domingo, janeiro 30, 2011

MULHER DE AMIGO MEU


Por Letícia Vidica

- Diana?!

Fui surpreendida por aquela voz masculina familiar no meio do shopping.

- Guga? Tudo bem? - o Guga era um dos melhores amigos do Pierre, meu ex namorado.

- Quanto tempo! Como você tá diferente! Mal te reconheci - dizia ele me olhando dos pés a cabeça, ao soltar aquela frase enigmática de quem pode dizer que você está bem melhor do que quando namorava o amigo dele ou, que o amigo dele teve sorte por te largar antes de você ter virado uma baranga.

Conversamos por uns cinco minutos no meio do corredor do shopping e ele me convidou para tomar um suco. No começo, pensei em não aceitar, afinal de contas, eu não me sentia muito agradável ao reencontrar amigos do meu ex, era quase como se eu o reencontrasse também. Não queria ser interrogada sobre minha vida e ter o pressentimento de que o Pierre assistia àquele confessionário em alguma câmera escondida da sua casa. Mas, depois parei com a paranóia, e resolvi aceitar. Afinal, eu estava morrendo de sede e o Guga era um cara bacana. Acho até que de todos os amigos do Pierre, o Guga era o que eu mais gostava.

- Nossa, você anda sumida hein? Depois que terminou com o Pierre, esqueceu dos pobres né?

Incrível como eu não sabia que ao terminar um relacionamento, ainda tinha que atualizar a minha vida para os amigos dele. Afinal de contas, eram amigos dele e não meus. Mas fui educada.

- Ando meio corrida, sabe...mas e você como está? - desbaratinei.

- Ah, tô bem, mas cansei da farra sabe? Tô procurando uma namorada agora, estou ficando velho... a gente cansa da farra né...

- Nossa, você quer namorar, Guga? O que houve? - eu disse rindo.

- Não zoa não, Diana. É sério. Cansei de ficar, ficar...mas tá tão difícil encontrar uma mulher decente para namorar...

- Lá vem você com esse discurso machista...tá cheio de mulher legal querendo namorar também...

- Então, me diz onde elas estão. Arrumar uma mulher bonita, legal, esforçada, assim como você...tá super difícil hoje em dia...o Pierre foi um tremendo vacilão isso sim.

Tentei me conter tomando um gole do suco, mas não tive como esconder. Fiquei vermelha na hora. Não entendi muito bem porque ele me usou como exemplo e resolvi não perguntar nada...mesmo tendo ficado aguçadíssima para saber se o Pierre sofreu quando terminamos. Por falar em terminar, acabamos de beber o suco e inventei um compromisso para que aquela conversa estranha não se alongasse, mas o Guga - educado como sempre - me ofereceu uma carona e me deixou em casa.

Depois de nos despedirmos, ele pediu o meu telefone. Disse que queria atualizar na agenda. Me deu novamente um beijo prolongado na bochecha e um abraço apertado e partiu.

Aquele encontro, que poderia ter sido banal, não saiu da minha mente por alguns dias. Mas não quis encanar porque podia ter sido fruto da minha imaginação, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha.

****

- Gente, encontrei o Guga aquele amigo do Pierre no shopping semana passada...- eu contava para minhas fiéis companheiras em mais uma sagrada noite de chope e frango à passarinho no bar do Pedrão.

- Aquele gatinho? - perguntava Lili.

- Se ele é gatinho eu não sei, só sei que ele está procurando uma namorada...veio com aquele papinho machista de que tá difícil encontrar uma mulher decente...eu quase indiquei vocês - disse rindo...

- Falando do gatinho...

Coincidências à parte, fui flagrada em meio a minha risada pelo Guga que também chegara no bar.

- Guga? Você por aqui? - eu disse vermelha, mais uma vez, e engasgada com o chope.

- Que surpresa boa! Eu trabalho no prédio aqui do lado e com esse calor infernal, não tinha como ir para casa antes de uma cerveja gelada né?

- Fica à vontade, gatinho, puxa uma cadeira aí e bebe com a gente. - oferecia Betina. - Estávamos mesmo falando em você...

Eu tentei brecar a Betina, mas ela já tinha bebido além da conta e estava querendo apimentar o assunto. Foi logo contando que eu tinha falado sobre a procura dele por uma namorada.

- É, verdade, meninas, tá difícil. Olha, eu quero namorar. Quero ser um homem sério.
- Acho que você não está procurando nos lugares certos, meu amor...- insinuava Lili com cara de quem adoraria ser a escolhida.
- Será? Olha, eu cansei de ficar indo para a balada. Quero algo mais sério. Eu disse para Diana que arrumar uma mulher como ela hoje em dia esta difícil...
- Não mais, né, meu bem...agora a gata está livre, leve e solta - apimentou Betina.
- Então, gente, que tal pedirmos mais uma porção? - tentei mudar de assunto, mas não adiantou.
- Pois é...um desperdício - dizia Guga, lançando um olhar sobre mim - o Pierre foi um ...
- Vacilão...isso sim...um bobo - completou Betina.
- Totalmente. Olha, eu gosto muito dele, é meu amigo...mas deixar escapar uma mulher como a Diana, foi um vacilo total.
- Ai, gente, agradeço a preocupação...mas já passou ok? Estou ótima assim e azar dele...ai, tô com fome...que tal a porção?

Finalmente, consegui cortar o assunto que seguiu por outro rumo até o final da noite. O Guga nos ofereceu uma carona até em casa. Resolvi aceitar, assim eu não ia ter que ficar ouvindo os papos de bêbado da Betina sozinha.

- Adorei a noite. - dizia ele, ao se despedir de mim na porta do meu apartamento.
- É, foi bem bacana.
- Espero que a gente se veja de novo...e que não seja só num esbarrão ... - dizia ele..
- Ah, é...pois é...
- Vou incomodar se te ligar?

Ué, mas porque o Guga queria me ligar?! Não perguntei, mas disse que sim.

****

- Olha, Betina, eu devia te fuzilar. - dizia para ela, enquanto tomávamos café da manhã.
- Por que? - perguntou Betina como quem tinha tido uma amnésia alcoolica.
- Bebeu, falou merda e agora não lembra??? Você me fez passar o maior carão na frente do Guga...
- Eu??? Eu não precisei fazer nada, Diana. O cara se entregou sozinho... Só você não vê que ele tá afim de você.
- De mim?! Mas ele é amigo do Pierre...nada a ver...o Guga é bacana e tals...mas eu e ele? ...não nada a ver.

Naquele instante o meu celular tocou. Era o Guga. Queria saber se a Betina tinha acordado bem, inventou umas histórias e no final perguntou se eu não estava afim de acompanhá-lo ao cinema à tarde. Tinha ganhado um par de ingressos para uma pré estréia e estava sem companhia.

- E agora?
- Agora, você vai ao cinema com ele!
- Betina, você tem noção que o cara é amigo, praticamente um dos melhores amigos, do meu ex namorado????
- E se o Pierre nos flagrar?
- Seria ótimo...assim ele aprende a não brincar mais com o sentimento de ninguém...e outra...acho que eles nem são tão amigos assim...

Na hora combinada, o Guga me pegou em casa e fomos ao cinema. Eu estava tão incomodada e nervosa com aquela situação que mal prestei atenção no filme. Ao final da sessão, fomos jantar em um restaurante.

- Nossa, esse filme é o máximo...acho que é um dos melhores do Di Carlini...aquela cena do metrô foi demais...você não acha? Diana? Tá tudo bem?

- Ah, nada, desculpe...- eu estava em Marte tentando me acostumar com aquele encontro - Eu estou sim. O que você disse?

- Se tinha gostado do filme.

- Ah, eu amei.

- Mesmo? Estou te achando um pouco preocupada...

- Não é nada não... - eu dizia olhando para os lados temendo que alguém nos flagrasse jantando naquele restaurante como se fossemos um casal.

A comida estava deliciosa, mas nem quis saborear a sobremesa. Inventei uma enxaqueca para que pudesse fugir dali.

****

Depois daquele jantar, o Guga me convidou para alguns outros passeios, mas inventei algumas desculpas e neguei. Ele passou a me ligar, contava sobre a sua vida e sempre que podia vinha com aquele papo de arrumar uma namorada. Eu estava quase disposta a indicar alguém para ele, mas não sei por quê eu não fiz isso.

Numa sexta-feira acalorada, Guga me ligou, me convidando para um aniversário. Disse que eu não ia poder negar. E eu não neguei. Afinal de contas, estava uma noite linda, há tempos eu não saía para me divertir e... e... o Guga tinha se tornado uma ótima companhia.

- Nossa, como você está linda!!! - disse ele me elogiando e abrindo, gentilmente, a porta do carro para mim. - Acho que não mereço tanto!

Fomos o caminho todo jogando conversa fora. Ao chegarmos na tal festa de aniversário, fui surpreendida e surpreendi a todos ao descobrir que o aniversariante era o Digão, um dos amigos do Pierre.

- Diana?! Você por aqui? Que honra e que surpresa! - disse ele ao me abraçar e ao olhar para o Guga. Percebi que tinha caído numa enrascada.

Cumprimentei a todos na festa, peguei uma bebida e fui respirar na varanda.

- Diana!!! Que bom te ver. Como você está linda. - dizia a Julia, a noiva do Digão. - Quando o Guga disse que você viria eu mal acreditei...

- Ah, ele disse que eu viria? - perguntei surpresa.

- Pois é...queria tanto te ver...depois que você terminou com o Pierre não nos vimos mais...vejo que você está ótima!!! E se quer saber...- disse ela cochichando em meu ouvido - achei a troca ótima.

- Troca? Que troca? - afinal, o que ela insinuava?

- O Guga...vocês estão juntos não estão?

- Eu??? Não, eu e o Guga somos apenas amigos...

- Pode abrir o jogo, Diana, todo mundo já percebeu...e eu super apoio...sempre achei que o Pierre não tinha nada a ver com você...

Pedi licença e desci as escadas parecendo uma loba. Tudo o que eu mais temia tinha acontecido. Os amigos do Pierre achavam que eu tinha trocado ele pelo Guga...e eu que nunca tinha dado nenhum selinho nele...ele tinha sido um ótimo amigo...mas nunca tinha rolado nada entre nós...Eu queria sair daquele lugar e, quando me dirigia para a garagem, tudo o que eu também mais temia aconteceu...dei de cara com o Pierre.

- Diana? Tá fazendo o que aqui?
- Ai, Pierre, agora não...dá licença que eu estou indo embora..
- Calma - disse ele me parando pelo braço - Não fala mais oi não? Aconteceu alguma coisa? Tá indo embora por que?

Antes que eu pudesse explicar, Guga apareceu na garagem. Ele e o Pierre se encararam surpresos.

- Diana? Achei que você tivesse ido embora, a Julia me disse que você...oi, Pierre, tudo bem?

Antes que o Pierre respondesse, Digão, o dono da festa, apareceu na garagem.

- Ops, desculpa, aí...acho que atrapalhei o trio amoroso né? - disse ele. Digão sempre falava besteiras, quando bebia.

- Como assim? Trio amoroso? - disse Pierre olhando para mim e para o Guga.- Então, quer dizer, que você está saindo com o meu amigo, Diana? - perguntou furiosamente.

- Dá licença, essa festinha já deu pra mim.

Saí como um furacão. Pude perceber que o Guga também vinha atrás de mim, mas foi golpeado por um soco do Pierre. Resolvi não voltar para ver o circo pegar fogo.

Fui para casa me sentindo suja e vítima de uma armação. Como eu tinha sido ingênua, achando que não teria problema aceitar um convite inocente daqueles. Antes tivesse negado desde o primeiro convite.O Guga me ligou a noite inteira, mas eu não atendi.
Ele e o Pierre tentaram falar comigo por uma semana, mas ignorei.

Porém, numa sexta-feira depois de muita insistência, o Guga foi até o bar de Pedrão e me encontrou lá.

- Di, segura a onda, mas o gato do Guga vem vindo aí. - alertou Betina.

- Ai, vou ir embora.

- Seja adulta, sorria e vire-se.

- Podemos conversar...a sós, Diana?

Ele me levou até onde estava estacionado o seu carro e, para nossa privacidade, preferi conversar dentro dele.

- Queria te pedir desculpas por aquela noite, Diana...eu não ia imaginar que o Pierre ia aparecer lá...

- Ah, não? Você me leva para casa do Digão, o melhor amigo do Pierre, e acha que ele não vai aparecer? Além do mais, a Julia insinuou que todo mundo andava dizendo que eu e você estamos juntos...de onde vem essa idéia? Eu fui ser legal com você e olha o papelão que você me fez...mas eu bem devia ter percebido que você é igual ao Pierre...imaturo.

- Diana, não vou negar que eu estou afim de você. Mas eu não sou mais um adolescente para ficar contando vantagens por aí...a Julia é uma cobra venenosa... eu te convidei numa boa para o aniversário...confesso que eu contei com a sorte...achei que o Pierre não ia aparecer...

- Mas apareceu e ainda insinuou que eu e você...

- Mas o que importa o Pierre? Afinal, ele não é seu ex? Eu sempre te respeite, respeitei a ele, mas ele mesmo diz aos quatro ventos que está em outra...

- Ah , ele diz? - confesso que fiquei desapontada. Ele deveria estar sofrendo por mim.

- Di...achei que você poderia dar uma chance a quem te quer de verdade...

- Guga, isso é uma loucura...apesar da mancada, você é um cara legal, interessante, bonito...adoraria ter te conhecido antes do Pierre...mas a vida quis assim...e eu não quero ficar falada na boca dos outros...

- Não precisa ser na dos outros...apenas na minha...

Eu me agarrou e me lascou um beijo. E eu? Não resisti. Cedi a tentação. Mas, rapidamente, acordei...

- Guga???

- Não gostou?

- Não, é isso...é que ... alguém pode nos ver.

- Sendo assim, posso te esconder num local mais seguro.

- Não...olha, eu te desculpo, mas ...com a gente, apenas amizade ok? Eu estou fugindo de rolos.

Beijei-o na face e voltei para dentro do bar. Fiquei pensando naquele beijo por um bom tempo e também por um bom tempo em como seria se eu tivesse ficado como Guga. Ele me procurou por um tempo, mas depois acho que encontrou finalmente a mulher de verdade que ele procurava.
Só sei que a amizade dele com o Pierre nunca mais foi a mesma.

Só sei que preferi seguir aquela regra de que amigo de homem meu...para mim...é mulher, ou, homem...em alguns casos.

PAPO DE CALCINHA: E PARA VOCÊ - AMIGO DE HOMEM SEU PARA VOCÊ É O QUÊ? E MULHER DE AMIGO? VOCÊ JÁ FICOU COM AMIGO (A) DE ALGUM(A) EX SEU?

sábado, janeiro 22, 2011

UM LANCE NÃO É ROMANCE


Por Letícia Vidica


Era sábado. O dia estava lindo. Uma boa pedida para uma feijuca, uma cervejinha gelada e um bom pagode com as amigas. Mas resolvi ficar enfurnada no meu apartamento a espera de uma ligação. Resolvi me ocupar com as tarefas domésticas para não enlouquecer com o tormento daquela ligação que não vinha.
Foi quando, de repente, o telefone tocou. Corri tanto que até tropecei no tapete da sala, bati a perna na mesa de centro e, ainda caída no chão, consegui estender a mão e atender.

- Alô? – disse eufórica achando que era ele.

- Oi, amiga.

- Ah, oi, Betina...é você? – respondi um pouco desapontada.

- Nossa, te decepcionei? Pelo visto está esperando alguma ligação...

- Pois é, o Lucas.

- Vai sair com ele hoje?

- Ah, não sei, tenho esperanças. Nos falamos no meio da semana e ele disse que me ligaria.

- Eu ia te chamar para um passeio...tá afim?

- Desculpe, Bê, tô aqui no meio de uma faxina...valeu!

A Betina bem sabia que, na verdade, eu queria mesmo era sair com o Lucas. Então, não insistiu e se colocou de prontidão, caso o meu passeio não desse certo. Passei a tarde toda, esperando ele ligar. E nada. Olhei o celular muitas vezes. Até imaginava que ele tocava e nada.

Já eram quase nove horas da noite e nada. Resolvi me jogar no sofá e me conformar com a idéia de que ele não me ligaria. Mas então porque ele tinha dito que me ligaria? Porque me Iludiu? Eram perguntas que rondavam minha mente e que só uma pessoa poderia me responder. Minha querida amiga Betina. Liguei para ela e aceitei o convite para um chope.

- Di, você tem que desencanar. Vocês nem são namorados. Saíram três vezes!

- Mas, Be, ele disse que me ligaria...

- E você acreditou? Di, você não é mais criança ne? Tá cansada de saber que todos os homens dizem isso, mas poucos cumprem...

- Poxa, mas ele me pareceu um cara tão bacana...eu tinha tantos planos...

- Planos?! Diana, você conheceu o cara ontem...ele é apenas um lance...e um lance não é romance!

Aquela frase me fez refletir que, de repente, eu seria apenas um lance mesmo. Talvez tenha sido desde o começo.

Eu conheci o Lucas em uma balada. Ele era lindo, foi logo se engraçando para o meu lado. Ficamos. Trocamos telefones. Fiquei quinze dias esperando por uma ligação dele e nada. Foi quando, coincidentemente, nos encontramos na mesma balada. Ficamos novamente. A carência era tanta que eu preferi os beijos aos esclarecimentos. Depois de uma semana, ele me ligou de novo. Nos encontramos em um bar e ele tinha me dito que me ligaria. E eu, inocentemente, acreditei e agora estou aqui, pagando pela minha ilusão.

- Será, Betina? Será que eu fui só um caso dele?

- Não sei. Mas sei que você tem que aprender a pegar e não se apegar. Nem todo cara hoje em dia quer um relacionamento sério...

- Mas o Lucas pode ser diferente...

- Se fosse não teria te deixado a ver navios.

Como sempre, os conselhos da Betina confundiam minha cabeça. Talvez ela estivesse certa. Eu tinha sido um lance. Resolvi tentar esquecê-lo. Mas estava difícil. Ele não saía do meu pensamento. Algo nele tinha me fascinado. Mas ele tinha sumido! E se eu ligasse para ele? Convidasse para sairmos? Preparasse um jantar? Não, era melhor não.
Para não enlouquecer, resolvi sair para dançar e chamei a Lili que, nas horas que fico triste, é a melhor companhia para me animar. Fomos a mesma balada em que conheci o Lucas. Eu estava dançando na pista, quando avistei o Lucas no bar.

- Lili, olha lá...o Lucas...

- Vai lá falar com ele.

- Será?

Antes que eu respondesse, a Lili me puxou pelo braço e fomos indo em direção ao bar.

- Oi, sumido!

- Gata? – disse ele engasgando com o chope que bebia e um pouco assustado com a minha presença.

- Achei que tivesse sido abduzido por ETs...

- Que nada..ando muito ocupado...

- Ahhh, e que tal dançar comigo agora, já que tem tempo livre?

- Ah, não vai dar...é que...

Antes que ele respondesse, uma morenaça de parar o trânsito, toda malhada, se aproximou dele e o abraçou pelo pescoço, como quem quer marcar território.
- Sheila, essa é a Diana, uma amiga minha.

Meu mundo caiu naquele momento. Estava explicado com o quê ele andava se ocupando e também por quê tinha desaparecido. Só lembro das três primeiras caipirinhas que tomei e depois de ter acordado tonta e com uma longa dor de cabeça na cama da Lili.

- Já cheguei ao céu? – dizia sentindo um peso enorme na minha cabeça.

- Ainda não, mas se continuar bebendo desse jeito toda vez que um homem vacilar contigo, nega, vai para lá rapidinho...

- Ai, Lili, diz que foi um pesadelo. Que o Lucas não estava com aquela morena do Tchan?

- É duro, amiga, mas ele estava com aquela vagaba. Ai, esquece ele e parte pro próximo. Ele nem é tão bonito assim. – dizia Lili tentando me animar.

Passei o resto dos dias, triste e cabisbaixa. Tentando engolir mais aquele fora que eu tinha levado. E fazendo esforço para não me lembrar do Lucas, mas parecia que o via em todo canto. Ai, meu Deus, será que nunca vou acertar?

***

Depois de mais de um mês sem notícias do Lucas, surpreendentemente, ele me ligou. Agiu como se nada tivesse acontecido naquela balada e me convidou para ir ao cinema. E eu? Burramente, aceitei. Ai, gente, eu estava numa carência danada, não dava para esnobar.

Nem me lembro direito o filme, só me recordo dos beijos e amassos que trocamos no escurinho do cinema. Depois do filme, ele sugeriu que ficássemos mais à vontade e, a burra aqui, o levou para a casa e o resto correu como pede o figurino.
Pela manhã, enquanto ele ainda dormia, acordei e preparei um super café da manhã para ele. Será que agora finalmente ele tinha percebido o quanto eu era especial? Será que tinha dado um pé na bunda da Sheila Carvalho?

- E a sua namorada? – perguntei enquanto a gente tomava café.

- Namorada? – ele respondeu assustado, engasgando com o café com leite.

- É, aquela que estava com você naquela balada... – sondei.

- Ah, a Sheila...não é nada não...apenas um lance...eu não quero me apegar a ninguém agora não.

Dessa vez quem tinha engasgado com o café com leite, era eu. Como assim, NÃO QUER SE APEGAR A NINGUÉM AGORA????? E eu o que eu era? Um LANCE TAMBÉM????

- Então, quer dizer que...eu e você...também somos um lance? – bufei.

- Calma, gata, para quê o nervosismo? A gente tem que ir devagar...eu não quero te magoar...eu terminei um relacionamento sério há pouco tempo e não estou preparado para mergulhar de cabeça novamente...

- E enquanto isso, você me enrola...come uma aqui e outra ali?...Não precisa responder não! Eu conheço o seu tipinho. Olha, nada contra, mas sei que sou mulher para ser muito mais que um lance...e como eu não quer ser seu lanchinho e muito menos lance...termine de comer e pode se retirar da minha casa e da minha vida!
Pronto, falei. Eu mal me reconheci, mas disse tudo que estava engasgado na minha garganta. Cansei dessa história de conhecer, se iludir, se envolver e depois ver que tudo não passou de um lance.

- Nossa, amiga, pegou pesado hein? O coitado deve estar tonto até agora – ria Lili.

- Bem feito. Estou cansada.

- Nossa, até eu me surpreendi. Mas vê se agora aprende a pegar sem se apegar e a diferenciar um relacionamento de um lance, assim você sofre menos.

- Ai, Betina, vou tentar. Vai ser difícil...mas vou tentar...prometo!

Até hoje, venho tentando diferenciar e entender. Não é nada fácil. Ainda mais porque já percebi que não sou mulher de lance, mas enquanto o príncipe não chega, vou lanceando por aí. kkkkk

PAPO DE CALCINHA: E VOCÊ JÁ VIVEU ALGUM LANCE? TAMBÉM ACHA QUE UM LANCE NÃO É ROMANCE?