quarta-feira, maio 25, 2011

ABAIXO O FEMINISMO



Por Letícia Vidica


Me respondam uma coisa: quem foi a mulher infeliz que inventou o feminismo? Aposto que foi uma prima da Betina. E também aposto que uma prima distante minha gritava lá no fundo com um cartaz nas mãos “Eu não quero isso!”, “Eu não pedi isso!”. Mas, as mulheres estavam tão ensandecidas queimando nossos sutiens (falando nisso, eu não pedi para queimar os meus sutiens. Eles podem ser bem sexies e confortáveis). Mas elas não a ouviam.

Mas, naquele fim de noite, era como se minha prima distante gritasse através da memória do meu DNA. “Eu não quero isso!”, “Eu não pedi isso!”. É que eu saía estressada e estafada de uma reunião de trabalho, enlouquecida depois de 3 horas de discussões, cobranças, metas, cobranças, metas. E tudo em cima do meu salto 15, interpretando o papel da mulher poderosa, independente, autoritária, feliz, bonita, gostosa, mandona e,ainda por cima, inteligente e antenada.

Tudo para ser respeitada e valorizada naquele universo masculino de leões. Mas, no fundo no fundo, meu pé doía e meu instinto de leoa não estava lá essas coisas. E, no fundo no fundo do fundo, tudo que eu queria era estar em casa, cozinhando um jantarzinho gostoso para o meu marido, que chegaria cansado e estressado depois de um dia de leão, eu daria um beijo nele e estaria cheirosa e poderosa para acalmá-lo, depois da minha tarde relaxante na drenagem linfática, na academia, de ter ido buscar as crianças e outros afazeres domésticos.

Mas não! Eu não era a dona de casa perfeita, mas no fundo do fundo acho que era o que almejava ser, mas eu não podia gritar naquele momento: “Eu não quero isso!”, “Eu não pedi isso!”. Ao contrário, tenho que agüentar todas as pressões desse mundo cruel na minha carcaça de mulher poderosa do século XXI , só porque a desgraçada da prima da Betina inventou há um tempo aí, o tal do feminismo.

Mas parei de divanear e corri para o supermercado para comprar algo para comer porque lembrei-me repentinamente de que minha geladeira estava vazia e eu não tinha um marido ou uma cozinheira, me esperando com o jantar pronto ou que trouxesse dinheiro para as compras do mês. O que me esperava era uma geladeira suja e vazia, uma pia lotada de louças acumuladas da semana (que não tive tempo de lavar porque tive que fazer uns projetos do trabalho até tarde e a filha da Dona Soninha pegou dengue e ela não veio essa semana). Ou seja, depois de ser a mulher leoa poderosa numa mistura de Sex and the City com Diabo Veste Prada, a parte dois do meu dia me esperava. Era hora de encarar a minha própria Amélia.

Enchi o carrinho de compras, mas fui barrada pelo limite do meu cartão assim que passei pelo caixa. Ele estava estourado. Tive que reduzir minha super compra. Mais uma vez, me lembrei que se eu realizasse o meu sonho de ser apenas uma dona de casa feliz (mas com marido rico), eu não estaria passando por aquele papelão. Mas não. Tudo pela merda do feminismo.

Nove horas da noite e meia dúzia de sacolas de supermercado. Recorri a uma opção prática, saudável e saborosa. Jantar na casa dos meus pais. Cheguei lá com vontade de gritar e dizer que eu queria parar o mundo e descer e que brincar de ser a mulher independente tinha perdido a graça. Porém, o brilho nos olhos do meu pai ao ver sua filha executiva, como ele dizia, chegar apertou meu coração. EU não podia destruir os sonhos do meu pobre pai que se orgulhava tanto de ter uma filha formada, executiva e dona de si. Totalmente o oposto da mulher perfeita que era minha mãe, mas que ele também amava.

- E como vai minha executiva? – dizia meu pai me abraçando. – Isso sim é que é mulher.

- Ai, pai, tô matando um leão por dia.

- Isso mesmo, minha menina. Não pode bobear não, mostra para eles a sua garra.

Mal sabia meu pai que eu não queria isso, mas eu tinha que ser isso. Será que você me entende? Em contrapartida, eu olhava minha mãe. Uma mulher simples, dona de casa, feliz a cantar e cozinhar o seu jantar. Ao contrário de mim, minha mãe não terminou o ginásio, encontrou seu príncipe aos 16 anos e casou-se aos 20, está casada há 30 anos, nunca trabalhou, sempre foi sustentada pelo meu pai, mas é sábia e feliz.

Vendo aquela cena da minha mãe cozinhando no fogão, cheguei a conclusão de que passei a vida inteira tentando ser diferente dela. Uma mulher independente, dona de si, que não dependa de marido, que não se case cedo, mas com o passar dos anos está querendo cada vez mais e mais ser como ela. Apenas uma mulher simples, feliz a cozinhar para o seu marido. Sem esse negócio de salto 15 e de ter que mostrar as garras.

- O que tá me olhando tanto, Diana? – perguntava minha mãe com toda sua sabedoria materna, adivinhando que eu não estava bem.

- Mãe, você é feliz?

- Que pergunta mais doida, menina. Por que isso agora? – assustou-se ela quase queimando a barriga na panela de feijão.

- Sim ou não?

- Claro! E por que eu não seria? Olha só! Tenho um marido maravilhoso, filhos maravilhosos, tenho saúde, estou viva...mas espera’í...quem não me parece muito feliz é você! Quem te magoou dessa vez?

- Ninguém. É que eu acho que estou cansada de tudo isso. Cansada de ter que provar todo dia que eu sou boa, que sou mulher, mas sou capaz. Que sou independente, que tenho boas idéias, que me viro sozinha, que não dependo de homem...estou ficando sem forças!!! Poxa, por que eu não posso apenas admitir que eu quero ser como você?! – eu perguntava quase em lágrimas.

Minha mãe sentou-se ao meu lado na mesa, me abraçou e depois olhou fundo nos meus olhos.

- Filha, fico muito feliz com isso, mas você nunca vai ser como eu. Os tempos são outros...e quem me dera que eu vivesse no seu tempo... – então quer dizer que minha mãe queria ser como eu? – erga essa cabeça, seja você mesma e pare de querer provar para si mesma o quanto você é capaz. O mundo cobra sim, mas a gente também se cobra tanto que quer colocar a culpa no mundo né? – ela me beijou e continuou a mexer no fogão.

Mais uma vez, vinha minha mãe e seus conselhos que me fazem pensar. Então a culpa do peso que eu sentia por ter que provar o tempo inteiro que eu era a mulher-sexy-poderosa-inteligente-capaz-criativa-bonita ERA CULPA MNHA??!!!!

Fiquei pensando naquilo durante a lasanha do jantar, o pudim da sobremesa e carreguei aquilo por todas as refeições até aquele happy hour no bar do Pedrão, onde pude colocar pra fora, enquanto comia frango à passarinho e bebia várias, mas várias cervejas.

- Betina, estou quase matando a sua prima...- eu disse.

- Prima? Que prima, posso saber?

- Aquelazinha que veio com essa história de direitos iguais, feminismo, vamos queimar sutiens...se ela soubesse o quanto ela atrapalhou tudo...

- Ih, tá em crise é? – perguntava Betina.

- Eu to de saco cheio, isso sim! Ninguém nunca me perguntou nada e lá foi a bobona, se formou, estudou línguas, viajou, conseguiu um emprego bacana, teve uma promoção, mas todo santo dia tem que matar um puta leão para provar que é capaz e que é uma mulher foda. Engraçado né? E eu só quero achar um príncipe e ser feliz. – eu dizia rindo, um pouco alterada com as cervejas, mas sendo sincera.

- E você acha isso ruim, Diana?!

- Eu acho uma merdaaaaa!!! – eu dizia em alto e bom som.

- Eu concordo!

- Concorda com o quê, Lili? Você mal sabe o que é feminismo! – ironizava Betina.

- Mas sei o quanto é bom ser dondoca, paparicada e ter alguém para bancar.- ria Lili.

- Acho que eu vou me inscrever na sua turma, Lili. Porque essa da Betina está ficando chata.

Nem vou terminar essa conversa porque ela foi longa e sempre será. Pode ter sido apenas uma fase rebelde contra o feminismo. Sei que tem seu lado bom de ser uma mulher independente lutando pelos direitos iguais, mas vamos confessar que tem dias que se a gente fosse só a Amélia seria tão bom né?

PAPO DE CALCINHA: AMIGA, TEM DIAS QUE VOCÊ TAMBÉM QUER LUTAR CONTRA O FEMINISMO E SER APENAS UMA 'AMÉLIA'? DIVIDA SUAS ANGÚSTIAS COM A GENTE.

terça-feira, maio 10, 2011

NÃO É A MAMÃE !



Por Letícia Vidica


- Meninas, se quiserem indo para o caixa, podem ir. Eu preciso dar uma passadinha na seção masculina. Preciso comprar umas cuecas para o Pierre. – eu dizia às meninas tentando me equilibrar com aquele bando de sacolas repletas de roupinhas e outros acessórios que eu tinha comprado naquela loja de departamento, o verdadeiro paraíso dos deuses.

- Cuecas?! Que presente mais brochante para se dar para um namorado, Diana! – reclamava Lili, a rainha dos presentes picantes.

- Ué, mas o aniversário dele não é só daqui dois meses? – questionava Betina sem entender o motivo da minha compra.

- É, meninas. É que o Pierre pediu para eu comprar umas cuecas para ele. Qual é o problema? Mas não precisam me esperar podem ir pro caixa.

Antes que alguma delas me alfinetasse com seus pensamentos, meu celular tocou. Demorei uns cinco minutos até me livrar do monte de sacolas e travar um verdadeiro caça ao tesouro até encontrá-lo em meio às tralhas da minha bolsa.

- Oi, gatinho...é, tô aqui com as meninas...tô indo pegar suas cuecas agora...ah, preta é tão mais bonita...tá, tá bom...sem chilique. Eu compro uma cinza para você...uma bermuda? Para jogar sábado?...Claro, eu posso comprar sim...Pierre? Você ainda tá gripado?...Não adianta me enganar...você tossiu. Tossiu sim...tomou o chazinho que eu fiz?...Pierre Lamartine,se eu chegar em casa e aquele chá estiver intacto, vai se entender comigo hein.... ah pensei em fazer uma massa hoje....caldo de legumes? Claro...passo no sacolão assim que sair daqui...B eijo...Te amo...fica com Deus...se cuida hein?...Não esquece do chá!!!

Desliguei o telefone e flagrei minhas duas amigas boquiabertas.

- Diana!!! É impressão minha ou você pegou o Pierre para criar?

- Ai, Betina, que besteira. Eu só estou cuidando do que é meu.

- Amiga, hello!!! Vamos combinar que daqui a pouco na hora do rala e rola ele vai te chamar de ‘mãezinha’ hein? Que coisa mais brochante. Cuidado hein??? – alertava Lili.

Eu estava tão enlouquecida com as minhas compras, preocupada com a gripe mal curada do Pierre e correndo contra o relógio para dar tempo de comprar os legumes para o caldo que nem dei bola aos comentários. E também nem me atentei que eu realmente me tornara mais mãe do que namorada do Pierre.

****

Eu ainda não tinha admitido (ou nem percebido), mas acho que vivia um Complexo de Édipo com ele. No começo do namoro, eu fazia de tudo para agradá-lo. Afinal de contas, eu tinha que conquistar e marcar território. E que homem não gosta de paparicação? Mas, após três anos de relacionamento, não percebi que meus carinhos e meus cuidados tinham se tornado excessivos. Assim como as manhas e os pedidos do Pierre estavam beirando o abuso. E aquilo tudo começava a me sufocar. Afinal de contas, a mãezinha aqui cuidava muito bem do filhinho, mas quem cuidava de mim?

- Di, traz o caldo aqui para mim? – dizia Pierre deitado no meu sofá de meias e cuecas, assistindo a uma partida de futebol.

- Pi, vem pegar aqui...eu estou terminando umas coisas na cozinha!!! – eu berrava.

- Ah, gata, estou com corpo mole...traz para mim e dá na minha boquinha vai...- dizia Pierre com voz de gato manhoso.

E lá ia eu abandonando todas as tarefas e indo dar sopinha na boca do meu namorado. Enquanto isso, ele se deliciava do caldo com a cabeça deitada no meu colo, esparramado no sofá e assistindo a um jogo de futebol. E eu tentava organizar os meus pensamentos com o bando de tarefas domésticas que eu ainda tinha que fazer antes de dormir. E sem contar que eu tinha de organizar uma palestra que daria na manhã seguinte.

- Gostou da sopinha, bem? – eu perguntava.

- Deliciosa, mas vai ficar melhor ainda se de sobremesa eu ganhar um cafuné daqueles! – dizia Pierre se contorcendo e se encolhendo no meu colo novamente como um gato manhoso.

E lá ia eu fazer o tal cafuné sagrado até ele adormecer no sofá. Rapidamente, Pierre dormia. Me levantei e fui aos meus afazeres. Quase três horas depois, ele ainda dormia como um bebê chorão no meu sofá. Fui para a varanda e fiquei olhando para ele. Aquela cena me incomodava. Aquilo não era normal! Engraçado que há alguns meses, eu acharia aquilo a coisa mais romântica do mundo, mas agora eu não via romantismo nenhum.

‘Será que as meninas estão certas? Eu virei mãe dele? O Pierre tinha que estar dormindo depois de uma noite feroz de sexo, mas não depois de uma sopinha na boca e de um cafuné?! Falando em sexo...nem lembro mais a última vez que tivemos uma noite caliente...em compensação, temos tido repetidas noites de sopinha e cafuné. Ai, meu Deus, eu estou confusa! Preciso de ajuda!!’

Eu realmente estava bem confusa e com a cabeça cheia de minhocas. Passei a noite toda praticamente em claro. E, pela manhã, fui em busca de ajuda. Liguei para a minha terapeuta, que abriu uma exceção porque eu disse que era caso de urgência e me atendeu na hora do meu almoço.

- Ai, doutora...eu não sei o que está acontecendo. O Pierre está me sufocando!!! É Diana compra isso, Diana cozinha aquilo, Diana faz sopinha, Diana faz cafuné...eu não AGUENTO MAIS!!! Eu acho que vou enlouquecer! Minhas amigas andam até dizendo que eu virei mãe dele... ah, é mesmo?... Eu virei mãe dele?... Como assim? A mãe dele mima ele e a culpa é minha? ... Doutora, eu preciso de ajuda e a senhora diz que a culpa é minha?! ... Sexo?... Nem lembro mais quando tivemos uma noite alucinante... O Pierre? Se ele cuida de mim? Ah, ele cuida...é, acho que cuida...hmmm...CUIDA MERDA NENHUMA...eu me sinto sufocadaaaaa... jogo do contrário? ...hmmm...interessante!!!!

***

Apesar da minha terapeuta ter jogado a culpa da carência e da falta de mãe do Pierre em mim, ela me fez uma proposta interessante. Pediu que eu testasse se ele também era capaz de todo esse carinho que beira a maternidade comigo. E, antes mesmo que eu colocasse meu plano em prática, Deus me pregou uma peça. Fiquei gripada.

Amanheci num sábado com uma tremenda dor de cabeça, corpo mole e mal conseguia me levantar da cama. Num único momento que consegui esticar o braço e pegar o celular, liguei para o Pierre.

- Oi, amor...voz estranha?..eu estou gripada, Pi. Vem para cá! Eu mal consigo levantar da cama...tô precisando de carinho...frescura??? ... Pierre, você não está vendo como eu estou??? ... Atchim...Viu, só? É sério? ...Eu estou sozinha aqui... Como assim mais tarde? Jogo? Que jogo, Pierre?... E eu lá lembro da final daquele time chumbrega que você joga? ... Então, o Unidos da Vila Luzita é mais importante do que eu? Vai me deixar morrer de pneumonia aqui?!... mais tarde que horas? ... E quem vai fazer um chá para mim? Um caldinho para mim?... Ligar para minha mãe????? Tchau, Pierre!!!

Desliguei o telefone furiosa. Ele não tinha ligado a mínima para a minha gripe. Estava tão alucinado com a final do campeonato do time brega dele que nem se preocupou comigo. Era um sinal de que ele ainda não estava preparado para ser meu paizinho e muito menos para cuidar de mim. Graças a Deus, eu tenho amigas. E amigas com sexto sentido porque rapidamente a Betina me ligou e percebendo que eu estava mal se prontificou a cuidar de mim.

- Diana, você está péssima! Está ardendo em febre. E cadê o Pierre? – perguntava Betina enquanto media minha febre.

- Não me fala no nome daquele desgraçado. Você acredita que eu liguei para ele, pedi para ele vir cuidar de mim e ele achou que eu estava com frescura? E ainda por cima preferiu jogar futebol com aquele time Tabajara dele do que vir aqui? E ainda pediu para eu ligar para minha mãe vir cuidar de mim????

- Diana, isso é para você aprender! Não vale a pena se doar tanto para um homem. Eles não fazem o mesmo. Se fosse o Pierre que estivesse doente, você já teria largado tudo e estaria lá do lado dele, mas e ele? Tá lá jogando futebol.

- Você tá certa. Eu sou uma idiota. Achei que o Pierre seria capaz de cuidar de mim da mesma maneira que eu cuido dele.
- O problema é que você cuida dele como se ele fosse seu filho. Deixa esse peso para a mãe dele. Você é apenas a namorada! Vista essa carapuça que já é suficiente.

Betina passou o dia todo comigo. E eu passei o dia todo olhando para o relógio esperando que o Pierre chegasse. Lá pelas dez e meia da noite, quando eu já embalava um soninho gostoso, ele chegou. Todo sujo de lama, com as roupas do futebol e cheirando a cerveja.

- Betina, muito obrigada por cuidar da minha gatinha viu? Mas pode deixar que agora eu serei o médico dela. – dizia ele ousando a me beijar.

- Primeiro, você pode ir embora que você chegou atrasado para o seu plantão médico. Segundo, sujo deste jeito você não encosta em mim!!!

- Calma, gata! Eu estou aqui, não estou? Para quê o estresse? Já vi que tá boazinha hein... – insinuava ele com cara de quem queria me comer imediatamente.

Betina percebeu o clima e deu o fora. Como eu estava mais forte, me levantei da cama para soltar o canil em cima dele.

- Pode ir embora! EU não preciso de você. Isso são horas de chegar? Poxa, eu estava doente e você não deu a mínima!

- Eu te disse...eu tinha um jogo importante...

- Então vá você e seu jogo importante para o inferno!! Eu cansei. Cansei de cuidar de você e você nem aí para cuidar de mim. Eu não sou sua mãe!!! Cansei de fazer tudo para você, para te agradar, me sobrecarregando e me fudendo!! CHEGAAAA!!!! – eu disse berrando e depois caindo no sofá em lágrimas, exausta.

Pierre me olhou. Perguntou se eu ia ficar bem. Me beijou na testa e saiu sem entender nada. E eu fiquei mais puta porque não era aquela cena que eu tinha imaginado. Ele deveria me pegar no colo, me beijar, me levar para cama, fazer uma sopinha, fazer um cafuné e, quem sabe, ganhar uma noite quente de sexo. Mas não. Quem faria aquilo seria eu e não o Pierre. Era esperar demais.

***

- Doutora, deu tudo errado! O seu plano infalível foi por água abaixo... – essa era eu me lamentando no divã da minha terapeuta dois dias depois daquele plano furado – O Pierre não ligou a mínima para minha doença, e olha que eu nem estava fingindo...preferiu aquele time idiota dele... Doutora, eu estou cansada de vir aqui e ouvir a senhora dizer que a perua da minha sogra mimou demais o filhinho e agora a culpa é minha?! ... É, já vou falar nisso sim, de que os homens procuram mulheres que se assemelhem às suas mães...mas isso é uma ofensa! Eu não tenho nada em comum com a perua da minha sogra!!!... Ela mima demais o Pierre, faz tudo que ele quer, comidinha que ele gosta, compra tudo que ele pede e ele nunca quer fazer nada que ela pede...Coincidência?.. É, é, a senhora tem razão....Talvez a gente tenha algo em comum... Outro plano? Olha lá, doutora...não me dei bem no último hein? ... Hmm...jogo do ‘tô nem aí’? ...Acho que não é uma má idéia né?

Como eu já estava exausta e a única coisa que queria era um pouco mais de atenção e cuidado da parte do meu namorado, resolvi seguir mais uma vez o conselho da minha terapeuta. Sob a ressalva de que se não adiantasse, eu não gastaria mais dinheiro com aquelas consultas. E naquela noite, coloquei o plano B em prática.

- Diiiiii – gritava Pierre da sala – Cadê aquele kit barba que eu pedi para você comprar?

- Ai, amore, não me mata? Eu esqueci! Foi tão corrido o dia no trabalho que esqueci completamente.

- Como assim esqueceu? Eu te liguei três vezes para lembrar?!

- Desculpe, gato...mas se quiser corre lá na farmácia, acho que ainda está aberta – ‘Aposto que seus pés e mãos não vão cair’, eu pensava.

- A lasanha tá pronta? – mais uma ordem do meu namoradinho filhinho predileto.

- Lasanha? Não! Hoje vamos comer miojo!!! Não tive tempo de comprar os preparativos da lasanha.

- Tá com a cabeça onde, Diana? Não comprou o kit barba, esqueceu que te pedi para fazer lasanha para mim...- questionava Pierre com cara de interrogação.

Apenas sorri e gargalhei internamente. Era hilário ver como ele não sabia se virar sozinho e também era medonho ver o quanto ele virara dependente de mim. Ao final do nosso delicioso jantar de miojo, me joguei no sofá. Pierre ficou me olhando e eu me preparando para o pedido mortal.

- Di, faz um cafunézinho em mim? – pedia ele com cara de gato manhoso.

Tive que me conter muito para não cair na tentação com aquela cara de bebê pidão.

- Hoje não, Pi...to cansada...Outro dia, tá? – ‘ai, como eu ria!!!’

- Diana, o que está acontecendo?! Você tá estranha. Não quer fazer mais nada que eu peço. Tá cansando de mim? Ou tem outro na parada? – perguntava ele furioso.

- Ai, Pierre, eu não quero discutir isso agora ok? Eu vou dormir. Boa noite.- me levantei do sofá e fui para o quarto para não gargalhar da cara de bobo dele. Só ouvi quando ele bateu a porta com força e foi embora.

***

Confesso que foi bem difícil me segurar e não ir correndo atrás do Pierre me rendendo a todos os seus pedidos, com direito a cafuné e canção de ninar. Ele sumiu por uns três dias. Achei até que era o fim do nosso relacionamento. Porém, fui dura na queda e não o procurei. Como diz Betina, ele devia estar refletindo sobre as merdas que andava fazendo.

Numa sexta-feira, fui para casa moída, depois de uma semana estressante. Quando cheguei, vi que a porta do meu apartamento estava aberta. Fui entrando sorrateiramente para não assustar o possível ladrão que tinha invadido o apê. As luzes estavam apagadas e havia velas espalhadas pela sala e uma linda mesa de jantar posta.

- Achei que não chegaria nunca! – era o Pierre com duas taças de vinho. Foi logo pegando minha bolsa e me dando um beijo.

- O que é isso? – perguntei sem nada entender.

- É apenas um pouco do que você merece!

- Alguma data especial?

- E precisa de motivo para agradar a minha gatinha?

Espera’í. Entendi tudo. O Pierre ficou com medo de que eu tivesse dando uma corneada nele e foi logo me agradando, me conquistando. Os homens são todos iguais. Só reagem quando percebem que vão perder a parada. Não é que a terapeuta estava certa? Afinal, toda ação tem uma reação né?

O Pierre havia preparado um saboroso jantar para mim com direito a luz de velas, vinhos, uma massagem nos pés, cafuné e uma noite ardente de sexo. Amei tudo claro!!! Afinal quem não gosta de ser cuidada?

- Nossa, Pi, você me surpreendeu hein?

- Pois é, amor, eu percebi que andava deixando minha gatinha de lado e isso não está certo. Você me perdoa? Prometo que vou cuidar de você direitinho a partir de agora...serei seu papaizinho ok?

- NÃO! – eu gritei – Não me leve a mal. Eu não quero que você seja meu papaizinho e nem eu serei mais a sua mamãezinha ok? Já basta os nossos. Seja apenas o meu namorado e tá tudo certo ok?

Pierre me olhou com cara de quem precisaria de mais duas semanas para entender tudo, mas me beijou e recomeçamos a sessão caliente. Depois daquela noite, aprendi que eu tenho que ser namorada e não mãe. E também aprendi que quem ama cuida não é mesmo? Se ele não estiver cuidando, amiga, já sabe...toda ação, tem uma reação. Afinal, os homens são assim mesmo!

PAPO DE CALCINHA: E VOCÊ JÁ BANCOU (OU BANCA) A MÃE DO SEU NAMORADO ?