sexta-feira, dezembro 16, 2011

REUNIÃO DE FAMÍLIA



Por Letícia Vidica


- Nossa, quem morreu? – perguntou Pedro ao ver a minha cara de desânimo ao desligar de uma ligação com a minha mãe.

- Minha mãe chamou a gente para almoçar na casa dela amanhã.

- E precisa ficar com essa cara de velório?

- Não ficaria se minha mãe não tivesse arrumado um pretexto para chamar toda a família para conhecer o novo namorado da Diana!!! – bufei.

- Ótimo!!! Vou adorar conhecer a sua família toda... acho até que vou dar uma ligadinha pro sogrão para saber se ele quer uma ajudinha na churrasqueira... posso fazer aquela minha caipiroska. Minha especialidade!!!

Enquanto o Pedro delirava planejando o churrasco na casa dos sogrinhos, eu tentava me acostumar com a idéia de que aquele almoço era uma espécie de celebração ao meu desencalhe. Tudo que eu menos queria. Tudo que eu sempre implorei para que minha mãe não fizesse, mas ela nunca me ouve mesmo né? Agora bastava me vestir de paciência e agüentar o mico.

***

- Diana, anda logo!!!! – gritava Pedro do hall do meu apartamento segurando o elevador.

- Tem certeza que quer ir? Eu posso ligar e dar uma desculpa qualquer... eles vão entender... eu nunca fui muito fã desses almoços mesmo... – joguei meu último apelo.

- Vou com ou sem você. – dizia Pedro, que estava irredutível, e animado como uma criança que vai pela primeira vez ao parque andar de bicicletas. – Estou começando a achar que você tá com vergonha de me apresentar para a sua família...

- Não é nada disso, Pedro, é que...

- Sua família não conheceu o Pierre também?!

- Mais ou menos... o Pi... o Pierre também não curtia muito isso sabe?

- Aí está a diferença entre eu e ele. E eu não sou o Pierre e como os opostos se atraem...entre no carro que estamos atrasados... – dizia Pedro segurando a porta e um
saco de carvão e colocando um ponto final naquela conversa.

Preferi finalizar também. Não queria ter que chegar em pé de guerra na casa da minha mãe e como ele já tinha colocado o Pierre (como sempre) no meio da conversa, preferi levantar a bandeira da paz.

***

Mal reconheci a casa da minha mãe quando cheguei porque ‘chovia gente pelo ladrão’. Um bando de carros estacionados na rua. A fumaça do churrasco correndo solta pelo céu. Uma creche brincando e gritando na garagem de casa. De onde surgiram todas essas gracinhas? Em que século eu parei que todo mundo procriou? Quase fui derrubada pelos meus sobrinhos lindos que pularam no meu colo em disparada ao me ver. Os pestinhas paralisaram ao ver o Pedro, como quem vê um extraterrestre. Devem ter pensado algo como ‘nossa, mas ele era diferente da última vez.’ E, como são muito novos para entender algumas coisas, preferiram sair correndo (por que as crianças correm tanto?) e continuar brincando numa espécie de MMA.

- Diana, até que enfim, né? O povo já tá verde de fome... – essa era a minha mãe querida, como sempre, me cobrando. – Oi, Pedro, tudo bem, meu filho? – dizia ela dando beijinhos e abraços nele.

- Oi, minha filha, tudo bem? E aí, Pedrão? – esse era meu pai. – Poxa, não precisava se incomodar com nada, mas já que trouxe... – dizia ele pegando o carvão.

- Ahá... agora eu já sei porque demorou tanto para você apresentar seu novo namorado, Diana. Mas ele é um pedaço de mau caminho. Com todo respeito, meu filho, prazer, Doralice. Tia Dora. – apresentava-se a desbocada da irmã do meu pai.

Pedro cumprimentou a tia piriguete educadamente e depois perdeu-se junto ao meu pai
naquele mundaréu de gente.

- Mãe, mas não era apenas uma reuniãozinha com os tios e as tias? Tem gente aqui que eu nem lembro a cara... – eu cochichava para minha mãe na cozinha.

- Ah, filha, sabe aqueles meus primos do interior? Então, fazia tanto que eles não
vinham para cá e acabei chamando também... É tão bom reunir a família né?

Eu até podia ter dado uma resposta atravessada para minha mãe, mas nada paga o preço de vê-la tão feliz. E a santa da minha irmã , Marisa, recriminou meus pensamentos com os olhos e me acalmou com seu sorriso. Para relaxar, então, peguei uma cerveja para entrar no clima e fui em busca do meu príncipe, que estava perdido na festa.

- Sempre rapidinha, né, dona Diana. Já trocou de namorado? Essa juventude hoje em dia
troca de namorado como troca de roupas... Tudo bem com você?

A minha vontade era mandar a chata da tia Sonia, que adora se meter onde não é chamada para um lugar impronunciável, mas o meu respeito pelos mais velhos me impediu disso. Apenas sorri e resolvi não perder tempo em responder a ela que a vida era minha e que talvez não seja à toa que ela é uma solteirona convicta mal amada e sem filhos.

- Já te pegaram para Cristo, Pê? – me surpreendi ao ver Pedro de avental, dominando a churrasqueira e liderando a conversa com a homarada no fundo do quintal. Bem diferente do Pierre. Com o Pedro não tinha tempo ruim. Confesso que fiquei paralisada com aquela cena por alguns segundos e ainda me apaixonei ainda mais por ele.

- Tava falando pro cunhadão aqui que ele é um santo por aturar você hein? – esse era o meu irmão, Paco, que já me irritava para não perder o costume.

- Ele tem que levantar as mãos aos céus por eu ter dado uma oportunidade para ele ... isso sim!!! – eu retrucava.

- Filha, vem aqui... quero te apresentar uma pessoa!!! – essa era minha mãe dando sinais de que a sessão tortura iria começar. Justo agora que eu tinha relaxado?

Comecei então uma via sacra pela minha casa sendo apresentada aos parentes do interior. Vesti um sorriso amarelo e cumprimentei a quinhentas mil pessoas que repetiam em coro: ‘Nossa, como você cresceu!”, ‘Mas que bonitona’, Nossa, te peguei no colo... troquei suas fraldas... to ficando velha... (ainda bem que ninguém disse que também tinha trocado meu absorvente), Parabéns pelo namorado, Vai casar quando?
Ainda não desistiu da idéia maluca de morar sozinha? Hipnotizada por todas aquelas declarações, só tive uma certeza: nenhuma daquelas pessoas fará parte da minha lista de convidados para o meu casamento (se eu casar um dia).

- Satisfeita agora, mãe? - era a minha paciência que dava sinais de que tinha chegado ao limite.

- Será que você não pode mudar essa cara, não, Diana? São seus parentes, poxa!!!

- Eu sei. Mas a senhora tá fazendo do meu namoro um carnaval... Eu mal comecei a namorar com o Pedro, mal sei se vai dar certo... não precisava disso. – eu ralhava com minha mãe, como de costume.

- Tá tudo bem por aqui? – era Pedro que nos flagrava discutindo no corredor da sala.

– Querem uma carninha? – ele perguntava tentando desbaratinar e quebrar o gelo. Será que ele ouviu algo? Só sei que ele virou as costas e saiu. Minha mãe me lançou um daqueles olhares diabólicos dela e saiu bufando.

Pronto. Agora eu era de vez a ovelha negra da família. De saco cheio, resolvi sentar na sala para respirar um pouco.

- Primota.. até que enfim te achei!!! – era a Sheila, minha prima favorita. A Sheila era a ovelhinha número 2 da família também. Ela tinha voltado recentemente de uma temporada em Londres e me entendia muito bem.

- Tá fazendo o quê refugiada aqui?

- Ah, nem me fala... não viu o que a sua tia me aprontou? Armou todo esse circo para apresentar o Pedro para família... ela sabe que eu odeio isso...

- Não tem jeito mesmo, né? Eu bem vi o seu bonitão lá na churrasqueira... Mas e o Pierre? Já era? Da última vez que nos falamos, eu ainda estava em Londres e você tava com ele né?

- Uma longa e complicada história, prima. Temos que marcar um cervejinha para eu te contar tudo. Mas me conta e você?

Felizmente, tive meus 15 minutos de paz, enquanto tricotava com a Sheila na sala e me atualizava sobre todas as mudanças na vida dela, mas fomos interrompidas pela minha irmã, Marisa.

- Di, tá todo mundo te procurando. A mamãe vai servir o almoço!!!

- Ah... tinha me esquecido... podem ir comendo sem mim...

- Diana, pega leve também né? – recriminava Marisa – Parece até que não conhece a
mamãe...

A Marisa estava certa. Eu bem conhecia a minha mãe e não deveria ter me espantado com tudo aquilo. Resolvi voltar para a festa. Todos já devoravam o almoço como cães famintos. Nem sei se iam sobrar migalhas para mim.

Olhando todo mundo comer senti falta do Pedro. Resolvi procurá-lo e o flagrei no maior papo com a Dani, a minha prima piriguete. A Dani, além de mais nova e de ser cinco vezes mais gostosa do que eu, tinha a fama de atacar o homem alheio. E não importava se esse homem era da família.

- Não vai comer, amor? – disse com voz doce me aproximando de Pedro para marcar território. – Oi, Dani, tudo bem?

- Ah, já vou. Fiquei beliscando aqui na churrasqueira. Você sumiu e a Dani ficou aqui me fazendo companhia.

- Obrigada, Dani. Eu estava falando com a Sheila, aquela minha prima de Londres... mas já estou aqui... E do que estavam falando? – perguntei curiosa.

- Bobagens. – disse Pedro (havia algo de ríspido e seco na sua voz. Será que ele tinha ficado chateado com o que ouviu na sala?)

- Imagina só, Diana... que infeliz coincidência... a gente tava aqui lembrando que foi com o Pedro que eu dei o meu primeiro beijo.
Para tudo que eu quero descer. Como é que é? Como assim o Pedro foi o cara que você beijou pela primeira vez?

- Ah é... eu não sabia... – eu disse fuzilando o Pedro.

- Coisa de criança, Diana. Deixa eu olhar a picanha que tá queimando. – saiu Pedro pela culatra.

- Bobeira, prima. Eu era uma criança. Lembra quando eu vinha dormir aqui na sua casa? – como eu não ia lembrar? Eu odiava quando você dormia aqui em casa porque destruía todas as minhas bonecas - Eu sempre gostei de brincar com os meninos da rua né – tinha me esquecido que desde pequena ela já tinha o dom – numa noite dessas , enquanto a gente brincava de esconde esconde, me escondi com o Pedro na rua de baixo e rolou um selinho.

- Aceitam picanha?

- Eu não quero nada, Pedro.

Inventei uma desculpa e sai batendo as tamancas. Tudo bem que tinham se passado 10 anos, mas agora o Pedro era o meu namorado!!!

- Diana, precisava daquela ceninha toda? – era Pedro que tinha vindo atrás de mim.

- Eu não fiz nada. Apenas sai.

- Como não? Deixou a sua prima com cara de tacho...

- E tá preocupado com ela por que? Tá afim de brincar de esconde esconde com ela? Vai
lá! – virei as costas e fui olhar o portão.

- Para de ser infantil. O que tá acontecendo com você? Desde que esse lance de almoço começou que você não facilita... daí me larga na festa e quando vejo está brigando com a sua mãe porque ela quis me apresentar a família. Algum problema quanto a isso?
Eu não sou bom o suficiente para ser apresentado a sua família? Ou será que é porque você não sabe se o nosso lance vai dar certo e já está pensando no fim e não quer ter que fazer outro almoço para explicar a nossa separação?

Nossa, o Pedro pegou pesado e eu me senti um rato.

- Não é nada disso, Pedro... – eu disse tentando abraçá-lo, mas ele estava irredutível.

- Que que tá pegando aí? – era Paco que nos flagrava soltando faíscas.

- Nada não. E aí vai rolar aquele sambinha? - desbaratinou Pedro.

Samba? Não bastava todo o carnaval?! Mas, para finalizar, o meu irmão que agora tinha virado pagodeiro chamou o grupo Chama Chuva dele para batucar no meu almoço de união-separação com o Pedro. E o meu atual-ex-namorado se enfiou na roda e preferiu dar boas palmadas no pandeiro para se acalmar. Acho até que ele imaginava a minha cara no couro do pandeiro. Resultado: ficamos sem nos falar a festa toda.

***

- Mãe, desculpe. – essa era eu levantando a bandeira da paz enquanto ela lavava as louças que tinha sobrado do almoço

- Eu bem conheço os meus passarinhos, Diana... Eu que tenho que me desculpar. É que eu fico tão feliz em ver vocês felizes que eu quero esbanjar sabe? Prometo me controlar.

Nos abraçamos e como sempre nos acertamos. Eu e minha mãe somos como Tom e Jerry. Vivemos trocando faíscas, mas não vivemos uma sem a outra. Falando em faíscas, ainda tinha uma que faltava ser apagada...

- Não vai subir? – perguntei ao Pedro quando ele parou na porta do meu prédio.

- Não. Vou dar uma passada na casa dos meus pais.

- Vem dormir aqui depois?

- Não sei. – respondeu seco.

Fiquei muda e em silêncio por uns instantes, mas eu tinha que deixar o meu orgulho de lado.

- Desculpa, Pedro. Sei que eu pego pesado, às vezes... mas tenta me entender.

- Te entender é o que eu venho fazendo desde que a gente tá junto, Diana. Juro que é o que eu mais faço. Te entender e te agradar. Mas e você ... será que você também me entende?

- Eu te adoro, Pedro.

- Não foi isso que eu perguntei, mas tudo bem. Olha, suba, tenha uma boa noite de sono e amanhã a gente conversa.

- Mas...

- To precisando de um colo de mãe agora. Durma com os anjos.

Ele me deu um selinho frio. E saiu cantando os pneus. E eu fiquei ali, parada, feito uma idiota e com raiva de mim mesma por ter estragado tudo. Por que eu não facilito as coisas, hein? Acho que vou ter que convocar uma outra reunião de família para gente se conciliar.

PAPO DE CALCINHA: Já teve que encarar alguma reunião de família para apresentar o(a) novo(a) namorado(a)?

sexta-feira, dezembro 09, 2011

aBAIXA FIDELIDADE



Por Letícia Vidica


- Ah, gente, duvido que aqui ninguém nunca traiu. Atire a primeira pedra quem nunca deu uma puladinha de cerca... não tem esse papo de fidelidade hoje em dia não!! – teorizava rindo e colocando o chope guela adentro, o gerente de marketing lá da agência, durante nosso happy hour de fim de ano.

- Alguém tem um tijolinho aí? Por que eu vou atirar em você, Mauricio... – eu dizia, abismada com tal declaração e mais abismada ainda com a naturalidade que meus colegas de trabalho a encararam.

- Não vem com essa, Diana. Pagando de santinha agora? – cutucava o motoboy – Vai dizer que nunca traiu o Pierre? Nem O Pedro?

- Não! E qual o problema?

É. Alguém pode me dizer qual é o problema de ser fiel hoje em dia? Não, porque tá tudo invertido. Trair virou um hábito tão comum e rotineiro como coçar o nariz ou ir ao banheiro. E qual o problema se eu eu ainda sou a favor da fidelidade?

- Amiga, ninguém é fiel hoje em dia não. Todo homem trai e até a mulherada trai também. – dizia a secretária lá da agência. Choquei porque ela tem cara de quem não é comida por alguém desde que o Brasil foi descoberto. Só que agora a mal comida era quem pregava o sermão em mim.

Nem preciso dizer que esse papo de trair e ser fiel foi o tema do nosso happy hour que entrou madrugada adentro. Deixamos até de lado as fofocas sobre os bastidores da agência, nem nos incomodamos de não falar nadica de mal do chefe ou de rir com as imitações do Dennis sobre o nosso chefe. E entre um chope aqui, um frango a passarinho acolá...quanto mais eu tentava defender a fidelidade, mais eu me sentia uma marciana.

***

- Agora que estamos só nós dois, Diana, pode confessar. Nunca foi ciscar em outro terreno? – perguntava Mauricio, que tinha me oferecido uma carona para casa porque o meu carro estava no rodízio.

- Já falei, Mauricio. Eu sou fiel. Doa a quem doer, eu defendo a fidelidade. Acho assim, se não tá legal, termina. Pronto.

- Mas, Diana, não é uma questão de estar legal ou não...veja o meu caso...sou muito bem casado há 10 anos, amo minha mulher, nem passa pela minha cabeça deixá-la, mas ... eu tenho desejos, curiosidades e acho extremamente normal transar com outra mulher... é da nossa natureza, Diana. – dizia ele enquanto esperávamos o semáforo abrir.

- Só se for da sua natureza né? Da minha não é. Mas e a sua mulher? Se ela pensar da mesma forma? – cutuquei o sabichão.

- Acho que não me importaria, mas sei que ela não pensa...

- Pimenta nos olhos dos outros é refresco, né, negão? Quem garante? Não é da natureza humana? Então...

- Confio no meu taco. – disse ele dando uma piscadinha para mim.

Seguimos o caminho em silêncio. Acho que o Mauricio ficou imaginando sua mulher com outro Ricardão na cama só para satisfazer os desejos da natureza humana e eu... olhava para os faróis dos carros com o pensamento distante ainda tentando digerir esse papo todo de ser fiel ou não. Distraída, assustei-me quando vi um carro parar ao nosso lado e ver um casal que se beijava ardentemente.

- A noite desses aí vai ser boa né... – comentava Mauricio.

- ‘Peraí, eu conheço essa mulher... não pode ser, Betina? – fiquei sem palavras quando vi que Betina era a danada da mulher que ia ter uma noite boa. Boníssima, por sinal, porque o carro arrancou e entrou rapidamente no motel que ficava na esquina.

Como assim a Betina tá saindo com alguém? Como assim não me contou nada? Vou tirar essa história bem a limpo, viu? Fiquei tão fula com a traição da Betina que nem percebi que tinha parado na frente do meu prédio.

- Bem, está entregue, senhorita. – dizia Mauricio, colocando as mãos nas minhas pernas.

- Obrigada. Desculpe o incomodo e as encucações... – eu dizia me ajeitando para tentar me livrar da mão dele.

- Que isso... Foi um prazer tentar você. – ele ria.

Fiquei paralisada com aquele sorriso. Sabe tipo cena de filme que fica tudo em slow motion, você não presta atenção em uma vírgula do que está sendo dito? Eu só via aquele sorriso. Por um instante, imaginei aquele boca beijando a minha. Diana, hello!!! Não é você que é a defensora da fidelidade? Isso, eu sou. Você não pode desejar o Mauricio!!! E o Pedro? Fui acordada pela minha consciência, me despedi rapidamente do Mauricio e entrei no prédio.

***

- Diana?

- Marisa? Tá fazendo o quê aqui essa hora?

Quase infartei quando ouvi a voz da minha irmã chamar enquanto eu ainda delirava com uma cena de sexo selvagem na porta do meu prédio com o Mauricio... Pensar também é trair? Bem, voltando.

Eram duas da madrugada e eu tinha agora a Marisa, minha irmã mais velha, chorando no sofá da minha sala. Ela estava desesperada de um jeito que eu nunca tinha visto antes. A Marisa sempre foi aquela fortaleza sabe? Meio mulher maravilha e agora estava ali desmoronando.

- O Arnaldo tá me traindo. Ele tem uma amante. – dizia ela ainda aos soluços.

Não sei por quê, mas não fiquei chocada com a declaração. Até que enfim, a Marisa acordou e percebeu isso né? Mas, agora, não era hora para julgamentos. Eu tinha que ajudar a minha irmã, mas fazer o quê? Afinal, sempre foi ela que me contou as histórias de fadas quando eu não conseguia dormir e achava que extraterrestres iam me levar. Eu não sei contar histórias de fadas.

- Marisa, acalme-se. Vai ficar tudo bem. E as crianças?

- Estão dormindo. Eu sai e vim direto para cá.

- E o Arnaldo?

- A gente discutiu muito. Ele tentou negar e tals, mas eu vi a marca de batom nas
camisas... eu vi...

- Você tem certeza disso? Ele tem mesmo uma amante?

- Eu vi com os meus olhos, Diana. Eu segui os dois. – despencava em lágrimas. – O que eu faço?

O que eu, a confusão em pessoa e a defensora da fidelidade que, até algumas linhas atrás, estava desejando transar enlouquecidamente com o Mauricio, o traidor, iria dizer para a fortaleza da minha irmã com um casamento, até alguns minutos, sólido, com filhos para criar...o que eu diria para ela fazer? Arrisquei no senso comum. Ofereci para ela uma cama quentinha, um chocolate quente, um banho quente, meu colo para ela deitar... e uma bela e boa noite de sono para curar as feridas. Se ia curar eu não sei, mas era o que eu tinha para dar. Enquanto ela dormia, ainda lutava com minha consciência para apagar a cena de filme pornô entre eu e Mauricio que reprisava na minha cabeça.

***

Era sábado e acordei cedo para preparar um café saboroso para a Marisa. EU queria agradá-la. Assustei quando a campainha tocou. Eram Lili e Betina. Depois da noite turbulenta, eu tinha me esquecido completamente que a gente tinha combinado de almoçar juntas.

- Meninas, não vai dar.

- Lá vem você com suas desculpinhas, hein, Dona Diana? – cobrava-me Betina.

- Não é isso...não é desculpa. Minha irmã tá aí. – sussurrei para não acordá-la.

- A Marisa? – berrou indiscretamente Lili.

Contei para as meninas sobre a traição do Arnaldo, o meu cunhado. Lili, a defensora do amor, claro que achou que minha irmã tinha que correr atrás do homem dela. Deixar o orgulho de lado. Já Betina para a minha surpresa, ao invés de dizer que todos os homens são canalhas, foi achando aquilo muito natural. E, numa espécie de Mauricio de saias, foi dizendo que ‘ a traição faz parte da natureza humana’.

- Será que faz parte porque a senhora anda aos amassos por aí às noites de sexta-feira e entrando em motéis de beira de estrada? – cutuquei.

- Do que você tá falando? – Betina tentou se fazer de desentendida.

- Te peguei no flagra, sabichona. Vi tudo. Vi você entrando ontem naquele motel...

- Quem era o bofe? –perguntou Lili.

- Eu não ia contar... mas tudo bem...eu to saindo com o Doutor..... com o Alberto. Um
advogado que trabalha no mesmo prédio que eu.

Lili e eu vibramos ao saber que Betina tava desencalhando, mas murchamos quando ela contou o histórico do Alberto: muito bem casado, pai de três filhos e com uma mulher linda.

- Você? Amante? Esse papel não combina muito contigo, amiga. – eu disse.

- Qual o problema? Eu só quero alguém para transar. Ele quer alguém diferente para se divertir. É isso que eu posso oferecer e é isso que ele pode me dar. Estamos quites. Sem cobranças. – dizia ela naturalmente.

- Mas ele é casado!!! Como assim, não tem problema? – perguntei abismada.

- Eu sei que ele é casado!!! Não precisa repetir. Eu sei e não quero que ele se separe. E nem ele pensa em se separar. É só um caso e pronto.

Isso mesmo, assim como você, ficamos sem palavras e, como sempre, chocadas com a declaração da Betina.

***

- Sabe de uma coisa, Marisa... – eu dizia a ela enquanto dividíamos um balde de pipocas assistindo a novela das seis no sofá do meu apê – Até que essa traiçãozinha do Arnaldo tem um lado bom? Faz tanto tempo que a gente não fica assim juntinhas né?
– abracei minha irmã querida como quem abraça um urso de pelúcia – daqueles que a gente dorme agarradinho na infância para se proteger.

- Você é doida mesmo, Diana. – ria Marisa com a boca cheia de pipocas.

Finalmente, minha irmã sorria depois daquela noite pesada. Aquele era meu conto de fadas para ela. Pelo menos, era assim que eu sabia contar. Continuamos a comer a pipoca e a assistir a novela. Na melhor parte, fomos interrompidas pelo interfone. Era o Arnaldo. Justo agora ele tinha que chegar?

...

Preferi deixar os dois a sós na sala para conversarem mas, claro, fiquei à espreita ouvindo tudo.

Primeiro, a Marisa soltou os cachorros nele. Adorei. Cobrou todos os anos de dedicação ao marido, aos filhos, o amor que ela tinha dedicado para ele... Depois, ele veio com a réplica dizendo que nunca quis deixá-la, que amava Marisa, que foi um fraco... Golpe baixo!. Acho que nessa hora, ela se deixou abraçar. Não, Marisa, seja forte. Não perdoe ele hein? Arnaldo depois veio com um papo estranho de que a culpa era da Marisa, que ela só dava atenção aos filhos, já não era mais a mulher alegre que ele conheceu, só queria ficar em casa, não era mais vaidosa e que nem lembrava a última vez que eles tinham transado... Como assim? Irmã, tenho que concordar com o cunhado... você pediu né? No final, Marisa assumiu que tinha errado, mas também cobrou Arnaldo. Os dois se beijaram, se perdoaram e voltaram para a casa juntos. E eu?

Apesar de ser defensora da fidelidade, eu compreendi. Compreendi tudo mundo. Afinal, quem somos, nós, para julgar? Quem sou eu para julgar o Mauricio que ama a mulher, mas a trai? Quem sou eu para julgar Betina por se contentar com o sexo que um homem casado pode oferecer a ela e nada mais? Quem sou eu para julgar Arnaldo por trair Marisa? Quem sou eu para julgar Marisa por perdoar Arnaldo? Quem sou eu para me julgar por desejar Mauricio?

É, minhas amigas, esse negócio de trair, ser fiel...é complexo demais, mas uma coisa é certa: faz parte da natureza humana rs...rs...rs

PAPO DE CALCINHA: E, VOCÊ, TAMBÉM ACHA QUE A TRAIÇÃO FAZ PARTE DA NATUREZA HUMANA? JÁ TRAIU ALGUÉM? AINDA ACREDITA NA FIDELIDADE?

quarta-feira, novembro 16, 2011

GAROTO BOM DE CAMA



Por Letícia Vidica


- Pode confessar, eu sou foda né? – dizia Pedro se espreguiçando na minha cama, após uma ‘transadinha’ matinal, em busca da auto-aprovação.

Antes de continuar, vamos dar uma pausa aqui. Meninos, vocês podem me explicar, PELO AMOR DE DEUS, porque vocês precisam tanto dessa aprovação depois de uma transa? Não basta curtir e pronto? Ainda precisa aprovar? Depois reclama se a gente for sincera demais hein?

Voltando...

- É, você é muito bom. – eu respondia enquanto criava coragem para levantar.

- Como assim, eu sou muito bom?! Significa então que eu não sou ótimo?! – dizia Pedro com ar de espanto.

- Pedro, para com essa bobagem...

- Não é bobagem. É coisa séria... Aposto que o Pierre era ótimo – alfinetava ele.

- Por que você insiste em colocar o Pierre na conversa?! – eu respondia com ares iniciais de irritação.

- Confessa, pode confessar...de todos os milhões de caras que você já saiu e transou...confessa que o Pierre foi um dos melhores...eu sei... – insistia Pedro.

-Pedro, em primeiro lugar, eu não saí com milhões de caras e eu não vou ficar falando para você sobre a minha sex list se é isso que quer saber... Dá licença que eu vou tomar banho! – tentei levantar para que aquela conversa não tomasse um rumo desagradável.

- Não, espera. Eu não quis te ofender...mas também não esquece que você costumava me contar sobre os seus relacionamentos hein? – ele sempre fazia questão de me relembrar que éramos amigos – Mas diz para mim...quem são os melhores do seu top Five?

- Top Five?! Que merda é essa? – eu dizia rindo – Quer dizer então que existe uma lista? Ah, sei lá, Pedro...vamos parar com esse assunto?

- Em qual posição o Pierre está? Acima ou abaixo de mim? – insistia Pedro como um adolescente espinhudo que acaba de perder a virgindade.

- Se quer saber, se insiste tanto ... – gente eu não queria confessar, mas estava sendo pressionada – O Pierre está na listinha sim...ele é um canalha, mas é muito bom de cama. Tá feliz agora?

- Eu sabia... – dizia Pedro levantando com cara de quem comeu e não gostou.

- Ei, onde você vai? A gente não vai tomar café?

Pedro entrou no banho com cara de emburrado e me deixou com cara de pamonha deitada na cama sem entender nada. Os homens são engraçados né? Ele podia ter ficado sem essa, mas não. Insiste em querer saber o que não quer ouvir? Eu apenas fui sincera.

O problema é que a minha sinceridade detonou todo o clima e o Pedro saiu do banho, se trocou e repentinamente se lembrou de um compromisso, dizendo que não tinha hora para voltar. Traduzindo: ficou puto com a resposta e foi respirar acho que para não me jogar da sacada, sei lá.

E eu... emputecida, mas com um pequeno sentimento de culpa por ter dito aquilo para ele, fui desabafar com as minhas amigas dando uma voltinha no shopping.

- Tô te achando meio estranha, Diana. O que houve? Aconteceu alguma coisa com o Pedro? – perguntava Betina vendo minha cara de poucos amigos.

- Ai, gente...a gente meio que se desentendeu hoje de manhã. Ele veio com uma historinha de que queria saber quem tinham sido os melhores caras que eu já transei, ficou insistindo que o Pierre era um deles, daí eu me irritei e confessei que o Pierre era bom de cama sim. Daí, ele ficou putinho e sumiu.

- Você não fez isso!!! – respondeu Betina incrédula numa reação que mais se assemelhava a da Lili do que a dela própria.

- Ai, ai...a merda tá feita...mas eu entendo. É fogo quando ninguém consegue superar o canalha do ex...por isso que eu não me separo do Luis Otávio...o desgraçado me come como ninguém. – suspirava Lili enquanto lambia o seu picolé.

- Ei, meninas. Não vão dizer agora que EU tô errada? Eu não queria falar nada, mas ele insistiu. Eu só fui sincera, poxa!!!

- Diana, esse é o problema. Você é sincera demais. Mentir, ou melhor, omitir algumas verdades para os homens, às vezes, é necessário. Ainda mais quando o assunto é sexo e envolve o desempenho deles na cama. – teorizava Betina.

- Então, eu deveria ter dito ao Pedro que ele é o rei do sexo? Ele não é ruim, mas
também não é um Deus!!!

- Sim. Teria sido melhor. O Pedro ia ficar feliz e vocês iam estar bem.
Será que a Betina estava certa? Mas e agora o que eu poderia fazer para compensar a minha sinceridade sexual?

- Só há uma coisa a fazer... – dizia a gênia Lili – Uma lingerie sexy, uma música envolvente, uma dancinha sensual, pétalas na cama, brinquedinhos, um pole dance se tiver... e pronto!!! Ele é seu de novo.

Eu e Betina ficamos olhando para a Lili sem entender ainda como isso poderia salvar a minha cagada.

- Não adianta me olharem com essas caras. Isso mesmo. Os homens, minha linda, tem duas cabeças. E, num momento como esses, tem que atacar a de baixo. Produza-se e faça sexo animal com ele. Amanhã, ele nem vai mais lembrar do que aconteceu. Confia em mim.

Eu deveria confiar na receita da Professorinha Lili?! E tinha outra saída? Me aventurei a comprar os ‘ingredientes’ para o jantar e resolvi apostar. Tentei falar com o Pedro o dia todo, mas ele insistia em não atender o celular, mas tudo bem. Uma hora ele teria que aparecer... e apareceu quando eu já estava prestes a jogar toda a produção fora.

- Ah, que bom que você chegou. Eu já estava indo dormir. – menti,óbvio, ninguém poderia ir dormir de espartilho preto né? Virei as costas e só senti o Pedro me fisgar com os olhos.

- Roupa nova? – perguntou ele já hipnotizado.

- É...comprei hoje...mas acho que não é um bom dia para usar... – insinuei.

- Nem ouse... – Pedro pulou na cama e nosso amor animal começou.

Ao final da aventura selvagem...

- Desculpe, anjo, eu fui um tolo hoje de manhã. Imaturo. Eu não devia ter sido tão inconveniente. – dizia Pedro enquanto eu fazia um cafuné em seus cabelos.

- Do que você tá falando? Ah...nem estava mais me lembrando disso sabia? – adoro o dom que nós, mulheres, temos de fingir. E ele mal podia imaginar que aquilo era o que mais tinha pensado.

- Me desculpa mesmo? Prometo não ficar mais cutucando sobre o seu passado...passou.

- Só te perdôo com uma condição...

- Faço tudo para não te magoar...

Beijei-o ardentemente e a aventura na selva recomeçou como forma de pagamento pela grana que eu gastei com toda aquela produção femme fatale.

No dia seguinte...

- E aí, amiga, como foi o jantarzinho ontem?

- Lili, você é um gênio!!! – eu confessava à minha amiga no telefone. – O Pedro caiu direitinho na armadilha...

- Aposto que te endeusou depois dessa hein?

- Menina, tá de quatro. – eu ria – Olha, confesso até que me senti culpada por hipnotizá-lo assim, mas quem sabe ele não aprende e para com esse papinho de auto-
afirmação?

- Ah, mas agora já sabe...se ele insistir com isso...ataca de fera de novo hein?

- Pode deixar que essa lição eu não esquecerei jamais!

Pois é, meninas, às vezes, precisamos apostar em nossos feitiços para aquietar os meninos né? Faz parte do nosso show!!!

PAPO DE CALCINHA: Você tem uma 'sexlist'? Saudades de alguém especial? Seu ex também é melhor que o atual?

terça-feira, novembro 08, 2011

OS AMIGOS DELE



Por Letícia Vidica


Costumo dizer que só há uma coisa pior do que conhecer a sogra: é conhecer os amigos dele. O que parece ser apenas um encontrinho informal para te enturmar com a galera dele, na verdade, é um ritual de aprovação. Se você não for aprovada pela galera, minha amiga, você vai enfrentar grandes muralhas no seu relacionamento. E, naquele dia, eu me preparava para encarar mais essa batalha. Os amigos ‘cariocas’ do Pedro queriam me conhecer e resolveram organizar um churrasco na casa de um deles. Tentei escapar, mas foi impossível.

- Vamos, Diana. A gente já tá atrasado...é só um churrasco! Parece até que vai casar... – gritava Pedro que já me esperava impaciente na sala.

Os homens realmente não entendem. Não é só um churrasco. Eu não posso ir de qualquer jeito. Se uma mulher já demora naturalmente para se arrumar, imagina só o quanto a gente não demora para se arrumar para conhecer os amigos dele? Seria bem mais fácil se a Lili e a Betina estivessem aqui. Tenho certeza de que elas me ajudariam a encontrar o que vestir, mas sem elas vou ter que apelar para o meu feeling.

Tenho que vestir algo casual, afinal é um churrasco, mas também não posso ir de qualquer jeito porque sei bem que vão dizer ‘Nossa, você viu a roupinha xumbrega da namorada do Pedro? Que mal gosto!’. Meu feeling então me indicou um vestidinho leve, florido, romântico com clima de tarde e uma maquiagem natural, mas perceptível entende?

- O que você acha, Pedro? Tá boa essa roupa?

- Nossa! Você está ótima. Até chique demais...

- Você acha? Ah, então, eu vou trocar... – ameacei mudar de roupa, mas o Pedro foi logo me puxando pelo braço e me avisando que a gente estava mais do que atrasado e que eu estava linda, tentando me convencer.

...

- Será que seus amigos vão gostar de mim? – eu perguntava a ele enquanto seguíamos para o churras.

- Relaxa, amor. – disse Pedro pegando em minhas mãos – É impossível não gostar de você!

Apesar de suspeita a resposta dele, resolvi tentar relaxar. Chegando ao churras, fomos recebidos pelo dono da casa. David, o palhaço da turma, um gordinho bem humorado que adorava fazer piadas sobre tudo.

- Pedroca, até que enfim, merrrrmão! Achei que tinha ido parar na Cidade de Deus...falando em Deus...prazer, Dona Diana! Uma gata, hein, com todo respeito, Pedrão.

- David! Não vai deixar a menina sem graça – era Juliana, a namorada dele, que chegava dando um tapa nele. Juliana era encantadora e super meiga. Tratou logo de me abraçar e pedir que eu ficasse à vontade. Seria possível?

Quando entrei senti que todos os olhares me fuzilavam. Sabe aquela sensação de entrar em algum lugar e parecer que está pelada? Foi assim. Alguns olhares masculinos me mediam dos pés a cabeça e tentavam imaginar realmente como eu seria sem roupa e minha performance com Pedro, já outros olhares femininos literalmente me fuzilavam. Afinal de contas, é bem típico da mulherada achar algum defeito na namorada do nosso amigo né?

Comecei então a parte que mais odeio: chegar por último em um lugar que você não conhece ninguém e ter que ser apresentada a todos. Além dos anfitriões, conheci também o Pablo, o garanhão da galera, que foi logo me dando um beijo e um abraço apertado (até que ele era bem bonitinho, mas não posso perder o meu foco). Pablo estava acompanhado de uma bela loira, que não sei bem o nome, mas fazia o tipo mulher-fruta-carioca-malhada-aspirante a próxima musa do BBB. Disseram as más línguas que Pablo trocava de mulher como troca de cuecas, se é que ele usava uma.

Diego, era o mais velho da galera e parecia o mais centrado. Fazia o tipo paizão da rapaziada. Telma era a amigona de todos. Adorei ela de cara. Fez vários elogios ao Pedro, mas também prometeu ficar de olho nele para ele não aprontar comigo. Julio era o mascote da turma e estava acompanhado de Priscila, sua nova namoradinha, que também parecia um peixe fora d‘água como eu.

Kamilla, ah, Kamilla...era uma mulata de causar inveja e parar a Sapucaí no meio do desfile da Mangueira. Ela era a amiga gostosa da turma. Obviamente, me senti ameaçada quando vi o corpo escultural daquela mulata de cabelos afros no estilo Black Power com cintura de pilão, um quadril de mola e uma bunda tamanho GG ... que até eu tive que conferir porque era impossível não olhar. Kamilla me cumprimentou com aquele sorrisinho falso de mulher e me mediu dos pés a cabeça. Ah, minha amiga, ali meu sexto sentido piscou. Algo naquela garota não tinha me descido muito bem...tinha algum caroço naquele angu.

Para tentar me enturmar, Juliana me convidou para ir à cozinha com ela e as outras mulheres. Nada melhor do que a mulherada reunida na cozinha para se socializar. Resolvi me sentar do lado da Priscila, a novinha, e ficar apenas escutando as conversas e boiar um pouco nas histórias da turma que não fazem parte do meu universo. Eu apenas ria para parecer simpática.

- Mas então você e o Pedro estão namorando? – era a mulata gostosa que se aproximava de mim como quem queria sondar.

- Ah, a gente tá se conhecendo melhor...digamos assim. – respondi. Não queria dar
detalhes para o provável inimigo.

- Poxa, Diana, o Pedro tava me contando que a história de vocês começou praticamente na maternidade? Que legal! – eu não queria dar detalhes, mas a fofa da Telma fez o favor de dar.

- É, a gente cresceu juntos praticamente, mas só agora que rolou o clima né. – respondi meio sem graça.

- Ah, então tava escrito nas estrelas. – ria Juliana – Acho tão lindo isso. Eu sempre digo que todo mundo tem a tampa da sua panela e, às vezes, tá do lado e a gente não vê. Igual a mim e ao David.

- Nossa, que legal! – respondeu Kamilla – Eu não sabia. O Pedro não tinha me dito nada ...

Essa eu não entendi. Por que o Pedro teria que contar isso para ela? Antes que eu concluísse minha tese, David chegou gritando na cozinha e acabando como clube da Luluzinha, empurrando todo mundo para fora porque ia começar o samba.

Os meninos começaram a se arriscar a fazer um samba. Como era de se esperar, todos suplicaram para que Kamilla mostrasse o seu gingado. Foi a deixa para ela que entrou no meio da roda e mostrou o que a mulata tem. A garota sambava de um jeito de causar inveja , jogando alguns olhares para o Pedro que tentava disfarçar e olhava apenas para o pandeiro que ele tava tocando. Foi com a mão na cintura e requebrando as cadeiras que ela me desafiou para o meio da roda. Era chegada a hora da vergonha alheia. Eu adoro um samba, mas não sei sambar. Ou, melhor, o meu samba de turista alemão nem se compara ao da Globeleza da Kamilla. Arrisquei uns passos e fui logo saindo da roda. Se ela queria me envergonhar, tinha conseguido. O pior foi quando ela desafiou o Pedro a sambar. Fiquei boaquiaberta porque nem eu sabia que ele tinha toda a ginga no pé. Tenho que confessar que os dois sambaram lindamente.

Apesar da minha vontade de arrancar cada molinha do cabelo da Kamilla, não desci do salto e me fiz de morta, mas tratei logo de tentar sondar melhor o terreno.

- Poxa, fico feliz que o Pedro tenha encontrado alguém tão bacana como você – era Juliana. – Ele é um cara tão bacana. Merece alguém legal.

- É, o Pedro é um cara bem especial mesmo. – eu dizia.

- Segura o peixe hein, colega. Homem assim está difícil de arrumar hoje em dia. – retrucava Telma, que parecia não ter encontrado o seu peixe ainda.

- Eu que o diga ... – retrucou Kamilla – Mas e aí? Vai deixar o peixão abandonado aqui no Rio? – alfinetou ela.

- Ih, Kamilla, não vai começar a colocar minhocas na cabeça da Diana... – recriminava Juliana que parecia muito bem conhecer a Globeleza.

- Ai, gente, não falei nada demais. É que namorar a distância é meio complicado né?

E você sugere que eu te contrate para cuidar dele? Era o que eu queria responder, mas apenas pensei. Fui interrompida por Pedro que chegava de surpresa e me abraçava...

- Já estão fuzilando a Diana, né?

- A gente tá só dando umas dicas para ela sobre você, Pedro – ria Telma – Pode deixar. Não vamos falar nada que ela já não saiba...

- Ixi, to perdido! – brincou ele.

O churrasco seguiu noite adentro em clima bem agradável. E, aos poucos, fui me sentindo à vontade e inserida na turma.

...

- E aí o que achou deles? – perguntava Pedro enquanto voltávamos para casa.

- Nossa, adorei. Eles são super legais ... foi um dia maravilhoso. Mas... posso te perguntar uma coisa? Não vai ficar bravo?

- Diga, linda.

- A Kamilla...qual é a dela hein? Acho que ela não foi muito com a minha cara.

- A Kamilla? Que isso! Ela é super gente boa...

- Que ela é boa é perceptível, mas achei que ela estava dando em cima de você... Você bem sabe que sexto sentido de mulher não falha e nem adianta dizer que não tem nada a ver, hein, Pedro!

- Tá, tá... eu não gosto de ficar falando de passado, mas eu não vou mentir para você. A gente já saiu algumas vezes, mas não tem mais nada a ver.

Eu sabia. Sexto sentido de mulher não falha. E como assim ele diz com essa naturalidade que já saiu algumas vezes com aquela Deusa de Ébano?! Claro que me senti ameaçada e fiquei bicuda.

- Diana, vai ficar brava? Não tem nada a ver. Faz muito tempo. A Kamilla já está em outra e eu também.

- Pedro, para com essa cegueira masculina! Tá na cara que ela ainda é caidinha por você!! Eu vi o jeito que ela te olha... vi o jeito que ela sambou olhando para você e jogando aquele popozão na sua cara. Acha que eu sou cega?!

- Ah, se ela me quiser ainda... tô nas pistas né? – dizia ele rindo da minha cara.

- Pedro! Não brinca com coisa séria.

- Adoro quando você fica brava. – dizia ele rindo e depois me dando um beijo.

Incrível como os homens tem o dom de zombarem da gente quando nos sentimos ameaçadas. O Pedro pode até ter desviado do assunto, mas eu não ia desviar dela jamais. Hoje em dia, minha filha, é um olho no peixe e outro no gato. Tô até pensando em pedir transferência para o Rio ou quem sabe me matricular numa aula de samba? A gente tem que lutar com as armas que a gente tem né?

PAPO DE CALCINHA: Você se dá bem com os amigos dele (a)? Já teve algum problema?

segunda-feira, outubro 31, 2011

PRIMEIRA NAMORADA



Por Letícia Vidica


Outro dia, escutei de alguém – muito sábio por sinal – que a primeira namorada só se fode. Eu ainda não tinha provado dessa sábia tese até ser surpreendida aquele dia ao entrar na minha agência bancária. Enfurecida por causa de uma cobrança indevida na minha conta e enputecida por ter que tirar todos os trecos da minha bolsa (e quase a roupa toda) para passar naquela porta automática (acho que seu eu fosse um ladrão eu não teria esse problema...), quase caí para trás quando fui atendida pelo gerente da minha conta.

A minha vontade era mandar o tal gerente para lugares impronunciáveis quando perguntou no que poderia me ajudar, mas ao levantar os olhos, enfartei.

- Douglas? Não acredito!

O gerente da minha conta era o Douglas, o meu primeiro namorado. Nessa era de internet onde (quase) tudo se resolve no internet banking, eu mal falava com o meu gerente, mas naquele dia pude ver que quem administrava todo o saldo negativo da minha conta era o Dodô, como eu costumava chamá-lo, mais conhecido como Gina (dos Palitos Gina porque na época ele era um magricela de óculos, aparelhos e cheio de espinhas estouradas na cara...ai, gente, mas eu era apaixonada por ele mesmo assim).
Mal pude acreditar que o Dodô tinha se transformado no Sr. Douglas e estava...estava...lindo de morrer naquele terno cinza.

- Diana? Esse mundo é mesmo pequeno demais. – ele dizia.

Nos abraçamos surpresos e meio sem jeito com a fria intimidade, afinal de contas fazia anos que não nos víamos. Estranho como você é apaixonada por uma pessoa um dia e no outro ela te parece um mero estranho.

Depois de resolver o meu probleminha, Douglas me convidou para almoçar com ele. Como eu tinha um tempinho livre, resolvi aceitar. Na verdade, estava curiosa em saber mais sobre a vida do Dodô. E uma das grandes novidades é que ele tinha um carro possante importado daqueles que a gente só vê nos filmes do Velozes e Furiosos. Uau! Quem diria , hein, Dodô?

Na minha época, ele tinha uma motinho velha que fazia um barulho infernal (algo como pipoca estourando), mas eu achava o máximo andar na garupa da motoca, fazendo inveja para as outras meninas do bairro. A não ser quando acabava a gasolina e eu tinha que ajudar a empurrar. Se eu soubesse que você ia ter um possante, teria ficado mais tempo com você.

- Espero que não se importe. O lugar é simples, mas costumo almoçar aqui todos os dias porque a comidinha é uma delícia. – dizia ele sobre o restaurante que tinha me levado.

Eu? Me importar? Vai lá no quilão que eu como todos os dias. Isso aqui é o restaurante dos deuses, meu bem. Além do mais, para quem só me levava para comer o dogão do Seu Zé que ainda aceitava passe (nossa, lembra disso?)...isso é um tremendo upgrade.

- Mas então o que anda fazendo da vida? – era Douglas que me fazia a pergunta clássica.

- Ah eu me formei em Publicidade, hoje sou responsável por uma conta da agência, moro sozinha...não tenho filhos... - o que dizer para um homem que há tempos não faz mais parte da sua vida?

- Uau! Publicidade? Para quem queria fazer veterinária, mudou bastante hein? E, nossa, nunca achei que você fosse sair da casa dos seus pais... ainda tem medo do escuro? – perguntava Douglas, relembrando detalhes sórdidos do meu passado que eu já tinha até esquecido.

- Pois é...grandes mudanças mesmo...mas e você? Gerente de banco e pensar que você odiava matemática – Douglas, odiava matemática, ou melhor, odiava estudar. Será que ele se formou por correspondência?

- É...não teve jeito né. Na verdade, consegui um emprego de Office boy no banco e acabei meio que sendo forçado a seguir carreira. Me formei, fiz Pós e acabei de voltar de um mestrado na Inglaterra. A gente tem que evoluir né...

Como assim? Para tudo! O Douglas odiava estudar e como assim ele acaba de voltar de um mestrado na Inglaterra? Meu Deus, por que o Senhor não me avisou que aquele magricela espinhudo ia ter um futuro?

- Mas e você? Casou? Tem filhos?

- Achei que tinha notado. – impulsivamente levei meus olhos até aquele aliança de ouro que agora ofuscava meus olhos - Três anos. Sou casado há 3 anos e serei papai daqui 3 meses. – dizia ele com sorriso de papai orgulhoso e marido feliz.

- Nossa! Que legal! Puxa, parabéns!

Confesso que fiquei meio tonta com tanta informação. Primeiro porque o Douglas sempre me disse que não acreditava no casamento e achava coisa de gente brega. Tudo bem que ele tenha me dito isso aos 14 anos, mas sempre zombava de mim quando eu dizia que queria casar de véu e grinalda. Segundo, quem é a sortuda filha da mãe que pegou o Dodô na melhor fase da vida? Não é justo. Eu chupo o osso e a outra come o banquete?

- E você?

- Eu? O quê? – ainda estava meio tonta com a informação. – Ao contrário de você, eu não sou casada e nem tenho filhos. Espero que um dia isso aconteça. E eu estou meio que namorando... lembra do Pedro?

- Pedro? Pedro? ‘Peraí, o Pedrinho, o seu vizinho?

- É, ele mesmo. Uma história doida.

- Poxa, que bacana! Eu sempre soube que ele era caidinho por você. Vocês tem tudo a ver... A gente precisa marcar de nos encontrarmos então... anota o meu telefone.
Vamos combinar de vocês irem jantar lá em casa.

Um pouco estranho ver como o mundo dá voltas. O Dodô que até então eu era apaixonada se transformou num homem invejável muito bem casado e futuro papai e que agora me convidava para jantar na casa dele junto com o Pedro, o meu vizinho, que hoje é meu namorado? A vida é mesmo uma comediante.

- Foi muito bom te ver de novo, Diana. – dizia Douglas me olhando profundamente nos olhos. Aquele olhar tinha um ‘quê’ de nostalgia. – Você se transformou numa linda mulher ... – disse ele me deixando sem graça.

- Obrigada. Digo o mesmo para você. Fiquei feliz em saber das suas vitórias.

- Pena que éramos dois adolescentes imaturos né? Mas, deixa eu ir que o trabalho me espera. Apareça mais vezes.

Douglas me deu um abraço apertado e um beijo no rosto. Eu fiquei ali, parada no meio do estacionamento, tentando decifrar o que tinha sido aquela frase. ‘Pena que éramos dois adolescentes imaturos’...será que o Dodô também sentiu o mesmo que eu? O Primeiro só se fode?

PAPO DE CALCINHA: Você já reencontrou algum ex-namorado(a) e ele estava bem melhor do que antes?

terça-feira, outubro 25, 2011

SEXO SEM COMPROMISSO



Por Letícia Vidica


- Nossa, sinto que alguém está radiante hoje hein? – eu dizia para a Paloma, minha amiga de trabalho, em nosso horário de almoço.

- Jura que não está dando para disfarçar? – dizia ela com cara de quem queria me dizer algo – Ai, Diana, eu preciso contar uma coisa para você. Promete que não vai contar para ninguém?

O negócio parecia tão sério que fui logo jurando por toda a minha família e por todos os santos.

- Tive ontem a melhor transa da minha vida!!! – dizia Paloma com quem joga a batata quente na mão de outro.

- Sabia que essa sua carinha não me enganava hein... Mas qual é o problema? – até então ter a melhor transa da sua vida não é um problema e sim uma solução!

- Eu estaria mais calma se eu não tivesse transado com um cara que ao menos sei onde mora, o que faz...foi tudo tão de repente. Fui num bar com minha amiga, nos olhamos, nos beijamos e transamos enlouquecidamente no banheiro da balada. E agora me sinto culpada por isso.

- Culpada, Paloma? Sai dessa! Qual é o problema? Você apenas seguiu os seus instintos e nada mais... Mas, olha quem fala né, eu te entendo já passei por isso e confesso que também me culpei por um tempinho... – revelei a ela que eu não era esse poço de segurança que eu queria passar.

- Jura? E aí como foi? – depois que dividi o meu ‘segredinho’ com ela, Paloma ficou curiosa e pareceu mais aliviada por descobrir que não era a única mulher na face da terra que tinha transado com um desconhecido por apenas uma noite e nada mais.

***

A minha ‘apenas uma noite e nada mais’ começou quando resolvi aceitar o convite (sob forte insistência e pressão) da Lili para ir a Maresias na casa de praia do canalha do Luis Otávio. Um julgamento complicado salvou a pele da Betina, mas a minha não. O jeito foi arrumar as malas e cair na estrada.

- Lili, se eu ficar de vela o final de semana todo, eu mato você hein? – eu comentava enquanto seguíamos para a praia.

- Relaxa, Diana. Confia no meu taco. Já pedi pro Tavinho levar uns amigos...e ele tem uns amigos bonitinhos viu...opção não vai faltar, mas em caso de dúvida...fica com todos! – dizia ela rindo.

- Ih, Lili, tô fora... não esqueça que quem curte um prazer coletivo aqui é você hein.

Resolvi então relaxar e curtir a viagem. Afinal de contas, a companhia da Lili sempre me garantia boas risadas. Chegando a tal casa, Luis Otávio já esperava pela ‘gatinha’ do lado de fora...porém sozinho! Sinal de que eu seria o ‘empata foda’ deles né?

- Diana, que prazer te ver aqui!!! Olha, fica a vontade. A casa é sua.

Fui logo tratar de conhecer o meu quarto, enquanto o casalzinho apaixonado foi fazer um check-up no deles, se é que me entendem. Enquanto desarrumava a minha mala, fui surpreendida por uma voz.

- Diana?? Que surpresa maravilhosa!!!

- William? Nossa, eu que diga – quase caí para trás quando vi que o gato do William seria a minha companhia naquele final de semana que, até então parecia infernal, mas agora havia sinais de que seria dos deuses. Bem, o William é um amigo do Luis Otávio que eu sempre paguei um pau, achava gatérrimo, mas até então não tinha tido nenhum oportunidade de conhecê-lo melhor. Seria o cupido me dando uma segunda chance?

- Cadê o casal apaixonado? – perguntou ele sentando na cama bem ao meu lado.

- Adivinha? Estão lá no ninho de amor deles.

- Então que tal a gente pegar uma praia? – dizia ele passando os braços pelos meus ombros. Acho que me arrepiei naquela hora.

- Só se for agora. – um convite desses a gente não recusa.

Me troquei e fomos à praia. No caminho, não sei se prestei muito atenção na conversa porque os músculos dele e aquele corpo moreno escultural tiravam a minha atenção.

- A Lili me disse que o Otávio ia trazer uns amigos, mas não esperava que fosse você.

- Decepcionada? – perguntava ele me dando um sorriso malicioso como quem diz ‘é o que tem para hoje, baby’.

- Eu? Jamais. Surpresa, vamos dizer assim. Mas, pelo menos, eu não serei a vela dos dois sozinha né? Porque, pelo jeito, eles vão passar o final de semana trancados naquele quarto.

- Até que não seria nada mal né? – ele disse piscando para mim e se levantando para ir dar um mergulho no mar.

Fiquei hipnotizada vendo aquele corpo moreno suado caminhar para a praia e imaginando mil loucuras que eu poderia fazer com ele. Ai, meu Deus, mas é muita areia para o meu caminhão. Só caí em mim, quando fui acordada pelos gritos da Lili.

- Nossa, achei que só ia te ver amanhã na hora de ir embora.- eu dizia.

- Vou deixar as damas fofocando um pouco e vou cair na água.- dizia Otávio.

- E aí? O que achou? O Will é uma companhia à altura?

- Lili, tenho que confessar que não podia ter feito escolha melhor. O cara é um Deus e você bem sabe que eu acho ele maravilhoso. Mas é só uma amizade...ele nem quer nada comigo.

- Diana, para de ser modesta. Tá na cara que o Will vai dar o bote logo mais. Escuta o que eu tô te falando. – apesar da Lili entender muito bem sobre investidas de homens, duvidei.

Passamos o resto da tarde na praia até o anoitecer, comendo, bebendo e rindo das besteiras do Will que, além de lindo, era super bem humorado. À noite, Tavinho resolveu atacar de cozinheiro e fez uma das suas gororobas especiais.

- Ai, gente, agora para o jantar ser perfeito só está faltando o Will tocar né? – dizia Lili.

- Tocar? – me assustei.

Para a minha surpresa, além de gostoso e engraçado, ele também tocava violão e tinha uma voz maravilhosa. Voz que me deixou embriagada (mais ainda do que o vinho que eu tinha tomado). As músicas e o vinho estavam servindo como um ótimo afrodisíaco. A cada canção, ele cantava olhando profundamente para mim e com um sorriso safado de enlouquecer qualquer mulher. O Will é do tipo desses caras que tem o dom hipnotizador sabe? Fiquei tão hipnotizada que nem percebi que a Lili e o Otávio tinham saído pela culatra e indo para o habitat natural deles – o quarto.

- A noite tá tão linda. O que acha de dar uma volta na praia? – sugeriu o Deus de Ébano.

Pegamos mais uma garrafa de vinho, o violão e fomos nos sentar à beira do mar. Enquanto eu detonava a garrafa de vinho, Will cantava para mim numa espécie de serenata particular. Vamos combinar: tem como resistir a uma preliminar dessas?

De repente, no fim de uma canção surgiu aquele silêncio mortal. Ele ficou me olhando e eu sorri sem graça. Não sabia o que dizer. E muito menos pensar. Eu só queria me deixar levar. Will se aproximou de mim, passou os dedos suavemente nos meus olhos, depois no meu nariz, acariciou meus lábios, cheirou o meu pescoço e começou a beijar suavemente o meu ombro até parar próximo aos meus seios. Eu já estava em Marte nessa hora, amiga.

Inconscientemente, agarrei ele e começamos a nos beijar. Daí, minhas amigas, foi deixar acontecer naturalmente. Transamos à beira mar. Como eu esperava, o Will tinha uma pegada incrível. Foi uma das melhores transas da minha vida e, o pior de tudo, foi com ele que tive um dos meus melhores orgasmos.

***

- Mas e aí? – perguntava Paloma, ansiosa pelo fim da história.

Aí que a transa que começou na beira da praia acabou no meu quarto. Foi a noite toda sem parar. Pela manhã, acordei ainda meio zonza (afinal tinha gastado muita energia) e o Will não estava mais lá.

- Bom dia, margarida!!! – era Lili que entrava sorridente. – A noite foi boa?

- Lili, eu não acredito. A gente transou. – eu disse colocando a mão na cabeça para retomar a consciência sobre o meu ato.

- Que maravilha! E aí? Foi bom?

- Foi ótimo. Uma das melhores, mas Lili...eu mal conheço ele e agora? O que ele vai pensar de mim? Mas eu não consegui me controlar...aconteceu...todo aquele vinho, aquele mar, aquela lua, aquela música, aquele homem...eu fiquei hipnotizada...não pude esboçar reação. – desabei na cama e fiquei olhando para o teto.

- Diana, querida, para de ser quadrada! Aconteceu e pronto. Foi uma transa sem compromisso. Relaxa. Você não é a única mulher do mundo que fez isso. Para de se culpar hein? Veste seu biquíni que os meninos nos esperam para ir a praia. – dizia Lili, em tom natural, afinal sexo sem compromisso é bem natural para ela.

- Eu não vou. Como eu vou olhar na cara dele?

Apesar da noite ter sido maravilhosa e de eu saber que, hoje em dia, sexo sem compromisso faz parte de algumas ficadas, me senti culpada. Todo o machismo da sociedade eu joguei sobre mim. O que ele vai pensar? Vai achar que eu sou dessas mulheres fáceis? Vou ser mais uma no seu álbum de coleção de transas de uma noite só?

- O que foi, gata, tá tão calada. Aconteceu alguma coisa? Depois de uma noite tão maravilhosa, achei que ia merecer mais né? – era William que tinha notado a minha tensão.

- Não foi nada, Will. Só uma dor de cabeça.- claro que eu menti. Eu não podia deixá-lo perceber que eu me sentia culpada.

- Então vem aqui. – dizia ele me abraçando.

***

- E vocês se viram depois? – perguntava Paloma.

- A gente até trocou telefone e tals, mas nunca mais rolou de sairmos de novo. Foi só naquele dia e pronto. O Will é do tipo de cara aventureiro sabe?

- E como você encarou isso? – perguntou ela insaciável por uma solução.

- Resolvi não me culpar, afinal eu também estava a fim de transar com ele naquela noite. Não fiz nada que eu não quisesse não é? E se ele me usou, eu também usei e abusei daquele corpinho maravilhoso. Claro que não saio dando logo para o primeiro que aparece ou fica comigo, mas sexo sem compromisso, transas de uma noite só acontecem... faz parte do jogo. E, como todo jogo, é preciso abrir exceções não é mesmo?

Paloma ficou me olhando, mas sorriu como quem entende o recado e acho até que naquela hora ela tocou o foda-se em todo o seu sentimento de culpa. Terminamos o almoço que já tinha virado sorvete e retornamos para o trabalho. Afinal, o sexo pode até ser sem compromisso, mas o trabalho não.

PAPO DE CALCINHA: Sexo sem compromisso também faz parte da sua história? O que acha de relacionamentos de uma noite só e nada mais? Encara numa boa?

terça-feira, outubro 18, 2011

PLANO B



Por Letícia Vidica


- Nossa, Lili, que demora! Quem era no telefone? – eu perguntava curiosa para minha amiga que tinha saído da mesa para atender a uma chamada no celular do lado de fora do bar do Pedrão, deixando eu e Betina curiosíssimas (claro!).

- Vocês não vão acreditar...era o Rômulo! – respondia Lili com brilho nos olhos.

- Rômulo? Quem é esse? – perguntávamos tentando puxar do fundo de nossa memória qual dos rolos da Lili seria esse Rômulo.

- Aquele que eu conheci lá na praia, lembra?

- Ah o casado que prometeu que ia separar da mulher? – dizia a memória da Betina que tinha funcionado melhor do que a minha.

- Ué, você não tinha voltado com o Luis Otávio? – perguntei ainda um pouco perdida na história.

- Ai, meninas, o Luis Otávio me deu mais um bolo esse final de semana. Então, vamos partir para o plano B né?

- Plano B de quem, Lili? Só você não se tocou que VOCÊ é que é o plano B desse tal de Rômulo. Não só dele como de todos os caras que você se envolve né? – precisa dizer que era a Betina falando?

- Tá, tá, Betina. Agora eu não tô afim de sermão ok? Olha, meninas, eu vou ter que ir para casa porque o Rômulo vai passar lá em uma hora. Beijinhos. – disse Lili dando um último gole na cerveja e saindo rapidamente pela culatra.

- Ah se ele desistir, estaremos aqui hein? – ironizava Betina rindo e tomando um gole de chope ao ver Lili sair desesperada.

- A Lili não tem jeito né? Eu não entendo. Ela é tão bonita, tem tudo para ter um cara legal, mas fica aí se sujeitando a cada coisa.

- Diana, não adianta falar. Você viu. Eu tentei, lavo minhas mãos. Mas prepare-se porque vai ser no nosso ombro que ela vai vir chorar hein? Enquanto isso, vamos beber... Garçom!

***
Irritada e, entre várias olhadas no relógio do meu celular (porque o meu ginecologista estava com a minha consulta atrasada em mais de uma hora e eu não sabia mais qual desculpa dar no meu trabalho pelo meu atraso), fui surpreendida enquanto lia uma daquelas matérias de leitoras sobre suas histórias picantes de sexo (tentando esconder a revista para que ninguém percebesse que eu lia ’10 POSIÇÕES QUE VÃO ENLOUQUECER SEU HOMEM’), vi que quem saía de dentro do consultório do meu médico era uma mulher de rosto familiar. Tentando puxar na memória, levei um susto ao ver que o doutor me chamava, mas entrei na sala ainda encucada com a tal mulher.

- Doutor, acho que conheço aquela sua paciente... – eu disse enquanto ele olhava o meu prontuário.

- Quem? A Dona Olívia? – respondeu ele em tom natural, como quem diz, ‘como você não conhece a Dona Olívia?’

- Olívia, Olívia... Claro, Olívia! – repentinamente me lembrei que aquela moça era a ex-namorada do Pierre. Aquela que ele namorou enquanto estivemos separados.

- Doze semanas. É minha paciente antiga. – continuou o doutor.

- Doze semanas?! – o que isso significa?!

- É, ela está grávida. Uma gravidez perfeita. Inclusive, amanhã ela estará aqui com o pai da criança...acho que é ... Pierre o nome dele...ele sempre acompanha ela nos ultrassons...acho isso super importante. – respondia o médico babão emocionado com a responsabilidade do papai Pierre.

Nesse instante meu coração parou. Como assim a Olívia estava grávida? Como assim o Pierre é o pai da criança? Como assim 12 semanas? ‘Peraí, então ele já sabia que ia ser pai e não me contou nada? E como assim ele já sabia que ia ser pai, não me contou nada e ainda queria voltar comigo? Ah mas eu vou tirar essa história bem a limpo viu!

Nem sei como a consulta terminou. Só sei que fui para casa com pensamentos fuzilando minha cabeça. Eu me sentia uma tremenda tonta ao (quase) acreditar que o Pierre tinha mudado, mas ainda bem eu tinha optado pelo Pedro. Mas aquilo não podia ficar assim. Confesso também que fiquei magoada e senti meu mundo caindo ao saber que agora o Pierre seria pai de uma criança que não era minha. Confesso que, no fundo, eu ainda carregava uma esperança de que se não desse certo a minha história com o Pedro eu poderia apelar para o Pierre, mas agora era diferente...

- Diferente em que, Diana? Não tô entendendo porque desse estresse todo...- perguntava Betina enquanto eu explicava a história para ela.

- Betina, eu não posso mentir para você. Eu ainda gosto do Pierre. Eu sei que não é certo. Tô tentando esquecer ele. Estou me dando uma segunda chance com o Pedro, mas um filho não estava nos meus planos... – eu dizia me jogando no sofá da minha casa inconformada.

- E não tem que estar nos seus planos mesmo, Diana. Até porque isso agora é um problema que o Pierre é quem tem que se preocupar... Problema dele. Vacilão. Mais uma prova de que ele não tinha que ser seu...

- Betina, mas agora ele vai ter um laço afetivo eterno com essa Olívia entende? Mesmo que se a gente voltar um dia...a Olívia e o Olivinho estarão sempre presentes na nossa vida... Pior...ela tá de 12 semanas...isso significa que ele já sabia disso, mas ainda queria me esconder e me enrolar...queria voltar comigo para fugir da raia e ainda me tachar de madrasta? – concluía minha tese ainda inconformada.

- Diana, esquece o Pierre e para de fazer dele o seu plano B também.

Antes que eu dissesse algo, o interfone tocou. Coincidências do destino à parte, mas era o Pierre. Betina, que adora ver um circo pegar fogo foi se esconder no meu quarto, porque como ela disse ‘essa eu não perco por nada’.

Apesar da minha vontade incontrolável de socar a cara do Pierre quando abri a porta e vi a cara lavada dele fazendo o tipo cachorro sem dono, resolvi bancar a boa samaritana. Ofereci uma bebida e fiquei escutando suas ladainhas...a cada palavra eu imaginava ele numa cruz e eu pregando cada pedacinho do seu corpo (Ai, como eu sou perversa!!!)

- Vim aqui para saber se você mudou de idéia... – dizia ele tentando se aproximar de mim no sofá.

- Sobre? – levantei rapidamente. Eu não (podia) queria cair em tentação.

- Sobre eu e você... seu prazo já venceu né? E eu sei que você vai cansar do Pedro...ele não é homem para você. – olha só quem está falando né?

- Ah não? E quem seria, Pierre? Você? – ironizei dando uma risadinha sarcástica.

- Claro!! Diana, não faz sentido a gente ficar separado. A gente foi tão feliz quando estávamos juntos. Vamos recomeçar... – dizia ele pegando em minhas mãos.

- Pierre, eu já recomecei, mas sem você. E acho que você também fez o mesmo. – estava aí a deixa que eu precisava.

- Como assim? – perguntava ele bancando o desentendido.

- Você ia esperar até quando para me contar que vai ser pai, hein, Pierre? – coloquei a mão na cintura e mostrei que sou de arerê.

Naquele momento, o olho dele arregalou e ficou mudo por alguns minutos.

- Eu ia te contar... – disse ele de olhos baixos.

- QUANDO? – acho que berrei nessa hora - Quando eu caísse mais uma vez na sua ladainha cheia de promessas e daí você ia me dizer que estava num momento confuso, que precisava de um tempo porque daqui nove meses eu ia ver o resultado? Pierre, chega!!! – respondi bufando e batendo as tamancas de um lado a outro da minha sala.

- Calma, Diana! Foi de repente – dizia ele tentando me segurar porque eu andava de um lado a outro da sala me segurando para não tacar a garrafa de cerveja na cabeça dele. – A Olívia descobriu meio sem querer... e a gente já não estava quase que juntos...

- Como assim não estava QUASE que juntos? Então, vocês estavam juntos? Ou, melhor, vocês estão!!! Já entendi tudo, Pierre, mais uma vez, eu seria o seu plano B. Se eu aceitasse voltar, você daria um pé na bunda da Olívia, mas se a Olívia te aceitasse, era eu quem seria descartada né? Esse é o seu problema, Pierre. Você nunca sabe o que quer, mas sempre quer ter um plano B. Mas, escuta aqui, eu cansei de ser o seu plano B. Ou, melhor, eu não vou ser o plano B de ninguém. Se não for para ser a primeira opção, a segunda, meu bem, eu também não quero. E estou muito feliz porque agora tenho quem me queira única e exclusivamente como primeira opção. Por favor, Pierre, não perca mais o seu tempo comigo. Agora você tem uma criança que precisa de você...tchau!!! – eu disse abrindo a porta e apontando para ele onde ficava a saída.

Pierre ainda tentou gaguejar mais meia dúzia de palavras, mas a minha fúria não me permitia ouvir. Ele levantou, me deu um beijo na bochecha e saiu como um cão molhado de chuva com o rabinho entre as pernas.

- Amiga, você foi fenomenal! Espetacular! Mal te reconheci! – dizia Betina batendo palminhas e me abraçando pela performance.

- É, foi difícil, mas pronto, falei. Acho que estou me sentindo melhor. – me joguei no sofá para digerir aquele momento.

- Isso merece uma comemoração!!! Tem champagne nessa casa?

Enquanto a Betina comemorava, eu fiquei hipnotizada e confusa. Não é que eu finalmente tinha criado coragem e botado o Pierre para correr? O sentimento continua o mesmo e vai continuar por um tempo ainda eu sei, mas consegui me valorizar e me posicionar...

... coisa que a Lili ainda não tinha conseguido muito porque apareceu lá em casa aos prantos como a Betina previa.

- Quem te deu o pé na bunda dessa vez, Lili? – perguntei já meio sem paciência.

- O Rômulo. Ele sumiu. Marcamos de nos ver hoje, mas ele desapareceu. Daí, entrei no Facebook dele e vi que ele viajou com a família. – dizia ela com a voz embargada como a de um bebê embargada.

- E por que você tá chorando? O cara não é casado? Ele vai ficar com você quando conseguir uma folga com a família, poxa! Não é assim que você gosta? – respondia Betina com paciência zero.

- Mas é sempre assim? – chorava Lili.

- É sempre assim porque você quer que seja assim, Lili – eu dizia – Olha para você. Uma loiraça bonita, rica, inteligente...

- É, Lili, tá mais do que na hora de você se ligar e parar de ser a segunda opção dos outros hein? Até quando vai comer os restos, garota?

Lili ficou nos olhando sem resposta, mas como conheço minha amiga sei que ela ficou pensativa. Se ia parar de ser a segunda opção dos homens, eu já não sei e nem me arrisco a colocar a mão no fogo por ela porque em questões de amor Dona Liliana não é muito confiável, mas o que sei é que eu não vou mais ser plano B, C, D, E, F de ninguém... se não for o A, nem adianta arriscar o resto do alfabeto.

PAPO DE CALCINHA: E, você, já foi o Plano B de alguém ou já teve um Plano B na sua vida?

domingo, outubro 09, 2011

AMADO AMIGO: A ESCOLHA

Por Letícia Vidica


- Meninas, ainda estou em tempo de desistir. Isso pode ser um sinal do destino. – eu dizia tremendo feito vara verde na sala de embarque do aeroporto ao ouvir anunciar que o voo para o Rio de Janeiro estava atrasado.

- Desistir? Jamais. Agora, meu amor, é entrar naquele avião e correr para os braços do Pedro. – dizia Betina.

- E se ele não quiser mais saber de mim? Eu posso me poupar disso. É tão mais fácil levar um fora à distância né? – esse ainda era o meu último fio de esperança, temendo mais um fora.

- Ele vai desistir de você se for um louco... e agora que estou aqui só volto para casa depois de pegar uma corzinha nas areias da Barra da Tijuca. – dizia Lili.

Eu tinha convencido, ou melhor, as minhas amigas me convenceram a embarcar com elas naquele avião rumo ao Rio de Janeiro atrás do Pedro. Para mim, tudo aquilo era uma loucura. Ou era assim que eu preferia que fosse. A Lili dizia que era uma linda prova de amor e a Betina dizia que eu estava fazendo a coisa certa. E foi assim que me convenci a subir naquele avião.

Chegando no Rio e fomos assentar pouso num apezinho na família da dona Liliana Bittencourt na Barra daTijuca. No diminutivo, só tinha a minha fé porque o apartamento dava uns cinco dos meus. Colocamos nossos biquínis e fomos bolar nosso plano infalível sobre como encontrar o Pedro,pegando uma cor na areia da Barra.

- Meninas, ainda não acredito que estou aqui. Isso é a maior loucura. Eu quis dar uma chance para o Pedro, mas vai ver que o encontro dos dois lá em casa foi um sinalzinho do destino dizendo que não vai dar certo e que eu tenho que ficar com o Pierre mesmo...

- Diana, você tem que parar com essa insegurança toda. Você quer ou não ficar com o Pedro? Acho bom usar sua folguinha para pensar sobre isso porque ele não me parece querer apenas uma aventura.

Betina estava certa. Eu não podia estar ali por brincadeira. Falando nisso, aproveitamos para curtir o sol maravilhoso que fazia, bebendo uns drinks e água de coco e refrescando o corpinho no mar, não só o corpinho porque também tentei refrescar a minha mente que estava a mil bolando milhões de possibilidades sobre o meu (re)encontro com o Pedro.

À noite, vesti um look de arrasar e fui com as meninas para o apê do Pedro. Chegando lá, o porteiro me disse que ele tinha saído, mas não sabia dizer se demoraria. Achei que era mais um sinal de que eu deveria desistir daquela idéia maluca. O meu desespero devia ser tanto que o porteiro me disse que o Pedro costumava ir comer uns petiscos num quiosque na praia e que eu poderia encontrar ele lá. Praticamente arrastada pelas meninas, seguimos até o tal quiosque.

O Pedro não estava lá, mas como a noite estava infernalmente quente, pousamos por lá mesmo para beber uma aguinha de coco.

- Meninas, é um sinal. Eu já disse. Amanhã mesmo volto para São Paulo.

- E não encontrar o bofe?! Enlouqueceu né? – questionava Lili

- Acho bom você desistir da ponte aérea...aquele ali não é o Pedro?

E não só era o Pedro que chegava como já estava bem acompanhado de uma linda morena, pele cor de jambo queimada de sol. Nossa, ele realmente tinha sido rápido não?

- Diana, tá esperando o quê para ir lá falar com ele?

- Eu?! Não tá vendo que ele está acompanhado, Betina? Olha o papelão que vocês me fizeram passar...- eu dizia numa mistura de raiva e lágrima nos olhos.

- Muda essa cara agora e vamos lá. – Betina me puxou pelo braço e me levou até a mesa do Pedro.

- Betina?! Diana?! – Pedro assustou-se ao nos ver. Imagino que devia estar pensando qual desculpa daria. – O que vocês estão fazendo aqui?

- Já vou logo dizendo que isso foi loucura da Betina, eu não queria ter vindo...e eu também não quero estragar nada... – eu dizia olhando para a morenaça e virando as costas.

- Pera’í! Afinal de contas, você não veio ao Rio a toa né? – dizia Pedro me segurando pelo braço.

- Oi, Diana, Prazer. Eu sou a Lívia. Sou prima do Pedro. Ele tem falado muito de você esses dias...acho bom mesmo que tenha aparecido.

Minha cara, claro, caiu no chão. Mas meu coração se aliviou ao saber que o Airbus era parente dele e não mais um jatinho que já tinha pousado na pista dele. A prima acabou indo sentar na mesa com Lili e Betina e eu e o Pedro fomos andar na areia. Ficamos andando alguns minutos em silêncio. Eu sabia que o Pedro estava esperando eu dizer algo, mas eu não sabia o que dizer.

- Confesso que estou bem surpreso.

- Por quê?

- Essa era a última coisa que eu esperava. Não achei que você viria atrás de mim. Que honra! Dona Diana enfrentou o seu orgulho...

- Também não precisa apelar, Pedro. Eu precisava vir, eu tinha que te ver, eu tinha
que me explicar...

- Não precisa falar nada, Diana. Esqueceu que te conheço mais do que a você mesmo? – dizia Pedro pegando nas minhas mãos e olhando profundamente nos meus olhos.

- Mas agora é diferente. Você me conhecia como amiga e agora sou mais do que isso. Eu queria te pedir desculpas. Eu queria ter te contado do Pierre, mas foi tudo de repente...eu e ele...não vou te enganar, foi forte, gostei muito dele, marcou...mas já não me faz mais feliz.

- E quem te faz feliz, Diana?

- Você. Você me deixa feliz de um jeito que eu nunca fui. – eu me declarei, agarrando Pedro e o beijando apaixonadamente nas areias de Ipanema.

Como tudo pareceu um sonho, como sempre parece quando estou ao lado do Pedro, só voltei à realidade quando fui acordado pelo beijo do Pedro na manhã seguinte na cama dele e sendo surpreendida por um lindo café da manhã.

- Você não existe!!!! – eu dizia ainda sonolenta.

- Sempre existi. Você que não me enxergava... queria te fazer uma pergunta...

- Todas.

- E agora como vai ser? Voce vai voltar para São Paulo. Eu vou ficar aqui. O Pierre vai estar lá, vai te procurar e aí?

- Aí o quê? Tá achando que vou dar mole para ele?

- Não foi o que eu disse...

- Fique tranquilo. Meus sentimos estão mais organizados. E sei bem como afastar o Pierre. Agora chega de falar disso e vamos curtir nosso dia juntos ok?

Pedro me beijou novamente e recomeçamos nossas horas intensas de amor. Dali eu não tive dúvidas de que não tinha mais porque ter insegurança. Agora é só curtir com o Pedro e ver no que vai dar. Confesso que o Pierre ainda tem lugar no meu coração, mas está cada dia sendo mais e mais espremido pelo Pedro que tá ficando bem espaçoso por lá também...

quarta-feira, setembro 28, 2011

AMADO AMIGO: JUÍZO FINAL



Por Letícia Vidica


- Nossa, Diana, o que uma paixão não faz com uma pessoa né? Você tá tão mais viva, mais alegre... - era Betina comentando o meu bom humor , durante um dos nossos encontrinhos habituais no bar do Pedrão.

- Também com um peixão daqueles, né?

- Pode tirar o olho, dona Liliana, esse eu não divido com ninguém. Pois é, meninas, há tempos que eu não me sentia assim. O Pedro é realmente incrível. Tem hora que eu até duvido... ele é perfeito demais.

- Mas e a saudades?

- E tem como sentir saudades, Betina? O Pedro me liga todo dia, me manda mensagem...acredita que outro dia mandou entregar até flores para mim lá na agência? Tem horas que acho que ele tá na sala ao lado e não no Rio de Janeiro. Mas esse final de semana ele tá vindo para cá... - eu respondia suspirando.

- Pergunta que não quer calar...e o Pierre? Ele já sabe que você escolheu o Pedro?

- Ai,Lili, você tinha que lembrar o nome desse estrupício? - reclamava Betina.

- Não, ele ainda não sabe. Ele sumiu. Não me procurou mais. Vai ver já está até em outra... e a última coisa que tenho pensado é no Pierre. Vamos mudar de assunto?

Mudei de assunto, mas tenho que confessar que esse assunto andava me perseguindo. Eu temia o dia em que eu teria que encarar o Pierre novamente. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele viria cobrar uma resposta. E eu, não sei por qual motivo, ainda não tinha tido coragem de contar para ele que eu estava ficando com o Pedro. Porém, eu sabia que não ia adiantar fugir por muito tempo. O dia do juízo final iria chegar e...chegou!!!

Era quinta-feira. Eu voltava do supermercado cheia de sacolas. A noite estava linda e eu tinha resolvido ir às compras a pé. Quando dobrei a esquina do meu prédio, quase infartei.

- Quer uma ajuda madame? - era o Pierre que me esperava sorrateiramente.

- Tá louco? Quer me matar do coração? O que você tá fazendo aqui? - perguntei assustada.

- Uma pergunta de cada vez. Já que você não me procura eu resolvi te procurar...

Era tudo que eu mais temia no mundo. Ele tinha ido me procurar e agora? Eu tinha que contar para ele sobre o Pedro, mas algo em meu subconsciente me impedia de tal atitude. Sem hesitar, Pierre me ajudou com as sacolas e me acompanhou até o meu apartamento. Enquanto ele me acompanhava, eu ensaiava mil e umas maneiras de dizer a ele que eu estava com o Pedro, que tinha me dado uma nova chance e que não dava mais. Será que não dava mesmo? Por um momento, vendo o Pierre ali no meu apartamento, uma nostalgia me bateu e uma ponta de esperança de que ele poderia realmente estar falando a verdade sobre a sua mudança. Ai, meu Deus, será que eu troquei os pés pelas mãos?

- Pierre, você ainda não me disse o que você veio fazer aqui...eu não te disse que...

- Fala nada não. Fica quietinha!!! Vou te mostrar o que eu vim fazer...

Numa fração de segundos, Pierre me abraçou e me beijou. Aquele beijo ardente de antigamente. Meu peito ardeu, minha perna bambeou e meu cérebro parou. Não tive reação. Mas, também numa fração de segundos, recuei.

- Pierre, vai embora! Por favor. Me dá um tempo...

- Diana, mas eu...

Abri a porta e implorei que ele saísse. "Ai, meu Deus, o que eu fiz? Eu não podia ter beijado ele. Não tá certo. E o Pedro? Ai, meu Deus...". Entrei em desespero total.
Só a Betina podia me salvar ...

- Como assim você beijou o Pierre? Como assim você não contou a ele que está com o Pedro? Diana, o que você quer? - essa era minha fiel escudeira me trazendo à realidade.

- Eu não sei o que me deu, Betina. Foi tudo muito rápido. E agora?

- Para de ser mole. Você tem que falar sobre o Pedro pro Pierre. Para de ficar alimentando esperanças nele...não dá para ter tudo...ou você acha que o Pierre vai ser sua muleta eterna?

Betina estava certa. No fundo, eu tinha me dado uma nova chance com o Pedro, mas temia abandonar o Pierre porque, se não desse certo, ele estaria ali. Me esperando de braços abertos, mas não é justo. Não é justo com o Pedro e nem com o Pierre. Estou decidida, vou falar a real. Vou contar do Pedro pro Pierre e do Pierre pro Pedro...entendem?

***

Pedro resolveu me fazer uma surpresa e veio para São Paulo na sexta-feira. Passou lá na agência e me levou para jantar. Para variar, um daqueles jantares românticos e espetaculares que ele adora. Ficamos falando sobre nossa semana, nosso trabalho, sobre a gente...mas o tempo todo eu olhava para ele e só lembrava do beijo que o Pierre tinha me dado. "Eu preciso contar". Aguardava ansiosa por uma brecha que nunca surgia. Não falei no jantar porque não queria estragar aquele clima romântico, não falei no carro porque o Pedro desabafava comigo sobre um problema de trabalho, não falei na minha casa porque mal falei. Chegamos excitados e ofegantes nos agarrando por todos os cômodos da minha casa... Ou seja, não falei. O café da manhã podia ser uma boa deixa...se a minha campainha não tivesse tocado...

- Pierre?! O que você tá fazendo aqui?

Ele entrou já me agarrando, quando o Pedro apareceu de cuecas na sala.

- Princesa... Pierre?! - perguntou ele assustado.

Ai, Jesus, o circo estava armado. E eu que achei que isso só acontecia em novela das oito.

- O que esse cara tá fazendo de cuecas no meio da sua sala, Diana? - perguntava Pierre.

- E o que esse cara tava querendo agarrar a minha namorada, Diana? - retrucava Pedro.

- Namorada?!

Pedro e Pierre me olharam como dois cães raivosos. Eu me sentia cada vez mais sem saída.

- Calma, gente, eu posso explicar...

- Explicar? Já entendi tudo, Diana. Tava me fazendo de idiota né? Já entendi seu joguinho. Ia me levar no banho maria até quando? Não esperava isso de você!

Pierre me olhou com cara de decepcionado e de desgosto. Me senti a pessoa mais suja do mundo. Ele saiu furioso. Ainda tentei gritar por ele no corredor, mas não adiantou. Ao voltar para o meu apartamento, Pedro me esperava sentado no sofá.

- Ele não sabia da gente né? Você não teve coragem de contar né?

- Pedro, eu ia contar...eu juro...ele me procurou essa semana...eu tentei contar, mas não deu...ele...ele...me beijou e não deixou eu falar.

- O quê?! - Pedro levantou furioso com os olhos vermelhos de ódio. Nunca tinha o visto assim. - Já entendi tudo. Você o ama ainda, Diana. Tá comigo para se dar uma nova chance, ver se esquece esse idiota, mas não consegue... Olha, gosto muito de você, mas eu não vou ser a sua muleta. Tô fora.

- Espera, Pedro. - eu corria atrás dele impedindo que ele fosse embora. - Onde você vai? Pedro, Pedro...

Era tarde. Pedro saiu batendo a porta do meu apartamento e me deixando aos prantos na sala do meu apê. "Burra, burra, burra" era só isso que eu pensava de mim.

- Burra não! Você foi uma imbecil. Deixou escapar a maior chance da sua vida. Eu desisto de você, Diana. – esse não era um sermão de mãe, praticamente, porque era a minha mãe amiga, Betina.

- E agora, gente, o que eu faço? – eu implorava uma saída aos prantos.

- Vai ficar aí chorando, mona? Hello!!! Se eu fosse você, ia agora mesmo atrás do seu bofe, antes que outra corra antes.

Essa era Lili. Incrivelmente, ela tinha me dado o conselho mais sensato. Até a Betina teve de admitir que Lili estava certa. E lá fui eu, com minhas duas fiéis escudeiras, atrás do Pedro. Mas dei com a cara na porta...

- Oi, Diana, o que houve? O Pedro chegou aqui que nem um furacão, arrumou as malas e disse que ia voltar ao Rio. Vocês brigaram? – essa era minha ex-futura sogra me jogando mais um balde de água fria. Por que a vida não pode ser fácil para mim hein???

***

- Desisto, meninas. É um sinal do destino. Pedro não me atende, já liguei 500 vezes para o celular, deixei um trilhão de recados na caixa postal...a essa hora ele já arrumou outra Garota de Ipanema. Meu destino é ser uma eterna solteirona mesmo. Ó vida cruel!!!

- Diana, hello! Vamos reagir, bem? – Lili mais uma vez me trazia à realidade – Tá esperando o quê para fazer as malas e ir para o Rio atrás do bonitão?

- Eu? Ir para o Rio? Tá louca? – confesso que correr atrás do Pedro não era uma possibilidade que eu estava considerando.

- A Lili é doida, mas ela tá certa. Bora atrás do bofe. – dizia Betina, ainda batendo palminhas com a Lili como quem comemora a grande idéia.

Se essa era a minha única saída, lá vamos nós. Relutei contra o meu orgulho que insistia em me dizer que não valia a pena, que ele devia ter me dado ouvidos, que era bem mais fácil e comodo continuar com o Pierre vivendo essa felicidade clandestina, como diz Clarice Lispector... Mas a minha consciência se inflou e foi logo dando uma surra no orgulho e me enchendo de coragem para ir atrás dele. Agora bastava saber se ia dar certo e era o que eu pensava enquanto arrumava minhas malas...eu estava a 40 minutos de avião de saber se eu seria feliz ou não...

PAPO DE CALCINHA: Você já ficou dividida (o) entre dois amores?

DICA - LIVRO: 'MULHERES SOLTEIRAS NÃO SÃO DE MARTE', EDITORA UNIVERSO DO LIVROS, DE LETÍCIA VIDICA. ADQUIRA JÁ O SEU!!

domingo, setembro 11, 2011

AMADO AMIGO: UMA NOVA CHANCE


Por Letícia Vidica


- Como assim a senhorita volta de viagem com o príncipe e nem nos aciona para contar nada? - essa era Lili com a Betina a tiracolo que tinham ido dar plantão na minha casa,uma semana depois da minha chegada de viagem com o Pedro.

- Achei que já soubesse o script da história de cor, ou melhor, pergunta para Betina que ela sabe direitinho como tramar essa história ... - eu dizia ainda furiosa com a armação da Betina e do Pedro.

- Peraí, gente, que parte da história eu perdi? - perguntava Lili.

- Não me mete no meio. - Betina, ainda tentando fingir que eu não sabia de nada.

- Não seja cínica, Betina. Sei muito bem que você armou com o Pedro essa palhaçada toda. Ele me contou. Então quer dizer que agora você fica bancando uma de cupido? E com que direito?

- Diana, eu só quis ajudar. Você vive reclamando que ninguém te ama, perdendo seu tempo como idiota do Pierre que não sabe se fode ou não ... enquanto isso, o Pedro, o maior partido da terra, de quatro por você...eu só achei que ia ajudar...

- Pois fique sabendo que você estragou tudo!!! Poxa, o Pedro é meu amigo. É assim que tem que ser...

- Vocês ficaram??!! - era o Tico e Teco da Lili funcionando meia hora depois...

- A gente se beijou sim. Mas a gente tava bêbado...aí o Pedro veio com umas histórias de que gosta de mim e tals, mas não é assim. Não pode ser isso.

- E por que não? Dá uma chance para ele, Diana. Para de ser boba. Se joga nos braços dele e seja feliz.

- Não sei, Betina. Não sei. E não adianta me aconselhar porque ainda estou muito furiosa com você.

Será que eu devia me jogar nos braços do Pedro? Essa foi a pergunta que mais me perseguiu por toda a semana. Falando nele, Pedro tinha sumido desde o nosso retorno. Se fosse um homem qualquer, poderia até dizer que tinha ficado bravo e me esquecido. Mas, sendo ele, sabia muito bem que o seu sumiço era um sinal de respeito ao meu momento. Porém, pensando bem, diante da minha indecisão, era até bom ficarmos um tempo sem nos falarmos.

Só que a vida é uma comediante e adora pregar peças na gente né? Adivinha o que aconteceu? Ao contrário da sua habitual atitude, Pedro foi me procurar uma noite dessas no meu apartamento.

- Pedro?! - disse assustada ao vê-lo parado na porta do meu apartamento.

- Vim em missão de paz. - ele dizia com os olhos tristonhos e parecendo até um pouco marejados.

Pedi que ele entrasse. Ofereci uma bebida, mas pude perceber que estava nervoso. Ficamos nos olhando um tempo. Ele suspirou, pegou nas minhas mãos, olhou nos meus olhos e dissemos:

- Desculpa!

Foi tão automático que logo caímos na risada. Incrível como eu não consegui ficar com raiva do Pedro.

- Preciso que me desculpe de verdade, Diana. Eu estraguei tudo, atropelei as coisas...

- Pedro, você não tem que se desculpar...eu é que tenho...fui uma grossa, mal educada com você. Você foi tão fofo, querendo me animar, me levou naquele hotel incrível, que amigo faria isso por alguém?

- Só um bobo apaixonado como eu. - ele disse num sopetão - É difícil admitir isso, Diana, mas você é muito mais que uma amiga para mim. Eu jamais quis te usar ou quis me aproveitar da sua amizade. Pelo contrário, esse sentimento nasceu muito depois disso. Mas você nunca me deu uma chance, uma abertura, achei que agora pudesse ser um bom momento...

- Pedro... eu ... - tetei dizer algo ainda um pouco tonta com tanta informação.

- Não precisa dizer nada. Não precisa se forçar a nada. Eu só achei que você tinha que saber disso. Cansei de levar esse sentimento no anonimato. Ah, e a Betina não tem culpa de nada. Fui eu quem pedi para ela me ajudar.

Antes que eu esboçasse qualquer tipo de reação, a campainha tocou. Para minha sorte ou azar, era o Pierre. Os dois lançaram olhares fuzilantes e eu fiquei ali me sentido a própria Gabriela com seus dois futuros projetos de marido. Dividida entre um amor do passado e o medo de um grande amor do futuro. Pedro se despediu de mim, como quem sai sorrateiramente de cena. Pediu que eu refletisse com calma tudo que ele tinha me dito e depois o procurasse.

- O que esse cara tava fazendo aqui? - perguntou Pierre com sua paciência ríspida.

- Primeiro lugar, esse cara é o meu melhor amigo. Segundo, a casa é minha e acho que não lhe devo mais satisfações né?

- Desculpe. É que você sabe que eu não vou muito com a cara dele... tenho minhas dúvidas sobre essa amizade, mas... te procurei final de semana passado...

- Eu viajei com o Pedro.

- Ah, agora tá até viajando com ele? Nossa!

- Pierre, se você veio até aqui para isso, pode ir embora.

- Não, não... eu vim te ver. Eu precisava te ver. E confesso também que preciso de uma resposta...

- Seu reloginho está correndo é? Pois fique sabendo que eu não tenho uma resposta... e não sei quando eu terei uma - ele não adorava jogar comigo? Pois agora será a minha vez!

Pierre me olhou com cara de cachorro sem dono.

- Diana, até quando a gente vai ficar longe um do outro? A gente se ama...vamos ser felizes. Eu te prometo, meu amor, vai ser diferente...agora é para valer.

Não sei por quê, mas eu não acreditava naquela promessa. De alguma forma, o Pedro tinha algo a ver com aquela minha desconfiança. Pela primeira vez, coloquei os dois na balança e estava disposta a pesar. Pedi para o Pierre respeitar o meu tempo e aguardar a minha resposta. E qual seria? Era isso que eu tentava buscar.

***

- Mãe, eu não sei o que fazer! - essa era eu choramingando no colo da pessoa que mais me entende no mundo. Mamãe! Eu tinha contado os últimos episódios do meu dramalhão mexicano para ela e agora pedia ajuda para dar um final digno àquela novela.

- Filha, você sabe o que eu acho sobre o Pierre. Gosto muito dele, mas acho que ele já brincou demais com você. Ele não é mais criança. Até quando vai viver de dúvidas? O Pedro, ah, o Pedro é como um filho para mim. Seria a maior alegria ter ele como genro. Ele é um bom moço e você merece uma nova chance, filha. Mas, você é grandinha e a decisão é sua. Só quero te ver feliz.

Mãe é tudo igual. Ajuda, mas só confunde a cabeça da gente. Que saudade dos tempos que ela decidia por mim. Era a saia rosa e não tinha choro. Agora, a decisão é minha. Oh, vida cruel.

Eu sei que não posso viver indecisa eternamente. Até porque corro o risco de ficar sem os dois passarinhos. Quem garante que eles vão me esperar? Porém, preciso me colocar à prova. Acho sim que minha mãe está certa...eu mereço uma nova chance. Basta saber se darei uma nova chance ao meu conforto inconstante com o Pierre ou a minha promessa de porto seguro com o Pedro. O certo ou o duvidoso? O amor ou a amizade? Jesus, me ajuda!

***

Resolvi apelar para um velho ditado que diz que o tempo cura e resolve tudo. Deixei nas mãos dele. O problema é que, mesmo que ele resolva, sempre dá um jeitinho de te avisar que o tempo está se esgotando.

- Di, como você está? - era Betina ao telefone.

- Estou ótima, na medida do possível.

- Já resolveu sua vida?

- Ainda não... estou deixando o tempo correr...

- Então acho bom se apressar...o Pedro me ligou hoje dizendo que vai voltar para o Rio amanhã... Você tem menos de 12 horas, amiga. Acho bom correr!

Foi o que fiz. Corri. Liguei para o Pedro e o convidei para jantar. Fiz uma comidinha gostosa (receita de mamãe), comprei uns drinks, me arrumei, me perfumei e coloquei tudo à prova.

- Nossa, como você está linda! - dizia ele ao chegar na minha casa - Só espero que não seja apenas uma despedida em grande estilo.

- Será que o senhor pode parar de querer adivinhar tudo? Entra!

Eu ainda estava um pouco nervosa com toda aquela situação. Era tudo muito novo. Ainda não me sentia à vontade com o fato de que eu tentaria dar uma chance para o meu melhor amigo. Prometi a mim mesma que ia deixar tudo correr e ver como aquela noite seguiria. Jantamos falando bobagens, rimos bastante e não trocamos uma única palavra sobre nosso possível romance.

- O jantar estava maravilhoso. Não sabia que você tinha dotes culinários. Parabéns! Mais uma surpresa....

- Você sabe que eu sou uma mulher surpreendente - eu disse me jogando no colo dele no sofá.

Ficamos em silêncio e Pedro acariciava os meus cabelos. De olhos fechados, me sentia como se o mundo tivesse parado. Engraçado que o Pedro fazia com que eu me sentisse uma adolescente apaixonada. E eu adorava toda aquela sensação.

- Não canso de dizer que você é linda! Pena que amanhã eu to indo embora...

- Disse certo. Amanhã. Então vamos aproveitar o hoje. - me desconheci, mas eu tinha dito aquilo. E nem vou ousar culpar o álcool.

Levantei, abracei o Pedro e o beijei. Eu queria sentir mais uma vez aquele beijo e testar se tudo aquilo que senti lá no chalé tinha sido real ou era apenas sensação etílica. Ledo engano, era real. O beijo dele era maravilhoso. Assim como o cheiro, o abraço, o perfume e... o sexo. Inevitavelmente, passamos a noite juntos. Me deixei levar. Ou, melhor, me dei uma nova chance. A noite foi maravilhosa. A cada toque, Pedro me tratava como seu eu fosse a coisa mais rara e valiosa do mundo.

***

- Diz que não foi um sonho? - Pedro me perguntava ao acordar.

- Não foi um sonho...foi mais real que tudo que já vivi nessa vida. Que coisa louca, Pedro. Eu e você? Quem diria?

- Eu e você? Então quer dizer que tenho chances? Tá certa disso?

- Pedro, você é a pessoa que mais me conhece no mundo. Eu não mentiria para você. Se vai dar certo, eu não sei. Mas eu estou a fim de tentar. Só quero que seja sincero se a gente descobrir no meio do caminho que estamos confundindo tudo. E, como tudo isso é novo para mim, você tá lá no Rio, acho melhor a gente ir devagar...

- O que você sugere? Sabe que faço tudo para ficar com você - ele dizia me beijando.

- Vamos nos conhecendo... vamos deixar rolar...preciso conhecer esse outro Pedro e você essa outra Diana, o que acha?

- Seja feita a vossa vontade...agora vem aqui que eu não quero perder um minuto a mais do seu lado.

Passamos a tarde toda trancados no meu apartamento tirando os anos de atraso e compensando a saudade que íamos sentir um do outro, quando ele partisse para o Rio. O mais incrível de tudo é que, por nenhum momento, eu lembrei do Pierre. Esse era outro problema que eu ia ter de enfrentar. Como dizer para ele que eu (agora) não queria mais?

***
- Betina, cuida da minha gatinha hein? Lembre-se que estamos separados apenas por uma ponte aérea. Logo mais, estou de volta.

Pedro me beijou, me abraçou, me cheirou, acariciou meus cabelos, me olhou fixamente...não queria largar!!!

- Desse jeito, você vai perder o voo. Vamos parar de melação? - brincava Betina.

Com muito custo, nos despedimos e Pedro entrou na sala de embarque. Naquele momento, meu coração doeu. Eu já estava com saudades e fiquei olhando ele partir com os olhos cheios de lágrimas.

- Amiga, você tá apaixonada!

- Ai, Bê, o pior é que eu estou - eu dizia rindo e chorando, ao mesmo tempo - E agora? O que eu faço?

- Seja feliz. Só isso já está bom demais.

Pois bem, é o que eu me propus a fazer não é?

PAPO DE CALCINHA: Você acha que a Diana fez a escolha certa?