sexta-feira, julho 24, 2009

SE ATÉ AS BALEIAS DESENCALHAM (PARTE II): A DONA DA PENSÃO


Por Letícia Vidica

- Minha mãe quer conhecer você!

Essa era a pergunta que eu mais temia nos três meses felizes de namoro entre eu e o Pierre. Apesar de estarmos juntos há quase um ano, família era um assunto que ele sempre abominou entre nossas conversas. Às vezes, cheguei até a achar que ele era filho de chocadeira. Até que não seria mal?

- E aí você aceita, Di? - perguntou meu gatinho fofo com a cabeça deitada no meu colo com cara de bebê pidão numa tarde fria de sábado no sofá da minha casa.

O que eu poderia ou deveria responder? Apesar da negativa constante em minha mente, o que eu não fazia pelo meu gatinho?! Mulher apaixonada e boba faz de tudo, até ter que enfrentar um almoço numa tarde de domingo na casa da sogra.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

- Ai, gente, a mãe do Pierre quer me conhecer.
- Poxa, que legal, Di - dizia a eterna romântica da Lili
- Legal? Isso é terrível...eu não tenho muito boas experiências com famílias de namorados e vocês sabem muito bem disso e, principalmente, quando o assunto é sogra. Acho até que sou meio pára-raio para essas coisas.
- Mas dessa vez você não tem como fugir né?
- Bem que eu queria, Betina...mas o Pierre é tão fofo comigo...acho que vou ter que encarar essa.
- É só agir com naturalidade, ser você mesmo e nunca, mas nunca retrucar às provocações hein, Dona Diana...
- Tá bom, tá bom...prometo a vocês que dessa vez vou me comportar.

Quem inventou esse ditado cretino de que um raio não cai duas vezes no meu lugar, estava muito, mas muito enganado. Eu sou o pára-raio em pessoa. Sempre me dei super bem com meus (poucos) namorados, mas já com a mãe deles...sempre foi um problema.

A mãe do meu primeiro namorado era uma fofa comigo até ela descobrir que eu era a namorada do filho dela. Estudávamos no mesmo colégio desde a primeira série. Nossas mães eram super próximas. Porém, quando nos apaixonamos, tudo mudou. Rolava um tipo de disputa por ele. Algo absurdamente lunático.

Já a mãe do meu segundo namorado era do tipo sincera. Sincera até demais. Não tinha papas na língua falava o que vinha na telha e incrível que todos os meus defeitos eram as únicas coisas que vinham na telha dela. Meu namoro acabou graças a sinceridade dela em me dizer que eu era uma corna.

A do terceiro era do tipo mãezona, parecia uma pessoa ingênua, do tipo Amélia, não faria mal a uma mosca. Mas , por dentro, era pior do que uma bruxa. Conseguiu tornar o meu namoro um inferno pois a arma dela era a chantagem emocional. E o pior de tudo era que o meu namorado se rendia a essa chantagem toda hora. Infelizmente ou felizmente, o meu saco não era tão grande quanto o chantagismo dela. Vazei.
E agora o que me esperava?

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Meu dilema começou às 07 horas da manhã do domingo. Quem diria que euzinha acordaria cedo numa manhã de domingo? Mas para falar a real, eu mal tinha conseguido pregar o olho a noite toda. Tive pesadelos horríveis com as minhas ex-sogras e com a atual.

Apesar do Pierre ter combinado de vir me buscar apenas na hora do almoço, eu já estava ligadona, ansiosa, sem um pingo de fome e com medo do relógio. Resolvi então pensar com que roupa eu iria para esse almoço. Desmontei todo o meu guarda-roupa. Uma hora de provas e nada me agradava. Não hesite. Chamei a minha personal stylist.

- Não acredito que você me tirou da cama a essa hora, Diana?! O que eu não faço para ajudar uma amiga hein? E você sabe muito bem que eu não entendo um pingo de moda...deveria ter chamado a Lili.
- Não reclama Betina...prefiro você porque é sincera..não corro risco de ir vestida como uma boneca. E vamos logo que só temos três horas.

Comecei então meu momento Gisele Bundchen...

- Que tal?
- Se você for com essa roupa, a mãe dele vai achar que ele te encontrou num convento...
- Talvez essa?
- Diana, é um almoço e não um casamento...pelo amor de Deus, você não vai para um puteiro...nananinanão...infantil demais...cafona demais...

Depois de um monte de NÃOS, resolvemos o meu modelito e faltava apenas meia -hora para o Pierre chegar. Betina me fez mil e uma recomendações e foi embora me deixando na espera mortal pelo momento crucial da minha vida. Nunca pensei que seria tão difícil encarar esse momento.

Como todo bom homem e cavalheiro, o Pierre chegou 45 minutos atrasado.

- Desculpe o atraso, amor. Tive que ir ao mercado com a minha mãe hoje cedo comprar umas coisas...nossa, ela tá mega nervosa e ansiosa para te conhecer...
- Jura? - Mal sabia ele que meu coração já estava no cérebro.
- Ah, só queria te dar um toque. Não liga para os comentários da minha mãe não tá?

Eu podia ter ficado sem essa.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Havia chegado ao temeroso castelo do meu príncipe. Sem que tocássemos a campainha, uma poodle de lacinho rosa saiu latindo em minha direção como quem dizia "quem é essa piranha?" e logo atrás achei que a mãe da poodle vinha, mas pisquei fortemente e percebi que aquela jovem senhora de cabelos louros encaracolados com roupas que caberiam na minha prima de 13 anos de idade, era minha sogra.

- Pitico, que menina linda!!! Entrem, entrem...prazer, gracinha...fique à vontade...Meg, quieta...olha como é linda a namorada do Pitico.

Fiquei meio em choque com toda aquela cena bizarra e mais bizarro ainda foi descobrir que o meu gatinho, o meu homem, o meu macho era chamado de Pitico?! Entrei na casa, sentei-me no sofá, tentando ficar confortável, apesar da Meg ficar rosnando para mim toda hora. Logo um senhor (bem aprumado por sinal. Já sei de quem o Pierre puxou a beleza) desceu as escadas e me cumprimentou.

- Nossa, eu não via a hora de te conhecer. Tava quase achando que você não existia!!! Mas, seu eu não conhecesse bem o meu Pitico, mal acreditaria...mas e então fale de você.

Por que será que conhecer a família do namorado era tão ou mais pior do que passar por uma entrevista de emprego. "O que você faz da vida? E a sua família? Mora sozinha? etc" Depois de contar um pouco da minha vida emocionante, a mãe do Pierre foi me apresentar o apartamento deles que mais parecia uma casa. Acho que dava uns três do meu.

- Olha, tô muito feliz que o Pitico está namorando...você sabe né?...ele ficou super mal depois que acabou o noivado com aquela lá...nem gosto de me lembrar disso...mas eu sei que você não vai fazer isso como o meu Pitico né? ... nossa, eu sou super legal, mas se mexem com o meu filhinho, viro uma fera.

Senti aquilo como uma indireta sutilmente direta. Mas sorri como se eu não tivesse entendido a intenção.

Na hora do almoço, ao sentar-me na mesa, quase me perdi com o número de copos, garfos e pratos que estavam à mesa. Ainda bem que eu leio revistas de gente chique e aprendo tudo rapidamente. Comi pouco para não parecer gulosa, apesar da comida estar deliciosa. Durante o almoço, minha querida sogra ficou contando os planos da sua próxima viagem para a Europa e já queria me incluir no pacote (mal ela sabe que meu salário mal paga um bate e volta para Praia Grande).

Fim de tarde e o meu tormento estava chegando ao fim. Até que, para primeiro encontro, não tinha sido tão mal. Acho que me comportei muito bem. Apesar de que o problema nunca eram os primeiros encontros e sim o que estaria por vir...

- E aí, acho que minha mãe curtiu a norinha hein? - disse o Pierre me apertando como um ursinho de pelúcia na porta da minha casa.
- Tomara né? Ela também me pareceu super gente boa...
- A bichinha é meio ciumenta, meio perua né? Mas tem bom coração...

Apesar de eu concordar com a parte do ciúmes (tive a sorte de namorar um filho único), dela ser perua (tentar ter a metade da metade da minha idade) e das ameaças educadas que ela me fez.. eu não queria magoar o meu príncipe, afinal de contas ela era a dona da pensão né?

Papo de Calcinha: E você se dá bem com a sua sogra? Já teve algum problema com sogras?