terça-feira, maio 21, 2013

O RETORNO - PARTE II

POR LETÍCIA VIDICA


- E aí, Diana, vamos ou não vamos? – gritava Betina da minha varanda enquanto acendia mais um cigarro.

- Gente, eu não sei se é uma boa ideia ir a esse churrasco. – eu tentava voltar atrás enquanto retocava a maquiagem no espelho da sala.

- E entregar o bonitão assim de bandeja? Não esquece que a Globeleza vai estar lá hein? – era Lili quem me chamava para briga.

- Eis o meu problema, meninas. Eu não sei se quero comprar essa briga sabe? Talvez seja melhor eu dizer que eu estou com dor de cabeças...daí eu marco algo mais intimista ... só eu e o Pedro...

Antes que eu concluísse o meu raciocínio de desistência, o meu celular vibrou. Era uma mensagem do Pedro. Você não vem? Estou te esperando. Bjs. O apelo foi mais forte e eu não pude resistir. Batom retocado e cabelo arrumado partimos rumo ao churrasco de boas-vindas do Pedro na casa do David.

Fui o caminho toda muda e calada, sem conseguir prestar atenção no que as meninas falavam. Eu estava com o pensamento distante, a barriga revirando com uma invasão de borboletas e as mãos frias e suadas só de imaginar o que me esperava. E se eu descobrisse que o Pedro estava ainda com a Globeleza? E se for para anunciar o noivado deles? E se...?

- Acorda para vida, gatona. Chegamos. Respira fundo, cabeça erguida e simbora pro ataque! – esse era o comando da Betina que empurrava para fora do carro.

Tocamos a campainha e o barulho das vozes indicava que a festa estava bombadinha. Aqueles foram os três minutos mais infernais da minha vida.

- Uauu!!! Tem certeza que vieram na festa certa? A gente merece tudo isso? – era David que abrira o portão e já soltava o seu xaveco de feirante – Pedrãooooo... três preciosidades te procuram. Entrem meninas fiquem à vontade.

Ób-vio que essa entrada triunfal chamou a atenção da galera que ficou olhando para gente. Alguns curiosos e outros com olhares fuzilantes como o da Kamilla que pude perceber à distância.

- Que bom que vocês vieram!!! Achei que tivessem desistido – esse era Pedro, cordial como sempre.

- Eu?! Liliana Bittencour desistir de uma festinha? Jamais!

- Comida, bebida e música de graça estamos sempre dentro – brincava Betina.

- Venham, entrem meninas! – Pedro puxava minha mão e me arrastava salão adentro – Nem preciso te apresentar o pessoal ne? Você já está mais que enturmada. – hello, O QUE FOI ISSO? – Vou buscar uma bebida para vocês.

Demos um oi geral para galera e nos instalamos em uma mesinha. Antes que eu pudesse me ambientar com aquela situação toda, a fofa da Juliana (namorada do David) se aproximou da gente.

- Diana, minha linda!!! Que bom te ver aqui... – ela dizia me dando um abraço daqueles de quem não se encontra há trinta anos.

Apresentei as meninas, enquanto ela foi se sentando na nossa mesa.

- Você está bem? Nunca mais nos encontramos. Você sumiu ne?

Opa, qual foi o capítulo da história que a Juliana perdeu?

- Lindoooonaaaa... que bom te ver! – essa era a Telma que se aproximara da mesa e me dava um beijão na bochecha. – Prazer,
meninas, Telma. Desculpem a ousadia, mas é que eu adoro essa menina. Desde a primeira vez que te conheci... eu falo pro Pedro que você é o melhor que ele podia ter arranjado.

Sorri sem graça, ainda mais porque ele se aproximava.

- Não falei que você nem precisava de apresentações? O que essas moças estão enchendo a sua cabeça aí? – perguntava ele enquanto segurava nos meus ombros. Que mãos!

- Falávamos de você... – alfinetou Betina.

- Eis o problema... pro bem ou pro mal?

- Sempre para o bem. – respondi e pensei alto.

Todos ficaram em silêncio por alguns minutos e o Pedro apertou os meus ombros com mais força como quem agradece pela resposta.
Porém, nosso sagrado silêncio e clima de romance no ar foi quebrado pelo requebrado da Globeleza.

- Ixiiii que burburinho é esse aqui? Diana?! Você ?! Nossa, eu não tinha te reconhecido – dizia ela me dando beijinhos falsos na bochecha e, aposto, esfregando o pandeirão no Pedro. - Olha, eu não quero cortar o clima, mas os meninos estão chamando o anfitrião da festa lá no fundo. Estão querendo começar o samba.

Samba?! Essa humilhação de novo não? Nessa guerra de samba no pé, eu já entro perdendo. Pedro pediu licença e tirou suas maravilhosas mãos dos meus ombros e entrou na casa. Kamiila seguiu atrás.

- Bem aproveitando a deixa, mas e aí, Diana...e você e o Pedro? Voltaram ou ainda estão no chove e não molha? – era Telma que fazia a pergunta difícil de responder.

- Nem sei o que dizer...somo amigos, eu acho. – respondi sem graça.

- Aposto que você voltam... já falei para o Pedro parar de enrolação... – revelava Telma. Opa, o que eles andaram conversando
sobre a gente?

- Olha, eu ainda vou comer esse bolo viu? – era Juliana quem reforçava a tese.

- Eu assino embaixo viu? – Lili completava.

- Se essa minha amiga não fosse tão mole, o casamento saía hoje... – ironizava Betina.

- Não seja por isso, vamos lá agora chamar o noivo...

Fomos freadas pelo David que viera buscar a gente para contemplarmos o samba. E, claro, que quando cheguei a Globeleza já estava dando o seu show no meio da roda. O Pedro batia no pandeiro e revezava olhar entre o couro do instrumento e os meus olhos.
Incrivelmente, a performance da Kamilla não consegui chamar a nossa atenção. Durante aquela uma hora de samba, percebi que a nossa conexão ainda existia e percebi ainda mais o quanto eu gostava dele e o quanto eu queria ele pra mim.

- Pedro, eu já vou indo. – eu me despedia dele enquanto o pessoal guardava os instrumentos.

- Mas já? Fica mais um pouco. Eu te levo para casa.

- Não precisa se preocupar, Pe. Curte a festa. Não quero te apressar.

- Que isso! Será um prazer.

- Se quiser ficar, Diana, eu estou indo para casa do Tavinho – dizia Lili.

- E eu vou me enfiar madrugada adentro numa pilha de processos. – completava Betina.

Diante do circo armado e a cama pronta, fiz o sacrifício de ficar. Pedro prometeu que só ia ajudar a organizar as coisas e já iríamos embora. Enquanto isso, fiquei na cozinha conversando com as meninas.

- Achei que já tivesse ido embora. – era Kamilla que entrara na cozinha. – Vi suas amigas se despedindo no portão.

- Eu ia, mas o Pedro pediu para eu esperar. Ele vai me levar para casa. – alfinetei

- Ah bom.

Percebi que ela engoliu a resposta a seco, mas vibrei por dentro.

****

- Adorei que você veio hoje sabia? – Pedro dizia enquanto entrávamos no carro.

- E por que eu não viria? – ele não precisa saber dos meus vários motivos.

- Verdade não tinha por quê. Bobagem da minha cabeça.

Ficamos em silêncio e nos olhando por um tempo.

- Posso te fazer um pedido? – perguntou ele.

- Claro! – será que eu ia realmente casar hoje?

- Estou com uma saudade do meu antigo apartamento topa ir comigo lá?

- Será um prazer!

- Tudo bem se eu só te devolver amanhã?

- Você me deve isso.

Pedro me olhou, sorriu, se aproximou, colocou os dedos entre os meus cabelos e me beijou. Quanta saudade daquele beijo. Re-selamos ali algo que eu achava que tinha me esquecido, mas que só estava esperando o momento certo para reacender. Partimos.

terça-feira, maio 14, 2013

O RETORNO

POR LETÍCIA VIDICA

- Olha só quem eu encontrei perdido aí na rua!!!

Nos assustamos com a gritaria do irmão que interrompeu o nosso almoço de domingo na casa dos meus pais. Quando levantei os olhos para ver o que poderia ser tão importante assim para aquele alvoroço (bem típico dele por sinal), meu coração parou. Fiquei gelada, depois meu corpo esquentou e meu coração voltou a bater descompassado. Era o Pedro. O perdido na rua era o Pedro que agora estava parado na minha frente e eu não sabia o que fazer.

- Meu Deus, mas que surpresa boa!! – dizia minha mãe dando um beijo na bochecha dele e um abraço apertado demonstrando todo o seu carinho italiano sufocador que ela tinha por ele.- Senta, meu filho, vou colocar mais um prato. – dizia minha mãe nem dando tempo para que ele negasse o convite. Afinal, negar comida em casa era um pecado.

- Tio Pedro!!! – eram os meus sobrinhos pestinhas que se jogavam em cima dele. Tio?! Ninguém avisou essas crianças que ele não é mais tio de ninguém?! Ou será?

Enquanto minha família sufocava o Pedro com perguntas e mais perguntas, entre um olhar e outro que ele me dava, percebi que talvez ser chamado de tio não era um pecado tão grande assim. Talvez ele voltasse a ser. Só sei que eu tive pouco tempo e coragem para dizer algo para ele.

***
- Desculpe a confusão lá de casa. Você conhece bem essa família. – eu dizia no portão enquanto nos despedíamos.

- Que isso, Diana! Você bem sabe que eu adoro a sua família. É quase a minha ne? – disse ele de sopetão, mas logo algo lhe chamou para a realidade – Mas e você? Parece que viu fantasma. Não está feliz em me ver?

- Eu?! Que isso... eu estou muito feliz que você está aqui. Nem parece verdade... – confessei

- Mas é. Estou aqui vivinho e de carne e osso. Olha só.

Pedro me abraçou fortemente e senti meu corpo todo arrepiar dos pés a cabeça. Sabe aquele abraço gostoso de urso que não dá vontade de soltar? Se eu tivesse um cronômetro, eu diria que passamos muitos minutos abraçadinhos, ouvindo nossas respirações e a batida dos nossos corações num beat acelerado.
- Chegou quando? Por que não avisou? – eu disse quando me soltei dele e pousei na Terra novamente.

- E onde fica a surpresa?

Realmente, eu tinha (quase) me esquecido que surpresa era um ponto forte dele. Fazia tanto tempo que eu não tinha uma boa surpresa. Pedro contou que aquela ideia de abrir uma filial no Brasil estava amadurecendo e que ele tinha vindo para cá acertar alguns detalhes. Se desse tudo certo, ele voltaria para o Brasil. Segundo ele, já não dava mais para ficar em Londres. Ele tinha muitas prioridades e pendências por aqui. Onde será que eu me encaixava. Nas prioridades ou nas pendências?

Nos despedimos porque ele ainda tinha que almoçar com a família e percorrer uma via crucis. Mas prometemos de nos ver na semana. Ele jurou de pé junto e dedo cruzado que me procuraria. E selou nossa despedida com mais um abraço de urso apertado e um olhar 43 que estremeceu toda a minha arquitetura.

***

Eu não preciso dizer que passei a semana toda esperando um contato dele ne? Não desgrudava do celular, ficava 24 horas online no Facebook, almoçava no escritório todos os dias para não deixar que o recado caísse na secretária eletrônica e ia para casa pontualmente para não correr o risco do porteiro interfonar e eu não estar lá. Mas já era sexta-feira e, mesmo com todos os meus cuidados, não tinha recebido nenhum sinal de Pedro. Bora jogar a toalha e desabafar com as amigas então. Sexta é sagrada.

- Vocês não vão acreditar em quem voltou? Ou melhor voltou não né... está por aqui. – eu fazia um suspense para as meninas no bar do Pedrão.

- Fala logo, criatura. Sem suspenses. – dizia Lili, a curiosa.

- O Pedro. Ele voltou! Apareceu na casa dos meus pais no meio do almoço de domingo.

Claro que as meninas ficaram passadas e animadas. Foram logo me enchendo de perguntas. O que ele tinha vindo fazer aqui, se a gente já tinha saído, por que eu não liguei para ele e blablabla.

- Calma, gente. Não posso meter os pés pelas mãos.

- Diana, calma?! Esse homem está a quilômetros de distância de você e quando ele volta dando uma esperança de que pode ficar aqui você quer calma?! Melhor cercar o peixe hein. Não esquece que a Globeleza tá solta na parada.

- E você acha que eu não pensei nisso, Betina? Quando ele não me deu nenhum sinal de vida na semana, a única coisa que eu pensava era nisso. Mas tenho que me conter. Eu preciso sentir o que o Pedro quer, se ele ainda me quer, o que eu sou para ele... pra variar, a nossa conversa no portão foi bem enigmática. Ele me tratou tanto quanto uma amiga querida de velhos carnavais ou tanto quanto uma futura amante. Não consegui decifrar.

- Nem precisa decifrar. A resposta vem aí. – dizia Lili.

Mais uma vez, meu coração parou quando olhei para trás e vi o Pedro, lindamente, se aproximar da nossa mesa.

- Ainda bem que nada mudou hein, meninas. Sabia que ia encontrar vocês aqui. Tudo bem?

- Daí que você se engana, meu bem. Tudo mudou. – brincava Betina.

- Senta aí, Pedro. Que ilustre presença. Vamos pedir mais uma para comemorar. – dizia Lili gritando para o garçom.

- Tentei te ligar, mas acho que acabou a bateria do seu celular. Daí, lembrei que hoje era sexta. Dia sagrado para o clube da
Luluzinha. – dizia ele.

- Nossa! É verdade... nem percebi que estava descarregado.- eu dizia ao conferir a tela apagada do celular. Idiota! Tanta precaução para ele te procurar justo no dia que o celular descarrega. Coisas da vida!

- Vai virar cidadão britânico quando? – perguntou Betina.

- Se depender de mim, nunca. Adoro aquela cidade, mas minha raiz é aqui. Não vejo a hora de voltar. – dizia Pedro olhando pra mim. Algum sinal?

- Nós também contamos com isso, não é Diana? – era Betina quem jogava a bola para mim.

- Cla-claro! Acho que já foi tempo demais, não acha? – o que foi isso? Uma cobrança? Que horror! – Mas está dando certo o seu
projeto no Brasil?

- Tudo caminha para isso. Se prepara porque você vai ter que me aturar novamente. – dizia ele passando a mão por cima do meu ombro e me dando um abraço apertado. Corei. E as meninas abafaram os risinhos.

- Mas e vocês, garotas? O que me contam de novo? Casaram, tiveram filhos...

- Estamos longe disso, viu! Pelo menos, no meu script, essas duas palavrinhas não constam. – dizia Betina.

- Aposto que a Lili casou com o Tavinho...

- Ainda não consegui amarrar o bofe...quase! Um passo de cada vez ne? Ixi... falando nele...olha ele aí... ele e o ... William.

Lili gelou quando viu que o Tavinho entrava no bar acompanhado do William. E eu queria me enfiar embaixo da mesa. Tudo que eu menos queria era que o William e o Pedro se encontrassem. Tudo bem que eu não tinha nada sério com o William e nem sabia o que eu era do Pedro, mas esse era um encontro astral que eu não desejava.

- Pedrão!!! Que bom te ver aqui!!! – era Tavinho quem abraçava ele – Quer dizer que voltou e foi logo se infiltrando no clube da Luluzinha? Tá com a moral alta hein?

- Ops, desculpe! Eu acabei me intrometendo na reunião delas. Ei, e aí, tudo bem? – Pedro dava a mão para cumprimentar William que cedeu a mão dele também, mas fez questão de medi-lo e olhar para mim. Atitude desnecessária ne?

Fiquei sentada entre Pedro e William querendo fugir daquele sanduíche nada agradável. Disfarçadamente, Pedro olhava para mim e para o William sentindo que tinha alguma atmosfera diferente no ar. William também me encarava como se eu fosse uma criminosa, mas ainda bem não tomou nenhum atitude do tipo ‘você é minha’. E minhas amigas me salvaram desviando o assunto para coisas banais do tipo futebol, novela, tempo, trânsito e piadinhas. Ainda bem que tenho amigos.

Apesar de não querer, as cervejas que eu tinha tomado falavam mais alto. Não tive escapatória e fui ao banheiro. Me tranquei numa cabine e fiquei lá pensativa. Até que uma voz me chamou...

- Diana, você está com diarreia, morreu aí ou o que? Faz horas que você está dentro desse banheiro. – era Betina.

- Diz que eu estou passando mal. Quando eles forem embora, você me chama. – eu dizia saindo da cabine.

- Para de ser ridícula!

- Ridicula eu?! Ridiculo é o William aparecer aqui pra estragar com a minha festa. O que o Pedro vai pensar? Ele já sacou que tem algo estranho no ar. Eu conheço ele.

- Deixa ele pensar, boba. Tira proveito da situação. Homem gosta de disputa. Aproveite desse desejo mútuo. Aposto que estão excitados para ver quem vai levar você.

- Gente, o que tá acontecendo? Você não voltam pra mesa nunca! – era Lili que chegava. – Diana, perdoe o Tavinho. Ele não tinha como adivinhar que o Pedro tinha voltado.

- Relaxa, Lili. O Tavinho não tem culpa de nada. Vamos voltar.

Retornamos para a mesa e os meninos nos olhavam assustados.

- Tá tudo bem, Diana? – perguntava Pedro carinhosamente.

- Está sim. Acho que bebi um pouco demais. Estava um pouco tonta. Resolvi respirar no banheiro. – menti.

- Quer que eu te leve pra casa? – oferecia William.

- Não se preocupem. Eu vou ficar bem.

Uau! Quanta gentileza! Betina estava certa. Os dois estão numa guerra camuflada acirrada. Mas o Pedro ganha disparado.

Continuamos jogando papo pro ar por mais algumas horas até percebermos, como de costume, que éramos os únicos clientes do bar. Hora de partir. Como o Pedro estava sem carro, me ofereci (claro) para leva-lo em casa. William tentou se enfiar na carona, mas menti pra ele dizendo eu ia passar na casa dos meus pais ainda.

Enquanto Pedro pagava o vallet (gentilmente), William se aproximou de mim e colocou os braços sobre os meus ombros. Gelei e fiquei de rabo de olho para ver se o Pedro ia ver aquela cena.

- Quem é esse cara? – perguntou do tipo de quem quer marcar território.

- Ele é um grande e queridíssimo amigo.

- Tem certeza que é apenas um amigo?

Fui salva pelo carro do Tavinho que chegara no vallet e não tive que responder àquela cobrança absurda. Até que eu saiba o nosso relacionamento fugaz tinha acabado. Pelo menos, eu pensei nisso. William me abraçou e tentou me dar um beijo, mas desviei o rosto disfarçadamente porque o Pedro retornava para perto de mim. William me olhou nos olhos e prometeu me ligar.

- Tudo bem ? – perguntou Pedro ao ver minha cara de espanto.

- Sim, claro. Só com um pouco de frio.

- Não seja por isso. – Pedro tirou o casaco e jogou sobre as minhas costas. E também me abraçou para me aquecer. Tem como desapaixonar?

O carro chegou e ele acabou dirigindo para mim porque eu estava cansada e tinha bebido um pouco demais. Comovido pelo meu estado
– que era de extase ao vê-lo ali tão perto de mim – ele me levou direto para casa, dizendo que não ia me deixar dirigir naquele
estado e que depois pegaria um taxi.

- Bom... vou indo. – dizia ele na porta da garagem do meu prédio.

- Tem certeza que não quer subir? Faço um café e a gente conversa mais.

- Não precisa se incomodar. Você está cansada. Prometo que recompenso depois... falando nisso, podemos nos ver amanhã. Os meus
amigos vão fazer um churrasco de boas-vindas pra mim e gostaria muito que você fosse... se quiser, chama as meninas também.

- Claro. Vai ser um prazer! – cada minuto a mais que eu pudesse passar com ele era sagrado.

- Não quero incomodar. Se tiver outro compromisso, eu entendo. Não quero ficar queimando o seu filme.

- Jamais.

- Ah sei lá... eu vi que o seu amigo, sei lá...não ficou muito contente ao me ver. Afinal, eu não tenho direito de chegar e ir bagunçando sua vida né.

- Você organiza a minha vida ... – pensei alto – Não se preocupe. Eu não tenho compromisso e o William é um amigo.

- Queridíssimo como eu? – que indireta! – Bem, vou indo. Nos vemos amanhã então.

Pedro me abraçou fortemente. Acho até que cheirou os meus cabelos e depois foi embora. Fiquei paralisada vendo ele partir. Tenho certeza que um pedacinho de mim estava partindo com ele...

CONTINUA...