sexta-feira, outubro 08, 2010

MULHER DETETIVE


Por Letícia Vidica

- Diana, você vai ter que me ajudar. – dizia Lili com cara de desesperada entrando como uma loba enfurecida no meu apartamento.

- O que houve dessa vez? – perguntei sabendo que dali viria uma bomba.

- O Luis Otávio está me traindo.

- Grande novidade, né, Lili? – respondi sem espanto por conhecer bem o currículo do Don Juan.

- Dessa vez, é sério. E você vai ter que me ajudar a descobrir quem é a sirigaita.

- Pode me tirando fora dessa, Dona Liliana. Você tá cansada de saber que o Luis Otávio não presta e ainda quer confirmar? Que prova mais você precisa?

Eu bem que tentei, mas quando a Lili encucava com alguma coisa não tinha santo que a fizesse desistir. Ainda mais quando o problema se chamava Luis Otávio. Daí, lá vinha ela com uma idéia mirabolante de Sherlock Holmes. E aquela era mais uma. Como Sherlock não trabalha sozinho, eu quase sempre me metia de sua assistente.

- E o que você quer que eu faça?

- Vamos seguir o Luis Otávio. Ficar de tocaia para pegá-lo com a boca na botija.

- Tem certeza de que quer ver isso?

****

Ao contrário da Lili, eu nunca fui muito encucada. Dificilmente desconfiava de algo e, se desconfiava, não ia muito a fundo na história. Não sou muito a mulher detetive e me nego a ficar seguindo ou investigando a vida de um homem. Acho que se a desconfiança bate é porque o relacionamento não vale mais a pena.

Porém, teorias à parte, eu sou mulher. E nem sempre consigo bancar a durona. Foi o que aconteceu uma vez quando eu namorava o Pierre.

- Meninas, tô com a pulga atrás da orelha. Acho que o Pierre tá me traindo. – confessei às minhas amigas numa sexta ensolarada no bar do Pedrão.

- De onde você tirou essa idéia maluca? O Pierre devia ser canonizado. – dizia Betina.

- Não se esqueça que ele é homem, Betina. – emendava nossa Sherlock Holmes – Pode contar comigo pro que precisar. Acho mesmo que você tem que tirar essa história a limpo.

- Lá vem você botando pilha, Lili. Mas Diana, porque desconfiar dele agora? A essa altura do campeonato?

Era o que eu estava me perguntando há muito tempo. Qual seria o motivo da minha desconfiança. O Pierre sempre foi um namorado presente, nunca me deu motivos para que eu desconfiasse dele, mas de uns tempos para cá eu estava achando algumas atitudes dele muito suspeitas.

A primeira delas é que, outro dia, enquanto ele tomava banho o celular dele tocou. A gente nunca escondeu nada um do outro, mas sempre respeitamos a privacidade alheia. Ou seja, ele nunca fuçou no meu celular e nem eu no dele. Até aquela chamada. A curiosidade foi maior e fui olhar no visor e vi que uma tal de Lia era quem ligava.
Lia? O Pierre nunca me falou de nenhuma Lia? Seria uma amiga? Mas que amiga ligaria tão tarde da noite de um sábado? Preferi não atender, mas não ia ficar assim.

- Seu celular estava berrando aí. – disse sutilmente enquanto ele se enxugava. – Era uma tal de Lia. Quem é essa Lia? Eu conheço?

- Você atendeu meu celular? – perguntou nervoso.

- Calma! Para quê a raiva? Você sabe muito bem que eu não atendo o seu celular, mas não estou proibida a olhar o visor. E não foge do assunto. Quem é Lia, Pierre?

- É uma amiga do trabalho.

- E, por um acaso, vocês tem alguma reunião a essa hora da noite de um sábado?!

- Para de besteira, Diana. Eu lá sei o que ela quer comigo? Segunda-feira eu resolvo isso. Agora deita aqui e vamos relaxar um pouco.

Percebi que aquela tinha sido uma estratégia para mudar de assunto, mas a tal de Lia não tinha descido muito bem.

O segundo motivo foi que o Pierre começou a sair tarde do serviço quase todas as sextas-feiras, anulando ou atrasando nossos encontros. Incrível como toda sexta, tinha reunião.

- Di, não vai ficar brava? Não vou poder dormir na sua casa hoje. A gente tá enrolado num projeto aqui e não sei que horas vou sair.

- De novo?! Que projeto interminável é esse? A tal da Lia também vai te ajudar? – perguntei bufando.

- Diana, sem comentários. Nos vemos amanhã.

Quanto mais ele fugia do assunto, mais eu desconfiava dele. Aquilo estava me martirizando. Eu tinha que tirar aquela história a limpo. E foi o que eu fiz. Numa dessas sextas-feiras de reunião do Pierre, resolvi saber que tipo de reunião ele andava tendo. Levei minhas amigas a tiracolo e ficamos de tocaia na frente do trabalho dele.

- Diana, isso é loucura. Vamos embora. – Betina tentava me convencer.

- Eu não saio daqui enquanto não tirar essa história a limpo.

- Você está certíssima, amiga. Tem que dar o bote. – Lili me apoiava e estava louca para ver o circo pegar fogo.

Meia-hora depois, Pierre apareceu na porta do prédio acompanhado de uma loira que eu nunca vi mais oxigenada. Sem pensar e impulsivamente, abri a porta do carro e fui correndo na direção dos dois.

- Diana?! O que você está fazendo aqui?

- Ah agora está assustado? Pode ir me explicando tudo. Então é com essa mocréia que você tá se reunindo?

- Diana, vamos embora daqui. Não é nada do que você está pensando. Sem barracos, por favor.

- Ah porquê? Tá com medo é?

- Diana, a Lia...

- Ah então essa daí é a tal da Lia?

Antes que a loira se explicasse, um carro estacionou na nossa frente e alguém a chamou.

- Bem, Pierre, eu vou indo. Meu marido já chegou. Me desculpe pelo mal entendido.
Marido? Como assim, a loira era casada? Mas podia ser amante do meu namorado! Não acredito que paguei um mico desses!

- Satisfeita agora com o papelão? Não esperava isso de você.

- Pierre....Pierre...volta aqui.

Ele entrou no carro dele e me deixou sozinha feito uma palhaça, como eu me sentia, chorando no meio da rua. Rapidamente, as meninas vieram me socorrer e me levaram para casa. No caminho, expliquei toda a história para elas que tentaram me animar. Mas eu tinha certeza que depois daquele mico, tinha perdido não só a vergonha como o Pierre também.

***

Como eu estava dizendo, não tinha adiantado brecar a Lili nem mesmo depois de fazê-la relembrar da minha história. Lá fomos nós ficar de tocaia na porta da casa do Otávio.

- Lili, vamos embora. Ele não vai chegar. Olha que horas são!

- Aposto que ele tá no motel com alguma sirigaita, Diana. Eu conheço o meu eleitorado.

- Se conhece, nem deveria vir comprovar. Você já sabe da resposta.
De repente, fomos surpreendidas por uma sirene de polícia. Os policiais nos questionaram o que estávamos fazendo rondando a casa e que um vizinho tinha notado nossa presença suspeita e telefonado para eles. Final da história: fomos parar na delegacia. Passamos a noite no xadrez. Tudo culpa da loucura da Lili de querer bancar a detetive.

- Viu o que você fez? E agora quem vai nos tirar daqui? – eu bufava com a Lili que só chorava.

- Calma, meninas. Não foi por acaso que vocês conheceram uma amiga advogada. – dizia Betina que chegara para nos tirar do sufoco.

- Nunca mais me meta nessas suas maluquices, Lili!

- Desculpa, Di. Eu não imaginava que isso aconteceria.

- Ah não? Pois da próxima vez você vai bancar a detetive sozinha. Presa por causa do Luis Otávio, é só o que me faltava.

Fiquei brava com a Lili por uns dias, mas depois a perdoei. Afinal, amigo é para essas coisas, mas prometi a mim mesma que jamais bancaria a Sherlock novamente.

***

No fim da história, a Lili nunca soube se o Luis Otávio a traía e eu ...

...tentava me reconciliar com o Pierre. Fui novamente na porta do trabalho dele com a bandeira branca da paz.

- Podemos conversar? – perguntei gentilmente.

Ele me olhou com cara de poucos amigos. Despediu-se da Lia que mais uma vez descera com ele. Até eu a cumprimentei e pedi desculpas pelo mal entendido.

- Diana, o que deu em você? Mal te reconheci.

- Me desculpe, Pierre. Eu não sei o que deu em mim. Mas eu fiquei possessa de desconfiança e com medo de te perder.

- E eu te dei algum motivo para isso?

- Você não, mas eu criei motivos na minha cabeça.

- Desconfiar de mim. Que bobagem! E ainda mais com a Lia. Se quer saber, ela é bem bonita e atraente sim. Mas eu não a trocaria por ela. Prefiro você. Sem contar que a Dona Lia é muito bem casada viu?

Eu fiquei com cara de tacho, ele riu de mim e no fim nos beijamos. Respirei aliviada por não perdê-lo. Pelo menos, não foi por aquilo que ele saiu da minha vida.

PAPO DE CALCINHA: E VOCÊ JÁ BANCOU A MULHER DETETIVE? SE DEU BEM OU MAL EM SUA INVESTIGAÇÃO?

Um comentário:

jojo disse...

sim...
e me dei mal por descobrir o obvio: havia uma arvore de mil galhos plantada na minha cabeça!!!

Mas tenho que dizer, que a Diana, sou eu... igualzinha.. hahaha

Adoro o blog de vcs!