quinta-feira, julho 17, 2014

BENDITO ZAP ZAP



POR LETÍCIA VIDICA


- Lili, dá para parar de mexer nesse celular? – eu perguntava incomodada com a impaciência da minha amiga que não parava de olhar o visor do celular.

- Ai, meninas, me desculpem. Desde anteontem que eu não falo com o Tavinho. Ele não dá um sinal de vida. E o pior é que ele fica online no whatsapp e não fala comigo. Olha só...ele acabou de entrar há dois minutos e não respondeu a minha mensagem!!! Será que aconteceu alguma coisa?

- Ainda bem que eu odeio essas tecnologias. Viu só, Diana? Fica insistindo para eu ter essa porcaria de zap zap e para quê? Para enlouquecer como a Lili? – era Betina quem zombava da cena e, como sempre, confirmava mais uma tese.

- Ah, não exagera. A Lili não é parâmetro né? Calma, Lili...vai ver o celular dele está com problemas...

- E ele não conseguiu consertar até agora?

- ... ou talvez ele esteja sem sinal de internet...

- O celular do Tavinho é 4G e tem uma das internets com a tecnologia mais recente em todo o mundo. Ele comprou essa droga, inclusive, e gastou horrores só para ficar 48 horas conectado... já sei...vou tentar o Facebook...

Nada convenceria a cegueira tecnológica da minha amiga. Ela estava decidida a fazer o Tavinho dar um sinal de fumaça, ou melhor, mandar um balãozinho no celular dela.

***

- Ué, Dona Diana, a senhora vai ficar até mais tarde no escritório hoje? – questionava a minha secretária ao me ver ainda sentada em minha mesa às nove horas da noite de uma sexta-feira.

- Não, não...eu estou esperando o Pedro. Combinamos de ir jantar hoje. Falando nisso, ele me ligou? Tem algum recado na secretária eletrônica?

- Que eu tenha atendido não...

-... estranho, mas tudo bem. Aproveite seu final de semana. Ele já deve estar chegando.

Quarenta minutos depois e nem sinal de fumaça, nem mensagem no facebook e, muito menos, um balãozinho do zap zap. Aquela mistura de úlcera com ansiedade gástrica amorosa me consumia. Comi meu orgulho, montei na minha raiva e liguei para ele. Trim, trim, trim... e caixa postal. Como eu odeio essa voz.

Ok, respira. Tá tudo bem. Deve ter sido um atraso. Um atraso de duas horas ok. Nada típico para o Pedro, mas pode acontecer ne? Vamos ligar mais uma vez. Cinco ligações depois e nada. Caixa postal.

***

- Ué, você não disse que ia jantar com o Pedro hoje? - perguntava Betina surpresa ao me ver chegar no bar do Pedrão.

- Por favor, uma caipirinha de saquê com muito saquê... estou precisando... nem me fala o nome daquele infeliz. – eu bufava. – A gente combinou de ir jantar e ele me deixou plantada lá... nenhum sinal de fumaça sequer.
- Já viu se ele está online no whatsapp?

- Lá vem você e esse zap zap, Lili. Não encana, Diana. Deve ter acontecido algo. Tá tudo bem. Se acalma. Lembre-se que o Pedro não é o Tavinho.

- Hmmm... o que você quer dizer com isso, Betina?!

- Calma, meninas. Não vou estragar a noite de vocês.

Eu bem que tentei esquecer o bolo que o Pedro tinha me dado, mas estava humanamente impossível. Eu não conseguia ficar mais de cinco minutos sem olhar para a tela do meu celular, a cada três minutos abrindo o whatsapp e fuçando no Facebook.

***

- Nossa, amor, você demorou! – era Pedro quem me esperava deitado no sofá da minha casa.

- O que VOCÊ está fazendo aqui que NÃO foi jantar comigo como a A GENTE combinou?! – cuspi fogo.

- Mas eu te avisei. Te mandei um whatsapp. Eu tive uma reunião de última hora com um novo cliente e tive que ir jantar com ele. Eu disse que viria para cá.

- Inventa outra, Pedro. Eu não recebi nenhuma mensagem sua. E custava me ligar?

- Olha aqui... veja o meu celular, Diana... olha... eu te mandei mensagem.

- MAS EU JÁ TE DISSE QUE EU NÃO RECEBI MENSAGEM NENHUMA!!! Você me deixou plantada duas horas no escritório. Custava deixar um recado com minha secretária?

- Não exagera, Diana. Eu já te expliquei que eu te mandei mensagem e que eu tive um jantar de negócios. Achei que você seria mais compreensiva.

- Mais compreensiva?! Me poupe, Pedro. Eu vou tomar banho.

Dei as costas para ele e fui batendo as tamancas para o quarto. Entrei no banho odiando o Pedro e querendo que ele desaparecesse da minha frente. Até demorei no banho para me acalmar, mas estava adiantando.

Quando saí do chuveiro, vi que uma luz piscava no meu celular. Ao desbloqueá-lo, para a minha surpresa, lá estava a mensagem do Pedro. “Amor, me desculpe. Vou ter que jantar com uns clientes. Nos vemos mais tarde na sua casa”. Pois é, riam da minha cara! Ironias da internet 3Jegue como eu costumo chamar o 3G da minha operadora celular.

Com a cara caída no chão, corri para a sala para me desculpar com o Pedro, mas já era tarde. Ele já tinha ido embora. Acho que leu meus pensamentos.

Me joguei no sofá e escrevi uma mensagem para ele. “Amooorrrr, volta! Me desculpa. A culpa não foi sua. A sua mensagem só chegou agora”. Vi que ele tinha entrado no whatsapp há cinco minutos, mas acho que ele resolveu me dar um castigo virtual porque não me respondeu.

Tive que dormir com o rabinho entre as pernas e com o celular embaixo do travesseiro, mas tudo se resolveu no dia seguinte.

Ai, ai, como eu sinto falta do velho orelhão viu? A vida era bem mais fácil e os relacionamentos também.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ SOFREU DE ANSIEDADE POR CONTA DO WHATSAPP?