terça-feira, julho 31, 2012

SESSÃO DESAPEGO


POR LETÍCIA VIDICA

- É hora de desapegar, Diana! – dizia Jane, a minha terapeuta, com sua calma infernal e sua voz professoral.

Foi para isso que eu usei o limite do meu cheque especial e retornei ao divã (mesmo depois de uma falsa alta dada por ela – acho que ela não aguentava mais me ouvir -)?! Para ouvir que é hora de desapegar?! Legal, mas fiquei com cara da panza esperando a tal receita para o desapego. Mas a olhadinha para o relógio era um sinal de que a minha sessão tinha terminado depois de passar uma hora (que mais pareceu um minuto) desabafando sobre o último fora que levei do Pedro e sobre como retomar a vida amorosa novamente. Resultado foi esse singelo conselho da minha terapeuta.

Como ela não me passou a receita e nem alongou nossa conversa freudiana e jungiana, saí do consultório com cara de marmota. Desapegar, desapegar, desapegar... foi o que a Jane mais repetiu naquela sessão. Só esqueceu de dizer como fazer isso. Só um chocolatinho quente no frio daquela noite para me fazer relaxar.

Banho tomado, chocolatinho bebido, rango devorado e sono perdido. Quase meia-noite e eu não conseguia pregar o olho e, além do mais, eu estava elétrica. Seria capaz de correr uma maratona. Algo me incomodava, mas eu não sabia o quê. Nada na tevê para assistir, nenhum vizinho para espionar da varanda e vontade zero de sair. Me joguei na cama.

Percebi que tudo naquele quarto, naquele apartamento me incomodava. As cores, a disposição dos móveis, tudo mais do mesmo. Abri o meu guarda-roupa e as roupas quase caíram em mim. Estava uma zona. Resolvi começar a arrumar. Que mal tem em fazer um faxininha geral em plena madrugada? Apesar da minha vontade ser a de tacar fogo em tudo e chamar o Luciano Huck para um ‘lar doce lar’, apelei para a realidade e comecei a arrumar apenas o meu guarda-roupa afim de me livrar de algumas pecinhas e abrir um pouco mais de espaço.

No meio da bagunça, entre montes de roupas velhas jogadas no chão prontas para o descarte e no encontro de outras esquecidas num canto qualquer do meu guarda-roupa, encontrei uma caixinha vermelha. Era o meu baú de lembranças. Eu já nem lembrava mais que guardava aquilo.

Parei a arrumação e comecei a fuçar na caixinha. Me surpreendi com tantas memórias. Encontrei o meu primeiro (e último) diário. Reli algumas páginas e vi que ainda sou a mesma boba apaixonada que ainda sonha em encontrar um príncipe encantado. Me surpreendi com uma foto da turma do colegial em um churrasco de formatura num sitio.
Nossos sorrisos descompromissados refletiam a nossa responsabilidade zero e a gente ainda nos julgávamos estressados e sobrecarregados!!!

Em meio as papeladas, encontrei uma foto minha e do Pedro abraçados quando éramos adolescentes. Nessa hora, me bateu uma saudade imensa dele. A menina daquela foto jamais sonharia que um dia ia gostar tanto daquele magricela. Achei também uma cartinha de amor que ele me escreveu em um velho guardanapo depois da primeira noite que passamos juntos, uma foto nossa na pousada onde rolou o nosso primeiro beijo e mais fotos e mais cartas e mais fotos. Guardar ou queimar?!

Achei que não fazia mais sentido guardar tantas lembranças e coloquei no monte das coisas a desfazer. Guardei apenas a nossa foto de infância. Aquela eu queria conservar. Quem sabe, pelo menos, a nossa amizade verdadeira possa voltar um dia.
Terminei a faxina quando a manhã já anunciava. Juntei vários sacos de roupas velhas para doação e uma caixa com pertences do Pedro esquecidos em casa.

***

- Nossa, que cara é essa? – perguntava Betina ao me flagrar de olheiras nos pés ao meio-dia.

- Não preguei o olho essa noite. – eu dizia sem conseguir abrir os olhos e largada no sofá.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntou ela assustada.

- Baixou a cabocla faxina em mim e eu resolvi dar uma geral na casa, limpar meu guarda roupa, jogar fora umas roupas velhas e me desfazer de algumas lembranças...

- Nossa, que pique, amiga! Mas podia fazer a sessão desapego pela manhã? Tinha que ser de madrugada?

- Eu estava meio de bode ontem e resolvi dar uma mudada. Cansei da mesmice da minha vida, dos meus relacionamentos, acho que eu estou carregando muita tralha velha
comigo há muito tempo... é hora de abrir espaço né?

- Foi na Jane ontem né? – desvendava a charada.

- Como você sabe?

- Nem precisa perguntar. Foi ela quem pediu para você fazer isso?!

- Digamos que me estimulou. Veio com um papo que é hora de desapegar e tals, mas não me disse como. Arrumei o meu jeito.

- E vai jogar tudo isso fora?- apontava Betina para os sacos.

- Se quiser alguma coisa, pode pegar. Se não, vou levar para um brechó na segunda. Só deixa essa caixa aí que são as coisas do Pedro. Ainda não sei o que eu vou fazer.

- Ué, devolve para ele. Já que é para desapegar que seja totalmente né?

***

Eu ainda não sabia o que fazer com as coisas do Pedro. Se eu ligasse para ele e pedisse para buscar, ele poderia entender como uma falta de educação minha ou que eu estava arrumando motivos para ele me ver. Fiquei matutando o que fazer, porém a vida foi mais rápida do que eu. Pedro apareceu lá em casa sem convite.

- Posso entrar?! Nossa, vai se mudar? – dizia ele se desvencilhando dos sacos.

- Apenas uma faxininha necessária. Senta. Mas o que te traz aqui? – perguntei ainda surpresa com a visita.

- Eu vim me despedir. Estou voltando para Londres amanhã. Vou ficar mais um tempo por lá e eu não queria ir sem falar tchau para você. – ele parecia nervoso.

- Não precisava se incomodar. – mentira! Pelo menos, dessa vez, ele se preocupou em me avisar que ia partir. Coisa que não fez quando chegou.

- Desejo boa sorte a vocês. – eu cutuquei.

- Vocês?! – ele se assustou com a pergunta. Não sei por quê.

- Ué, a Camila não vai junto? – alfinetei.

- Não, não... a gente foi coisa passageira. – dizia ele cabisbaixo. Parecia envergonhado em me dizer aquilo.

Só Deus sabe o quanto eu vibrei com aquela resposta. Ele confessou que o lance deles não passou de fogo de palha e que ela não chega aos pés do que ele quer. Mas não me confessou o que ele queria. Ofereci um suco e, quando voltei da cozinha, flagrei ele fuçando na caixinha de lembranças que eu ia me desfazer.

- Nossa, você ainda tem essa foto? - ele admirava nossa foto de infância – Que tempo bom! – suspirava ele.

- Ah, aproveitando... essa caixinha é sua. São suas coisas. Separei para você levar.
– eu disse ríspida.

- Você quer mesmo que eu leve isso? – ele pareceu se assustar com a devolução.

- Eu quero. Fiz uma faxininha necessária lembra?

- Mas eu achei que...

- Achou o quê, Pedro? Que eu ia carregar essa tralha velha por toda a minha vida? – pronto, falei.

Pedro me olhou já entendendo o recado de que era hora de sair pela culatra, recolheu suas coisas com um ar de tristeza no coração, me deu um abraço, pegou a caixinha e saiu pela porta como um cãozinho sem dono.

Quando eu ameaçava fechar a porta, Pedro voltou. Ficou me olhando e eu senti que ele ameaçava um beijo. Porém, brequei sua ação.

- Eu volto, tá bom? – dizia ele com olhos marejados.

- Fique tranquilo. Você não me deve mais satisfação não é mesmo?

Fechei a porta rapidamente para não mudar de idéia. Já que era para desapegar, que fosse desapego total. Chega de manter a sujeira embaixo do tapete.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ FEZ UMA SESSÃO DESAPEGO? QUAL FOI O MOTIVO DO DESAPEGO?

PAPO DE CALCINHA NA BIENAL

ANOTEM NA AGENDA:

COMPROMISSO FIRMADO???



MENINAS, ESPERO TODAS VOCÊS VIU???

terça-feira, julho 17, 2012

NO ESCURINHO DO CINEMA


POR LETÍCIA VIDICA

- Oi, gata! Que tal um chopinho lá no Pedrão hoje? – era Lili que sugeria uma antecipação do nosso sagrado happy hour.

- Valeu, Lili, mas eu ainda tenho que terminar uns relatórios aqui e depois vou pegar um cineminha. – eu dizia ainda enfiada numa pilha de projetos.

- Cineminha?! Nossa, a fila anda mesmo hein. O Pedro nem esfriou e já tem outro na parada? Pode desembuchando. Quem é o bofe? – a típica curiosidade de Lili falava por ela.

- Fila? Que fila, Lili. E não tem bofe nenhum. Eu vou ao cinema sozinha mesmo. Qual o problema? – é, qual é o problema?!

- Fala logo, Diana. Se quiser, eu não conto nem para a Betina. Quem é ele? – insistia minha querida amiga ainda não convencida de que eu ia realmente ao cinema apenas com minha ilustre companhia. – Se não tem ninguém, o que tá pegando? Você tá bem? Tá precisando desabafar? Se quiser, a gente deixa a cervejinha para amanhã e a gente te acompanha no cinema.

- Lili, eu agradeço, mas eu estou ótima. Não me leve a mal. Eu não quero companhia. Eu quero pegar um cinema sozinha mesmo. Podem ir no bar sem mim. Se a sessão não acabar tarde, eu passo lá. – eu respondi querendo me livrar logo da ligação para não me atrasar para a sessão.

- Tem certeza? Olha, quando comprar o ingresso manda uma mensagem dizendo qual é a sala e qualquer coisa me dá um toque no celular hein? Ah e não vai assistir aquelas comédias românticas hein? Você pode sair de lá direto para o divã... – desatou ela a me dar várias orientações como se eu fosse uma adolescente virgem prestes a ter um encontro com um espinhudo da internet.

Depois de eu ter encarado muitos fantasmas comigo mesma antes de decidir ir ao cinema sozinha, ainda tive que convencer a Lili, a Betina(que não convencida pela história da Lili) que também me ligou e, até mesmo, a minha secretária. Gente, qual o problema em ir ao cinema sozinha?! Eu ainda não tinha essa resposta, mas era o que eu queria buscar. Afinal de contas, eu era uma virgem nesse lance de ir ao cinema sem ninguém.

Adiei perder essa virgindade porque, em alguns raros momentos, eu tinha uma companhia masculina para me acompanhar. Em outros momentos nem tão raros assim, eu tinha minhas fiéis escudeiras. E, na maioria dos momentos, eu recorria ao sofá da minha sala onde a minha própria companhia não é tão assustadora.

E assustadora foi a reação de algumas pessoas quando eu decidi que queria me aventurar indo só ao escurinho do cinema. Para alguns, a minha atitude era digna de uma internação no hospício ou assemelhava-se ao suicídio. “Você tá louca?! Vai fazer o que sozinha num cinema?! Não é mais fácil cortar os pulsos?” Já para outros, era uma atitude de total elevação espiritual. “Eu super apoio a sua atitude. Acho que somos autossuficientes e não há mal nenhum em sentar numa sala de cinema e assistir um filme oras.” Dividida, entre opiniões resolvi provar.

Confesso que, durante alguns momentos do dia, pensei em desistir da idéia ou chamar reforço, mas fui dura na queda e parti para o cinema alone.

Uma das coisas que eu temia era em ser o único ser da face da terra que tivesse tido a ilustre idéia de ir a um cinema em plena quinta-feira à noite. Ledo engano, primeiro porque numa cidade como São Paulo, o único lugar onde você fica sozinha é dentro do banheiro da sua casa (isso se você não resolver tomar um banho com alguém).
Assustei-me ao encontrar uma fila considerável na bilheteria. Tudo bem se o mais velho da fila não passasse dos dezesseis anos.

Esqueci completamente que estamos em julho e que pré-adolescentes estão em férias. E qual o melhor lugar do mundo para se divertir nas férias? O cinema!!! E se a sessão
for noturna, é quase uma transgressão.

Tentei me sentir natural em meio àqueles adolescentes cheios de espinhas na cara e não me incomodar com os beijos que os casais à minha frente, nas minhas costas e ao meu lado trocavam. Era mais um sinal de que eu podia ter ficado literalmente para titia solteirona, mas... resolvi não focar nisso naquele momento. Preferi me distrair com os assuntos teenager. Tinha esquecido o quanto era realmente estressante decidir entre fazer o meu niver numa balada ou um churras no sítio.

Naquele momento, bateu uma saudade imensa dos meus tempos de colégio, onde eu ia ao cinema com meus amigos, meus namoradinhos e não me preocupava se no dia seguinte eu tinha algum projeto para entregar, chefe para encarar e blablabla... nossa, parece até que faz um século que vivi isso e nem se passaram 20 anos!!!

Comecei a reparar para ver se tinham outros seres autossuficientes como eu na fila, reparei numa morena que parecia sozinha, mas logo percebi que um bonitão esperava ela do lado de fora da fila. ‘Tudo bem, Diana, aja naturalmente. Respira fundo”. Quando o bilheteiro me chamou e eu disse o nome do filme, prestei bem atenção para saber se a sala estava vazia. Eu ia ver uma comédia nacional e em meio a filmes de ação e outras apostas de hollywood, a possibilidade de eu ser a única na sala era grande. Contei as cadeiras rapidamente e vi que, pelo menos, outros trinta me acompanhariam na sessão.

Ufa!!! Estágio 1 superado. Como ainda faltava quase uma hora para o filme, resolvi comer alguma coisa. Meu estômago dava sinais de que a minha última refeição não tinha deixado mais nenhuma faísca dentro de mim. Enquanto eu esperava a comida, fui surpreendida pela Betina.

- Betina?!

- Eu não acreditei quando a Lili me contou. Você tá bem, lindona? Vai mesmo ao cinema sozinha? – dizia num tom que lembrava o da minha mãe, não sei por quê.

- Betina, eu estou ótima. Gente, eu só quero ir ao cinema sozinha e nada mais. Qual é o problema? – eu estava começando a me irritar com aquela vigilância tola.

- Problema nenhum. Eu, inclusive, já fiz isso muitas vezes e adoro. Agora você ... depois desse rolo todo do Pedro... está mesmo preparada para encarar isso?!

- Fica tranquila. O Pedro não tem nada a ver com essa minha decisão... mas você não vai sair com a Lili? – desbaratinei.

- Vou. É que eu tive que vir resolver uma coisa aqui no shopping e resolvi ver se estava tudo bem com você. Promete que liga para gente quando sair da sessão?

Nossa, da próxima vez, eu vou ao cinema em uma sessão em Marte. Assim vai ser mais difícil a supervisão. Falando em sessão, corri para a sala. Entrei correndo, mas o trailer nem tinha começado. Quando entrei, não tive coragem de encarar as pessoas. Ok que eu seja autossuficiente, mas ainda sentia o peso da recriminação nas costas. Todo mundo entra no cinema com a amiga, o namorado, a turma, a mãe, a sogra e assim vai e eu entrava sozinha.

Sentei no meu lugar e fiquei mexendo no celular para o tempo passar. Nessa hora,
senti falta de uma companhia para jogar papo pro ar assim como as pessoas ao meu redor faziam. Porém, essa solidão repentina durou apenas até o trailer e o filme começarem.

Confesso que, durante a sessão, eu dava umas olhadinhas para o lado para me certificar de que não havia ninguém ao meu lado. Vai que algum fantasminha camarada quisesse bater um papinho né? Apesar da sala ter, pelo menos, umas 50 pessoas, cada uma sentara em um canto e eu me sentia um pouco sozinha demais na minha fileira.

Entrei no clima do filme, engraçadíssimo, por sinal. Era uma comédia romântica feita por homens que tratava de assuntos de mulheres. Eu estava precisando de um pouco de besteirol para me animar e também não tava afim de colocar o tico e teco para pensar naquela noite. Sei que ri como uma doida, às vezes, até um pouco alto demais. Mas e daí? Estava todo mundo rindo mesmo... e, confesso, que em algumas cenas mais românticas deixei meus olhos marejar e foi inevitável não pensar no Pedro ou no Pierre ou no que eu queria para mim ou me imaginar sendo aquela atriz ouvindo tudo aquilo projetada na tela do cinema. Porém, o letreiro subiu e eu esqueci rapidamente de tudo.

O filme passou e eu nem senti tanto assim a solidão. Amei a experiência científica. Na hora de sair, nem liguei se a galera do fundão reparava que eu estava só e não saía comentando o filme com ninguém. Acho que essa é parte chata da solidão da telona. Terminar o filme e não ter com quem comentar ... mas, para isso, a gente recorre às amigas.

Decidi dar uma passadinha no bar do Pedrão. Porém, no meio do caminho enquanto eu pagava o ticket do estacionamento, fui surpreendida. Encontrei o Pierre e a Olívia na fila. Que beleza hein Deus? Tudo que eu mais queria era encontrar o meu ex e a sua esposa para confirmarem a minha solidão.

- Oi, Diana, tudo bem? – dizia Olívia com a sua insuportável simpatia. – Eu disse para o Pierre que era você e ele não quis acreditar...

- Oi, gente, tudo bem? – respondi sem graça – Achei que você já estivesse na maternidade... ainda tá passeando com esse barrigão? – desbaratinei.

- Ela é louca. Nunca vi ter desejo de ir ao cinema antes de parir. Mas e você tá sozinha? O Pedro tá com você? – perguntava Pierre.

Ferrou. O que eu ia dizer? Confessaria que estava sozinha , que era autossuficiente ou inventaria que o Pedro estava no banheiro? Fui salva pelo gongo, ou melhor, pelo caixa que me chamava para pagar o ticket. Paguei, me despedi do casal e ufa! Não respondi a pergunta. Saí do shopping rindo pela cena e feliz pela minha atitude. Fiz uma Diana feliz.

- Diana!!! Que bom que você veio!!! – brindava Lili ao me ver chegar no bar do Pedrão.

- Calma, gente. Eu to viva. Não fui tarada no cinema...infelizmente – eu ria e pedia um chope. – Amei a experiência. Farei mais vezes se querem saber...

- Olha, amiga, eu te admiro. Fiz isso uma vez e não deu certo. Acho que tenho algum problema não diagnosticado. Acredita que eu chorei com filme de ação? – confessava Lili. – Saí de lá para curar uma depressão e peguei outra. Tipo vírus.

- Ah, eu adoro ir ao cinema sozinha. É uma ótima terapia para me fazer relaxar dos processos. Eu apoio. Acho que todo mundo tinha que,pelo menos, uma vez na vida escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho e ir ao cinema sozinha.... – dizia Betina.

- Acho que agora vou arriscar plantar a árvore. – eu ria – A única coisa chata foi encontrar o casa 20 na fila do estacionamento... acredita que o Pierre e a Olívia me flagraram no shopping?

- E aí? E você? Bancou a autossuficiente?

- Fiquei gelada, Lili. Mas ainda bem que na hora que eu ia ser desmascarada o caixa do estacionamento me chamou. Ufa!!! Eu disse que estava preparada para a experiência científica, mas eu não contava com esses aliados me espionando ...

Continuamos a noite rindo e dividindo nossas experiências solitárias.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ FOI AO CINEMA SOZINHA (O)? CONTE COMO FOI A EXPERIÊNCIA.

sexta-feira, julho 06, 2012

VIRANDO O JOGO



POR LETÍCIA VIDICA

Parei de respirar e quase tive um treco quando vi o Pedro saindo da garagem da casa da mãe dele. Eu estava estacionando o meu carro frente a casa dos meus pais, quando o vi pelo espelho retrovisor. Pensei que era uma miragem. Afinal a saudade era tanta que eu não me assustaria se estivesse imaginando ele. Não, não era uma miragem. Era Pedro em carne e osso. Mas como assim ele voltou e não me disse nada? Antes que escapasse, larguei o carro de qualquer jeito e gritei o nome dele.

- Pedro?! – eu disse descendo do carro esbaforida.

- Diana?! – ele respondeu ainda um pouco sem graça. Parecia até que tinha visto um fantasma. Ou pior achei que ele não estava tão feliz em me ver quanto eu estava em vê-lo. – Quando você chegou? Por que não me disse nada?

Fiz tantas perguntas a ele enquanto eu o abraçava e era retribuída com um abraço frio. Algo estava errado. Eu conheço meu eleitorado.

- Eu cheguei há dois dias... eu ia te procurar.

- Há dois dias?! Como assim? Ia me procurar quando?

Eu não consigo entender o Pedro. Eu fico aqui louca para ele voltar e ele retorna sem me dar um sinal de fogo?! Antes que respondesse a todas as minhas perguntas, um carro se aproximou e, para minha surpresa, quem estava dentro dele era a Camila, a Globeleza. Pedro me abraçou, me deu um beijo na bochecha, disse que tinha um compromisso e que me procuraria para gente conversar melhor.

Fiquei com cara de tacho e coração partido ao vê-lo partir no carro com a Globeleza e me deixando perdida e só na rua. Como assim? O que eu fiz? O que está errado nessa história? Perdi o chão. Inventei uma enxaqueca e fui rapidamente embora da casa dos meus pais.

****

- Eu não estou ficando louca, Betina. Tem algo muito errado com o Pedro! Ele voltou e não me disse nada, me tratou com uma frieza absurda, aquela Camila foi busca-lo cheia de sorrisos... eu não estou com um bom pressentimento.

- Calma, Diana. Ele não disse que ia te procurar? Calma! Não esquece que vocês deram um tempo. Sei lá... vai ver ele quer pensar, ainda está respeitando o seu tempo.

- Não, Betina. Eu conheço o Pedro. Ele quer me dizer algo, mas não tem coragem. Ele está fugindo de mim. Eu não vou deixar isso acontecer...

- E o que você vai fazer?

Antes que a minha ansiedade me matasse, pisei em cima do orgulho, me agarrei na confiança e liguei para o Pedro convidando-o para jantar. Me arrumei toda poderosa e fui ao encontro dele. Resolvi levá-lo ao restaurante japonês que ele tanto gostava.

- Nossa, você está linda! – ele me disse quando chegamos ao restaurante.

- É para você – ataquei.

- Não mereço tanto – desbaratinou ele.

Passamos a primeira hora do jantar falando bobagens. Ele me contou sobre sua vida em Londres, seus novos amigos, mas a gente conversava com uma certa frieza mesmo em meio a tantas confidências. Era como se fosse apenas o Pedro amigo que estivesse ali. O
Pedro amante estava perdido em algum lugar... eu queria encontra-lo.

Num momento entre o final do jantar e a sobremesa, não suportei mais aquele joguinho e coloquei as cartas na mesa.

- O que aconteceu, Pedro? Por que você voltou, não me procurou e está me evitando a noite toda? – vomitei tudo nele.

Pedro abaixou os olhos, respirou fundo, tomando coragem para me dizer algo que, com certeza, me magoaria. Eu conheço aquele olhar.

- Eu estava sem coragem de te procurar. Eu preciso confessar que ... que... a melhor coisa seja seguirmos cada um o seu caminho.

Paralisei. Para, volta tudo... eu estou ficando louca?! Não ouvi isso (de novo).

- Diana, eu não quero te magoar, mas... eu não sou capaz de suportar a presença do Pierre entre nós.

- Pedro, evolui. Mesmo depois desse tempo todo você ainda não conseguiu esquecer do Pierre?! A essa hora deve estar quase trocando a fralda da filha dele, o Pierre está muito bem casado, se quer saber... e ele não fugiu do altar porque eu vi... – ops, falei demais.

- Você foi ao casamento dele?!

Bendita hora que eu resolvo falar demais. O Pedro me pegou no pulo do gato. Já que era para colocar as cartas na mesa, resolvi contar rapidamente a minha aventura – da despedida de solteiro à espionagem na igreja.

- E depois disso tudo você ainda acha que esqueceu dele, Diana? Olha, você sabe que eu te adoro, mas não dá mais para viver com esse fantasma no meio da gente.

- Pedro, peraí... eu não estou entendendo nada. Eu tava quieta no meu canto, você vem me declarando esse amor todo, me fazendo quase pirar... daí eu me dou conta de que você é o cara certo, de que eu gosto de você e agora vem com esse papinho para cima de mim? Não vira o jogo não! – me irritei.

- Diana, você foi forçada a me escolher. O Pierre sempre te dominou. Mais dia, menos dia ele vai correr atrás de você de novo e você vai ficar toda abalada. E eu? Como fico?

- Você fica comigo. Simples assim... a não ser que você já tenha com quem ficar... – já que era para virar a mesa, resolvi virar. – Tem outra na parada né?

Pedro abaixou os olhos novamente e suspirou, como sempre faz, antes de atirar uma
bomba atômica.

- Não fica brava. Aconteceu. Eu voltei a sair com a Camila.

- A Globeleza?! – eu sabia. Praticamente, surtei naquele momento. – Você podia ter sido mais sincero e poupado esse esforço todo e ido direto ao ponto. Então, a questão aqui não é o Pierre e sim a sua nova namoradinha...

- Eu não estou namorando ela. Aconteceu. Ela foi me visitar em Londres e...

- Nem precisa continuar a história. Vai me dizer que estava carente e já tinha visualizado que eu estava com o Pierre e aproveitou o abrigo dela?! Olha, Pedro, eu jamais imaginei isso. E sabe o que mais dói? É que, dessa vez, eu sei o que eu quero, mas mais uma vez ... tenho na minha frente um homem que não sabe o que quer.

- Diana... – dizia ele pegando nas minhas mãos – Eu adoro você. Sabe o quanto você é especial para mim... eu não queria te magoar...

- Tarde demais, Pedro. Garçom! – acenei pedindo a conta. Eu queria fugir dali.

- Eu te levo para casa. Afinal de contas, ainda somos amigos não é mesmo?

- Pedro! Agora quem quer um tempo sou eu..., inclusive, na nossa amizade.

- Mas...

- Mas nada! Pra mim, já deu! Aqui está a minha parte. Bom te ver. Vou pegar um taxi.

Sai feito um furacão do restaurante e, assim que dobrei a esquina, desabei em lágrimas.

***

- Mais uma vez, não! De novo, não. Eu não aguento mais tanta decepção – essa era eu chorando as pitangas no carro da Betina que tinha ido até lá me buscar.

- Que desgraçado! Por essa, nem eu esperava!!! E agora?! Ele virou totalmente o jogo
contra você!!!

- É um covarde isso sim. Tem medo de arriscar. Mas ele sempre foi assim. Eu devia ter sido mais esperta. Idiota!!! Pior, me trocou pela Globeleza!! Aquela vaca deu o bote direitinho!!! Tenho que parabeniza-la.

- Calma, Diana. Logo mais, ele vai ver quem é ela e vai se dar conta do que ele perdeu.

- Betina, eu to cansada de ter que esperar os homens acordarem para se darem conta do meu valor. Eu sei o meu valor!!! Cansei de brincar disso, sabe?!

- Mas vai fazer o que agora?!

- Vou ter que aprender a desapegar né? Simbora, mais uma vez, a dar a volta por cima.
To ficando craque nisso...

- Vai ficar bem mesmo?!

- Vou tentar.

Desci do carro e entrei no prédio, mais uma vez, desconsolada. Eu sempre soube que o Pierre era meio confuso e imaturo. Não me surpreendeu tanto o tombo que levei dele, mas o Pedro tinha virado o meu porto seguro. Tinha acendido em mim algo bom e calmo. Achei que era amor. Será que é? Esse tombo eu não esperava... achei que essa cama era elástica, mas hoje vi que é mais uma cama de gato! Ai, meu Deus, vamos mudar a brincadeira?!

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ ACHA QUE OS HOMENS SEMPRE VIRAM O JOGO OU NÃO?

DICA: ADQUIRA JÁ! "MULHERES SOLTEIRAS NÃO SÃO DE MARTE", EDITORA UNIVERSO DOS LIVROS, AUTORA: LETÍCIA VIDICA. LEIA MAIS AVENTURAS DA DIANA NESSE LIVRO DIVERTIDO!!!