quarta-feira, junho 27, 2012

O CASAMENTO DO MEU EX



POR LETÍCIA VIDICA

Acordei, ou melhor, saí da cama porque eu não tinha conseguido pregar o olho a noite inteira. Eu fiz de tudo para esquecer que dia era aquele, mas era humanamente impossível esquecer que aquele era o dia do casamento do Pierre. Tudo parecia um sonho ou um pesadelo. Eu ainda não acreditava que ele ia realmente casar com a Olívia.

- Bom dia, gata! Como você está?

Pressentindo como eu estaria, as meninas baixaram lá em casa logo cedo e até trouxeram o café da manhã.

- Gente, eu não estou nada bem. Estou péssima. Tenho que confessar. – eu dizia me jogando de pijamas no sofá.

- Pois não devia. Não se esqueça que foi você mesma quem entregou ele de bandeja para
a Olívia. – era Betina, como sempre, me trazendo à realidade.

- Eu sei, Betina. Eu não tive escolha. Não tive saída. E vocês bem sabem que eu não quero ficar com ele ...

- Então, levanta essa cabeça, sai desse sofá e vamos dar uma volta. – dizia Lili.

- Lili, você não vai ao casamento? – eu perguntava retomando a consciência do nosso plano de vigiar o casamento do ex.

- Claro que eu não vou. O Tavinho vai sozinho mesmo. – respondeu com naturalidade.

- Tá ficando louca?! – sacudi Lili para ela relembrar nosso plano - Você vai sim e não se esqueça de nos atualizar minuto a minuto sobre cada detalhe da cerimônia e do casamento.

As meninas ainda tentaram me convencer a desistir dessa idéia, mas eu precisava de uma olheira amiga no território alheio.

***

- Diana, eu ainda acho que isso é loucura. – dizia Betina, tentando me fazer desistir da idéia de espionar a cerimônia atrás da moita – Já não basta a Lili na festa?

A contragosto, carreguei a Betina comigo até a porta da igreja. Detalhe: fomos à caráter e bolamos a péssima idéia de, no caso de sermos flagradas, dizermos que estávamos indo a uma festa de formatura. Eu sabia que era loucura, mas eu só ia acreditar que não era um sonho se visse com meus próprios olhos o Pierre entrando naquela igreja. Ficamos à espreita do outro lado da rua.

- Diana, isso é loucura. É piração! Vamos embora. Alguém pode nos ver...

- Eu não arredo o pé daqui... olha lá... é ele, é ele... achei que ele ia desistir na última hora sabia? – suspirei ao constatar com meus olhinhos o Pierre entrando na igreja ao lado da minha ex-sogrinha. Ele estava bem bonitão, aliás.

Com a ajuda de um binóculo, vimos a entrada do Pierre, dos padrinhos e da noiva... a Olívia, mesmo barriguda, estava muito bonita. Vimos tudo de camarote.

- Agora, podemos ir embora. Estou convencida de que o Pierre fez a escolha mais sensata. – eu dizia quando percebi que os convidados começavam a sair da igreja.

- Diana, vai te entender hein?

Quando voltamos para o carro, fomos surpreendidas por um imprevisto. O pneu do meu carro estava furado. E as únicas vivas almas que poderiam nos ajudar eram os convidados do casamento do Pierre. O posto mais próximo estava longe e a bonitona da Lili fez o favor de desligar o celular. E agora?! Antes que tentássemos uma saída pela culatra, fomos novamente surpreendidas pelos pais do Pierre que haviam parado o carro próximo ao nosso. Que infeliz coincidência!!! Imagina a minha cara de tacho?

- Diana?! Que bom te ver , minha linda. – abraçava-me a minha ex-sogrinha. – O que faz por aqui? Veio para o casamento? – perguntava como quem havia decifrado facilmente o meu plano totalmente falível.

- Casamento? Que casamento? ! – desbaratinei.

- Do Petico. Não teve jeito. Casou. Mas você bem sabe o que eu acho daquela golpista ... – declarava sua opinião sussurrando ao meu ouvido.

Enquanto eu tentava me desvencilhar daquela cilada, mais e mais convidados foram se aproximando do burburinho. Eu não sabia onde enfiar a minha cara. Era visível que eu estava ali espionando. Eu nem sabia o que dizer. E, quase enfartei, quando o Pierre se aproximou. Ele me olhou sem graça, mas deu um sorriso aliviador e de quem havia adorado a minha idéia.

- Filho, olha que surpresa boa!! Venha aqui ajudar as meninas com o pneu...

- Não, pelo amor de Deus – eu impedia – já liguei para o seguro (mentira!!). Você vai se sujar. Sua noiva está te esperando... – eu disse tentando impedir que o Pierre arrumasse o meu pneu e antes que a Olívia se desse conta da minha presença. Tudo bem que ela foi gentil, mas o casamento era dela né?

- Não é nada, Diana. Troco isso num segundo. Você já me ajudou tanto ... – dizia ele lançando aquele olhar malicioso de quem acabara de lembrar da noite da despedida de solteiro.

Depois de muito fuzuê, só consegui desvencilhar todo mundo quando a Lili apareceu e o Tavinho se dispôs a me ajudar. Porém, quando achei que o inferno tinha acabado, a minha ex-sogra lançou a brilhante idéia de me convidar para a festa. E ela só arredou o pé dali quando prometi que ia aparecer.

- Gente, que enrascada eu me meti!!! – eu dizia andando de um lado a outro da rua.

- Eu avisei! E agora? Vai aparecer com a cara lavada na festa? – criticava Betina enquanto acendia o quinto cigarro para não me dar uma surra pela loucura.

- Não sei o que fazer, Betina. E você viu o Pierre? Achando graça e concordando com essa idéia maluca da mãe dele? Ele é imaturo mesmo... – acho que, nessa hora, eu já transpirava de nervoso.

- O cara casa, você aprova, depois vem espionar e ele que é imaturo? – era Luis
Otávio que se intrometia. Tive que concordar com ele.

***

Pneu consertado, partimos para a festa. Não tive saída. Quando entrei no salão, percebi que todos ficaram boquiabertos com minha presença. E, surpreendemente, Olívia foi a primeira a me receber:

- Que bom te ver aqui! Isso prova mais uma vez que você realmente é uma mulher admirável. – ela dizia.

- Olívia, não foi a minha intenção! Eu ...

- Não precisa dizer nada... você é muito bem-vinda viu? Fique à vontade!!

Mais uma vez, pasmei com a atitude dela. Se fosse eu, acho que teria pedido para os seguranças me retirarem. Sentei em uma mesa e fiquei paralisada. Ainda não acreditava que, depois de ter sido a despedida de solteiro do Pierre, eu ainda estava na festa de casamento?!

- Gente, pede pro garçom uma bebida bem forte! E depois prometem que vão me internar?
Ainda não acredito que eu estou aqui.

Tomei alguns drinques para me acalmar, mas nada adiantava. Resolvi ir até o banheiro para respirar melhor. Enquanto eu respirava fundo encostada na pia, fui flagrada pela Dani, namorada do Digão.

- Diana?! Você está bem? Tá pálida!

- Eu estou bem sim. Foi apenas um mal estar. – menti

- Se eu não tivesse visto com meus olhos, não acreditaria que você está aqui... que idéia foi essa, mulher? Corajosa hein?

Eu não estava afim de confessar o meu plano para a Dani, então desbaratinei e corri para o jardim do salão para tomar um ar. Quando achei que estava em território seguro, como um passarinho, Pierre se aproximou de mim...

- Não sabe o quanto eu estou feliz por ter você aqui...

- Pierre?! Volta lá para dentro. A Olívia está te esperando...

- Eu só queria te agradecer mais uma vez. – dizia ele se aproximando um pouco demais de mim.

- Não tem que me agradecer por nada. – eu me afastava para não cometer mais uma loucura – Por sinal, a sua festa está linda e eu já vou embora.

- Fica? – dizia Pierre puxando minha mão.

- Ficar para quê? Eu já nem sei o que eu estou fazendo aqui ... não tem mais espaço para você na minha vida e nem na sua para mim. Acabou! Essa é a sua nova vida, Pierre. Seja feliz nela.

- Daria tudo para que fosse você vestida de branco lá no altar ao meu lado.

Golpe baixo!!

- Não diga isso. Você tem uma grande mulher ao seu lado ...

Pierre ousou se aproximar de mim mais uma vez, mas fomos flagrados pela Olívia. Achei que dessa vez ela me arrancaria da festa pelos cabelos, mas novamente agiu com elegância.

- Meu amor, é hora da valsa... da nossa dança! Vamos lá? – ela disse estendendo as mãos para ele.

Pierre se recompôs, deu o último gole no espumante, se despediu com os olhos e seguiu para a dança deles. Naquele momento, voltei à realidade e, mais uma vez, constatei que era a dança deles, não a nossa. E que eu não queria que a dança fosse nossa. Entende? Eu não queria ser a Olívia naquela noite. Naquele momento, me bateu uma saudade imensa do Pedro.

- Diana? Diana? DIANA???? – berravam Lili e Betina.

- Tá tudo bem? – perguntava Lili

- Eu estou ótima. Melhor não poderia estar. – eu confessava com sinceridade, mas minhas amigas me olhavam com espanto. Aposto que acharam que eu havia enlouquecido.

- É hora de partir, meninas. Acabou! Agora, acabou de vez.

Sem entender nada, as meninas concordaram com a idéia e, aproveitando a euforia dos convidados com a valsa dos noivos, saímos sem sermos notadas.

- E o Luis Otávio? – perguntei, já no carro.

- Aquele ali é um arroz de festa. Quis ficar, claro. Mas eu não podia te abandonar nessa hora tão difícil, amiga. – dizia Lili.

- Obrigada, amiga, mas eu estou bem. Como nunca estive. Agora acabou de vez mesmo. – eu dizia olhando os carros passarem pelo vidro e rindo aliviada.

- Diana, eu espero que essa sua loucura passe logo. Olha, essa vai ser mais uma daquelas noites malucas ao lado de vocês.- dizia Betina.

- Meninas, vocês podem achar bobeira o que eu vou dizer, mas talvez o Pierre tenha achado a mulher da vida dele. E não sou eu. Ver o Pierre ali naquela situação, casando só me fez afirmar ainda mais que a nossa história acabou e que eu gosto mesmo é do Pedro. A Olívia vai fazê-lo feliz, eu sei disso.

Betina e Lili ficaram me olhando com cara de quem não havia entendido nada, mas eu falava a verdade. Para mim, aquele casamento encerrava a nossa história. Pelo menos, por enquanto ...

PAPO DE CALCINHA: O QUE VOCÊ ACHOU DA LOUCURA DA DIANA? ACHA QUE AGORA ELA ESQUECE DO PIERRE DE VEZ? JÁ PASSOU POR ALGO PARECIDO?

domingo, junho 17, 2012

GAROTA IPHONE



POR LETÍCIA VIDICA


- Olha, eu estou pegando a minha bolsinha e estou indo embora. Cansei de tentar fazer vocês prestarem atenção em mim, tá legal? Fui vencida por esses bichinhos virtuais...
– eu bufava e ameaçava ir embora, puta porque Lili e Betina não paravam de mexer nos celulares na mesa do bar do Pedrão.

- Pode falar, Diana!!! Sem estresse! Eu só estou respondendo um email de um cliente. – dizia Betina não ligando a mínima para a minha reclamação.

- Você não vive dizendo que seu expediente é em horário comercial?! Por que atender cliente às onze horas da noite de uma sexta-feira?! E você, Liliana, que tanto posta nesse facebook? Que tanto fica dando check-in, dizendo onde está, o que está comendo... pra mim, já deu!!

Surtei geral. Confesso que eu já não estava num bom dia, mas há tempos essa dependência das meninas pelo celular andava me irritando. A Betina, de uns tempos para cá, não largava o novo Iphone dela. Arranjava motivo para tudo só para olhar o email do trabalho, atender cliente remotamente, pesquisar processos... tudo bem, se ela não fizesse isso toda vez que estávamos juntas. A Lili, depois que ficou fera nos aplicativos, vivia se exibindo nas redes sociais. Arrumava motivo em qualquer coisa só para acessá-los. Era para dizer onde estava, para localizar algo, para tirar fotinho...

Eu nunca fui fissurada por tecnologia. Só aceitei ter um rádio porque fui forçada pelo meu querido chefe, mas o meu celular ainda era daqueles bem fora de moda sabe?

***
- Rita, acho que chegou alguma encomenda errada para mim. Eu não comprei nenhum celular novo!!! – eu dizia encucada com a caixa de Iphone, que encontrei em cima da minha mesa logo quando cheguei ao trabalho.

- E aí, Diana, o que achou do seu novo acessório de trabalho? Gostou da surpresa? – dizia Fred, meu chefe, todo feliz em me inserir no mundo dos smartphones.

- Isso é para mim? – desdenhei. Era tudo que eu não precisava no momento.

- Como ISSO??!!! Isso é um Iphone. A melhor invenção de todos os séculos. E é inadmissível que publicitários, como nós, continuemos fora disso. A partir de agora, ele será sua nova ferramenta de trabalho.

Fred terminou a frase como um político termina seu último discurso antes das eleições
– convicto de que será o vencedor. E eu fiquei com cara de bunda ao final. Nem aplaudi. Porém, o pessoal da agência pirou no meu novo aparelhinho. Poxa, eu estava tão feliz com o meu tijolinho...

- Fred... acho que não será necessário mais um aparelho. O rádio já me satisfaz.

- Jamais!!! Não aceito devolução e pode ficar tranquila que as contas serão pagas pela agência.

Pelo menos uma vantagem em tudo isso né? Porque as desvantagens de ter um aparelho da empresa iam ser muitas.

***

- Podemos entrar ou ainda está de mal da gente?

Essas eram Lili e Betina que chegavam abraçadas a pizzas e cervejas como um pedido de desculpas.

- Podem entrar. Fiquem à vontade. Estou terminando de enviar um relatório ... – eu disse me agarrando ao meu novo bichinho virtual, quase meia-noite de uma sexta-feira, enviando um projeto.

- Como assim?! Você quase mata a gente e agora está aí de Iphone? Mas a língua é mesmo maldita né? – ironizava Betina.

- Se eu pudesse, eu jogava isso pela janela. Isso aqui é o meu mais novo instrumento de trabalho. O Fred inventou um blábláblá de que publicitários não podem viver sem isso...

- Ele está certíssimo!!! – vibrava a tiete do Steve Jobs, Lili.

- OK se eu tivesse continuado tendo vida depois que esse bichinho entrou na minha vida... agora tudo é motivo para ver email, fazer teleconferência, mandar projeto... eu não vivo mais!!!! Mal consigo dormir!!! O Fred não para de me encher com isso...

Mal terminei de falar no meu querido chefe e ele me chamou no rádio cobrando deadline do projeto. Isso já é demais não é? Além de eu trabalhar de casa, não ganhar um real a mais por isso, ainda sou cobrada para ser mais rápida no envio?

- Acho que nem se um detetive estivesse me seguindo, eu me sentiria tão perseguida. – eu bufava e me rendia a um pedaço de pizza de mussarela.

- Calma, Diana. Tempos modernos. Isso é apenas mais um ônus do seu bônus. Crescer profissionalmente tem dessas coisas viu? – dizia Betina parecendo minha mãe quando me recrimina por ter crescido.

- Mas tudo tem seu lado positivo, aposto que você vai se amarrar nos aplicativos.

]Para me alegrar e me viciar, Lili passou a madrugada toda me ensinando tudo sobre os aplicativos, programas e todas as funções do celular. Mais uma vez, paguei minha língua. Fiquei fascinada e viciada naquilo.

***

- O que acha desse produto, Diana? – perguntava Fred em meio a uma reunião.

- O quê? – respondia dispersa. Eu não estava atenta a reunião porque não conseguia parar de jogar em um aplicativo novo do Iphone – algo como imagem e ação.

- O projeto que eu te enviei? – questionava ele.

- Você não me mandou nada, Fred. Não tinha email na minha caixa postal.

- Te mandei um link pelo celular ontem. – respondia ele rispidamente.

- Ontem?! Domingo?!

Fred me fuzilou como seu eu tivesse cometido o maior pecado do mundo porque não abri o bendito link em pleno domingo. Alguém pode lembra-lo de que domingo é dia santo? É o dia em que até Deus descansou?

Ao final da reunião, preparei os meus ouvidos para a bronca.

- Diana, nunca mais faça isso!

- O que eu fiz, Fred?

- Eu te mando um projeto importantíssimo, você não vê e me deixa com cara de pateta na frente dos nossos clientes? – bufava ele.

- Desculpe, Fred. Ontem, eu tive um compromisso pessoal, aliás, só para lembrar eu tenho vida pessoal. Achei que não teria problema se você me enviasse isso na segunda, ou melhor, hoje durante o meu horário de trabalho.

- Foi justamente por isso que te demos o Iphone. Para que possamos localizá-la e resolver as pendências fora daqui.

- Tudo bem. Só faltou você dizer que também vai pagar esse adicional a mais né? Por que se for para fazer de graça, eu devolvo agora mesmo o aparelho e com muito prazer.

- Também não é assim. – recuava ele.

- É assim sim!!! Desde que você inventou essa história de Iphone comercial, eu não tenho mais vida, Fred. Não tem mais dia e hora. Você não quer que eu descanse um minuto sequer? Calma! Quando esse troço não existia eu trabalhava tão bem quanto agora não é mesmo?

Joguei as cartas na mesa, inclusive correndo o risco de terminar a noite no departamento pessoal. Porém, o Fred foi sensato e percebeu que estava pegando pesado, mas não quis fazer o favor de levar o Iphone. Tive que aprender a conviver com ele assim mesmo.

***

- Você não falou que ia devolver o aparelho?

- Eu adoraria, Betina, mas você acha que meu chefe deixou? Falando nele ... tava demorando para ele me chamar...

- Nananinanão. – brecava Lili – A gente não prometeu que não íamos mais tocar nos celulares quando estivéssemos juntas?

- Mas, Lili, pode ser importante... – eu respondia tentando tirar o Iphone da mão dela.

- A Lili tá certa. A gente cumpriu nossa promessa, agora é a sua vez.

Não teve jeito. Tive que me render a elas. Afinal de contas, eu tinha sido a primeira a levantar a bandeira de que a vida é melhor sem esse aparelhinho. O problema é que, quando fiz isso, eu ainda não tinha me tornado uma garota Iphone – totalmente dependente desse brinquedinho... espero que a associação de dependentes de celulares anônimos ainda tenha alguma vaga em aberto. Acho que vou precisar deles!

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ É UMA VICIADA EM CELUARES? CONHECE ALGUÉM ASSIM? ACHA POSSÍVEL VIVER SEM ELE POR ALGUNS 'MINUTINHOS'?

segunda-feira, junho 11, 2012

DESPEDIDA DE SOLTEIRO



POR LETÍCIA VIDICA


- Ué, Lili, você não ia sair com o Tavinho hoje? – eu perguntava enquanto tomávamos nosso choppinho de todas as sextas.

- Vocês não vão acreditar. O Tavinho foi numa despedida de solteiro...

- E qual o problema nisso? Quem sabe assim ele não toma juízo e casa logo com você – brincava Betina.

- Tô falando sério, gente. A despedida de solteiro é do Pierre. Acreditam que ele teve a cara de pau de convidar o Luis Otávio para o casamento?

Engasguei com o chopp e a coxinha.

- E desde quando eles são amigos? – assustou-se Betina também.

- Eles andaram se encontrando numas baladas aí.

- E quando ele vai casar? – perguntei rapidamente esperando o golpe mortal.

- Semana que vem. Mas, fica tranqüila, que eu não vou e nem vou deixar o Tavinho ir.

- Duvido que ele não vai. Ele já sabe disso?

- Bem, Betina... ele disse que vai mesmo sem mim.

- E claro que você vai, Lili. – eu dizia. Era essencial ter um aliado no território inimigo.

Terminamos a noite bolando planos infalíveis e, até engraçados, sobre como espionar o casamento do Pierre com a Olívia Palito.

***

Acordei no meio da madrugada com a impressão de quem alguém berrava meu nome. Achei que era apenas um sonho, mas o eco estava cada vez mais forte. Foi quando meu interfone tocou e o Seu José, o porteiro, confirmou a minha desconfiança. O Pierre era quem berrava na portaria do prédio. Desci num pé só, ainda bêbada de sono.

- Você ficou louco agora? Quer que eu seja despejada? – dizia irritada para o Pierre que estava visivelmente bêbado e cercado pelos amigos que pareciam impedir aquela cena patética.

- Diana, eu preciso falar com você...deixa eu subir!! – ele dizia tentando se desvencilhar dos braços do Digão e tentando me agarrar.

- Desculpa, Diana. Não deu para impedir. – dizia Digão – Ele insistiu muito e, antes que ele enfiasse a cara no poste, a gente teve que acompanhar.

- E onde ele estava? – perguntei preocupada.

Todos se entreolharam tomando coragem. Quem seria o primeiro a confessar que aquela era uma das últimas noites de solteiro dele?

- Olha, antes que eu vire assunto na próxima reunião de condomínio, me ajudem a levá-lo lá pra cima.

Os meninos me ajudaram a levar o Pierre até o meu apartamento e fiz todos prometerem que, assim que amanhecesse, alguém viria buscá-lo.

- Diana, eu quero você. Fica comigo. Eu te amo... – ele dizia entre um soluço e outro e um trançar das pernas.

- Pierre, tudo que você precisa agora é de um banho , cama e café forte.

Depois do banho, o Pierre desabou na minha cama. Fiquei olhando para ele sem acreditar naquela cena. Eu não acredito que eu salvei a bebedeira do meu ex-namorado na despedida de solteiro dele e que ele vai acabar essa noite aqui na minha cama!!! Não é possível. Só pode ser carma. Fiquei olhando o Pierre dormir feito um bebê e, antes que eu resolvesse deixar o tesão falar por mim e tará-lo ali mesmo, peguei um cobertor e fui dormir na sala.

***

Acordei com o Pierre sentado na minha frente com uma xícara de café.

- Pierre?! Que horas são?

- Toma, fiz para você! É o meu pedido de desculpas pelo papelão de ontem à noite. Não sei o que eu disse, o que eu fiz, como eu vim parar aqui...mas sei que caí em boas mãos.

- Você não se lembra de nada mesmo? – confirmei.

- Nadinha!

- Que pena! – ironizei. – Quer que eu refresque a sua memória?

Ao sinal positivo, contei sobre o papelão que ele aprontou na porta do meu prédio e como eu curei a bebedeira dele.

- Diana, me desculpe! Eu estou sempre te metendo em confusão né? – assumia ele sem jeito e mexendo nos cabelos, como sempre fazia quando ficava nervoso e sem-graça por algo.

- Digamos que sim. – oras, eu tinha que dizer a verdade (ando trabalhando com a sinceridade)

- Eu não queria que soubesse dessa maneira, mas eu me caso semana que vem. Não teve jeito. Mas você bem sabe que se você piscar, eu volto correndo.

Abaixei a cabeça sem graça (por quanto tempo quis ouvir isso, mas agora não surte efeito).

- Mesmo que eu piscasse, Pierre, as coisas não são mais tão simples assim. Existe um filho entre nós agora. Duas vidas que dependem de você.

- Eu sei disso, mas eu também não acho justo me enganar. Eu sei que não sou o cara que você pensou que eu fosse um dia... sou confuso, inconstante... te traí... mas você não pode duvidar de uma coisa... eu te amei muito, acho que ainda amo... mas não posso estragar a sua vida como fiz com a minha. Talvez ficar com o Pedro seja a melhor coisa que você faz da sua vida.

Pela primeira vez, ouvi algo sensato da boca do Pierre. Não é que a paternidade muda mesmo as pessoas? Ele se aproximou de mim, pegou nas minhas mãos, fomos nos aproximando e deixei me levar. Nos beijamos. Não me perguntem como e nem onde, só sei que transamos. Ok, ok... podem me fuzilar. Isso não significa que eu ainda goste dele, mas significa que é coisa de pele. Eu não consigo controlar os meus instintos quando ele se aproxima. Porém, fomos chamados à realidade,quando o celular dele tocou e percebi que era a Olívia.

Pierre foi para a sacada e pude ouvi-lo dizendo que já estava chegando em casa. Me senti péssima. A que ponto eu cheguei? De namorada a amante? Não podia ser assim.

- Adorei te ver, Diana. – ele disse tentando me dar mais um beijo, mas me esquivei enrolada no lençol.

- Acabou, Pierre. De verdade, acabou. Isso não está certo. Vai para sua casa, volta para Olívia.

- Mas... eu achei...

- Mas nada e não ache nada. Seja muito feliz ou, pelo menos, faça essa criança e a Olívia feliz ok?

Virei as costas e fui para o chuveiro. Quando saí, ele não estava mais lá. Eu, obviamente, caí em prantos no sofá da sala.

***

Depois do pranto, caí no sono. Afinal, eu nem tinha dormido direito na noite passada. Na melhor parte do sono, fui acordada (novamente) pelo Seu José, o porteiro. Meu coração gelou quando ele disse que a Olívia estava lá embaixo. ‘Minha Nossa Senhora, o que ela quer?’

- Oi, Olívia!

- Posso entrar?

Mesmo que eu dissesse não, aquela barriga de oito meses já estava praticamente na minha cozinha. Pedi que ela sentasse, ofereci uma água, mas ela não quis nada. Era visível que tanto eu quanto ela estávamos nervosas. Pela primeira vez, a gente se encarava assim – a sós – e frente a frente. Depois de um silêncio mortal, ela desandou a falar.

- Eu vim aqui porque sei que o Pierre veio te procurar. Sei que ele passou a noite aqui.

Gelei. Pronto. Agora, ela ia sacar uma arma e me matar. Já vi isso em vários filmes. Mas, peraí, como ela sabia disso?

- Ninguém me contou nada. Eu segui o Pierre... a noite toda.

- Seguiu? Como assim? Com essa barriga? – essa mulher só pode ser louca.

- Eu vi quando ele veio berrar na porta do seu prédio. Vi o quanto ele gosta de você ainda. Adoraria que ele gostasse de mim
desse jeito. Eu sei que ele só vai ficar comigo por causa da criança...

- E você quer ele mesmo assim? – gente, cadê a auto-estima dessa mulher?!

- Eu não quero ficar sozinha. Eu só vim aqui para dizer que eu nunca tirei o Pierre de você. Aconteceu. Ele sempre foi muito claro. Sempre disse que te amava, que você é a mulher da vida dele, mas que ele jamais será o seu homem...

Eu estava passada. Ele disse tudo isso mesmo ou ela está blefando?

- Eu não estou te entendendo, Olivia. Se você sabe de tudo isso porque veio até aqui?

- Eu queria ouvir da sua boca se você ainda quer o Pierre. Se você quiser, eu termino tudo com ele. Mas se não quiser, eu vou lutar para fazê-lo o homem mais feliz do mundo.

Que sinuca de bico!!! Quanta pressão!!! O que eu ia dizer para uma mulher enlouquecida de amor, prestes a ter um filho, a uma semana do casamento?! Eu não podia simplesmente dizer ‘pára tudo’. Confesso que fui surpreendida novamente.

- Olívia, nem sei o que dizer. Mas já que está sendo sincera comigo, eu serei com você. Eu gostei muito do Pierre sim. Lutei para que a gente desse certo, mas eu não posso suportar a indecisão e a incostância dele. Já basta eu. Eu sou uma mulher que preciso de um porto seguro. E, graças a Deus, eu encontrei isso no Pedro. Essa noite, com o Pierre aqui, vi que entre a gente é coisa de pele. Ele está realmente longe de me dar tudo que eu sempre quis. Olívia, o caminho está livre para você. E faça isso. Faça ele muito feliz.

Olívia levantou e me deu um abraço. Incrivelmente, verdadeiro. E eu me senti mais aliviada. Não ia poder suportar o peso de uma vida por destruir uma família que nem começou.

***

- Eu estou PAS- SA – DA!! Como assim você foi a despedida de solteiro do Pierre e ainda virou amiguinha da Olívia?!! Diana, a sua vida tá melhor que a novela das nove. – dizia Lili.

- Nem eu acredito no que eu fiz e no que eu passei. Mas eu estou bem mais aliviada.

- Atitude nobre, amiga. Nem eu sei se seria capaz. – aplaudia Betina.

- Vocês queriam que eu fizesse o quê?

-Eu só quero saber se esse lance de coisa de pele é verdade ou é história para boi dormir.

- Não, Lili, é verdade. Quando eu vi o Pierre aqui todinho para mim, deitado na minha cama, fiquei excitada na hora. Um tesão
enlouquecedor. Mas depois que a gente transou, eu não senti aquela vontade de antes de ficar com ele para a vida inteira.
Passou!

- Tô de queixo caído!!! E que mulher de atitude essa Olívia não? – dizia Lilia

- Atitude?! Para mim, isso é obsessão. Rodar a madrugada inteira atrás do Pierre? E se ela parisse no meio do caminho?

- Se ela parisse, você seria a madrinha, minha amiga!!! – alfinetava Betina

Rimos para não chorar.

PAPO DE CALCINHA: O QUE VOCÊ FARIA NO LUGAR DA DIANA? APOIARIA O CASÓRIO? IA CURAR A BEBEDEIRA DELE? SE ALGUMA SITUAÇÃO PARECIDA JÁ TE ACONTECEU, DIVIDA COM A GENTE!!! :>)

terça-feira, junho 05, 2012

UM DIA DE FÚRIA




Por Letícia Vidica


Acordei assustada com a mistura do som estridente do meu despertador que berrava dizendo que eu estava atrasada e com a balada do toque do meu celular – era minha secretária me relembrando da reunião que eu teria com o meu cliente mais adorado (assim mesmo, com ironia) e me dando a péssima notícia de que a mulher do meu chefe tinha resolvido ficar doente justo naquela manhã. Resumo da ópera: eu ia aturar o nosso tão adorado cliente na apresentação daquele projeto.

Pulei da cama e, ainda sonolenta, travei uma guerra para encontrar o meu terninho da sorte. Onde será que a Cida colocou esse bendito terno? Eu não lembro de ter mandado para lavar. Ai, meu Deus! Não encontrei o meu tal amuleto e vesti qualquer roupa (o que não era bom sinal). Saí comendo uma bolacha de maisena murcha, bebendo um Yakult no elevador e tentando arrumar o meu cabelo no espelho do prédio, deixando (claro) a maquiagem entre um farol e outro.

***

Logo na porta, dei de cara com o congestionamento do bairro inteiro. Xinguei o folgado do filho do meu vizinho que insiste em parar o carro de qualquer jeito impedindo a minha saída, xinguei o carro da frente que andava feito lesma – Ô vida boa hein!!
Tem gente querendo ir trabalhar... –
e assim foi o caminho inteiro, xingando, buzinando e me maquiando. Sem contar nas milhares de ligações da minha secretária, Rita, me alertando sobre o meu atraso (caramba, eu sei que estou atrasada. Por que não me deram um helicóptero ao invés de um nextel?).

Senti de cara que aquele seria mais um dia daqueles. Quem disse que mulher é 100% emoção, errou feio. Somos 100% hormônios e não somente quando menstruamos. Pior. Somos dominadas pelos hormônios do mal que, do nada, resolvem atacar e nos trazem mais um dia de fúria. Um dia daqueles que você sente que pode matar uma pessoa, trucidar e outras maldades mais. Sem contar com a paciência zero...

... por falar nisso, foi assim que eu fiquei quando cheguei na garagem do prédio da agência e não encontrei uma bendita vaga.

- Senhora, você não pode deixar o carro aí – dizia o manobrista que lia o horóscopo no jornal e me recriminava (sem olhar na minha cara e sem se mover) porque eu tinha estacionado o carro no corredor central.

- O quê? Eu não posso parar aqui? Mas eu também não posso esperar. – eu dizia descendo toda descabelada. – Vai demorar muito para pegar a minha chave?

- Senhora, você não pode parar ai. Tem vaga no terceiro subsolo.

Senti o sangue ferver nos olhos, mas só não joguei o carro em cima dele porque ia demorar ainda mais e eu já estava atrasada. Transformei a garagem na pista de Interlagos e cheguei ao terceiro subsolo em cinco segundos. Enquanto eu xingava todas as gerações da família daquele manobrista, raspei meu carro na maldita pilastra da garagem. Não, não pode ser. O que mais me falta acontecer hoje?? Que merda que eu fiz. Incrível que quando você faz uma merda dessas, um batalhão de manobristas aparecem – não sei se é para te ajudar ou para ter mais uma fofoca para comentar na hora da janta.

***

- Dona Diana, a senhora está atrasada e o homem está uma fera. – era a desesperada da Rita me avisando pela qüinquagésima vez que eu estava atrasada.

- Eu sei, Rita. Não precisa repetir. E o Fred? Já chegou?

- Nada dele. Parece que vai demorar.

Como não ia ter jeito, respirei fundo e fui enfrentar os leões. Encontrei o chatonildo do Marcelo, o meu amado cliente (um sessentão que adora vestir as roupas do neto), andando todo posudo de um lado a outro. Sem contar nos olhares assustados e fuzilantes de toda minha equipe.

- Desculpem a demora. – disse

- Cadê o Fred? – perguntou ele.

- Bom dia para você também, Seu Marcelo. – retruquei – O Fred teve um incidente familiar e não deve chegar a tempo. Se o senhor não se incomodar, posso representá-lo. Afinal, sou a responsável por sua conta. Muito prazer! – eu disse esticando a mão a ele com todo cinismo do mundo.

Respirei fundo e comecei a apresentação. Falei feito uma gralha por meia hora e, ao final, apenas ouvi:

- Não gostei. – disse o velho metido a jovem.

- O quê? – acho que eu não tinha entendido direito – Existe alguma coisa que o senhor queira que a gente altere no projeto?

- Não sei. Só sei que do jeito que está não vai dar. Eu não gostei.

Como assim eu ralo meses para fazer um projeto decente para esse produto porcaria que eu nem sei se alguém vai querer comprar; enfrento um puta trânsito, bato o meu carro na garagem para ouvir simplesmente que ele não gostou porque não gostou?! Tá de brincadeira comigo né?

- Senhor Marcelo, o produto será lançado daqui a três dias. O senhor tem que me dizer o que não te agradou para que nós possamos alterar.

- Pois bem, menina. É exatamente por isso que contratamos vocês. – respondia ele ironicamente.

- Se deixarmos as coisas mais clean... seria uma boa para o senhor? – se intrometia uma das minhas funcionárias, a Susi.

- Isso, lindinha. Clean. Essa é a palavra. – respondia o barrigudo com jeito de quem mais queria comer a Susi do que tinha gostado da idéia dela.

Antes que eu respondesse e mandasse ele para as cucuias, o Fred chegou esbaforido. Percebendo o meu nervoso, ele colocou panos quentes no Marcelo, conseguiu tirá-lo da agência convidando-o para um almoço e prometendo que íamos entregar um trabalho mais clean. E eu? Claro que fiquei puta porque senti que aquele velho babão estava era mais travando uma guerra contra mim. E mais puta ainda eu fiquei quando fui surpreendida na minha sala pela ‘ingênua’ Susi.

- Pode falar, Diana?

- Entra, Susi. – respondi calmamente para não voar no pescoço dela.

- Queria te pedir desculpas por me intrometer daquele jeito na reunião. Quis te ajudar.

- Obrigada pela preocupação, Susi. Mas se você queria realmente me ajudar, deveria ter dado aquela idéia clean durante a elaboração do projeto. Você sabe muito bem que eu sou super aberta a novas idéias. Nunca proibi ninguém de me procurar e de
opinar. Mas eu sinceramente não entendi porque você ficou quieta o projeto inteiro, atrasou os prazos e agora quer salvar a pátria com a sua idéia clean?!

A garota me olhava com os olhos arregalados e ficou muda por alguns segundos pensando no que responder. Adorei deixar os meus hormônios falarem por mim. E, antes que os dela resolvessem falar também, o Fred entrou na sala.

- Podemos conversar, Diana? – dizia ele.

- Claro. Já terminamos de conversar, não é, Susi? – eu expulsava ela – E, ah, não esqueça que temos apenas três dias para uma idéia clean. – alfinetei.
Susi saiu com o rabinho entre as pernas e Fred sentou-se frente a mim. Cruzou os dedos, me olhou no fundo dos olhos e veio com aquela voz professoral.

- O que está acontecendo com você, Diana?

- Comigo?! Nada. Eu estou ótima. – era visível que eu estava péssima.

- Pode se abrir comigo. Sou seu chefe, mas também seu amigo. Sei que o Marcelo não é um cliente fácil. Ele é um pouco exigente, eu sei. Tenha paciência com ele.

- O problema não é ser exigente, Fred, mas sim desmerecer e desdenhar do meu trabalho sem motivo. Se ele estiver incomodado em ser atendido por uma mulher mais nova e que em nada parece uma mulher fruta, como a Susi, pode tirar a conta dele de mim. Será um prazer. – mais um hormônio respondia por mim.

- Nem me passa pela cabeça tirar isso de você. Você sabe que é a melhor publicitária que temos aqui. Acho apenas que você tem que ter jogo de cintura com ele e também com a sua equipe.

- Como assim, com a minha equipe? Alguém está descontente e eu não estou sabendo? – perguntei já desconfiando o nome do passarinho verde.

Antes que o Fred respondesse, meu celular tocou. Olhei no visor e vi que era minha mãe. Atendi porque ela estava insistente na chamada.

- Mãe, eu não posso falar agora... tá, mãe. Depois eu resolvo isso... eu estou em reunião. – com muito custo desliguei o telefone. Meu irmão tinha aprontado alguma, mas não dei tempo para ela me contar os detalhes. Eu já tinha coisa demais com o que me preocupar. – Continue, Fred.

- Não. Ninguém me disse nada...

- Pode ser sincero... eu quero saber... só assim poderei ser mais flexível com a minha equipe.

Fred confessou que a bocuda da Susi andava reclamando por ai que eu estava pegando no pé deles, que eu não aceitava as idéias deles e outras baboseiras mais. Senti o sangue borbulhar na veia. Porém, respirei, agradeci o toque do meu chefe, mas decidi resolver do meu jeito.

***

- Vai comer essa porcaria, Diana? – era Rita que chegava com o hambúrguer que eu tinha pedido de almoço na lanchonete da esquina.

- Estou sem cabeça e sem tempo para comer algo decente. O chatonildo me deu três dias para mudar o projeto, acredita? E ainda tenho que ter uma idéia clean. Tudo culpa daquela Susi melancia.

- Hmmm... a senhora bem sabe o que eu acho dela. Cuidado, viu? Ah, sua mãe ligou e disse para você ligar para ela urgente.

Eu já tinha esquecido completamente da ligação da minha mãe. Engoli o hambúrguer e tomei coragem para telefonar. Eu sabia que a parte dois do meu dia ia ser tão ruim quando a primeira.

- Oi, mãe!

- Se eu tivesse que morrer já tinha morrido né, Diana? – cobrava pelo atraso da ligação.

- Pois vejo que não morreu. Está vivinha da silva. Diga.

- O seu irmão...

- O que ele aprontou dessa vez?

- Foi mandado embora ontem, chegou de madrugada cheio de pinga na cabeça e a Dona Lourdes veio me dizer que ele está andando com
uns caras vagabundos da rua debaixo.

- E o que eu posso fazer?

- Como? Você tem que falar com ele.

- Eu?! Tá de brincadeira, mãe! Eu estou cheia de problemas de verdade para resolver no trabalho e a senhora vem pedir para eu dar bronca naquele vagabundo? – disse brava.

- Não fale assim do seu irmão.

- Vagabundo sim. Por essa sua atitude é que ele está do jeito que está. Desculpe, mãe, mas dessa vez eu não vou me meter.

- Diana, Diana...

- Beijo mãe!

Desliguei o telefone fula da vida. Se o meu irmão tivesse tido metade da responsabilidade que eu tenho, aposto que ele não estaria assim. Mas meus pais quiseram mimá-lo. Deu no que deu.

***

- Pegou pesado, hein, chefinha. Reunião a essa hora? – reclamava o Beto, um dos caras da minha equipe.

- É, Beto. Sinal de que a coisa está feia. Cadê a Susi? – reparei que ela não estava lá.

- Ela disse que tinha um compromisso. – respondeu a outra.

- E sai assim sem me avisar?! Ela sabia da reunião. Ritaaaa.... – berrei e todos me olharam assustados.

Fiz a Rita ligar para a bonitona e ela teve que dar meia volta na garagem e me engolir naquela reunião. Falei sobre o nosso prazo apertado e sobre a mudança da idéia.

- Clean? Quem foi o gênio que resolveu isso? – perguntava o Beto. – A gente vai levar, no mínimo, uma semana para fazer isso.

- Não seja pessimista, Beto. Vamos ser otimistas, assim como a Susi...afinal a idéia é dela. Três dias são suficientes para isso, não é mesmo?

- É, bem... eu não sabia... – gaguejava a geniazinha, tomando conhecimento da merda que ela tinha feito.

- Olha, a gente não tem tempo a perder. Então, conto com a colaboração de vocês. A partir de hoje, teremos que esticar o horário para cumprir o prazo. E eu gostaria de nomear a Susi como supervisora desse projeto. A idéia dela foi de grande utilidade para nós e tenho certeza que ela sabe como fazer. Tenham uma boa noite!

Susi me olhava espantada e todos fuzilavam ela. Não bancou a espertona querendo desbancar a todos? Agora te vira, negona!
Fui para minha sala e, ao sentar na minha mesa, percebi que não estava bem. Comecei a sentir uma tontura, dor de cabeça , mal estar. Resultado: saí de ambulância do escritório para o hospital. Tive uma crise de stress, ou melhor, de hormônios.

***

- Se queria se matar, Diana, era só me avisar que eu te jogava da ponte Estaiada. – essa era Betina que aparecera no hospital para me acompanhar.

- Bê, eu não estou em momento de broncas, tá legal?

- Mas precisa ouvir umas verdades, sim. Você não vai salvar o mundo e o seu salário não paga a sua vida. Por isso, para e
respira ok?

Betina estava certa. Olha onde eu tinha ido parar por causa do Marcelo, da Susi, do projeto clean, do meu irmão e, principalmente, da minha teimosia em querer salvar o mundo e deixar os hormônios me dominarem? Terminei a noite no soro e com uma injeção sossega leão na bunda. Pois é, bem feito... para mim! Mas confesso que, ufa!!, foi um dia aliviador. Só peço, hormônios queridos do meu coração, que mandem um SMS da próxima vez para anunciar a chegada.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ TEVE UM DIA DE FÚRIA? DEIXOU OS HORMÔNIOS FALAREM POR VOCÊ?