segunda-feira, abril 16, 2012

DOR DE SAUDADE



POR LETÍCIA VIDICA

Acordei, ou melhor, fui forçada a acordar por aquele raio de sol que ia diretamente no meu olho me relembrando que eu tinha esquecido a janela do meu quarto aberta (mais uma vez) e anunciando que o dia estava lindo lá fora. Era sábado e eu estava de folga – literalmente – porque eu não tinha nenhum relatório ou apresentação para fazer.

Grande coisa! De que adianta um dia lindo sem nada para fazer? Ou, melhor, de que adianta um dia lindo lá fora sem ninguém para fazer algo com você? A Betina tinha dito com todas as letras que não ia arredar o pé de casa nesse final de semana porque tinha que se concentrar num novo caso que ia ser julgado na semana seguinte. E ainda completou dizendo que, apesar da nossa viagem ter sido maravilhosa, ela tinha deixado uma pilha de processos para trás. A Lili também deixou bem claro que ia se exilar na casa do Luis Otávio para colocar uns certos assuntos em dia os quais a viagem não tinha ajudado muito (se é que me entendem)...

...foi aí que me vi perdida e com uma certa dorzinha no peito que de cara eu não oube decifrar. Lembrei então que tinha prometido a mim mesma arrumar o meu guarda roupa que andava uma zona federal. Liguei o som no ultimo volume e deixei o Djavan me fazer companhia.

No meio da minha arrumação, encontrei uma foto minha e do Pedro. Aquela dorzinha lá do peito aumentou um pouquinho. Nossa, o que está acontecendo comigo? O que aconteceu com a gente, Pedro? Eu perguntei para o Pedro da foto que sorria agora para mim. Onde está você hein?

Olhando para aquela foto do Pedro, percebi que aquela dorzinha chata que me perseguia desde a hora em que levantei nada mais era do que saudade. A foto me fez relembrar de que fazia quase dois meses que o Pedro tinha partido para Londres e, até o momento, não tinha me mandado um único sinal de fumaça. Eu bem conhecia o Pedro. Ele costuma não voltar atrás nos seus tratos, mas será que aquela ausência era porque ele andava respeitando demais o tempo que ele tinha dado para gente ou era sinal de que tudo acabou e que ele estaria em outra?

Antes que eu pirasse, resolvi me distrair, mas quem é se distrai tentando esquecer um amor assistindo Sex and The City, embaixo do edredon num sábado de sol se empanturrando de brigadeiro de panela?! Só uma mulher louca como eu. Obviamente, o filme acabou e a dor do meu peito agora estava insuportável e eu estava quase me jogando da sacada. Só tinha uma saída...

- Diana?! – perguntava Betina assustada ao me ver com cara de espanto parada na porta do seu apartamento.

- Betina, prometo que não vou te atrapalhar. Eu fico quietinha, mas se eu ficar
sozinha no meu apartamento eu vou enlouquecer.

- O que aconteceu, Diana?

Minha amiga já pressentia o que poderia ser, mas eu não queria atrapalhá-la. Inventei que apenas estava entediada e queria companhia. Mesmo sem se convencer, mas como estava muito atarefada, ela fingiu acreditar na minha mentirinha e me deixou à vontade em sua casa.

Enquanto ela estudava os processos trancada no quarto, resolvi navegar na internet. Totalmente consciente dos meus atos, mas inconsciente das minhas reações, resolvi comprovar com os meus olhos de que o Pedro não tinha me esquecido. Será que ele mandou algum email e eu não vi? Vai que foi para a caixa de spams? É, ele não mandou nenhum email. E se ele tiver deixado alguma mensagem oculta no Facebook? É, não tem mensagens ocultas. Vou ter que dar uma fuçadinha na página dele né?

As fotos do Pedro e as mensagens dos amigos dele no mural dele não pareciam ser de quem estaria com saudades de mim. Festas, pubs, novos amigos, mulheres desconhecidas e o perfil atualizado para SOLTEIRO me comprovaram que a minha casinha tinha caído. My house despencation... e não só a minha casa despencou como as lágrimas também impulsionadas por aquela dor de saudade que ainda estava no meu peito e insuportável.

- Diana, o que está acontecendo? – era Betina que tinha ouvido os meus soluços.

- Ai, Bê, desculpa!!! – eu disse abraçando minha amiga como cadela sem dono – Eu tentei, eu juro que eu tentei segurar, disfarçar, mas não dá! Eu estou morrendo de saudades do Pedro. Eu estou sentindo a falta dele para caralho... e ele até agora não me mandou nem um pombo correio para dizer se está bem, se está vivo...vivo ele está né porque eu bem vi as fotinhos dele no Face.... o que eu faço, amiga?

- Primeiro, bebe esse copo de água. Olha, o que eu gostaria que você fizesse era esquecer de tudo isso, pensar em você e recomeçar... mas se você está com tanta saudades do Pedro porque não procura ele?

- Procurar o Pedro? Eu?! Tá louca? Foi ele quem pediu o tempo, foi ele quem viajou para Londres....ele é quem tem que me dar satisfação!!! – eu disse toda orgulhosa de mim.

- Diana, para de ser boba. Deixa esse orgulho de lado. Você não vai fazer isso por ele e sim por você. Ou vai ficar aí sofrendo por essa falta de notícias até quando?
Além do mais, ele pediu o tempo para que você pensasse não é? Para você decidir se ainda gosta dele ou não... acho que essa saudade é muito mais do que uma resposta.
Como sempre parei para pensar nos conselhos da minha amiga. Eu deveria dar o braço a torcer? Já era hora de deixar o meu orgulho de lado e pedir para ele voltar? Ou, pelo menos, me ligar?

Um pouco mais calma e aliviada daquela dor, eu voltei para casa e sentei frente ao computador decidida a mandar uma mensagem para o Pedro. Entrei no Facebook e vivi mais uma daquelas cenas de novela das nove. Ele estava online. E agora o que fazer? Acho que demorei uns dez minutos para decidir se chamava ou não ele...

Oi!

Diana?! Td bem? Que bom falar com você.


Se era bom, significava que eu ainda tinha alguma importância né? Mas e se for só educação?

Como vão as coisas aí em Londres?

Aqui está tudo ótimo. Melhor estraga.


Eu sabia!!! Ele tinha arrumado outra. Tenho certeza!!! Pedro desandou a falar do curso, dos novos amigos, dos negócios... mas nada de falar da gente. Perguntou sobre a minha viagem para Cartagena porque tinha visto algumas fotos na internet e disse Que ficava feliz em saber que eu estava bem. Não tão bem como ele imaginava, mas...
Ele encerrou nossa conversa porque disse que os amigos o esperavam para uma festa em um pub.

Como eu fui idiota, tive por cinco minutos a oportunidade para declarar a minha saudade e a vontade de pegar um avião para Londres, mas não tive a coragem. Eu queria me matar, claro!!! Percebi que a dorzinha queria voltar, mas não deixei. Chutei o orgulho pela janela e escrevi um email para o Pedro.

“Pedro,
Como você me conhece mais do que ninguém, vai entender que sou uma boba. Estou te escrevendo para dizer que estou morrendo de saudades de você e que você faz muita falta por aqui. Espero que realmente tudo dê certo para você aí e saiba que estou aqui... te esperando se você achar que ainda vale a pena esperar. Não demore tanto para mandar notícias ou sou capaz de te surpreender num pub desses qualquer dia. Beijos de quem te quer tão bem, Di”


Enviei sem pensar, sem respirar e sem olhar também. Era tudo ou nada. Agora era só esperar para saber se ele ia me responder dizendo que estava morrendo de saudades e me questionando sobre por que eu estava esperando tanto para surpreendê-lo num pub qualquer ou se ele me diria que eu não deveria perder o meu tempo esperando por ele e nem gastar o meu dinheiro indo para Londres porque a gente já não existia mais. Resolvi esperar ansiosa pela primeira resposta.

PAPO DE CALCINHA: JÁ SENTIU DOR DE SAUDADE? CONTE PARA GENTE.