás do carro da Betina que quase virava a esquina. Me joguei dentro dele e fomos em disparada para a casa da Lili, que só chorava de soluçar no caminho.

***

- Bebe essa água e tenta se acalmar! - eu dizia entregando um copo de água com açúcar para tentar acalmar os animos da Lili que só tremia.

- Eu mato aquele canalha! Como ele ousa me enganar daquele jeito? Vocês viram como ele me tratou na frente de vocês? - dramatizava ele.

- Mas você bem que provocou também. Vamos ser sinceras, Lili. - Betina trazia o tom da realidade.

- É, Lili! Não que eu queira defender ele, mas acho que o Tavinho estava sendo sincero. Você tinha que ver o olhar de cachorro sem dono dele quando você saiu da casa. - era minha sinceridade falando por mim.

- Esse olhar não me comove mais, Diana! Ai, meninas, me desculpe por estragar o churrasco. Vocês estavam tão animadas. Mas é que o Tavinho me tira do sério... e o Dudu? Coitado. E o William, chegou? Eu vi ele entrando correndo no prédio quando a gente saiu.

- Não se preocupa, Lili. O importante é você se acalmar. Terão outros churrascos e o William teve o que mereceu.

Passamos a tarde a acalmar e distrair a nossa ferinha indomável chamada Liliana. Apesar de saber o final da história, a gente sempre cuida dela. E, confesso, que nossa tarde de coisas de mocinha foi bem mais divertida.


PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ TEVE ALGUM ENCONTRO DE CASAL DESASTROSO? DIVIDA COM A GENTE!!! OU DÊ SUA OPINIÃO SOBRE O ENCONTRO DE LILI, BETINA E DIANA.

domingo, novembro 04, 2012

ENCONTRO DE CASAIS



POR LETÍCIA VIDICA


- Meninas, lembram daquele meu amigo que ia inaugurar o bistrô? - relembrava Lili enquanto nos refrescávamos largadas na varanda do meu apartamento em mais domingo quente em São Paulo. - Então, a inauguração vai ser semana que vem e a gente já tem mesa reservada!! – comemorava.

- Que tudo! Nada como ter amigas influentes. - completei.

- Mesa para seis! – retrucou Lili inesperadamente.

- Como assim, mesa para seis?! Você e Tavinho, Betina e algum dos pirralhos dela e eu e quem?! - perguntei desanimada com a falta de opção. - Eu agradeço o convite, mas eu não vou de vela hein? – bati o pé.

- Não seja dramática, Diana! Você não está tão jogada às moscas assim... - completava Betina enquanto se abanava debruçada ao parapeito da sacada.

- Ah não? E qual é a minha opção? – perguntei tentando trazer minhas adoradas amigas de volta à minha triste realidade: a solidão.

- Adivinha quem perguntou de você para o Tavinho essa semana?! Quem? Quem? – ela Lili fazendo um suspense para me agradar - O gato do William. - dizia batendo palminhas como um golfinho.

- William? Aquele amigo do Tavinho lá da praia? Nossa, ele ainda lembra de mim? - cocei os cabelos intrigada com a história. - Achei que, depois daquela noite caliente lá na praia, nossa história tinha acabado... – eu tinha certeza absoluto que aquilo não tinha passado de apenas um sexo sem compromisso.

- Enganou-se, bobona. E, claro, pedi pro Tavinho convidar ele também. Daí, fechou!! Jantarzinho romântico no bistrôzinho novo a seis. - era Lili quem encerrava o assunto.

***

Fazia tanto tempo que eu não tinha um encontro com uma pessoa diferente, que não fosse o Pierre ou o Pedro (os meus últimos fantasminhas camaradas), que tinha me esquecido de alguns detalhes básicos, como marcar cabeleireiro, manicure, depilação e, sem falar, na roupa perfeita.

A minha semana tinha sido tão atarefada que, se não fosse a minha personal dating Liliana Bittencourt, eu iria a esse encontro parecendo o diabo da Tasmânia.

- Lili, tem certeza que o William vai a esse jantar? - eu perguntava enquanto fazíamos a unha no salão no sábado de manhã.

- Ih, Diana, relaxa! Tá tudo certo. – respondia confiante.

- É que... sei lá, ele nem me ligou... não mandou uma mensagenzinha no Facebook... olha lá,hein? Você sabe que eu odeio forçar a barra Se ele não quiser ir, tudo bem. Eu vou ao bistrô em algum outro dia. – tentei sair pela culatra antes de passar carão.

- Hmmm... tá surtada, hein, Mona? - era Beto, meu cabeleireiro amado, que chegara para escovar meus cabelos. - Quem é o bofe?

- Betinho, dá um sossega leão na nega, por favor? - recriminava Betina que acabava de chegar no salão.

- E aí, Bê, vai levar quem? Até agora, você não me disse nada. - perguntava Lili curiosa.

- Lili, seremos cunhadinhas essa noite. O Dudu é meu quebra-galho fiel. Vou levar o irmão do Tavinho. Por isso, pode tacar pepino na minha cara porque eu preciso rejuvenescer uns 30 anos! - brincava Betina.

- Já vi tudo. A noite vai ser boa... ou melhor, promete. - dizia Beto - Mas quem é o bofe, Lady Di?

- Ai, Beto, é um amigo do Tavinho. A gente saiu, ou melhor, transou uma vez e só. Na praia. - eu dizia ainda um pouco embaraçada com a situação.

- Que dilicia! Mais uma noite de sexo selvagem e sem compromisso... quer coisa melhor? – dizia soltando um gritinho - Tá nervosa por quê? E o modelito? Tem que ir fatal hein?

- Não sei. - eu disse baixinho, esperando a onda de fúria que as meninas e o Beto soltariam sobre mim.

- Como assim?! Diana, a gente tem um jantar daqui a menos de seis horas e você não sabe o que vestir? - bufava Lili.

- Eu tive uma semana corrida, gente. Eu coloco qualquer vestidinho lá do guarda-roupa. - desbaratinei.

- Eu te proíbo de colocar qualquer vestidinho do seu guarda-roupa - era minha personal dating quem falava - Saindo daqui a gente vai em disparada para o shopping. Ai, ai, viu?!

Nem respondi mais nada porque em matéria de encontros, a Lili era mestra. E nada deixava ela mais nervosa do que um encontro mal planejado. Passamos a tarde na sessão beleza, rindo e fofocando com o Beto e depois partimos para o shopping.

*****

Depois de várias lojas, trocas e destrocas, chorinhos por descontos, roupas que não entravam, roupas que não combinavam, fila para o caixa, fila para o estacionamento... consegui comprar o meu modelito encontro. Claro que a Lili me pressionou muito a comprar aquele vestidinho roxo estilo Juju Panicat, mas até que eu curti o modelo piriguete. Como a gente já estava atrasada, para variar, fomos todas nos arrumar na minha casa.

- Gente, o interfone... alguém atende? - eu gritava do banheiro, enquanto terminava de modelar o meu cabelo com a prancha.

Do banheiro pude ouvir duas vozes masculinas, mas não escutei a terceira. Meu coração acelerou temendo ser o que eu pensava.

- Com todo respeito, quem é essa gata? - era Luis Otávio que me media e me elogiava ao me ver entrar na sala.

Nem retruquei o elogio porque estava mais preocupada em saber onde estava o William que não estava na sala ao lado do Dudu e do Tavinho.

- O Will vai direto. Ele teve um probleminha em casa e ficou de nos encontrar lá. - dizia Tavinho - Vamos?

Que beleza, hein? Respirei fundo e inventei que tinha esquecido uma coisa no quarto, afim de poder falar com a Betina.

- Betina, já vi tudo. O cara não vai. Eu estou me sentindo ridícula. Eu não vou mais. Podem ir. Desce e diz que me deu um piriri, sei lá, torci o pé no elevador... inventa qualquer coisa... mas eu não vou ficar de vela de sete dias.

- Diana, calma! O Tavinho não disse que o cara vai? Então, ele vai.. E eu não vou deixar você perder o dinheiro de todo esse investimento... Olha no espelho, mona. Tu tá um espetáculo!!! Sorte sua que eu não gosto da fruta hein? Se não, atacava você. - dizia Betina, rindo para tentar me distrair.

Descemos correndo porque a Lili já estava berrando lá da rua. Fui o caminho toda calada e com a cara colada no vidro porque o pentelho da Betina já dava sinais de hormônios exaltados, agarrando ela no banco traseiro do carro e a Lili estava com tique na mão boba toda vez que o carro parava no semáforo. A minha esperança era que, ao descer na porta do bistrô, o Will estivesse lá... mas não estava.

******

O lugar era realmente incrível. Meia-luz, ambiente num mix de áreas abertas e fechadas, decoração com flores e plantas tropicais. Apesar de ter, no máximo, umas quinze mesas, o lugar estava bombando.

- Estão gostando? - perguntava o dono do restaurante, amigo da Lili.

- Juquinha, isso aqui é um espetáculo!!! Pode crer que eu virei cliente cativa agora. Você vai se dar mal... - era Lili quem lambia o amigo.

- Querem que eu tire essa cadeira para não incomodar? - perguntava ele querendo tirar a cadeira vazia do Will que estava do meu lado. Mico total né?

- Não, não... meu amigo já está chegando - dizia Tavinho olhando para o relógio e para mim - um tanto quanto sem graça.

- Com licença, eu vou ao banheiro. - eu disse afim de fugir daquele lugar, mas a Lili e Betina foram mais rápidas no gatilho e me acompanharam.

...

- Vamos lá, podem dizer a verdade, eu aguento... foi tudo armação né? O cara não vem. - eu dizia andando de um lado a outro do banheiro.

- Calma, Diana. Ele está chegando. – era Lili que tentava me acalmar.

- Calma, calma... como calma? A gente já tá aqui há mais de uma hora e nada. Vocês querem que eu tenha mais calma? Não precisavam ter me deixado bancar a solteirona ridícula... - eu dizia num mix de raiva e quase choro. - Olha, eu vou sair. Se ele não chegar em 10 minutos, eu pego um táxi e vou para casa ok? E não me peçam mais calma!!

Saí do banheiro feito um trovão e tive que engolir a minha língua ao ver o William sentado na mesa. Respirei fundo e segui em direção a eles tentando conter a minha raiva. Percebi que eles também interromperam algum assunto.

- Não vou brigar se você me der um tapa. Pode bater. Mil perdões. Eu tive um problema de família. - dizia William levantando, me dando um beijo e puxando a cadeira para mim. - Eu jamais deixaria esse espetáculo de mulher me esperando.

- Que isso! Não tem problema. - mentira! Se ele soubesse que minha vontade era jogar aquele champanhe na cara dele, mas tudo bem. Vou relevar. Afinal, não é todo dia que eu tenho um encontro e que um gato sobe no meu telhado e me chama de 'espetáculo de mulher'.

- Ainda bem que você chegou, mermão! Elas já estavam fazendo o seu vodu lá no banheiro. – dizia Tavinho com sua sinceridade sem graça.

- Luis Otávio! – recriminava Lili – Não seja deselegante!!!

- Estou falando alguma mentira? O que três mulheres fazem em bando num banheiro? – respondia ele.

- Tudo bem. A Diana pode me espetar à vontade... – dizia William com uma segunda intenção na voz.

- Alguém está com fome? – eu perguntei tentando mudar o rumo da conversa.

- Vocês ainda não comeram nada? – perguntou William.

- Estávamos esperando você, gatinho. – completou Betina.

Enquanto saboreávamos a comida, William tentava se redimir pelo atraso sendo gentil e me olhando o tempo todo. O problema é que o tesão tinha acabado para mim. Mas, às vezes, eu tinha que me segurar para não olhar muito para ele porque as lembranças do sexo animal na areia da praia ainda estavam fortes em minha mente.

- Ainda está brava comigo? – cochichou ele no meu ouvido.

- Eu?! Esquece isso. Muito boa essa comida né? – desbaratinei.

- Alguém quer mais vinho? – perguntava Dudu.

- Então, vocês são cunhados agora? – perguntou William para Betina.

- Não. Não somos cunhados, amor. – respondia Betina parecendo já um pouco alterada pelas taças de vinho.

- Mas você e o Dudu...estão juntos... então...

- Gatinho, eu e o Dudu somos amigos de longa data e de horas emergenciais se é que me entende.

- Poxa, essa é novidade para mim. – respondia Dudu parecendo marido traído.

- Não fica triste, baby. A vida é assim mesmo. – respondia Betina emendando um beijinho na boca de Dudu.

- Olha o vinho! - gritava Betina levantando a taça.

William resolveu bancar o cavalheiro e servir o vinho para mim. Desastre total. Ele derrubou a bebida no meu vestido novinho. Era o que faltava para ele entrar para o meu caderninho negro.

- Ai, meu Deus! Me desculpe! – dizia ele todo atrapalhado tentando me secar com um guardanapo.

Enquanto eu me preparava para responder à altura, Betina me deu um pisão no pé por debaixo da mesa e se prontificou a me ajudar com a mancha no banheiro.

- Diana, te dou cinco minutos para engolir esse bico e mudar essa cara! – ralhava comigo enquanto limpava a mancha do meu vestido.

- Espero que você também tenha a receita para isso. O cara chega atrasado e ainda derruba vinho no meu vestido novo? Eu disse que era melhor usar qualquer coisinha do meu armário. Ai que ódio! Juro que se ele não fosse um tesão de homem e essas lembranças da praia não parassem de me perseguir, eu já teria saído daqui. – respondi bufando.

- Então, aproveita as boas lembranças que ainda restam e salve a sua noite. Seja doce e garanta a sua sobremesa.

- E quem disse que eu quero sobremesa? É apenas um jantar e nada mais.

- Não seja inocente, Diana. Você tem duas escolhas: ou vai para casa com um gato incrível ou estraga tudo e vai dormir chupando o dedo... no máximo, te empresto o Ted.


Voltei para a mesa e eles já tinham pedido a conta. Me recompus e resolvi fingir que nada tinha acontecido.

- A mancha saiu? Eu sou um desastrado mesmo. – dizia William.

- Não se preocupe! Nada que uma boa lavanderia não cure. Depois eu mando a conta para sua casa. – eu dizia rindo para quebrar o gelo.

Nesse momento, fomos surpreendidos por mais uma. Avistei Pierre e Olívia saindo do bistrô. Tentei desbaratinar, mas nossos olhos se cruzaram teimosos. Pronto, tudo que eu precisava para aquela noite perfeita. Claro que Pierre não se conteve e se aproximou da nossa mesa.

- Nossa, nem chamam mais os amigos hein? – brincou ele.

Que pessoa deselegante né? Pior é que o Tavinho, que tinha virado amiguinho dele, começou dar trela para a conversa.

- Oi, Diana, tudo bem? Prazer, amigo. – disse ele medindo William dos pés a cabeça.

- Vamos, Pi. Já está tarde. A gente ainda tem que pegar a pequena na casa da minha mãe. – relembrou Olívia, acho que também um pouco desconfortável com a situação e evitando um papelão.

Os dois se despediram e Pierre ainda fez questão e me dar um abraço apertado. Não adianta. Ele não se toca!!!

- De onde você conhece esse cara? – perguntou William num tom autoritário, como quem tinha se ofendido por quererem mijar em seu território.

- É uma longa história. Não vale a pena contar agora. – respondi enquanto todos olhavam desesperados para mim.

- E aí o que vai ser agora? – perguntou Dudu me salvando daquela situação.

- Com você eu não sei, irmãozinho, mas eu tenho bons planos com a minha coelhinha. Uma noite longa! – dizia Tavinho.

- Espero mesmo que seja longa! – dizia Lili relembrando as duas pimbadinhas clássicas de Luis Otávio.

- Lili, se a de vocês vai ser longa eu não sei, mas a minha está garantida. Meu bebê não falha. – dizia Betina só para irritar Tavinho.

- Papo animado esse né? – respondi sem graça.

- Eu diria que é um papo inspirador, você não acha? – dizia William com um sorrisinho malicioso e colocando o braço sobre os meus ombros. Me arrepiei na hora. Ai, que ódio! Ele sabia o que fazer.

Nos despedimos na porta do bistrô. Os quatro seguiram juntos no carro do Tavinho à procura de algum motel para um bom pernoite e eu e o William ficamos parados na porta do restaurante.

- Bom e agora? – perguntava ele.

- Agora o quê? – eu respondia.

- Mereço uma segunda chance ou fui eliminado do Big Brother Brasil?

- Na sua ou na minha casa? – respondi diretamente.

William me abraçou, chamamos um táxi e seguimos para a casa dele. Resolvi ser doce e garantir o meu petit gateau, como disse Betina. Eu não estava a fim de dormir com o Ted ou chupando o dedo.
Se Deus tinha me dado a oportunidade de ter um encontro, bora aproveitar. E foi o que fiz.

CONTINUA...


PAPO DE CALCINHA: COMO VOCÊ COSTUMA LIDAR COM ENCONTROS DE CASAIS? QUER DIVIDIR ALGUMA HISTÓRIA ROMÂNTICA, ENGRAÇADA OU, ATÉ MESMO, DESASTROSA? FIQUE À VONTADE!!!

segunda-feira, outubro 22, 2012

SEXO: QUALIDADE OU QUANTIDADE?


POR LETÍCIA VIDICA


- Meninas, para variar, desculpem pelo atraso. - eu dizia ao chegar ao bar do Pedrão em mais um dos nossos encontrinhos rotineiros às sextas - Tive uma reunião que não acabava nunca... preciso urgentemente de uma cerva bem gelada - eu dizia me jogando na cadeira.

- Mais um pouquinho, a gente ia embora! - dizia Betina com os olhos de quem não dormia a uma semana.

- Nossa, credo! Que ânimo é esse de vocês? - reparei que a Lili também não estava com cara de bons amigos.

- Eu estou podre! Me exercitei demais a noite passada. - respondia Betina.

- E posso saber que tipo de exercício a senhora fez? - eu perguntava sentindo que o tom da resposta era de quem tinha tido uma noite bem quente.

- Ah, eu saí com o irmãozinho do Tavinho. O menino quase acabou comigo! - reclamava Betina que acho que tinha soltado um gemido de dor nas costas.

- Ela esquece que é uma senhora de 40 anos, Diana! Quer pegar novinho tem que acompanhar o pique, meu bem... ai, que inveja! - suspirava Lili.

- Também não é assim. Eu não estou acabada desse jeito. Mas sabe como é... o garoto tem muita virilidade né? O negócio ali é quantidade. Acho que a tiazinha aqui não guenta... - ria Betina e emendava um pedido de mais uma rodada de frango a passarinho.

- Antes, eu tivesse quantidade viu? Não quer trocar de irmão, Betina? - questionava Lili.

- Tá louca? Cada um com seu irmão. Tô cansada, mas não abro mão desse bezerro.

- Ué, agora eu que não entendi. Tá querendo jogar o Tavinho para escanteio por que? - eu perguntava não entendendo bulhufas porque a Lili reclamava do sapo encantado dela.

- Ai, Diana, o Tavinho já não é mais o mesmo. Não tem mais o mesmo pique de antes, se é que você me entende. Vocês bem sabem que eu sou insaciável né? Gosto mais do que lasanha... - dizia ela como quem se orgulhava do troféu de Miss Sexy do ANo.

- Ok, ok, Lili. Nos poupe dos detalhes sórdidos. - recriminava Betina.

- Mas, de uns tempos para cá, é uma ou duas pinbadinhas, no máximo, e o Tavinho já está cansado. Semana passada, a gente até brigou por causa disso. Desse jeito, não dá. Já falei para ele. Vou ter que arrumar substituto. - dizia Lili fazendo biquinho como uma criança infeliz por não poder mais brincar todo dia no play.

- Por isso que eu prefiro os novinhos. Eles não tem qualidade, mas tem uma quantidade incrível... - desabafava Betina.

- Não sei por que vocês reclamam tanto. Agradeçam que ainda tem algum infeliz que come vocês... e eu? Matando cachorro a grito... Tomás, me desce mais uma? - eu dizia dando o último gole na cerveja.

- Tá na seca porque quer. Já te disse isso. - era mãe Betina quem brigava comigo.

- Mas, meninas, eu não entendo. A Betina quer os novinhos, mas fica aí toda quebrada depois de uma transa... a Lili não larga o tiozinho do Tavinho, mas reclama que ele não dá no couro... não dá para ter tudo, lindonas. Ou é qualidade ou é quantidade. - eu dizia.

- Concordo com você, Diana. A gente tem que aproveitar o melhor que cada idade pode nos dar. Eu sou da turma da quantidade. Prefiro umas dez pimbadas de quinze minutos do que uminha de uma hora. É o ônus de quem gosta de um pentelho...

- Eu discordo. Acho sim que dá para aliar qualidade com quantidade. Aposto que o Tavinho está com outra. Deve estar dando no couro com alguma piriguete e quando me encontra fica morrendo... mas ele vai ver. Eu vou dar o troco. - bufava Lili.

- Não exagera, Lili. Tudo bem que o Luis Otávio não é um santo,mas temos que considerar que ele já não é mais um menino né? - eu dizia tentando fazer minha amiga parar com seus planos de vingança maquiavélicos.

- Mas ter 37 anos não é estar na terceira idade né? - retrucava Lili.

- Mas também não é ter 24, querida! - retrucava Betina. - Encare a realidade, Lili. O Tavinho passou da fase da quantidade, ele agora... eu acho, não sei... deve aproveitar a qualidade. Levante as mãos aos céus que ele ainda dá duas e ainda sente tesão por você. Quando ele entrar na fase do amigo, eu quero ver... - ria Betina.

- Será, gente? Ah, num sei. Ele mudou! - dizia Lili - Tudo bem que ele é o melhor, faz um sexo como ninguém, sabe o que fazer, onde tocar... mas, daí, ele goza e eu continuo na vontade? O que eu faço com isso?

- Quer o Ted emprestado? - ironizava Betina.

- Não, sua bobinha. Vou tentar me contentar com o Tavinho Junior slow motion mesmo... - ria Lili.

- Que papo, hein?

- E você, Dianinha? Tá de que lado do muro?

- Pergunta difícil para quem não vê um amiguinho há muito tempo né? Mas, pensando bem, acho que eu sou da turma da qualidade. Me irrita profundamente um milhão de ejaculações precoces, mas se ele puder chegar pelo menos na terceira ou quarta pimbadinha... eu confesso que fico bem feliz. - eu ria.

- Safadinha! - dizia Lili.

Seguimos a noite rindo, bebendo, comendo trasheiras gordurosas e debatendo sobre qualidade ou quantidade. O difícil foi chegar a um acordo.

PAPO DE CALCINHA: O QUE VOCÊ PREFERE? QUALIDADE OU QUANTIDADE?

quarta-feira, outubro 10, 2012

A LIGAÇÃO QUE EU TE DEI




POR LETÍCIA VIDICA

O calor estava insuportável e, apesar de todo o meu cansaço de um dia pesado de trabalho, o sono não dava nem sinal. Eu já tinha assistido a todas as novelas, a todos os programas depois das novelas, já tinha zapeado os canais da tevê a cabo e, como não tinha nada de bom, resolvi me render a um sorvete e ao resquício de vento que batia na minha varanda.

Eu estava ansiosa, mas não sabia com o quê. Agitada. Meu pensamento estava longe e perdido na escuridão da cidade que já tinha dormido... de repente, o telefone tocou.
Claro que meu coração disparou porque telefone de madrugada é sempre desgraça. Ainda relutei para atender, mas ele estava insistente.

- Alô? – disse com a voz trêmula com medo do que me esperava do outro lado da linha.

- Diana?! Te acordei?! – dizia aquela voz ainda desconhecida.

- Quem está falando? – perguntei temendo ser mais um daqueles trotes idiotas de sequestro relâmpago.

- Nossa... nem lembra mais da minha voz? É o Pedro.

Caí dura no sofá e de coração disparado quando reconheci a voz dele. Fazia tanto tempo que a gente não se falava que a última coisa que eu imaginaria era que ele me ligaria à aquela hora da madrugada.

- Diana? Tá aí ainda? – perguntava ele ao perceber o meu silêncio.

- Pedro? Que bom falar com você. Não, você não me acordou não...

- Mais uma noite de insônia? – perguntava ele como se estivesse no prédio em frente me espionando com um binóculo. Incrível como ele pressentia o que acontecia comigo.

- Ai, esse calor está insuportável... mas e aí como você está? – desbaratinei.

- Por aqui, está tudo ótimo. Trabalhando bastante, graças a Deus. Os projetos estão andando... mas e você? Quero saber de você...

- De mim? – pergunta um pouco subjetiva. O que ele queria saber de mim? O Pedro, apesar de demonstrar simpatia, não me enganava. Ele estava me rodeando para chegar a algum ponto.

- Eu estou ótima! Cada dia mais cheia de projetos, mas já me acostumei com essa vida...

- E as meninas?

- Na mesma né? A Lili parece que agora está se acertando com o Tavinho e a Betina continua a solteirona convicta...

- E você? – sondava ele.

- O que tem eu?

- Também ainda é do time da Diana?

Ele queria saber se eu ainda estava encalhada ou era uma forma sutil de me perguntar se eu estava com alguém.

- Estou comigo. Não tenho tido tempo para pensar em outra coisa... – respondi rapidamente. Eu não queria dar o braço a torcer que eu ainda esperava pela volta dele. Para quê? Ele não tinha pedido um tempo?!

- Sempre se saindo bem nas respostas... – dizia ele soltando aquele riso encantador.

- E o seu coração? – retruquei.

- Ainda é o mesmo.

Como eu odiava quando o Pedro respondia de forma enigmática. O que ele queria dizer com ‘ainda é o mesmo’? Era o mesmo porque continuava com a Globeleza ou era o mesmo porque ainda guardava lembranças minhas ou ainda era o mesmo porque continuava vazio porque ainda precisava do tempo que ele tinha me pedido? Fiquei divagando no telefone e nem prestei atenção no que o Pedro dizia do outro lado da linha, mas algo chamou minha atenção...

- ... eu fui um muleque com você, Diana.

- Foi mesmo, Pedro! Surpreendentemente, você foi um menino. – respondi sem pensar. – Voltar pro Brasil e nem me dar um sinal de fogo e depois aquele papo estranho... a Camila... realmente, não entendi muito bem.

- Eu sei. Eu te devo muitas explicações. Eu fiquei confuso. Eu tive medo... você e o Pierre... e o Pierre? – perguntava ele.

- Eu não quero falar do Pierre. Podemos conversar sem colocar ele no meio da conversa? – respondi rispidamente. Eu já tinha enchido o meu saco de sempre ter que tocar no nome do Pierre.

- Claro, desculpe. Você tem razão... tenho que deixar ele de lado. – nossa, eu achei que já tinha deixado!

- E a Camilla? – perguntei.

- Vamos deixar ela de lado também? – desviou ele do assunto.

- Não. Não posso deixar ela de lado. Afinal, quando você voltou e não me disse nada, ela foi a causa da sua ausência...

- Nós não temos mais nada, Diana. Foi uma coisa passageira. Eu devia ter te contado.
Eu e a Camilla não temos nada a ver. Acredite. Não é nela que eu penso... – soltou no ar.

E em quem o Pedro pensava?

- Você me perdoa? Desde que eu voltei do Brasil, eu não consigo dormir direito um dia sequer sem deixar de pensar se eu te magoei. Você sabe que é uma pessoa muito especial para mim. A última que eu quero magoar. Eu sei que essa coisa toda de amizade e sentimento é confusa... alguém sempre se magoa, mas eu não quero te magoar...

- Amizade?! – então éramos apenas amigos?

- Somos amigos, não é? – perguntou ele.

- Somos?!

Eu jurava que era uma declaração de amor, mas parecia que o Pedro sofria mais ter magoado a Diana amiga, aquela que andava de skate com ele na rua do que a Diana amante que tinha se entregado de corpo e alma para ele.

- Seremos sempre, Diana. Independente do que aconteça, você sempre será minha amiga.

- E se eu não quiser ser apenas a sua amiga? – pronto, deixei meu coração falar.

- Eu posso também não querer ser só seu amigo. – parecia que o coração do Pedro também tinha falado por ele. – Mas, por enquanto, é o que a situação nos permite né?
Não quero te prender.

- Tarde demais... – sussurrei ao telefone.

- O quê? – Pedro não tinha ouvido. Ainda bem.

- E você volta um dia?

- Tenho planos de voltar no final do ano. Estamos com uns projetos de abrirmos uma filial no Brasil e eu estou querendo voltar para tocar a filial. Se tudo der certo... eu estarei de volta.

- Pela filial? – incrível como o meu coração estava tagarela.

- Bem, deixa eu desligar porque senão vou ter que ficar mais uns dez anos aqui para pagar essa conta e você não vai conseguir levantar amanhã né? Adorei falar com você. Já posso dormir tranquilo agora.

- Somos dois. Se cuida, viu? E quando precisar, só chamar... mesmo que seja de madrugada.

- Nem precisa dizer duas vezes. – ria ele do outro lado da linha – Promete que vai ser feliz? Eu sou um bobo, mas quero o seu bem. Saudades...

Mesmo depois que ele desligou, fiquei na linha por mais uns segundos. Aquela ligação parecia um sonho, mas tinha sido real. Uma realidade sonhadora, mas enigmática. Foi ótimo ouvir a voz do Pedro e ter uma certa certeza duvidosa de que eu tinha ainda alguma importância para ele. Mesmo sem fazer promessas e sem a certeza do que será do nosso futuro quando ele voltar, eu estava feliz. Pode parecer estranho, mas agora eu me sentia livre para seguir em frente.

PAPO DE CALCINHA: E VOCÊ ESPERA (OU JÁ RECEBEU) UM TELEFONEMA TÃO ESPERADO? O QUE ACHOU DA LIGAÇÃO DO PEDRO?

quarta-feira, setembro 26, 2012

QUERIDINHA DA MAMÃE



POR LETÍCIA VIDICA

- Diana, você não vai acreditar em quem vai casar!!! – dizia minha mãe enquanto tirávamos a louça do tradicional almoço de domingo – A filha da Silvinha, aquela minha prima de Minas Gerais. Aquela que vinha aqui em casa e não abria a boca?! Vai casar! – pasmou minha mãe enquanto guardava as vasilhas.

- Poxa, que legal para ela, mãe.- comentei sem ânimo algum. Eu logo saquei que, em poucos segundos, começaria a sondagem.

- Legal?! É preocupante, minha filha. Tá todo mundo se ajeitando nessa vida. E você?! O que está acontecendo? Eu ainda quero te ver entrar na igreja vestida de noiva nessa vida.

- Vamos mudar de assunto, mãe! – eu não estava no clima para discutir a minha vida amorosa.

- Eu estou ficando preocupada de verdade. Até o Pierre já se arranjou de novo. O Pedro, pelo jeito, logo logo se arruma com uma gringa e você, Diana? Você tem que parar de ficar enfurnada naquele buteco toda sexta-feira e ir à caça. A idade tá passando, filha!!!

- Mãe, por favor, dá para parar de pegar no meu pé? – disse já puta da vida.

- Eu só estou falando a verdade. Esse seu jeito de mulher independente demais é o que
assusta... aposto!

- Mãe! – era Marisa que também já tinha percebido que minha mãe tinha passado um pouco dos limites.

- Chega! Eu estou cansada dos seus julgamentos, mãe. Por que você pega tanto no meu pé? Nada que eu faço tá bom!!! Eu ralo de segunda a segunda, saí de casa, conquistei minha liberdade, sou uma ótima profissional, mas nada tá bom?! A Marisa engravidou e casou com o primeiro otário que apareceu, vive um casamento infeliz, mas tá sempre tudo bem para ela. O meu irmão é um encostado, não consegue comprar uma chupeta para filha dele, mas a senhora continua alisando ele... e eu? Só levo tapa? Para mim, já deu. Cansei de ser a ovelha negra da família. – joguei o guardanapo no chão e ameacei sair da cozinha.

- Suzete, o que você fez? – era meu pai que entrara assustado na cozinha ao ouvir os meus berros.

Saí batendo as tamancas. Peguei minha bolsa na sala e fui para o carro. Antes que eu arrancasse, meu pai apareceu gritando para que eu ficasse.

- Diana, releve. Você não conhece sua mãe? Tente entender.

- Pai, eu te amo! Mas eu cansei de entender minha mãe e todo mundo... e eu? Quem me entende?

Fui para casa muito puta e em lágrimas. Eu odiava quando isso acontecia. E, de um tempo para cá, eu e minha mãe estávamos assim. Duas palavras e cinquenta socos. Eu sempre fui a queridinha do meu pai e sei que a Marisa e, principalmente, o meu irmão eram os xodós da minha mãe. Parecia até que ela gostava de me alfinetar por prazer.
Por um tempo (talvez na adolescência), eu gostava do fato de enfrenta-la, mas agora está perdendo a graça.

******

- Ixi, o que houve? Para transferir o Pedrão para o apê é porque alguma coisa tá feia. – dizia Betina que chegava no meu apartamento.

- Desculpem, meninas, mas eu não estava no clima de Pedrão hoje. – eu disse deitada no sofá.

- O que aconteceu, Di? – perguntava Lili.

- Minha mãe. Para variar, a nossa relação tá cada vez mais insustentável. A gente discutiu domingo passado mais uma vez. Eu estou cansada dela me pressionando. Acredita que teve a pachorra de dizer que até o Pierre desencalhou e eu continuo encalhada?!

- Diana, tenta pegar leve. É o jeito dela. Vai ver ela não faz por mal... – dizia Betina.

- Não faz por mal, mas faz toda hora. Parece que nada que eu faço está bom. A pamonha da Marisa engravidou do primeiro cara que transou aos 19 anos e tudo ficou lindo. O marido dela é um bunda mole que a trai, mas tudo está bem. O meu irmão não faz nada da vida e nem se preocupa em saber se fará algo nessa vida, mas minha mãe continua achando que tá tudo bem. E eu? Faço tudo certo e continuo a errada.

- Amiga, é difícil opinar. Mas acho bom se entender com a sua mãe logo. Aproveita enquanto você ainda pode. A minha morreu e eu deixei muitos mal entendidos. – desabafava Betina.

- Pode até ser, mas hoje eu estou muito puta ainda para dar o braço a torcer.

- Ah eu bem entendo. Falando em mãe, a minha vai fazer uma festa de aniversário amanhã. Ela não me procura o ano inteiro, mas quer que eu apareça na festa. Já não basta ter anunciado a festa na Caras? – bufava Lili – Vocês vão comigo né?

- Acho que uma festinha high society pode melhorar o meu astral. – brinquei.
Seguimos a noite tomando vinho, comendo pizza e a falar sobre nossos desentendimentos maternos.

*****

No dia seguinte, apesar do meu baixo astral, subi no salto quinze e fui para a festinha da mãe da Lili. Mais conhecida como Dona Leiloca Bittencourt, figurinha carimbada das colunas sociais. A Lili não gostava muito de comentar sobre o assunto, mas era impossível não ler. Ao pisar na festa, percebi que era coisa fina. Digna da presença de Amaury Junior. Acho até que ouvi a musiquinha...
Dona Leiloca estava completando 60 anos, mas com um pele de botox que a deixava uns 20 anos mais jovem.

- Filha linda do meu coração! Que bom te ver. – dizia ela beijando Lili, ao mesmo tempo que sorria e fazia poses para os fotógrafos, elegantemente equilibrando uma taça de proseco na mão. – Meninas, continuam lindíssimas hein? Que bom que vieram. Fiquem à vontade... cadê o emergente do seu namoradinho, Lili?

Dona Leiloca não fazia muito gosto pelo Tavinho. Achava que ele era um aproveitador e que ia roubar a herança da família. Tavinho sacando todo o amor que a sogra tinha por ele, saiu pela culatra e pulou fora da festinha.

- Gente, eu preciso respirar. Minha mãe me sufoca com essa falsidade. – dizia Lili brecando o garçom para emendar o segundo espumante.

- Sua mãe é uma fofa, Lili. Bonita, rica... sem contar que a festinha tá bombando hein?

- Quer trocar, Diana? Daria tudo para ter uma mãe normal como a sua... – reclamava Lili sobre a exuberância de Dona Leiloca.

- Falando em exuberância, quem é aquele garotão bonitão ali, hein? Apresenta o priminho para titia, Lili. – era Betina quem espichava o olho num morenaço que não passava dos 25 anos.

- Pode tirar o cavalinho da chuva, bonitona. Aquele ali é o meu novo padrasto. Mais uma das crias da minha mãe. Ridículo não?

Betina pediu desculpas pela gafe, mas não conseguiu desgrudar o olho do jovem. Ele era realmente um Deus grego. Mais tarde, descobrimos que ele era um top model de peso nas passarelas de Paris.

- Minha Barbie!!! Que bom te ver. Dá um beijo no papai. – dizia um sedutor senhor grisalho queimado de bronzeamento artificial que era o pai da Lili.

- Não seja ridículo, pai. Vai assustar minhas amigas. – ela dizia abraçando o pai.

- Meninas, esse é o meu tesouro! Falando em tesouro... pitchuca, vem cá! Quero que conheça a nova namorado do papai, ou melhor, futura esposa.

Assim como a mãe da Lili gostava de pegar garotinhos para criar, o pai dela também alimentava as garotinhas. Pela pose, logo vimos que os dois devem ter arrumado os companheiros no mesmo desfile em Paris.

- Tudo bem que a Lili tem seu quê de realeza, mas ela nem parece dessa família!!! – desabafava Betina enquanto fumávamos no jardim.

- Chega a ser hilário! Mas como ela mesmo diz: é muita pose né? Chega até dar saudade dos arranca rabos que tenho com a minha mãe. São mais verdadeiros!

Enquanto ríamos daquela declaração, Lili chegou de olhos marejados e maquiagem borrada.

- Vamos embora, meninas! Essa festinha já deu para mim. Já fiz o meu papel de boa filha. – dizia ela parecendo nervosa.

- O que houve? – perguntei.

- Flagrei meu pai e minha mãe brigando mais uma vez por dinheiro lá em cima. Fui me intrometer e ouvi o que eu não queria da minha mãe. Daí, ela disse que eu estava estragando a festa dela. Pois bem. Se eu estrago, eu vou embora. Cansei de ser enfeite.

O dinheiro era a maldição da família Bittencourt. Os pais de Lili sempre passaram a vida toda brigando mais pelo dinheiro do que dando atenção para a filha. Não era à toa que Lili se sentia mais feliz com suas duas amigas pé rapadas.

*****

Era domingo e, como eu ainda estava chateada com a minha mãe, resolvi fazer a minha própria macarronada. Bem na hora que a água começou a ferver, a campainha tocou. Me assustei quando vi minha mãe parada na porta do meu apartamento.

- Oi, Diana! Posso entrar? – dizia ela com um tom de quem vinha para hastear a bandeira branca da paz. – Cheirinho bom. Tá cozinhando?

- É. Resolvi me virar.

Enquanto eu terminava o almoço, minha mãe ficou me rondando na cozinha querendo dizer algo, mas não conseguia. Sondou sobre a minha semana e outros assuntos banais para me amolecer.

Só depois da macarronada que ela quis saborear comigo, ela finalmente entrou no assunto.

- Que orgulho, filha. Sua comida estava maravilhosa.

- Acho que sei me virar sozinha. – alfinetei.

- Minha filha, me desculpe. Eu sei que errei domingo passado. Fui dura demais com você.

- O problema não é só domingo passado, mãe. Eu só queria saber o que eu fiz ou o que eu não fiz para a senhora me cobrar tanto?! Chego até a pensar se eu não sou adotada.

- Não diga uma bobagem dessas. – batia ela três vezes na mesa. – Você é sangue do meu sangue. E é a mais parecida comigo, se quer saber. Acho que é isso. Somos muito iguais e, por isso, batemos de frente. Mas saiba que eu admiro a sua garra, a sua independência... eu sei que você é a mais forte de todos e, por isso, acho que exagero na cobrança. Mas é para o seu bem, minha filha. Eu só quero o seu bem. Você me perdoa?

- Você é a minha mãe, né? Vir até a minha casa já é um bom começo. Promete que vai pegar leve comigo?

Minha mãe levantou-se, deu-me um beijo na testa e um forte abraço. Selamos nosso acordo de paz, ou pelo menos, demos uma trégua. O bom de tudo foi que ganhei uma tarde de filha única com direito a ganhar bolinho de chuva no fim da tarde. Sei que ainda vamos nos atritar novamente, mas adorei aquelas horinhas de queridinha da mamãe.

PAPO DE CALCINHA: E, VOCÊ É OU NÃO A QUERIDINHA DA MAMÃE?

segunda-feira, setembro 10, 2012

COINCIDÊNCIAS DO AMOR


POR LETÍCIA VIDICA


- Nossa, o casalzinho demorou hein? A gente estava quase indo embora. – dizia Betina para Lili e Luis Otávio que chegavam ao bar do Pedrão com um pequeno atraso de três horas.

- Desculpem, meninas. Estávamos resolvendo um problema de família. – dizia Lili toda esbaforida.

- Nossa, quem morreu? – perguntei já preparada para a tragédia familiar.

- Não é nada disso, gente. A Lili tá exagerando, para variar. – dizia Tavinho enquanto enchia o copo de cerveja – Minha mãe resolveu dar um dos pitis dela lá em casa. Só porque o Dudu, o meu irmão, tá saindo com uma mulher mais velha.

- Quinze anos mais velha, só para reforçar – dizia Lili – O menino tem 25 anos e a espertinha, 40!!! – bufava a defensora dos jovens oprimidos.

- Opa! Cuidado com essa história de mais velha, gente. Não esqueçam que eu sou uma jovem senhora de 40 anos ... – recriminava Betina.

- E que adora sair com garotinhos né? – completei – Um pouco exagerado mesmo. A Betina bem podia ser sua cunhada Lili. – zombei.

- Mas a Betina é diferente!!! Ela não faz o tipo de que quer bancar garotinhos. Agora a tal do Dudu tá dando casa, comida e quase roupa lavada. – Lili realmente tinha comprado a briga da sogra.

- E o que você tem a ver com isso?! Os dois são adultos não são?! Ninguém é criança nessa relação. Sua sogrinha não tem nada que se meter. – era Betina, a rainha dos baixinhos que defendia seus menores abandonados.

- Assino embaixo, Betina – dizia Tavinho brindando com Betina. Cena atípica, mas que às vezes acontecia.

- Nossa, parece até que é você que tá saindo com o Dudu!!!

- Não se preocupe, Lili. Já basta ser sua amiga, cunhada é um pouco demais. Se querem saber, estou amamentando sim, mas não é o Dudu. – revelava Betina.

Enquanto eu me divertia assistindo as duas trocando farpas, meu celular tocou. Era o Daniel, o meu novo peguete. Nos conhecemos, literalmente, no elevador. Ele trabalhava no mesmo prédio que o meu e entre um andar e outro surgiu um affair. Três happy hours depois, estávamos juntos.

- Hmmm que sorrisinho é esse, hein, dona Diana? – perguntou Betina ao ver meu rosto assim que desliguei o celular

- Tá de bofe novo? – perguntou Lili

Contei para as meninas quem era o meu novo casinho. Não era nada sério demais. Apenas uma voz masculina para chamar de minha e suprir as horas difíceis.

- ... ele tá lá na casa da best friend dele, a Livinha. É Deus no céu e essa amiga na terra sabe? Ela acabou de ter um bebê. Ele tá enchendo o saco para eu conhecer a tal garota... mas eu não quero sabe? É quase a mesma coisa que conhecer a sogra... – desabafei.

- Lá vem você com suas encucações. Que mal tem em conhecer a amiga dele? Seja simpática, Diana. Não complica. – dizia Lili.

Passamos o resto da noite bebendo, comendo, rindo e discutindo sobre a nova namorada do Dudu e se eu deveria ir ou não na casa da best friend do Daniel.

***

- Oi, gata, tudo bem? – dizia Daniel enquanto eu entrava no carro dele.

- Nossa, por que você não quis subir?

- Não queria me atrasar. A Livinha tá esperando a gente... – dizia ele ameaçando um beijo.

- Como assim? A gente vai sair com ela? – recuei puta - Daniel, você não me fala
nada? Eu não disse que era cedo demais...

- Calma, Diana. Não se preocupe. Ela insistiu demais para te conhecer. Eu não tinha mais desculpas para dar. Não fica brava vai? – dizia ele me dando um selinho para desmanchar o meu bico. – Vocês vão se dar bem... tenho certeza!

Resolvi levantar a bandeira da paz. Afinal de contas, as meninas estavam certas. Eu tinha que deixar as minhas encucações para lá e perder esse medo bobo de me envolver seriamente com alguém de novo. Porém, no fundo do meu ser, algo me dizia que eu ia ser surpreendida.

- Livinha, aqui está. A mulher da minha vida. – era Daniel enchendo a minha bola.

- Não exagera, Daniel – eu disse ainda cabisbaixa na porta do apartamento da amiga dele.

Levantei o rosto para ameaçar um sorriso tímido e parecer simpática, mas quase tive um treco quando vi que a Livinha era a Olívia. Isso mesmo. A esposa do Pierre. A Olívia que roubou o meu namorado, engravidou dele, casou com ele era a melhor amiga do Daniel, o meu atual peguete. Eu jamais podia imaginar que Livinha era o diminutivo de Olívia, carinhosamente.

Que infeliz coincidência e que mundo ovo do caramba!!! Percebi que ela também quase teve um treco quando viu que a mulher da vida do melhor amigo dele era a ex do marido dela. E agora? Esperei a hora do golpe fatal. Era a deixa para ela contar tudo ao Daniel, mas fui surpreendida novamente.

- Oi, Diana, muito prazer! Entre, fique à vontade. - disse Olívia como quem tinha me visto pela primeira vez.

Entrei ainda de pernas bambas. A Olívia tinha sido super discreta. Eu não sabia por qual motivo. Mas e o Pierre? Como reagiria?

- Cadê o maridão, Livinha? – perguntou Daniel enquanto sentávamos no sofá.

- Ah, ele tá no banho. Agora é assim. Um cuida da Luisa e o outro se cuida. Vocês querem beber algo?

Enquanto Olívia foi à cozinha buscar bebida, eu tentava me recompor, mas eu não estava nada bem. Quem imaginou um dia que isso aconteceria? Parecia cena de novela. Eu novamente metida na vida do Pierre. Só pode ser carma. Não é possível!!! E o que será que o Daniel sabia da ex do Pierre? Aposto que ele sabia da despedida de solteiro, do casamento... ai meu Deus! Como eu ia contar para ele?

- Daniel, meu chapa! Como vai? – era Pierre que entrava na sala.

- Aqui está minha garota. Eu não falei que eu ia trazê-la aqui? Sou ou não sou um cara de sorte?

Pierre emudeceu quando me viu, engasgou e não sabia o que dizer.

- Tá tudo bem, Pierre? – perguntou Daniel estranhando a reação.

- Tá, tá tudo ótimo. Prazer, Di-Di-Diana! Realmente, você é um cara de sorte. – dizia Pierre olhando profundamente nos meus olhos.

Percebi que todos ali estavam dispostos a encenar. Tive que entrar na onda. Foi uma situação horrível. Nos entretemos com assuntos banais sobre a vida de casado dos dois. Tive que fingir que tudo era novidade. Foi horrível entrar naquela intimidade. Tive até que segurar a bebê. Era linda, mas não foi nada confortável. Olívia saiu pela culatra, quando me chamou na cozinha para ajuda-la com o jantar.

- Diana, nem sei o que dizer... – ela dizia encostada à pia.

- Só quero que saiba que essa foi uma infeliz coincidência. Jamais passou pela minha cabeça que a Livinha fosse você... que loucura!!! Eu estou péssima! – eu dizia andando feito barata tonta na cozinha minúscula.

- Calma! Eu sei que você não faz esse tipo, mas... o Daniel é um irmão para mim. Eu não sei o que fazer... – Livinha, ou melhor, Olívia também parecia desesperada.

- A gente tem que contar a verdade para ele. Não é justo. Ele tá lá todo bobo, conversando com o Pierre e nem imagina que... eu vou lá. – ameacei ir até a sala, mas fui contida pela Olívia.

- Não. Agora não. Acho que você tem que contar sim, mas não agora.

- Mas e se o Pierre falar algo?

Fomos interrompidas por Daniel que chegara na cozinha. Desbaratinamos o assunto, ajudei Olívia a colocar a mesa e jantamos.

- Nossa, amor, não comeu nada! – dizia Daniel.

- Estou sem fome. Eu não sabia que viria aqui e acabei comendo antes de sair de casa.

- Eu fiz surpresa. Queria saber se vocês aprovariam ela ou não... – dizia Daniel rindo.

Mal ele sabia que o Pierre não só já tinha aprovado como provado.

Depois do jantar, enquanto Olívia e Daniel conversavam na sala, desbaratinei e fui para a varanda.

- Diana e Daniel, quem diria!!! – era Pierre que chegava sorrateiramente.

- Fica longe de mim, Pierre. – afastei para não cometer um crime.

- Calma! Que mundo pequeno, hein? Tanto homem na face da terra e você tinha que ficar
justo com o melhor amigo da Olívia?!

- Tá insinuando o quê, Pierre? Você tá achando que eu armei tudo isso só para ficar perto de você? – respondi emputecida.

- Não seria má idéia. Eu ia adorar. – dizia ele se aproximando um pouco demais.

- Menos, muito menos. Se quer saber, eu estou super desconfortável com tudo isso. O Daniel é um cara super bacana e eu me sinto uma bandida em não contar a verdade para ele.

- Sabe, o Daniel realmente é um cara de sorte. Tô com inveja dele.

- Pierre, você está ouvindo o que eu estou falando?

Saí da varanda batendo as tamancas. Inventei uma dor de cabeça repentina e fomos embora. Pierre e Olívia ainda encenaram muito bem para que eu voltasse mais vezes.

- E aí, o que achou da Livinha? Pelo visto, vocês se deram muito bem... parecia até que já se conheciam.

- Eu?! - assustei. Será que ele estava blefando? Era a deixa para eu contar toda a verdade, mas eu não tive coragem.

***

- Como assim a Olívia é a melhor amiga do Daniel? Eu queria ser uma mosquinha para
ver essa cena. – dizia Betina.

- Seria cômico se não fosse trágico. Agora eu não sei o que fazer... – eu dizia desesperada em busca de uma solução.

- Conta a verdade logo, poxa. – dizia Lili.

- Como eu vou virar para o Daniel e dizer ‘olha, eu já namorei o marido da sua melhor amiga. A gente transou na despedida de solteiro deles, eu invadi a festa de casamento dele e semana passada, inclusive, o Pierre foi lá em casa querendo ser meu amante, mas tá tudo bem. Não esquenta viu?’ ENLOUQUECEU?

- Di, você não precisa ser tão trágica assim também. Diz só que você teve um rolinho com o Pierre e pronto. Não valorize tanto essa relação. Poupe o pobre coitado dos detalhes sórdidos. Ele não precisa saber. – aconselhava Betina.

- Como? Ele é unha e carne da Olívia. Aposto que ele sabe dos detalhes sórdidos.

- Daí você nega tudo até a morte – dizia Lili rindo – Nossa, o Tavinho tá demorando.
A gente marcou de conhecer a pedófila da minha cunhada hoje.

- É, o Fábio tá demorando mesmo. A gente marcou aqui hoje. – confessava Betina.

- Finalmente, vamos conhecer o novo bezerro, hein, Betina. – eu dizia.

Continuamos a filosofar sobre como eu contaria a verdade para o Daniel, mas fomos interrompidas pela chegada do Tavinho e seu irmão.

- Nossa, como você demorou. E aí, vamos? – perguntava Lili.

- Não, gata, a minha cunhadinha ficou de nos encontrar aqui. – dizia Tavinho dando um abraço em Lili.

- No Pedrão, Dudu? – Lili perguntou encucada.

- É, Lili. A gata adora o lugar. – dizia Dudu. – Vai ver vocês até conhecem ela.

- Fábio, meu pequeno, que demora! – dizia Betina que voltava do banheiro e, coincidentemente, foi logo lascando um beijo no Dudu. Ele era o novo peguete dela.
Ficamos boquiabertos.

- Como assim? Betina ? Você tá saindo com o meu irmão? – questionava Tavinho assustado. Parecia até que aquele papo de cabeça aberta tinha sumido de repente.

- Peraí, Fábio, você é o irmão dele? – espantou-se Betina - Você é o Dudu? E eu sou a pedófila, velha, aproveitadora de 40 anos?

- Que papo é esse, gente? – Dudu não estava entendendo nada.

- Tô bege! – eu dizia

- Bê, somos cunhadas então? – era Lili quem falava ainda um pouco sem graça com a situação.

- Não adianta alisar agora não, viu? Eu não me esqueci o que você disse sobre a minha pessoa viu? – ironizava Betina.

Caímos todos na gargalhada. Mais uma coincidência do amor. Dudu era Fábio Eduardo, novo peguete da Betina, irmão de Luis Otávio, cunhado da Lili que era amiga da Betina e agora eram cunhadas. Eta mundo ovo do cão!

Enquanto eles já tinham colocado todos os pingos nos is, eu ainda me preparava para acentuar toda a minha história.

- Você anda meio estranha ultimamente, Diana. Desde aquele dia na casa da Livinha. Quer me dizer algo? – era Daniel quem me enchia de perguntas enquanto assistíamos a um filme na casa dele.

- Eu quero te dizer sim. – eu estava tomando coragem.

- Aconteceu alguma coisa que não te agradou? A Olívia fez algo?

- Não. Ela não fez nada. Mas eu fiz. Não sei nem como te dizer isso, mas ... mas... eu não acho justo te enganar. Você é um cara tão bacana...e ... e...

- Pelo amor de Deus, fala logo, Diana!

- Eu já conhecia a Olívia e o Pierre. – pronto, falei.

- Como assim?!

- É, foi uma infeliz coincidência. Eu jamais podia imaginar, mas é que ... é que... eu e o Pierre já fomos namorados.

Daniel ficou mudo e eu fiquei agoniada com todo aquele silêncio. Aguardava o momento que ele ia me enxotar da casa dele.

- Fala alguma coisa, Daniel.

- Então você é a Diana, ex do Pierre? Como eu não desconfiei? – dizia ele coçando os
cabelos.

- Pode me xingar, brigar, fazer o que quiser... eu juro que não sabia. Foi uma infeliz coincidência.
Daniel começou a rir. Teve um ataque de risos de cinco minutos ininterruptos. Eu fiquei com cara de boba não achando a menor graça naquela história.

- Qual é a graça? – fiquei com cara de palhaça.

- Vocês me enganaram direitinho hein. Eu não estou bravo com você. Agora isso confirma ainda mais que eu sou um cara de sorte. A Livinha sempre falou muito bem dessa garota que é você... – confessava Daniel.

Pasmem, mas eu tinha sido recomendada inconscientemente pela Olívia. E, para a minha felicidade, Daniel não sabia de tantos detalhes sórdidos e não era eu quem iria contar. Já bastava ter revelado a minha identidade.

O nosso lance durou mais um tempo... tempo suficiente para eu suportar a intimidade como casal vinte. Depois nos afastamos naturalmente, não por conta disso, mas agradeci. Eu não ia suportar por muito tempo essa coincidência do amor.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ PASSOU POR ALGUMA COINCIDÊNCIA PARECIDA?

segunda-feira, setembro 03, 2012

ESPÍRITO MATERNO


POR LETÍCIA VIDICA

- Diana, será que as crianças podem dormir na sua casa na sexta-feira que vem? - perguntava minha irmã, Marisa, enquanto aguardávamos o almoço de domingo na casa dos nossos pais.

- Claro! Sem problemas... vou adorar ficar com esses pestinhas - eu dizia, enquanto os meus três sobrinhos pulavam em cima de mim no sofá.

- Não vou te atrapalhar mesmo? É que o Arnaldo tem um jantar com fornecedores e me chamou para ir. Faz tanto tempo que a gente não faz nada né?

- Fica tranquila, mana. Cuidarei direitinho desses pequerruchos ...

- Meninas, o almoço está mesa. - era minha mãe quem chamava - Nossa, meu Deus, que bagunça é essa? - perguntava ao me ver sufocada pelos meus sobrinhos no sofá.

- Eles vão dormir na casa da Diana na sexta. - explicava Marisa.

- Ué, mas por que não deixa eles aqui com a gente? - questionava minha mãe não parecendo muito feliz pela opção.

- Ah, mãe... eu não quero ficar incomodando a senhora e o papai toda hora...

- Marisa, desde quando ficar com os meus netos é incomodo? Não tem problema nenhum... mas a Diana não vai sair? Ela não para em casa.

- Não, mãe, eu vou cuidar dos seus netos direitinho... - eu respondia já prevendo o que viria.

- Mas lá nem tem lugar direito para eles ficarem... e comida? Você tem comida decente na sua geladeira, Diana, ou só porcaria? Cuidar de crianças não é fácil hein - minha mãe disparou a dar um trilhão de recomendações sobre como ser mãe.

- Mãezinha, querida - eu disse calmamente para não entrar em conflito - Eu vou cuidar muito bem dos seus netinhos. Ao contrário do que a senhora pensa, eu não sou uma desmiolada. Já tenho idade e responsabilidade suficiente para ser mãe, mas se as crianças quiserem ficar aqui, tudo bem. Vocês querem? - provoquei.

Como criança é sincera, os três deram um sonoro não e pularam novamente no meu colo. Minha mãe saiu batendo as tamancas e eu fiquei a tarde toda puta da vida pela falta de confiança da minha mãe. Incrível como não importa o que eu faça, ela sempre me cutuca para dizer que sou irresponsável. Agora era questão de honra provar para minha mãe e para mim mesma que eu estava pronta para essa maternidade temporária.

****

- Diana, você não acha que tem bobagem demais nesse carrinho? - questionava Betina que tinha ido me acompanhar no supermercado nas compras para a visita dos meus sobrinhos.

- Ai, Betina, relaxa! Criança adora doces, chocolate, pipoca que eu sei... e eu quero que meus sobrinhos se divirtam. Vagem e brócolis eles comem na casa deles né? O que acha dessa batatinha frita? - perguntava.

- Ainda bem que é só uma noite... se não, coitados, estavam lascados. Era obesidade e diabetes na certa.

Antes que eu respondesse à altura para a vigilante do peso infantil, meu celular tocou. Demorei uns cinco minutos para encontrá-lo na minha bolsa. Era o Pierre que gritava do outro lado da linha.

- Diana, Dianaaaa... nasceu, nasceu!!!!

- Pierre, fala baixo por favor... quem nasceu? - eu perguntava ainda não entendendo o motivo da euforia.

- Diana, a minha filha nasceu. A Luiza chegou ao mundo... agora sim eu sou pai...

Pasmei. Eu sabia que depois de nove meses, a criança nasceria. Mas, inconscientemente, achei que a gravidez fosse eterna.

- Parabéns!! - eu disse, mas sem esconder a surpresa.

- Vem para cá!

- TÁ FICANDO LOUCO??? Pierre, não confunde as bolas. Eu estou no supermercado. Depois, a gente se fala.


- O que foi? - perguntava Betina ao me ver fora de órbita no meio do supermercado.

- A filha do Pierre nasceu.

- E por que ele te ligou?! O que você tem a ver com isso? O Pierre já tá passando dos limites hein?

- Pois é. - respondi ainda estática

- Tá com essa cara por que?

- Sei lá, Betina. O Pierre agora é oficialmente pai. E eu aqui no supermercado comprando doces para os meus sobrinhos. Literalmente, para titia. De repente, me deu uma vontade de ser mãe. - suspirei.

- Tá ficando doida também?!

O pior é que eu não estava, acho que esse mundo infantil que me inseri, me despertou isso. O lance era se eu estava preparada. E o teste ia começar no dia seguinte. Será que eu ia resistir?

****

Ding, dong. A campainha anunciava que meus sobrinhos chegavam. Abri a porta e os três entraram como uma boiada dentro de casa. O terrível do Gustavo, de 10 anos, foi logo se jogando no sofá; Ana Luísa, de 8 anos, queria saber o que tinha para comer e o Lucas, de 2 anos, já procurava algum objeto para destruir.

- Crianças, obedeçam a tia Diana hein? - recomendava Marisa.

- Fica tranquila, mana. A gente vai se dar bem. - era o que eu desejava.


- Quem tá com fomeeee? - eu anunciei para ver se baixava o pique da criançada.

- Tia, tem hamburguer? - perguntava Ana Luisa.

- É, a tia fez pizza e tem batata frita... e sorvete depois. Pode ser? - e eu achando que tinha acertado no cardápio.

- Tia, posso jogar videogame? - perguntava Gustavo já mexendo na minha tevê.

- Faz assim, Lulu vem me ajudar aqui na cozinha, Gu pode jogar sim... depois do jantar, eu aluguei um filminho para gente ver... Harry Potter!!! Uhuuu

- Ah, eu gosto mais do Crepúsculo - dizia Luisa.

Como eu não ia conseguir agradar gregos e troianos, deixei Gustavo e Lucas na sala e fui acabar o lanche com a Luisa. Enquanto eu e minha sobrinha nos divertíamos na cozinha, também fui sabatinada por ela.

- Ai, tia, é bem mais legal ficar aqui. - confessava ela. - Você mora sozinha?

- Eu moro sim.

- Mas e aquele moço... a senhora não tem namorado?

- Não , eu não tenho, Lu.

- Mas por que?

- Por que não.

Por que as crianças adoram fazer perguntas difíceis? Posso pedir ajuda aos universitários?

- Quando eu crescer, eu vou ter um namorado.

Eu desejo que seja fácil assim para você, Luisa. Mas eu não podia explicar para uma menina, de 8 anos, o quanto era longo o caminho para isso. Antes que ela continuasse a entrevista, fomos interrompidas pelo Lucas que abriu o berreiro na sala. Quando cheguei na sala quase tive um treco, ao ver o Lucas caído de barriga pra baixo e com a mão na cabeça. Pior ainda quando vi um pouco de sangue na mão dele. Pronto. agora vou assinar o meu atestado de óbito de maternidade. Fiquei aliviada quando vi que tinha sido apenas um corte pequeno.

- O que você fez, Gustavo? - berrei

- Ele queria o meu controle, tia. - respondeu marrento e cruzandio os braços

- Ele é pequeno. Vocês tem que aprender a dividir... se não , vou ter que desligar o game hein?

- Tia, que cheiro é esse? - perguntava Luiza

Esqueci completamente que tinha deixado a batata frita no fogo. Saí correndo para cozinha e cheguei a tempo de salvar algumas. Nem fazia três horas que eu virara mãe postiça e já estava enlouquecendo. Batatas salvas, pizza na mesa e pestinhas, um pouco mais domados, conseguimos jantar num minuto de paz. Um minuto mesmo.

- Credo, Lucas, que fedor!!! - era Gustavo que fazia careta e, mais uma vez, irritava o irmão que tinha feito o número dois nas calças.

Troquei o meu delicioso pedaço de pizza de quatro queijos para trocar as fraldas do Lucas. Se não fosse a Luiza me ajudar, eu não saberia. Demorou para criarem uma forma mais fácil de fazer isso! Depois da saga da fralda, perdi até a fome. Coloquei o DVD, começamos a nos lambuzar com sorvete e pude curtir um momento curto de paz. Eu estava tão cansada que comecei a cochilar no sofá. O Lucas também aproveitou e dormiu no meu colo. Fui acordada por uma briga entre Ana Luisa e Gustavo. Para irritar a irmã, ele ficava xingando o bruxinho do filme. Olha que criança mais educada!!!

- Vocês estão brigando de novo?! - acordei assustada - Olha, eu vou tirar o DVD hein.

- Ele fica me irritando, tia.

- Mentira, tia! - retrucava Gustavo.

Ingenuidade minha achar que o filme ia acalmar a rapaziada. Eram quase meia-noite e nada do sono bater na criançada. Não só o filme acabou como o Lucas acordou e começaram uma guerra de almofadas. E eu era o alvo. Ignorei totalmente a regra de silêncio do meu prédio, me preparei para a multa do condomínio e começamos a brincar de esconde-esconde e guerra de travesseiros, correndo pelo meu apartamento. Só lá pelas três da madrugada é que a galerinha pegou no sono. Dormimos todos amontoados na minha cama.

****

- Tia, eu estou com fome!!! - era Gustavo que me sacudia.

- Dorme, filho. Ainda tá cedo. - eu dizia virando para o outro lado

- Mas eu tô com fome... e o Lucas fez xixi na cama. - me alertava.

Acordei meio bêbada e, quando olhei no relógio, nem eram dez horas da manhã. Esse povinho não tem sono não? Lá fui eu, sem saber ainda muito bem que dia era, dar banho no Lucas e preparar o café da moçadinha. Nem dez da manhã e eu de barriga no fogão fritando ovo. Que vida!! Eu não aguento.

- Tia, vamos andar de bike no parque? - sugeria Gustavo. - Vamos vai?

- Eu preciso falar com a mãe de vocês. - eu dizia ainda digerindo o fato de ter mais um dia intenso daqueles.

- Eu ligo para ela, tia. - era Luisa quem pegara o meu celular e começara a ligar para Marisa.

- Me dá esse telefone aqui. Sua mãe nem deve ter acordado... - Alô? Marisa? - tarde demais, a ligação já estava feita - Nada, nada... fica tranquila... é que as crianças querem ir no parque. Ah, não tem problemas? - minha irmã concordou com a idéia e aposto que aproveitou para tirar a barriga da miséria com o maridão.

Três crianças e uma mãe inexperiente no parque não ia dar em boa coisa, resolvi levar a Lili a tiracolo. O problema é que ela era mais irresponsável que as crianças. Passamos o dia todo andando de bike, fazendo piquenique no parque. Foi uma experiência boa mas, no final do dia, eu estava sem pique.

- Nossa, Diana, tá morrendo? O que acha de irmos comer uma pizza com as crianças? - sugeria Lili.

- Lili, nem inventa. Eu tô só o pó. A estadia na casa da tia Diana já acabou. Eles tem pai e mãe. Tá na hora de devolver.

- Ai, credo! Cadê todo o seu espírito materno?! - ria

- Sumiu e já percebi que ainda não estou preparada para encontrá-lo. Falando nisso, vamos embora? Luisa, cadê o Gustavo?

- Não sei, tia. Ele estava aqui.

Era tudo que eu precisava. Perder o meu sobrinho em pleno parque. Saí feito uma louca atrás dele. Andamos por mais de uma hora e nada. Eu começava a ficar preocupada. Já me preparava para ser trucidada pela minha família. Acho que minha mãe estava certa: eu ainda não estou preparada para ser mãe.

- Diana, achei o perdido. - era Lili quem vinha com Gustavo a tiracolo. Ele estava todo sujo de lama.

- Onde você estava, menino? Não faz isso com a sua tia. Que roupa suja é essa? - eu enchia o garoto de perguntas.

Gustavo disse que tinha ido jogar futebol na quadra com uns garotos. Jurou de pés juntos que tinha me avisado e que eu não ouvi. Para ele, estava tudo normal. Para mim, era hora de entregar o bastão.

- E aí, Diana, deram muito trabalho? - era Marisa quem perguntava ao ir buscar os filhos.

- Muito, muito não ... só um pouquinho.

- Aposto que vocês enlouqueceram sua tia né? Muito obrigada viu?

- Tia, quando a gente pode ir na sua casa de novo? - era Gustavo e Luisa que me agarravam e suplicavam.

Como eu ia dizer que não? Eu jamais vou fechar a porta para os meus sobrinhos, mas entramos num acordo. Assim que eles entrarem na faculdade, podem voltar de novo. Até lá, preciso digerir esse papo de maternidade.

PAPO DE CALCINHA: COMO ANDA O SEU ESPÍRITO MATERNO?

quarta-feira, agosto 29, 2012

HOMEM COMPROMISSO




POR LETÍCIA VIDICA

Prestes a entrar numa ducha quente, fui interrompida pela campainha. ‘Ué, será que o interfone quebrou? Quem será essa hora? O seu Zé não disse nada?!. Fiquei surpresa em ver o Pierre parado na porta do meu apartamento segurando uma pizza e uma garrafa de vinho.

- Posso saber o que você está fazendo aqui?! - eu esbravejei surpresa.

- Nossa, é assim que você recebe os amigos?! Já foi melhor hein? Posso entrar? Eu trouxe a sua pizza favorita, um vinhozinho e até uns chocolates. – sorria ele tentando me enfeitiçar.

Jogo muito baixo para quem tinha acabado de chegar do trabalho e ia preparar um miojo. Mas eu ainda não estava entendendo toda aquela gentileza. Deixei ele entrar e foi logo se apossando do sofá.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntei de braços cruzados ao vê-lo sentando como em um trono no MEU sofá.

- Nada. Só quis vir te visitar. – respondeu ele naturalmente.

- E a Olívia? – perguntei antes que ela resolvesse fazer plantão na porta do meu prédio.

- Essa semana ela está na casa da mãe dela. A cesária está marcada para semana que vem. – respondeu ele calmamente. Nem parecia que ele era o pai da criança.

- Pierre,você não toma jeito. A sua mulher prestes a parir e você aqui em casa?!
Olha, se a bolsa estourar eu é que não vou na maternidade...já não basta ter estado na despedida de solteiro e no casamento?! – bufei.

- Relaxa, Diana. Vamos comer? A pizza vai esfriar. – como eu odiava aquela calma dissimulada dele!!!

****

- Eu não acredito que o Pierre teve a pachorra de aparecer na sua casa!!! – esbravejava Betina, enquanto ouvia aquela história absurda que eu contava em um dos nossos sagrados happy hours.

- Ai, gente, dá um desconto. Ele levou pizza e vinho. Merece uns pontinhos... – era Lili que tentava amenizar a história.

- Acorda, Lili!!! Ele queria era comer outra coisa se você quer saber... – eu dizia.

- Mas e a Olívia? Essa mulher é muito da estranha se quer saber... como assim ela está quase parindo e o marido dela vai levar pizza para ex namorada? E o que você fez, Diana?

***

Eu estava morrendo de fome e não pude deixar de resistir às guloseimas que o Pierre tinha levado para a minha casa. Eu bem sabia onde aquilo ia terminar, mas a minha fome falou mais alto. Depois de saciada, fomos tomar um ar na varanda e eu preparava o meu espírito para resistir a toda e qualquer tentação.

- E você e o Pedro? É verdade que vocês se separaram?

- Pierre, acho que eu não te devo mais satisfações, não é mesmo? – eu não queria tocar naquele assunto.

- Claro, claro... eu estou perguntando como amigo. Não quero te magoar.. só isso! – desbaratinava ele.

- Eu não estou mais com o Pedro, se quer saber. Ele voltou para Londres. Cansei de homem confuso, viu? – joguei uma indireta para ver se ele se tocava e levava o burro embora da minha casa.

- Achei que de burro já bastava eu. Apesar de não gostar desse cara, achei que ele era capaz de te fazer feliz... é um babaca mesmo. –

Só pode ser brincadeira! O Pierre tá atolado até o pescoço e ainda acha que pode me aconselhar?

- Tá ficando tarde, Pierre. Amanhã, eu acordo cedo... acho que a Olívia tá precisando de você . – quem sabe assim ele iria embora. Eu não estava nada confortável com aquela situação.

- Deixa eu ficar aqui essa noite – suplicou ele como um gatinho no cio, mas eu respirei fundo para não ser enfeitiçada por aquela voz de seda.

- Nem pensar, Pierre. As coisas mudaram agora. Você é um homem casado se não se lembra. – hello!

- Sou casado mas não estou morto. Eu não vou mentir que sinto sua falta... deixa eu ficar vai. – dizia ele tentando tocar nos meus cabelos.

- Para, Pierre. Já faço muito em te abrir a porta, tentar ser sua amiga... não confunde as coisas. Eu não vou ser sua amante... – ERA SÓ O QUE FALTAVA!

- Não seria uma má idéia... o que tem, Diana? Ia ser bem legal te visitar de vez em quando...

Eu não estava acreditando no que eu ouvia. Era isso mesmo?!

***

- O QUÊ?! – berrou Betina chamando a atenção dos outros frequentadores do bar. – O Pierre passou dos limites né?

- Eu também desacreditei quando ele me fez essa proposta... virar amante de ex-namorado já é um pouco demais né? – dei um gole no chope.

- Mas você aceitou?!

- Claro que não, Lili. Mas a culpa é minha, eu sei...

- Culpa do quê? O cachorro aqui é ele, Diana. – bufava Betina.

- Mas eu deveria ter dado um basta desde o começo, Bê. Mas não. Lá fui eu ser amiga, abrir a porta, dar o colo e o corpo e agora ele acha que é assim. Fácil!!! – suspirei fundo.

***

- Pierre, por favor, vai embora! Eu não quero ser grossa com você, mas eu serei se preciso hein? – eu me dirigia à porta batendo as tamancas e fula para não dar um tapa na cara dele ou um beijo naquela boca.

- Desculpa, Diana. Eu não quero te desrespeitar. Você entendeu errado. Eu sei que sou casado, mas você também sabe que eu gosto de você e que eu fui forçado a fazer isso.
Eu achei que não teria mal nenhum... – ele tentava se explicar.

- Achou mas se enganou. O casamento, para mim, é algo para se respeitar, Pierre. Não sei de onde tirou essa idéia de jirico que eu seria sua amante. Nem morta!!! Agora, por favor, vai embora. – abri a porta e nem olhei para vê-lo ir embora.

***

- Isso mesmo, amiga. Colocou ele no lugar dele. – brindava Betina.

- Acho que pegou pesado, Diana. Pensa bem – filosofava Lili – ele era seu namorado, daí a Olívia se meteu na história, tirou ele de você... não seria pecado tirar ele
dela também! –

- Cala a boca, Liliana. Não coloca minhocas na cabeça da Diana. – minha advogada do diabo parecia mais nervosa do que eu. Essa era Betina.

- Não é uma questão de disputa, Lili. Acontece que eu sei muito bem a confusão que o Pierre é. Não vale a pena colocar a mão nessa fogueira. Além do mais, ultimamente... eu acho que ando com um carimbo de amante na testa... se não bastasse o Pierre... eu
encontrei o Juca.

***

Eu voltava do supermercado para casa a pé. A noite estava linda e eu resolvi praticar uns exercícios. De repente, ouvi uma voz que me chamava e quando olhei para trás vi o Juca.

- Oi, gata, perdida por aqui? – ele se aproximava me dando beijinhos na bochecha. Ou melhor, quase na boca, mas desviei.

- Eu moro naquele prédio ali e você?

Vi que ele se engasgou na resposta. Deu uma desculpa qualquer e logo me convidou para
um chope. Como eu estava cheia de sacolas de supermercado, convidei-o a subir no meu apartamento.

- Que casa linda hein! Igual a dona – emendava um xaveco.

- Pronto. Podemos ir.

- Tem certeza que quer sair? – dizia ele me dando um abraço por trás. – Você podia cozinhar algo para gente... e depois...

- E depois você vai para a casa da sua esposa?

O Juca quase desmaiou com o meu golpe fatal. Até me empurrou para longe dele.

- Esposa?! Tá ficando louca, gata? Que papo estranho é esse?

- Não precisa mentir,Juca. Eu fiquei sabendo que aquela festinha era sua despedida de solteiro. Ia me enrolar até quando?

- Eu ia te contar, gata. Mas não tem nada a ver... isso é algum impedimento para mim?

Meu Deus, virei a rainha dos casados e não estou sabendo?

***

- Que cara de pau! Ainda pergunta se tem impedimento? – questionava Betina. – E você disse o quê?

- Eu aceitei tomar o chope, mas não fiquei com ele.

- Fica atiçando, Diana. – dizia Lili.

- Eu não fiz nada demais. Só tomei um chope. Mas deixei bem claro que aquela era a nossa despedida. – eu ri – Coloquei ele no lugar dele.

- Mas e o Juca já casou?

- Ai, Betina, bem entrei nesses pormenores. Já basta ter entrado na história do Pierre né?

Continuamos jogando conversa para o ar. Na hora de ir embora, enquanto aguardava o carro chegar do valet, fui abordada por um homem.

- Desculpa ser chato, mas eu não pude deixar de reparar em você a noite inteira. – dizia ele – Prazer, Eduardo.

Quando ele me deu a mão, não pude deixar de reparar na aliança que ofuscava os meus olhos. Mais um não!!!!! O que está acontecendo? Casamento virou troféu, por um acaso? Ou algum chamariz para conseguir mulher? Antes que ele se engraçasse mais comigo, meu carro chegou e eu agradeci a todos os deuses. Sozinha sim, amante nunca. Me poupe né?

PAPO DE CALCINHA: E, VOCÊ, JÁ ATRAIU MUITOS HOMENS CASADOS? O QUE ACHA DE SE ENVOLVER COM UM DELES?