quarta-feira, outubro 25, 2006

DONA DO MEU PRÓPRIO NARIZ... E DAS MINHAS DÍVIDAS TAMBÉM


Letícia Vidica

Acho que já comentei que sou uma publicitária ... dedicada, estressada, frustrada por não trabalhar numa grande agência. Uma agência renomada, com grandes contas, grandes prêmios, grandes festas, pessoas com pensamentos grandes, homens grandes...ops, vamos parar de delirar! A única coisa que bateu na minha porta foi uma agência de publicidade pequena, bem pequena não, média podemos dizer assim.

Trabalho na "Matuta Produções e Criações" há cinco anos. CInco anos me dedicando dia e noite a aguentar as reclamações do meu chefe, as encheções de saco do meu chefe, a chatice dos clientes, as reclamações do meu chefe, a chatice dos clientes e assim vai sucessivamente. No começo foi legal. Entrei na Matuta assim que saí da faculdade. Não queria ser mais uma com diploma na mão e sem emprego na outra. Aceitei uma das primeiras propostas que me apareceram. A grana no começo era legal. Também para quem ganhava pouco mais de um salário mínino como atendente de lanchonete, qualquer merréis é lucro.

Um ano, dois anos, três anos... cinco anos já se passaram e eu continuo na Matuta. Não sou mais uma profissional feliz. Não me sinto mais realizada. Todos os dias, quando o despertador toca, a minha vontade é deixar ele tocando e fingir que não estou ouvindo Dormir até meio-dia e fazer tudo aquilo que eu sempre quis fazer, mas a Matuta nunca deixou.

- Pede logo as contas, mulher.
- Ai, Betina, pra você que tem dinheiro, é fácil né? Esqueceu que eu moro sozinha e tenho minhas contas para pagar.


- Eu sei...mas se você está infeliz! E outra você é uma profissional competente e pode arrumar algo melhor.

Profissional competente é o que todos falam, mas até agora não lucrei com toda essa minha competência. O salário continua menor do que as minhas dívidas, trabalho mais do que o necessário, estou esquecendo quase tudo que aprendi poque não apliquei até agora (sou obrigada a seguir os padrões da publicidade de 1950). O mundo tá evoluindo e eu me sinto indo contra toda essa evolução.

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"Vai ser hoje. Hoje eu peço as contas. Vou chegar e dizer ´olha, muito obrigada, mas não dá mais não". É o que eu penso todos os dias em dizer, quando estou à caminho da agência. Chego lá sempre desejando que aquele seja meu último dia, mas nunca é. Será que esse dia vai chegar?

Sei que num país de desempregados não posso me dar ao luxo de querer jogar a minha única fonte de sustento para o alto, mas não aguento mais. Um dia, minhas preces serão ouvidas...

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- Bom dia, Diana!
- Nossa, Rose, que cara é essa?
- Te prepara, garota. O clima aqui é dos piores hoje.
- Posso saber por quê?
- Simplesmente porque perdemos a conta da SHZ.
- Da SHZ? Mas eles são os únicos clientes decentes e mais ricos que a gente tem...
- Pois é...


O dia seguiu até às seis da tarde com clima de velório e enterro ao mesmo tempo. A porta da chefia ficou fechada o dia todo. Meu querido chefe não saiu nenhuma hora para dizer algo. Como já era esperado, no fim do expediente, Seu Jorge reuniu a trupe:

- Gente, nem sei como começar a dizer isso...

Vou resumir: ele fez aquele discurso típico de que éramos uma ótima equipe, bons profissionais, que ele gostava muito da gente, mas que a empresa ia ter que passar por uma reestruturação e conter gastos. Preciso dizer que o meu salário e o meu emprego foi um dos gastos que ele cortou?!

Saí de lá com o meu sonho realizada: era mais uma desempregada no meio de milhões. Cheguei em casa meio pasma, meio feliz e meio triste. Agora eu era dona do meu próprio nariz. Não precisaria mais acordar cedo, aguentar encheções de saco de patrão e de cliente. Ia poder nadar, ir ao cinema numa tarde ensolarada, fazer tudo e nada numa segunda-feira...

Mas parecia que as contas coladas na geladeira gritavam: "Ô, sua pateta, e a gente? Como vamos ficar?". É, realmente, como eu ia ficar e como eu ia fazer pra pagar todas as contas que gritavam da minha geladeira. Eu até ia tirar uma grana do seguro desemprego e da rescisão,mas um dia a grana ia acabar. E esse dia estava muito próximo.

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- O que eu faço?
- Ué, você não queria sair da agência.
- Queria...queria sair e não que me tirasse de lá. E agora? Como vou fazer? Vou ter que voltar pra casa dos meus pais. E eu jurei que não voltaria, que podia provar que seria independente, dona do meu próprio nariz...e agora só sou dona do meu prejuízo..
- Calma, Di, tudo vai se ajeitar. Guarda uma grana pra sobreviver esses meses e corre atrás de outro...
- Como se fosse fácil né? Fila, entrevista, processo seletivo...tudo de novo, não! Acho que vou me engajar para conseguir um homem rico...é isso...um homem rico é a solução para os problemas das mulheres solteiras desempregadas do Brasil.
- Ô anjinho, desce daí de cima. O máximo que você vai conseguir frequentar é o boteco da esquina e se contente de o dono do bar te der uma piscada...acorda!
- Ai, credo...


A Betina estava certa. Eu tinha que parar de sonhar e cair na real. Me arrependi por ter desejado um dia sair da Matuta. Agora estava aqui: sem emprego, com pouco dinheiro e cheia de dívidas para pagar e que não paravam de gritar de todos os cantos do meu apartamento.

PAPO DE CALCINHA: QUEM JÁ PASSOU PELO GOSTO TERRÍVEL DO DESEMPREGO? COMO SUPEROU?

UNIVERSO DA MULHER


GALERA, TÔ FICANDO POP!!!!

Daqui há alguns anos, terei meu nome estampado com luzes de neo nos outdoors da cidade...rs

Brincadeirinha, é que estou feliz e não podia deixar de dizer que o PAPO DE CALCINHA está ganhando novos horizontes....

Agora, além de publicar as histórias no blog, também estou postando no site UNIVERSO DA MULHER www.universodamulher.com.br. Por enquanto, tenho um link do blog no final da página. Mas, em breve, terei uma coluna todinha minha e você poderá me ajudar...

Um super beijo e não deixem de acessar lá e cá!

sexta-feira, outubro 06, 2006

"SERÁ QUE ELE É? É SIM E É MEU AMIGO!"


por Letícia Vidica

Moreno sarado, olhos castanhos que no sol viram cor de mel, sorriso encantador, inteligente, trabalhador, dois metros de muita saúde, educado, entende todos os meu problemas, aguenta as minhas crises, me diz umas verdades quando eu preciso, nunca me deixa sair de casa horrorosa ou com uma roupa nada a ver. Quem é ele? O homem perfeito? Um anjo? Será que a Diana desencalhou? Nada disso! Este deus de ébano é o meu melhor amigo, o Fabrício, mais conhecido na noite como Fafá Purpurina. É isso mesmo que vocês está pensando......felizmente ou infelizmente, eu eu o Fafá gostamos da mesma fruta. Ele é homossexual.
Achei que devia falar dele, pois depois das minhas amigas, o Fafá é uma das pessoas que mais me entende (e muitas vezes é a única). E depois de longos anos de amizade, cheguei a uma conclusão: o gay é o melhor amigo de uma mulher. Toda mulher deveria ter um amigo homossexual.
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Eu e o Fabrício nos conhecemos há uns dois anos no salão de cabelereiro que eu frequentava. Lembro que, quando cheguei no salão e olhei para aquele morenaço, logo alimentei esperanças...esperanças que morreram assim que ele veio me atender e disse descaradamente:
- Menina, que cabelo horroroso! Vamos dar um jeito nisso agora. - confesso que fiquei meio decepcionada de deixar que aqueles dois metros de altura virasse um concorrente meu. Mas logo me apaixonei por ele e passei uma tarde muito gostosa no salão.
Uma não. Várias. Porque depois desse dia, ele virou o meu cabelereiro e confidente número um. Todo sábado era sagrado ir no salão para ouvir as histórias do Fafá. Muito bem humorado e espalhafatoso também, ele sempre tinha uma boa história para contar e bons ouvidos para ouvir.
Nossa amizade começou a surgir assim, entre uma escova e outra. E logo logo, o Fafá já havia virado meu melhor amigo. De lá pra cá, a gente não se desgrudou mais. O coitado já aguentou muito choro meu e me deu muita bronca também por causa das minhas confusões amorosas e a gente também já passou momentos muito agradáveis juntos.
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- Oi, amigaaaaaaaaaaaa....que horror, Diana. Você está com uma cara péssima. E esse pijama amassado às quatro horas da tarde? Minha filha, acorda pra vida. Sobreviva! - era sábado e mais um daqueles que eu estava na deprê total. Fazia um mês que eu havia acabado o namoro e estava carente.
- Entra, Fafá.
- Posso saber o motivo do velório?
- Tô mal. Hoje faz um mês que o Rodrigo me deixou.
- Linda, vamos mexer o bolo que a fila tá andando. Eu sempre te disse que aquele magricela não te merecia, mas você sempre insiste em errar né, fofa? Agora eu não admito que você perca esse dia lindo por causa de defunto? Sai desse corpo que não te pertence.
- É difícil, Fafá.
- Difícil é ressucitar, minha querida. Por isso, eu te dou meia hora para você tomar um banho, colocar uma roupinha, um batom, arrumar esse cabelinho e cair na gandaia comigo.
- Ah, não tô afim, Fafá...
- Sem choro nem vela...Um, dois, três.
Era sempre assim. Parece até que ele sentia quando eu não estava bem. Batia uma deprê e lá estava ele para me levantar. Já chegamos até a achar que fomos alma gêmeas em outras vidas, que a nossa ligação é cármica, sei lá.
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Sempre que ele queria me animar me levava para a casa dos seus amigos. Eu costumava dar boas risadas por lá. Apesar de que, às vezes, a deprê só piorava, depois de ver tanto homem bonito, educado, malhado junto e saber que nenhum deles jamais ficaria comigo. O Fafá é que é feliz, sempre tem alguém.
Outro dia, ele apareceu com um negrão lindo, no outro, foi um lourão...cada hora era um mais lindo que o outro. Às vezes, entro até em paranóia ao ver tanto homem bonito saindo do mercado...e eu ficando aqui na ponta de estoque e ninguém querendo, ao menos, fazer uma degustação. Por isso, pra me consolar só mesmo o Fafá. Valeu amiguinho!


PAPO DE CALCINHA: VOCÊ TEM ALGUM AMIGO HOMOSSEXUAL? CONCORDA QUE O HOMOSSEXUAL É UM ÓTIMO AMIGO DA MULHER?lericiav@ig.com.br