sábado, outubro 30, 2010

AMADO AMIGO


Por Letícia Vidica

- Diana?!

- Pedro?! – eu respondi assustada com aquele homem que apareceu de repente, acho até que engasguei com o gole de cerveja que eu estava tomando – Acho bom você ter uma boa desculpa para me dar por não ter me avisado que você viria a São Paulo!

- E onde fica a surpresa? – ele respondeu.

Nos abraçamos, num abraço intenso que acho que durou segundos que pareceram minutos que pareceram horas. Acho que foi assim. As meninas, Betina e Lili, me olhavam sem entender nada. Resolvi contextualizá-las da situação, antes que alguma delas fizesse um comentário irônico.

- Meninas, esse é o Pedro. Aquele meu amigo que mora no Rio. Lembram dele? O Pedro é o meu melhor amigo...homem...antes que vocês fiquem com ciúmes.

Convidei-o para se juntar a nossa mesa, mas ele estava com alguns amigos em outra. Ele prometeu me ligar no dia seguinte para fazermos algo e matarmos a saudade.

- Nossa, não imaginava que esse Pedro era tão bonitão. – comentou Lili sem perder a oportunidade.

- Ih, Lili, não é para o seu bico. O Pedro não tem o perfil de canalha. Você não ia gostar dele. – comentei.

- E será que ele seria para o seu bico? – perguntou Betina começando a colocar fogo na fogueira.

- Para de bobagens, Bê. Eu e o Pedro somos apenas bons amigos.

- Será? Não foi o que pareceu depois desse reencontro e do abraço caloroso.

Para variar, a Betina começava a enxergar maldade onde não tinha. Ou será que haveria?

Eu e o Pedro nos conhecemos ainda na barriga de nossas mães, que engravidaram praticamente no mesmo dia. Com ressalva de que eu, apressada como sempre como ele costumava dizer, nasci duas semanas antes do Pedro. Fomos vizinhos até a adolescência, por isso, crescemos juntos. Como eu sempre fui um pouco moleca, eu sempre brincava com o Pedro e os amigos dele e ele me defendia como uma irmã. Apesar de não termos o mesmo sangue, sempre nos consideramos meio irmãos. O Pedro sabe tudo da minha vida e eu da dele. Até hoje, a gente troca confidências.

Quando chegou a época de faculdade, ele prestou vestibular numa faculdade no interior e passou. Teve então de se mudar e depois de formado conseguiu um emprego no Rio de Janeiro onde mora até hoje. Mesmo com a distância, sempre mantemos contato. Trocamos emails, torpedos, ligações quase toda semana para saber como um ou outro está. Realmente, ele não é de se jogar fora, mas a nossa amizade é forte demais para ser estragada e o afeto que sinto por ele não passa de carinho de amigo.

***


No dia seguinte, logo pela manhã, o Pedro apareceu lá em casa e me levou para tomar café da manhã na padaria da esquina de casa.

- Que bom te ver, Pedro. Veio fazer o que em São Paulo?

- Eu tenho um curso aqui essa semana. Daí, resolvi vir no fim de semana para visitar minha família e, claro, rever os amigos especiais.

- Ai, que tudo! Quer dizer que terei uma semana para abusar do meu amiguinho?

- Sou todo seu. Faça de mim o que quiser. – ele disse rindo – Mas como vai a vida? Ainda sozinha?

- Para variar né? Com um aqui outro lá, mas nada fixo. A coisa tá feia, Pedro.

- Eu não me conformo como uma mulher bacana como você não tem ninguém! Esses caras de Sampa andam mole mesmo.

- Olha, quem fala, até parece que não é daqui...

- Sou, mas não estou. Se eu estivesse, você que não se cuidasse não?

Nos olhamos um pouco sem graça por alguns instantes, mas resolvi quebrar o gelo.
- E você? Galinhando muito no Rio?

- Ah, que nada. Eu estava com um rolo com uma gata aí...mas nada sério...e o Pierre?

- Nem me fale dele. Sumiu.

- É outro Zé Mané, né? Mas, deixa eu ficar quieto.

Terminamos de tomar nosso café e, como o Pedro estava com saudades da minha família, telefonei e minha mãe prontamente nos convidou para almoçar lá. Era sempre assim. Quando ele vinha para São Paulo, era uma ofensa não passar na casa dos meus pais.

Ao chegar, minha mãe foi logo dando um abraço apertado nele e o enchendo de perguntas. Dizendo que estava com saudades, que tinha feito o pudim que ele tanto adorava, etc e etc. Era tanto mimo que eu até chegava a ficar com ciúmes. E, quando o Pedro vinha, parecia festa. Minha irmã trazia a sobrinhada que adorava rolar no tapete da sala com ele – uma das qualidades do Pedro é o seu carinho por crianças, acho até que ele seria um ótimo pai. Até mesmo o baladeiro do meu irmão ficava em casa para ouvir as histórias e aventuras cariocas do Pedro.

- Que menino bom, né? Nossa, seria um sonho se você casasse com ele. – delirava minha mãe enquanto lavávamos a louça.

- Tá ficando louca, mãe? Eu e o Pedro somos apenas bons amigos.

- Eu também acho que vocês fariam um belo casal. Você tá é perdendo tempo! – até a songa monga da minha irmã palpitava.

No fim do dia, passamos na casa do Pedro e aproveitei para visitar os pais dele. O bom era que o mimo que ele tinha na minha casa, eu recebia na dele. E até os comentários sobre como seríamos felizes juntos também pintavam por lá.

- Já cansei de dizer pro Pedro para ele vir morar em São Paulo de vez. Seria ótimo não seria, Di? – perguntava a mãe dele, Dona Neusa.

- Ah, eu ia adorar mesmo, Dona Neusa.

- E eu ia adorar ainda mais se vocês dois ficassem juntos...

- Ih, mãe, desiste. Essa daí é jogo duro. – dizia Pedro rindo da minha cara.
Fiquei sem entender o que ele queria dizer com aquele comentário. Mas fiquei com ele martelando na minha cabeça por muitos e muitos dias.

****

- Nossa, Bê, não sei se fico triste ou feliz pelo Pedro ter vindo a São Paulo. – eu desabafava com a Betina enquanto terminávamos de cozinhar para o jantar que eu ia oferecer para o Pedro e alguns amigos dele no meu apartamento. – Desde que ele chegou aqui, todo mundo não para de dizer que somos um casal perfeito. Mas a gente é só amigo!

- Será que isso tudo é só amizade, Diana?

- Lá vem você. Só porque um homem e uma mulher são amigos significa que eles tem que ficar juntos? Que coisa mais careta!

- Esse não é o xis da questão. Seria normal se você não ficasse toda diferente quando está com ele.

- Como assim?!

- Está nos seus olhos, Di. Eles brilham, você fica parecendo uma adolescente boba ao lado dele...parece uma barata tonta...sem contar no olhar de admiração que ele joga sobre você.

- Meninas, cheguei...tô entrando – dizia Pedro que tinha chegado com a sua patota invadindo o meu apê e interrompendo o meu assunto com a Betina.

O jantar correu muito bem, se não fosse a conversa que tive com a Betina engasgada na minha garganta quase me causando indigestão. A Lili estava adorando, tinha até se entendido com um amigo do Pedro. Até mesmo a Betina conversava empolgadíssima com outro amigo dele. Somente eu, parecia um peixe fora d’água tentando digerir aquela história.

Será que eu gostava do Pedro? Será que eu estava enganando a mim mesma ou seria maluquice da cabeça de todo mundo? Ai, meu Deus, não brinca assim comigo não.

- Diana, tá tudo bem? – perguntava Pedro que me flagrou divagando em meus pensamentos na varanda.

- Tá tudo bem sim. – eu dizia tentando disfarçar.

- Não é o que parece.

É incrível como ele me conhecia. Eu nunca conseguia enganá-lo. Ele me conhecia demais.

- Nada não...só estou com dor de cabeça...

- Pode deixar que eu já vou expulsar todo mundo daqui...está ficando tarde mesmo...hora de nenê ir para cama.

- Não, que isso...não estou expulsando ninguém...pelo contrário, fica aqui comigo essa noite.

- Tá me chamando para dormir com você? Que proposta indecente!
Só ele para me fazer rir.

- Só queria conversar mais com você. A gente se vê tão pouco e amanhã mesmo você já volta para o Rio né?

Voltamos para sala e a galera já começava a se despedir. A Lili ia esticar a noite com o amigo do Pedro e a Betina ia pegar uma carona com outro. E o Pedro ia ficar comigo. Arrumamos a bagunça e ficamos jogando conversa fora enquanto lavávamos a louca. Depois de tudo arrumado, tomamos um banho e nos jogamos um em cada sofá degustando uma taça de vinho e colocando o papo em dia.

Era incrível que, quando estávamos juntos, a hora passava e eu nem percebia. Também a gente tinha muito assunto! Mesmo quando éramos vizinhos, assunto nunca foi problema para gente. Já clareava e a nós nem tínhamos dormido ainda. Só nos demos conta de que havíamos passado a noite acordados quando um raio de sol entrou pela janela e veio parar bem no meu olho.

- Que horas são, Pedro? Meu Deus, seis horas!

- Como você fala, hein, Diana? – ele me zuava.

- Eu né? Ai, Pedro, sinto tanto sua falta.

- Vem comigo pro Rio. – ele me disse implorando de joelhos na frente do sofá em que eu estava deitada.

- Para de graça, Pedro! – eu disse sem graça o empurrando para o chão.

- Mas eu não estou brincando...- ele disse me puxando pelo braço e fazendo com que eu caísse sobre ele – adoraria ter você mais pertinho de mim assim.

Nos olhamos por alguns segundos. Nossas bocas a poucos milímetros de distância. Era a primeira vez que ficávamos naquela situação, com ressalva de quando brincávamos de guerra de lama no quintal lá de casa. E era a primeira vez que eu havia ficado com uma vontade louca de agarrá-lo, beijá-lo e ir correndo para o Rio com ele, casar e ter um casal de filhos. Mas, acordei e recuei.

O Pedro resolveu ficar para almoçar e quis dar um de mestre cuca. Cozinhou uma macarronada à moda Pedro Carioca, como ele diz. Depois do almoço, fui obrigada a assistir o jogo do Flamengo, time que ele agora diz ser do coração (mas sabe que nem me importei com isso?), depois assistimos a um desses filmes que cansam de reprisar na tevê a cabo comendo brigadeiro de panelas (detalhe: dividido na mesma colher).
No fim da tarde, daquela tarde maravilhosa, o Pedro insistiu para que eu o levasse até o aeroporto. Segundo ele, não poderia perder mais nenhum segundo ao meu lado. Detalhe: curiosamente ou coincidentemente, eu fui a única a acompanhá-lo no aeroporto, sob insistência suspeita da mãe dele.

- Adorei passar esses dias com você. Tinha me esquecido o quanto são bons os momentos ao seu lado. – ele dizia me abraçando no aeroporto.

- Eu também adorei sua companhia. Você sabe que sinto saudades de você né?

- Se cuida, mocinha. Tô no Rio, mas tô de olho. Ah, e se mudar de idéia...estou te esperando lá no Rio.

Ele me deu um beijo prolongado na testa, mais um abraço forte e partiu. Fiquei igual estátua parada no meio do aeroporto. Naquele momento, minha vontade era embarcar juntinho com ele. Mas, pera’í, Diana, o que estava acontecendo com você?

- Você está apaixonada por ele, amiga. Sempre esteve. – respondia Betina ao meu indagamento, enquanto eu choramingava a partida do Pedro no apartamento dela.

- Será? Realmente, é sempre mágico quando estamos juntos. Mas a nossa amizade é tão verdadeira...eu não quero estragar isso

- Então, deixa rolar...mas se mudar de idéia...já sabe para onde correr né?
Eu bem sabia, mas até agora não arrisquei. Preferi continuar em São Paulo, por enquanto.

PAPO DE CALCINHA: E aí já teve alguma amizade assim? A amizade virou amor ou não?

quinta-feira, outubro 21, 2010

AMOR VIRTUAL


Por Letícia Vidica

- Diana, é impressão minha ou aquela mulher parecendo um espantalho do Mágico de Oz parada no meio do shopping é a Betina?

Nem foi preciso responder a pergunta da Lili. Ao nos aproximarmos do tal espantalho, pudemos confirmar que se tratava da nossa querida amiga.

- Betina? – eu perguntei assustada com a cena.

- Tá fazendo o quê vestida ridícula desse jeito? – engatou Lili.

- O-oi, meninas, tudo bem? Eu posso explicar. – respondeu Betina com cara de criança que é pega no flagra pela mãe fazendo arte – é que eu tenho, ou melhor, tinha um encontro às escuras.

- Encontro o quê? – perguntei.

Acho que esqueci de me dizer que a Betina tinha como uma de suas características manter alguns mistérios e segredos e aquele era mais um deles. Descobri que a Betina adorava conhecer pessoas pela internet e que estava teclando há alguns meses com um carinha, o qual acabara de dar um bolo virtual nela.

- A coisa tá feia mesmo. Nem mesmo pela internet estamos livres de levar um bolo – desabafava Betina tristonha enquanto comíamos um lanche na praça de alimentação.

- Mas você queria o que, Bê? Vestida desse jeito parecendo um espantalho, é claro que o cara não ia se aproximar né?

- Opa, Lili. Menos hein? Não precisa avacalhar. – respondia Betina irritada.

- Mas como era o príncipe cibernético?

- Ah, Di, ele disse que era...

- ... alto, moreno, sarado, solteiro e que adorava praia! – completou Lili

- Como você sabe?! – perguntamos.

- Ai, gente, eu sou macaca velha nesse lance de romance virtual. Eu nunca contei para vocês, mas eu também adoro conhecer pessoas pela internet. Já conheci muita gente. E você acaba de cair no golpe do moreno sarado. Acorda né, Betina, você acha mesmo que caras deuses como esse precisam MESMO da internet para conhecer alguém?

Apesar do diálogo parecer incomum, era real. A Lili acabara de dar uma lição de realidade para a Betina, a senhora da verdade. Aquela declaração também me revelou um segredo da Lili. Minha amiga adorava ter encontros mais picantes na internet. Se é que me entendem! Naquela conversa percebi que o único peixe fora d’água, ou melhor, fora de conexão era eu.

Eu nunca fui muito ligada nesse negócio de conhecer gente na internet. Prefiro a realidade do que o cibernético. Nada melhor do que olho no olho, pele com pele. Além disso, confesso que sempre tive um pouco de medo de quem poderia estar do outro lado da tela.

Até que, em uma noite chuvosa e fria de sexta-feira, eu estava de bobeira em casa e não tinha nenhum programa com as meninas, resolvi entrar na internet. Ninguém interessante no MSN para conversar, nenhum scrap novo no Orkut, nenhum álbum interessante no Facebook para xeretar. Foi aí que meu dilema começou. Fiquei por alguns instantes brigando com minha consciência e com o mouse, até que não resisti e entrei numa sala de bate papo.

Escolhi a que me parecia mais ‘normal’. Daí, então gatinhamanhosa atacou. Em menos de dez minutos online, alguém puxou papo comigo.

Gatinhomanhoso: De onde tc?

Gatinhamanhosa: SP.

Gatinhomanhoso: O q faz aki nessa noite fria?

O assunto que começou meio frio e insonso, logo ficou interessante e quando me dei conta passei quase a noite toda teclando com o tal gatinhomanhoso. Trinta e cinco anos, advogado, alto, moreno, esportista. Foi assim que ele se definiu para mim. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte na mesma sala e no mesmo horário. É claro que eu disse que estaria on, mas era só para ser simpática.

Porém, não só no dia seguinte como em todos os outros que se seguiram, eu estava online sempre na mesma sala e por muitas noites a gente teclava. Sem perceber, comecei a me envolver com aquele homem que eu nada sabia.

- Meninas, acho que estou ficando louca. – confessei para minhas amigas.

– Não consigo parar de imaginar como o gatinho manhoso é. Esse negócio tá ficando viciante. Não durmo mais em paz se eu não falo com ele. Se ele não está on, fico triste e sinto saudades. Isso é normal?

- Ih..bem-vinda ao mundo dos amores virtuais. – dizia Betina brindando com um copo.

- E você acha graça? O que eu faço?

- Relaxa, Diana. Marca um encontro com o gato.

- Ai, Lili, eu acho que não tenho coragem.

E por mais alguns dias fiquei brigando com a minha coragem e curiosidade para convidá-lo para um encontro. Mas ele acabou sendo mais rápido e me convidou primeiro. O que eu faria? Aceitava ou não?

- Pára de ser boba, Diana. É claro que você tem que aceitar, mas precisa tomar alguns cuidados – me orientava Betina – Marca com ele em algum local público, em caso dele ser um louco tarado, você grita e todos vão te ouvir. Diz que você vai com uma roupa, mas vai com outra completamente diferente.

- Mas você vai comigo?

Depois de muita insistência, Betina aceitou me acompanhar no encontro e eu aceitei conhecê-lo. Marcamos num shopping do centro da cidade. Ele disse que estaria de jeans e camisa azul e eu de vestido amarelo. Fui de rosa, claro. A Betina ficou sorrateiramente me espionando sentada no banco do shopping. Na hora e local marcado, cheguei. E logo avistei um homem com a roupa que ele me disse no local combinado.

Meu coração acelerou. E agora? Minha vontade era de sair correndo do shopping, mas eu não podia fazer aquilo. Fui me aproximando vagarosamente.

- Alexandre? Gatinho manhoso?

- Diana!!! – ele disse me medindo dos pés a cabeça e me dando um beijo e um abraço.
Ele não era de se jogar fora, mas era completamente diferente do que eu imaginei.

- Poxa, você é bonita mesmo hein?

- Ah, obrigada. – preferi não dizer o mesmo.

Fomos tomar um suco na praça de alimentação, enquanto a Betina nos seguia sorrateiramente. Começamos a conversar sobre nossas vidas, perguntávamos sobre coisas que já tínhamos conversado na internet. A conversa até que fluiu legal, mas a minha ansiedade continuava.

- Achou que eu era um monstro?

- Ai, que isso.

- Pode confessar. Conheço bem esse lance de encontros às escuras.Logo imaginei que você não viria com a roupa que me disse e que também estaria acompanhada.

- Acompanhada? Eu?

- Ou você acha que eu não percebi a sua amiga nos espionando?

Fiquei super sem graça com a declaração. O cara era realmente um expert em encontros virtuais. Isso não me cheirava bem porque para quem tem tantos encontros, alguma coisa errada tem. Acabei desmascarando a Betina que se juntou a nós.

Ao final do encontro, prometemos continuar se falando pela internet e a manter nossos encontros virtuais. E ele se despediu com um beijo na minha boca.

- Nossa, amiga, um gatinho...

- É todo seu.

- Como assim , Di?

- Desanimei.

- Eu não te entendo. Estava aí toda ansiosa para sair com o gatinho manhoso e agora amarela?

- Ah, eu acho que perdeu a graça. Preferia ele no mundo virtual. Me dava mais emoção.

E foi assim que minha iniciação no mundo dos amores virtuais terminou. Percebi que não nasci para isso. Deixo para a Betina que supre sua carência com esse tipo de relacionamento e com a Lili que, às vezes, alivia a tensão pela internet. Eu ainda prefiro os romances reais.

PAPO DE CALCINHA: E você já teve algum amor virtual? Gosta dos romances cibernéticos ou prefere os reais? Conte-nos sua história.

sexta-feira, outubro 08, 2010

MULHER DETETIVE


Por Letícia Vidica

- Diana, você vai ter que me ajudar. – dizia Lili com cara de desesperada entrando como uma loba enfurecida no meu apartamento.

- O que houve dessa vez? – perguntei sabendo que dali viria uma bomba.

- O Luis Otávio está me traindo.

- Grande novidade, né, Lili? – respondi sem espanto por conhecer bem o currículo do Don Juan.

- Dessa vez, é sério. E você vai ter que me ajudar a descobrir quem é a sirigaita.

- Pode me tirando fora dessa, Dona Liliana. Você tá cansada de saber que o Luis Otávio não presta e ainda quer confirmar? Que prova mais você precisa?

Eu bem que tentei, mas quando a Lili encucava com alguma coisa não tinha santo que a fizesse desistir. Ainda mais quando o problema se chamava Luis Otávio. Daí, lá vinha ela com uma idéia mirabolante de Sherlock Holmes. E aquela era mais uma. Como Sherlock não trabalha sozinho, eu quase sempre me metia de sua assistente.

- E o que você quer que eu faça?

- Vamos seguir o Luis Otávio. Ficar de tocaia para pegá-lo com a boca na botija.

- Tem certeza de que quer ver isso?

****

Ao contrário da Lili, eu nunca fui muito encucada. Dificilmente desconfiava de algo e, se desconfiava, não ia muito a fundo na história. Não sou muito a mulher detetive e me nego a ficar seguindo ou investigando a vida de um homem. Acho que se a desconfiança bate é porque o relacionamento não vale mais a pena.

Porém, teorias à parte, eu sou mulher. E nem sempre consigo bancar a durona. Foi o que aconteceu uma vez quando eu namorava o Pierre.

- Meninas, tô com a pulga atrás da orelha. Acho que o Pierre tá me traindo. – confessei às minhas amigas numa sexta ensolarada no bar do Pedrão.

- De onde você tirou essa idéia maluca? O Pierre devia ser canonizado. – dizia Betina.

- Não se esqueça que ele é homem, Betina. – emendava nossa Sherlock Holmes – Pode contar comigo pro que precisar. Acho mesmo que você tem que tirar essa história a limpo.

- Lá vem você botando pilha, Lili. Mas Diana, porque desconfiar dele agora? A essa altura do campeonato?

Era o que eu estava me perguntando há muito tempo. Qual seria o motivo da minha desconfiança. O Pierre sempre foi um namorado presente, nunca me deu motivos para que eu desconfiasse dele, mas de uns tempos para cá eu estava achando algumas atitudes dele muito suspeitas.

A primeira delas é que, outro dia, enquanto ele tomava banho o celular dele tocou. A gente nunca escondeu nada um do outro, mas sempre respeitamos a privacidade alheia. Ou seja, ele nunca fuçou no meu celular e nem eu no dele. Até aquela chamada. A curiosidade foi maior e fui olhar no visor e vi que uma tal de Lia era quem ligava.
Lia? O Pierre nunca me falou de nenhuma Lia? Seria uma amiga? Mas que amiga ligaria tão tarde da noite de um sábado? Preferi não atender, mas não ia ficar assim.

- Seu celular estava berrando aí. – disse sutilmente enquanto ele se enxugava. – Era uma tal de Lia. Quem é essa Lia? Eu conheço?

- Você atendeu meu celular? – perguntou nervoso.

- Calma! Para quê a raiva? Você sabe muito bem que eu não atendo o seu celular, mas não estou proibida a olhar o visor. E não foge do assunto. Quem é Lia, Pierre?

- É uma amiga do trabalho.

- E, por um acaso, vocês tem alguma reunião a essa hora da noite de um sábado?!

- Para de besteira, Diana. Eu lá sei o que ela quer comigo? Segunda-feira eu resolvo isso. Agora deita aqui e vamos relaxar um pouco.

Percebi que aquela tinha sido uma estratégia para mudar de assunto, mas a tal de Lia não tinha descido muito bem.

O segundo motivo foi que o Pierre começou a sair tarde do serviço quase todas as sextas-feiras, anulando ou atrasando nossos encontros. Incrível como toda sexta, tinha reunião.

- Di, não vai ficar brava? Não vou poder dormir na sua casa hoje. A gente tá enrolado num projeto aqui e não sei que horas vou sair.

- De novo?! Que projeto interminável é esse? A tal da Lia também vai te ajudar? – perguntei bufando.

- Diana, sem comentários. Nos vemos amanhã.

Quanto mais ele fugia do assunto, mais eu desconfiava dele. Aquilo estava me martirizando. Eu tinha que tirar aquela história a limpo. E foi o que eu fiz. Numa dessas sextas-feiras de reunião do Pierre, resolvi saber que tipo de reunião ele andava tendo. Levei minhas amigas a tiracolo e ficamos de tocaia na frente do trabalho dele.

- Diana, isso é loucura. Vamos embora. – Betina tentava me convencer.

- Eu não saio daqui enquanto não tirar essa história a limpo.

- Você está certíssima, amiga. Tem que dar o bote. – Lili me apoiava e estava louca para ver o circo pegar fogo.

Meia-hora depois, Pierre apareceu na porta do prédio acompanhado de uma loira que eu nunca vi mais oxigenada. Sem pensar e impulsivamente, abri a porta do carro e fui correndo na direção dos dois.

- Diana?! O que você está fazendo aqui?

- Ah agora está assustado? Pode ir me explicando tudo. Então é com essa mocréia que você tá se reunindo?

- Diana, vamos embora daqui. Não é nada do que você está pensando. Sem barracos, por favor.

- Ah porquê? Tá com medo é?

- Diana, a Lia...

- Ah então essa daí é a tal da Lia?

Antes que a loira se explicasse, um carro estacionou na nossa frente e alguém a chamou.

- Bem, Pierre, eu vou indo. Meu marido já chegou. Me desculpe pelo mal entendido.
Marido? Como assim, a loira era casada? Mas podia ser amante do meu namorado! Não acredito que paguei um mico desses!

- Satisfeita agora com o papelão? Não esperava isso de você.

- Pierre....Pierre...volta aqui.

Ele entrou no carro dele e me deixou sozinha feito uma palhaça, como eu me sentia, chorando no meio da rua. Rapidamente, as meninas vieram me socorrer e me levaram para casa. No caminho, expliquei toda a história para elas que tentaram me animar. Mas eu tinha certeza que depois daquele mico, tinha perdido não só a vergonha como o Pierre também.

***

Como eu estava dizendo, não tinha adiantado brecar a Lili nem mesmo depois de fazê-la relembrar da minha história. Lá fomos nós ficar de tocaia na porta da casa do Otávio.

- Lili, vamos embora. Ele não vai chegar. Olha que horas são!

- Aposto que ele tá no motel com alguma sirigaita, Diana. Eu conheço o meu eleitorado.

- Se conhece, nem deveria vir comprovar. Você já sabe da resposta.
De repente, fomos surpreendidas por uma sirene de polícia. Os policiais nos questionaram o que estávamos fazendo rondando a casa e que um vizinho tinha notado nossa presença suspeita e telefonado para eles. Final da história: fomos parar na delegacia. Passamos a noite no xadrez. Tudo culpa da loucura da Lili de querer bancar a detetive.

- Viu o que você fez? E agora quem vai nos tirar daqui? – eu bufava com a Lili que só chorava.

- Calma, meninas. Não foi por acaso que vocês conheceram uma amiga advogada. – dizia Betina que chegara para nos tirar do sufoco.

- Nunca mais me meta nessas suas maluquices, Lili!

- Desculpa, Di. Eu não imaginava que isso aconteceria.

- Ah não? Pois da próxima vez você vai bancar a detetive sozinha. Presa por causa do Luis Otávio, é só o que me faltava.

Fiquei brava com a Lili por uns dias, mas depois a perdoei. Afinal, amigo é para essas coisas, mas prometi a mim mesma que jamais bancaria a Sherlock novamente.

***

No fim da história, a Lili nunca soube se o Luis Otávio a traía e eu ...

...tentava me reconciliar com o Pierre. Fui novamente na porta do trabalho dele com a bandeira branca da paz.

- Podemos conversar? – perguntei gentilmente.

Ele me olhou com cara de poucos amigos. Despediu-se da Lia que mais uma vez descera com ele. Até eu a cumprimentei e pedi desculpas pelo mal entendido.

- Diana, o que deu em você? Mal te reconheci.

- Me desculpe, Pierre. Eu não sei o que deu em mim. Mas eu fiquei possessa de desconfiança e com medo de te perder.

- E eu te dei algum motivo para isso?

- Você não, mas eu criei motivos na minha cabeça.

- Desconfiar de mim. Que bobagem! E ainda mais com a Lia. Se quer saber, ela é bem bonita e atraente sim. Mas eu não a trocaria por ela. Prefiro você. Sem contar que a Dona Lia é muito bem casada viu?

Eu fiquei com cara de tacho, ele riu de mim e no fim nos beijamos. Respirei aliviada por não perdê-lo. Pelo menos, não foi por aquilo que ele saiu da minha vida.

PAPO DE CALCINHA: E VOCÊ JÁ BANCOU A MULHER DETETIVE? SE DEU BEM OU MAL EM SUA INVESTIGAÇÃO?