quarta-feira, agosto 20, 2008

AMIGO COLORIDO


por Letícia Vidica


- E ai, Di!
- Oi!
- Nossa, que ânimo! Tá fazendo o quê de interessante...
- Se para você lamber uma panela de brigadeiro assistindo a novela das oito for interessante, é isso que eu estou fazendo, Betina.
- Já vi que ta precisando de um ombro amigo...
- Se esse fosse o meu problema ainda ia...tô precisando de muito mais do que isso... preciso desesperadamente de um corpo amigo...
- Ih, já vi tudo. Mas não sei o que você está esperando...liga para o Edu.
- Ah, Bê...eu prometi para mim mesma que eu não ia mais apelar para o Edu...eu quero um homem que me ame de verdade e não um boneco inflável...
- Mas, amiga, pelo seu desespero e a essa altura da noite, o único gato malhado que vai atender o seu pedido imediatamente é o Edu. Bem, se desistir da idéia, me liga que a gente pode sair para comer alguma coisa.
- Tá bom...beijos amiga.

Desliguei o telefone pior do que eu atendi. Era difícil para mim assumir mais uma vez que eu ia ter que apelar para o Edu. O quê? Quem é o Edu? Ah, tá, eu explico. O Edu é o meu amigo colorido, pau pra toda obra, cama, mesa e banho. A gente se conheceu através de uma amiga minha do trabalho. Ficamos algumas vezes, mas nunca tivemos nada sério. O problema é que, apesar do meu coração não pulsar por ele, o meu corpo se acende todo quando vê o corpo dele. É um negócio de pele, entende?

E toda vez que eu estava subindo paredes e matando canil a gritos, o Edu foi o meu salvador da pátria. Assim como eu sei que sou a dele, mas prefiro acreditar que ele me liga porque sentiu saudades (coisas de mulher!).


Sábado à noite. Nada para fazer. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem na caixa postal, nenhum SMS,nenhum scrap e minha agenda de homens completamente desatualizada.

Eu não queria apelar para o Edu, me controlei o máximo que pude. Mas o calor era demais. Talvez se eu fosse dar uma volta na rua, passaria. Resolvi então ir até a padaria para comprar um sorvete, talvez um Kibon ia me refrescar....
...Dez Kibons depois e tudo continuava como antes ou até pior. O telefone parecia gritar para mim “Liga pro Edu! Liga pro Edu!”. A pressão era tanta que eu inconscientemente peguei o telefone e disquei os oito números. Tum, Tum, Tum, Tum... sua mensagem está sendo encaminhada para caixa postal...

Que bosta! Demorei demais, a essa hora Edu já devia ter arrumado companhia. Tola eu pensar que ele estaria a minha disposição. Poxa, sem o Edu, o que me resta?! Dormir? Gritar? Me jogar da janela? Ligar para a Betina?... Trim...

- Alô, Diana? ... Oi, gata! A que devo a honra da sua ligação?
- Edu? Oi! – Só podia ser um sonho, Deus ouviu minhas preces
- Nossa mal acreditei quando vi a sua ligação perdida. Então, pensei, não posso deixar a gatinha na mão – O Edu era um tremendo xavequeiro, mas tinha uma pegada inexplicável.
- Liguei para saber o que você estava fazendo, mas tenho certeza que você já tem compromisso para essa noite...
- Tenho sim... com você... a que horas posso passar para te pegar?

Meia-hora depois eu estava pronta, cheirosa, vestida para matar, de lingerie nova e com uma ansiedade de pré-adolescente prestes a perder a virgindade.


O Edu me pegou pontualmente e nós fomos a um bar que ele quis que eu conhecesse. Por mim, nós iríamos direto pro motel, mas eu não podia deixar transparecer a minha ansiedade.

- Nossa você arrasou hoje, hein? Desse jeito, não há quem agüente.
- Que isso, Edu... eu estou tão simples... – Ninguém poderia estar simples com um vestido colado e um decote ‘olhe para os meus peitos, pelo amor de Deus’. Confesso que a minha roupa não negava a minha intenção.
- O que houve que você sumiu... nunca mais me ligou...
- Estava trabalhando demais...
- E sem tempo para os amigos? Ou será que alguém laçou o seu coração?
- Antes fosse... estou livre, leve e solta...
- Mas deve ter uma fila de pretendentes né?

Ficamos no bar ate o meio da madrugada, jogando conversa fora e bebendo muito.

- Você sabe que eu adoro sair com você né? As noites são sempre tão divertidas e acabam melhor ainda.

Edu me agarrou no estacionamento, o clima esquentou e eu acabei suada e jogada numa cama redonda. Foi uma noite maravilhosa, como todas com o Edu.

Cheguei em casa com o sol queimando minha cabeça. E o melhor de tudo, era que não rolava cobrança, nem marcações de próximos encontros, nada disso... Eu sabia muito bem qual seria o motivo da próxima ligação dele e ele da minha. Mas a gente era assim, amigos eternamente coloridos.


Três horas da tarde de domingo....

- Dormindo a essa hora?
- Ai, gente, entra...
- Pode me contando tudinho, essa cara não nega, viu? – perguntava Lili
- Isso não é cara de quem passou a noite sozinha não...
- Já que vocês me acordaram né? Eu sai com o Edu ontem.
- O boneco inflável?
- Não fala assim, Lili....
- Nada mais do que a verdade ou o Edu é o quê para você?
- Eu confesso que não queria mais ligar para ele, mas era caso de vida ou morte. Mas eu juro que eu não ligo mais...
- Ih, essa história eu conheço viu, Dona Diana?

O pior é que minhas amigas estavam certas. Se até a próxima crise da loba, eu não arranjasse um namorado, o Edu seria a minha única salvação. Ai, cupido, tenha piedade de mim, tá?


Papo de Calcinha: Você tem algum(a) amigo(a) colorido(a)?