domingo, abril 27, 2008

NADA É PIOR QUE O FIM


Por Letícia Vidica

Eu sempre odiei levar foras, mas odeio mais ainda dar o fora. Como é horrível terminar um relacionamento. Acho que não inventaram nada pior. Devia ser tudo mais fácil. As pessoas deveriam se olhar e dizer ‘não quero mais, tudo bem?’ e cada um deveria seguir sua vida sem maiores constrangimentos, sem choro nem vela. Infelizmente, não é assim!

Já levei muitos foras na vida, confesso! Foras de diversos tipos: leves, do tipo ‘é melhor assim’ que você fica meio mal, mas é só o cara virar as costas que você já telefona para uma amiga, como se nada tivesse acontecido, e parte para a balada. Sutis, do tipo educado, mas sincero. ‘Não é nada contra você, mas...’ Mas o quê? Esses deixam a gente meio encaraminholada por um tempo, mas nada que um bom chope e uma reunião com as amigas não cure. Graves, daqueles que você passa uma semana na cama, chorando e que não esquece jamais.

Nem gosto de lembrar dos foras que já levei, mas como diz alguém por aí ‘tudo que entra,sai’ e muitos já saíram de uma forma ou de outra da minha vida. Alguns deixaram marcas que a brisa apagou, outros deixaram eternas tatuagens que, mesmo que eu tente esconder, sempre arranjam um jeitinho de aparecer.

Porém, tenho que combinar: a coisa que eu mais odeio é dar um fora. Não um fora num ficante ou num cara que não presta, isto eu tiro de letra. Mas dar um fora num cara legal, aquele cara que era tudo que você sempre sonhou, porém na sua loucura de mulher, ele não tem a menor graça quando surge na sua vida. É legalzinho, mas não rola!

O César foi um desses legaizinhos que não rolou. Eu estava solteira fazia já uns 3 meses. A carência, a vontade de ouvir uma voz masculina do outro lado do telefone, de Ter alguém para te levar para passear...já começava a dar sinais cada vez mais fortes. Numa dessas, eu conheci o César. Num daqueles lugares e dias inesperados. A Paulinha, minha amiga, tinha um churrasco na empresa dela e não queria ir sozinha. Eu não estava nem um pouco afim, além do mais estava chovendo e o bendito do sítio ficava a umas duas horas de viagem, mas o que a gente não faz por uma amiga?! Eu fui!

Não conhecia ninguém e tive que ficar dando risadinhas daqueles piadinhas de empresa que só quem trabalha entende. Foi quando, resolvi dar uma volta pelo local e encontrei o César. Ele estava sentado frente a piscina e começamos a conversar, sobre o tempo ou coisa parecida. Quando me dei conta, já havíamos trocado telefone e a festa também já tinha acabado.

O César era o tipo do cara certo que aparece na hora errada. Ele era gerente administrativo da empresa em que a Paulinha trabalhava, 35 anos, divorciado (pra variar), morava sozinho, falava 3 línguas, conversava sobre qualquer coisa e sabia agradar uma mulher. Saímos pra jantar algumas vezes e, aos poucos, percebi o quão especial que ele era. Ele era o genro que mamãe pediu a Deus e o pai ideal para os meus filhos, com um detalhe: eu nunca quis Ter filhos.

A gente se dava muito bem. Eu gostava de MPB, ele também. Eu curtia ficar horas, conversando sobre política, ele também. Se eu não queria sair, ele entendia. Alugava um DVD, comprava umas pizzas e passava a noite toda comigo. Nossos gostos, ideais, pensamentos e tudo o mais era igual. A cada dia que passava, o César se envolvia mais e mais comigo, mas eu não sei por quê, achava que ainda faltava algo...

- Você está louca? Como assim não quer mais ficar com o César?


- Não sei, Paula...ele é legal, mas...

- Mas nada! O César é perfeito. Você não tem noção do quanto aquele homem é disputado naquela empresa e ele não dá mole para ninguém. É Diana pra cá, Diana pra lá e você me diz que não quer mais?

- Eu sei que ele é um cara legal, bonito, inteligente, mas falta alguma coisa...

- Falta ele sumir da sua vida,não é? Se ele não te ligasse, sumisse, te traísse, te tratasse com desprezo...você ia gostar, não ia? Eu não entendo nós mulheres!

- Não diga isso, Paula. Eu estou confusa, você acha que é fácil abrir mão assim...

- Então, não abre! Olha eu não te digo mais nada. Pensa bem, porque essa forma já foi jogada fora viu?

************************************

Só eu sei, o quanto ensaiei para dizer que não queria mais. Porém, quando percebi que já estávamos praticamente namorando e quando ele veio com um papo de que queria que eu conhecesse a mãe dele, eu decidi cair fora.

- Olha César, eu não quero te magoar, mas acho que a gente está indo rápido demais com as coisas...

- Como assim rápido? Já fazem oito meses que a gente está junto!

- Eu sei, mas acho que não estou preparada pra encarar um relacionamento assim tão profundo como o nosso.

- O que eu te fiz? Eu fiz alguma coisa errada?

- Pelo contrário, você só fez a coisa certa. O problema não é você, é comigo.

- Então me diz o que eu posso fazer pra te ajudar?

- Nada. Você não pode fazer nada. Eu acho melhor a gente se afastar.

- Mas, Diana...ontem, estava tudo tão bem...eu achei que você estava gostando de mim.

- E estou mas...não sei, estou confusa e não quero te magoar

- E você acha que eu vou ficar bem sem você?

- César, não complique as coisas.

- Quem está complicando aqui é você...eu sei muito bem o que eu quero!
...

- Vamos tentar, Diana? Eu tinha tantos planos pra gente

- Nossa, mas a gente se conhece há apenas 8 meses?

- Só que você me balançou de uma forma que nem minha ex-mulher foi capaz...

- César, deixa eu pensar...vai ser melhor assim.

- Tudo bem, eu não vou mais forçar a barra. Você sabe onde me encontrar. Quando tiver uma resposta, é só ligar. Estarei esperando...tchau!

Acho de verdade que ele realmente esperou...o problema é que eu não liguei. Fiquei sabendo pela Paula que ele sofreu bastante e que, três meses depois, foi transferido para uma filial da empresa no Rio de Janeiro e nunca mais nos falamos. O César era um cara legal, espero que ele tenha encontrado alguém capaz de fazê-lo feliz porque infelizmente eu não pude. Ai, meu deus, será que não vou mais achar nenhum César por aí? Só que se for mandar, manda na hora certa tá? Será que estou pedindo demais?

Papo de calcinha: Quem já não conheceu aquele cara perfeito – que você tanto pediu a Deus – mas quando ele apareceu não rolou? Desabafe : lericiav@gmail.com

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sábado, abril 19, 2008

CIÚMES É BOM, MAS NA MEDIDA CERTA


Por Letícia Vidica


Eu sempre achei que ciúmes era uma das mais belas provas de amor...até conhecer o Ricardo, o cara mais ciumento de toda face da terra. Antes de conhecê-lo, eu achava que era lindo ter um homem me ligando de cinco em cinco minutos, que me buscasse no trabalho todos os dias e que fizesse ceninhas de amor quando um cara assobiava para mim na rua. Mas, o negócio era bem mais embaixo com o Ricardo.

- Caramba, Diana, a gente não tá aqui nem 15 minutos e esse cara já te ligou mais de 20 vezes?! - reclamava Betina num desses nossos encontros religiosos às sextas-feiras à noite no bar do Pedrão.


- Ai, gente... ele é um cara preocupado.- Ele é maníaco, isso sim... ! Daqui a pouco, ele te proíbe de sair de casa - falava Lili irritada

Naquele momento, achei que minhas amigas estavam exagerando, mas quando olhei para porta do bar e vi que o Ricardo estava lá, conclui que não se tratava de exagero e sim de um caso de saúde pública.

- O que você está fazendo aqui? - perguntei


- Ué, vim te ver...não posso?


- Claro que pode...mas eu não te falei que hoje eu ia encontrar minhas amigas?


- E porque não podia me ver?


- Ricardo, a gente se vê todos os dias! Eu preciso de um momento de privacidade- Pra quê? Pra ficar galinhando com essas suas amiguinhas?


- Olha como fala...eu não galinho,até porque não pertenço a essa espécie...eu converso...


- O que está acontecendo, Di? - perguntou Betina que se aproximava


- Nós vamos embora - disse Ricardo


- Como assim,nós?! - perguntei


- Isso mesmo e agora - disse Ricardo pegando no meu braço e praticamente me arrastando.


Aquele foi o ápice do cúmulo do ciúmes. O cara queria disputar com as minhas amigas!!! Lembro que fomos quebrando o maior pau no carro até chegarmos na porta do meu apê. E, como se nada tivesse acontecido, ele pediu para subir. Eu apenas bati a porta do carro na cara dele e saí.

****

Achei que estava livre do Ricardo porque eu não o procurei por uma semana. Mas ele mandou um buquê de flores para a minha casa pedindo desculpas. De coração mole, acabei aceitando, mas impus alguns limites que ele pareceu aceitar à primeira vista. Mas, foi só a primeira vista mesmo!

Para testar sua resistência ao ciúmes, convidei o Ricardo e minhas amigas para bebermos uma cerveja no bar num sábado à noite. Como ele sempre andava em bando, levou outros três amigos (chatíssimos,por sinal, com ele).

No começo, a experiência parecia estar indo bem. Um dos amigos do Ricardo até se interessou pela Lili, mas como ela só tem olhos para o Otávio, só dava fora no cara. No meio da noite, a cerveja começou a fazer efeito. Não parava de ir ao banheiro. Numa dessas, percebi que um carinha da mesa do lado não parava de me olhar e fez questão de me secar quando levantei para ir ao banheiro. Na volta, foi bosta na certa...

- Que tanto você vai no banheiro? - perguntou Ricardo, fazendo questão de falar em alto e bom som para todos da mesa e do bar ouvirem.


- Que isso, Ri... beber cerveja dá nisso...


- Então, acho bom parar de beber porque EU não quero que você vá ao banheiro mais...


Aproveitei as 5 latinhas que eu já tinha tomado e comecei a provocar...


- Posso mijar em você então?

Todos riram e ele ficou puto e com cara de bobo. Ele se levantou e foi ao banheiro. Os amigos aproveitaram para ir junto. Acho que um sacudia o do outro (rs). Nessa hora, o carinha da mesa de trás se aproximou e me ofereceu uma cerveja. Bem nessa hora também, o Ricardo voltava do banheiro. Não teve meias palavras, ele foi logo socando o cara. Resultado: arrumaram o maior barraco no bar, fomos expulsos e levados à delegacia.

- Di, esse cara é maluco! Olha só o que ele fez! - dizia Betina irritada - Eu esperava tudo menos acabar a noite numa delegacia! Eu vou embora, você vai comigo?

Achei que era melhor esperar o Ricardo. Fomos juntos para casa e resolvi não comentar nada. Não era uma boa hora, mas eu tinha que me livrar daquele louco. Na manhã seguinte, durante o café...

- Ricardo, a gente tem que conversar... eu e você...


- Me desculpa, Diana, não termina comigo - ele começou a chorar como um garoto de três anos que tem o pirulito roubado.


- A gente não vai dar certo ... eu sou uma mulher independente, livre...e você quer uma mulher para domar e eu não sou essa mulher.


- Eu vou mudar.


- Ricardo, já perdi muito tempo na vida esperando mudanças. Agora eu quero atitudes. Por favor, não dramatize. Vai embora.

Ele pegou as coisas e me ameaçou dizendo que isso não ficaria assim. Mal sabia do que ele seria capaz. Simplesmente, ele me ligava todos os dias pedindo para voltar, me seguia até o trabalho, aparecia na porta do meu prédio...tornou a minha vida um inferno.

- Gente, eu não sei mais o que eu faço. Eu virei uma prisioneira da minha própria vida! O Ricardo não para de me perseguir.


- Isso é orgulho de macho ferido. Ele não quer admitir que perdeu


- Não, isso é locura mesmo, Betina... mas desde o começo eu disse que não ia dar certo e você não me ouviu né, Di?

Realmente, mais uma vez eu quis ouvir apenas a voz do coração e me dei mal. Desde o primeiro encontro, o Ricardo demonstrou quem ele era, mas eu simplesmente resolvi ignorar os sinais e ouvir apenas os meus hormônios. Agora, lá estava eu sem saber o que fazer.

***

Num desses dias em que eu saí tarde do trabalho, quando ia para o estacionamento pegar o meu carro, avistei o Ricardo parado do outro lado da rua. Fingi ignorá-lo, mas ele atravessou e veio até mim.

- Me solta, Ricardo.


- Pára de fugir de mim, Diana


- E você para de me seguir?- Eu só quero você.


- Mas eu não... Ricardo, eu não quero te magoar, mas admita que não dá mais. Eu não sou mulher pra você e você não é homem para mim. Foi um erro a gente se envolver. Eu não aguento o seu ciúmes e você não suporta a minha liberdade.- Mas eu aceito mudar.


- Você nunca vai mudar, você é assim, admita! Vamos aproveitar que ainda resta um mínimo de consideração entre nós e ponto final. Tchau, Ricardo...e se você continuar a me procurar, vou ser obrigada a te denunciar para a polícia.

Virei as costas e fui embora. Confesso que, pelos próximos dias, fiquei morrendo de medo do Ricardo me procurar novamente. Mas acho que ele me ouviu ou arrumou outra mais gostosa do que eu. Depois dele, sempre peço a Deus nas minhas orações para que meu príncipe nem saiba o que é ciúmes, pois prova de amor assim eu não quero nunca mais.

* Papo de calcinha: Você já se relacionou com homem ciumento? Como foi a experiência melosa?

quinta-feira, abril 10, 2008

ALMOÇO EM FAMÍLIA


Por Letícia Vidica

Domingo era dia de almoço em família. Pelo menos, uma vez por mês, minha mãe fazia questão de reunir os três filhos em volta da mesa e comer a tradicional macarronada da mamma. E esse era o tipo de evento que eu não conseguia fugir, mesmo sabendo todo o script.

Os preparativos

O ritual era sempre o mesmo. Na segunda-feira, minha mãe ligava para que eu não esquecesse do almoço...

- Oi, filha, não esquece hein? Domingo tem almoço lá em casa...
- Pode deixar, mãe, eu não vou faltar.

Mesmo dizendo que essa data já estava anotada de caneta vermelha na folhinha do meu calendário, minha mãe insistia em me ligar sempre achando que eu ia esquecer.



Eu sempre era a última a chegar e logo ia ouvindo as broncas da minha mãe com seu avental sujo de molho, colher de pau nas mãos, guardanapo nos ombros ...

- Eu não disse que era meio-dia, Diana?! Você não tem jeito mesmo! – dizia ela me apertando a bunda e me dando um abraço

- Não está vendo a cara dela, mãe? Deve ter ido para a balada ontem...

Se não bastassem as broncas e cobranças da Dona Eunice, minha querida mãe, a Marisa, minha irmã mais velha, insistia em se achar no direito de me recriminar. Ela sempre foi a perfeitinha da família. Aos seus 35 anos, já era mãe de 3 lindos pestinhas: Gustavo, de 10 anos (o terrível), Ana Luísa, de 8 anos (o meu xodó) e Lucas, de 2 anos. Minha irmã era casada há 10 anos com o Arnaldo, meu querido cunhado. Gordo, dono de um posto de gasolina e pão duro.

- Esse almoço sai ou não sai?! – perguntava meu pai, Seu Matias – Minha menina!!

Eu sempre me dei melhor com o meu pai do que com a minha mãe. Na verdade, acho que ele sempre me paparicou mais e me entendia mais. Na adolescência, quando tinha uma crise logo corria para o colo dele e contava tudo. Até hoje, acho que ele é a única pessoa que me entende.

Ao ouvir a minha voz, os pestinhas vinham logo correndo...

- Tia Dianaaa... – caíam em cima de mim e a gente rolava feito criança no chão da sala. Eu era a tia maluquinha e querida deles (mesmo sendo a única!). Para agradar, eu sempre levava alguns doces para eles, que minha irmã só deixava comer depois do almoço. Mas, às vezes, a gente se escondia no quarto da Lurdinha, a empregada, e se empanturrava de chocolates antes da macarronada. Mesmo sendo uns pestinhas, eu amava meus sobrinhos.

O almoço

- Tá na mesa! – gritava minha mãe
- Ué, cadê o Paco? – perguntava

O Paco era o meu irmão caçula. Vagabundo nato a beira dos 25 anos. Não estudava, não trabalhava e vivia às custas dos meus pais. Acho que a única coisa boa que ele fez na vida foram seus dois filhos (gêmeos) – Davi e Mateus, nascidos de uma das escapadas dele. Eu mal via os dois, só quando a Lara (a mãe deles) resolvia vir cobrar pensão na casa de meus pais.

- Tô chegando, minha gente... e aí, maninha?

Quando todos conseguiam sentar na mesa que minha mãe montava no quintal, era uma zorra total. Um pedindo o macarrão, o outro o queijo, a Marisa brigando com o Gustavo para não puxar o cabelo da Luísa, minha mãe levantando sem parar da mesa porque ela sempre esquecia algo, o Arnaldo reclamando que estava cansado demais e pedindo para a Marisa fazer o prato dele, meu pai paparicando o Lucas, o Paco contando vantagens e eu no meio daquela minha família confusa.

- E aí, cunhada, vai casar quando? – esse era o tipo de pergunta que sempre me faziam e eu sempre me irritava

- No dia de São Nunca, cunhado... os homens não me querem...

- Também quem é o louco que vai querer você né? – dizia Paco

- Não fale assim, filho... fiz novena para Santo Antônio de novo, filha

- Mãe, eu já disse para parar de fazer essas coisas...

- E aquele carinha ... o ... o César? – perguntava Marisa

- Sumiu ...

- Porra, desiste maninha ...

- Poxa, gente, deixem a Diana em paz... quando tiver de ser será...

- Isso mesmo, pai... eu estou muito bem sozinha...

- Deve estar tendo um caso com aquelas suas amigas solteironas desesperadas...

- Olha como fala das minhas amigas, moleque! E você? Tá fazendo o quê da vida? Posso não ter namorado, mas trabalho, pago minhas contas e já saí da barra da saia do papai e da mamãe há muito tempo e não tenho filhos jogados no mundo ...

- Não sei por quê vocês insistem em chamar essa garota para comer aqui em casa... perdi a fome – disse Paco bancando o machão e levantando da mesa...

- Filho... filho

Nessa hora, minha mãe sempre ia correndo atrás do filhinho querido e ele voltava com o rabinho entre as pernas. Eu e o Paco nos dávamos bem, mas era nas brigas que a gente se entendia melhor. O almoço prosseguia como se nada tivesse acontecido.

As louças

A louça sempre sobrava para mim e a Marisa. Era nesse momento que a gente aproveitava para fofocar um pouco.

- Nunca mais apareceu lá em casa, o que houve?

- Aquela agência está me deixando louca... prometo que vou aparecer mais... mas e você parece meio triste ...

- Acho que o Arnaldo está me traindo! – dizia Marisa com lágrimas nos olhos

- Traindo?!

- Fale baixo, ainda não tenho certeza... semana passada, ele chegou tarde e eu encontrei marcas de batom na blusa lá do posto...

- Nossa, estou bege... traição não é uma coisa que faz muito o tipo do Arnaldo, mas fique atenta e se precisar de mim, posso segui-lo se quiser...

- Não é pra tanto, Di... – essa não era a primeira vez que a Marisa suspeitava do Arnaldo, mas ela nunca tinha coragem para prosseguir a investigação. Acho que ela preferia ser a corna feliz. E não era eu que ia incentivá-la, já me basta o título de ovelha negra da família.

Recordações

Empanturrada de macarronada, ainda tinha o pudim de sobremesa. E esse não tinha como resistir. Sentados na sala, comendo aquela delícia, meu pai nos reunia para relembrar os velhos tempos e matar a saudade do tempo em que éramos mais jovens e vivíamos todos na mesma casa.

Minha mãe pegava a maleta com as fotografias e a gente passava a tarde a rir e a chorar com aquelas fotos antigas e com as histórias do meu pai. Meus sobrinhos se divertiam rindo da nossa cara ou tentando rasgar alguma foto...

- Nossa, lembra dessa foto? – dizia Marisa

- Uau... foi nossa viagem à Ilhabela lembra? Nos divertimos à beça...

Apesar de toda minha independência, essas fotos me levavam a um tempo o qual eu tinha muita saudade. Quando podia voltar para casa e me reconfortar no colo do meu pai ou da minha mãe. Eu saí de casa aos 18 anos quando passei no vestibular. Cursei os primeiros anos numa faculdade no interior e terminei os outros na capital, mas peguei gosto por morar sozinha e , mesmo sob recriminações de todos, provei que podia me virar sozinha.

O fim

Os almoços terminavam quase sempre no mesmo horário. Religiosamente, às nove horas da noite. A Marisa reunia os pimpolhos, que nunca queriam ir embora, e era a primeira a dar o toque de recolher...

- Vamos galerinha... amanhã tem aula...

A criançada beijava todo mundo, faziam um pouco de manha, mas iam embora contentes e terríveis.

O segundo a partir era o Paco. Sempre chegava algum dos seus amigos de vagabundagem e o levavam para a balada.

- Falow, velhos, tô indo...

- Onde é a balada hoje?

- Abriu uma nova aqui perto, preciso conferir né?

- Juízo.

Ele me beijava e caía na noite.

Eu era sempre a última. Meus pais aproveitavam para investigar um pouco mais da minha vida...

- Já consertou a geladeira, Diana?

- Essa semana o homem vai lá em casa, mãe– mesmo não morando na mesma casa, minha mãe sabia muito mais sobre o meu apartamento do que eu.

- Tem comido direito? Leva um pouco de comida daqui... sobrou bastante

E lá ia ela preparar a minha marmita do mês. Nessa hora, meu pai deitava minha cabeça em seu colo, acariciava meus cabelos como quando de pequena e perguntava...

- E o emprego?

- Preciso sair de lá, pai... tenho que ganhar mais.

- Se cuida viu, filha... não caia em conversa mole de homem vagabundo e nem enfie um qualquer na sua casa.

- Pode deixar, pai...

Nessa hora, minha mãe chegava com a marmita. Eu beijava os dois. Ela me dava mais algumas broncas e eu ia embora na ânsia de mais uma almoço em família...

Papo de calcinha: Todo almoço de família sempre dá uma boa história para contar, qual é a sua?

terça-feira, abril 01, 2008

QUEM VAI FICAR COM JOHNNY?


Por Letícia Vidica

- Gente, preciso confessar uma coisa – disse Lili com os olhos brilhantes – acho que estou apaixonada pelo Johnny... não consigo parar de pensar nele

- Pelo Johnny?! – dissemos e engasgamos juntas – eu e a Betina – com o chocolate quente que tomávamos sentadas no sofá da casa da Lili

Recapitulando: O Johnny era amigo de um amigo nosso, o Pepe. Nos conhecemos num churrasco que o Pepe fez na casa dele e, desde então, o Johnny entrou para a nossa turma. Ele era um cara legal, simpático e até bonitinho, mas não fazia o meu tipo.

- Nossa, por quê a surpresa? O cara é o maior gato...

- Eu não vejo a menor graça nele – respondi – mas fico feliz em saber que você está apaixonada. Significa que esqueceu o Beto, né?

- Acho que sim...mas o que eu faço?!

Prometemos à Lili que íamos dar uma de cupido para tentar unir os pombinhos. Por isso, resolvi oferecer um jantarzinho no meu apê e convidei o prato principal: o Johnny.

A Lili estava toda animada e fazíamos de tudo para deixar os dois sozinhos. O problema é que parecia que o cara estava fugindo dela.

- Valeu pela ajuda, gente, mas acho que o Johnny não quer nada comigo não... viu como ele me evitou? Fiz de tudo, mas... – disse Lili tristonha, enquanto me ajudava a limpar as coisas.

- Tenha paciência, Li ... tem caras que demoram para perceber, vai ver ele é um desses.
***

“Trimmm, trimmm, trim.”.
Saí do chuveiro correndo e fui atender o telefone.

- Alô? Diana?
- Oi, Johnny?
- Tudo bem? Acho que esqueci a minha carteira na sua casa ontem a noite, posso passar aí para pegar?
- Claro!
- Então, abre a porta

Brincalhão como sempre, o Johnny já estava plantado na porta da minha casa. Me troquei e abri.

- Ainda bem que não tinha dólares né?
- Adorei o jantar ontem...
- Ai, que bom... Johnny, posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- O que você acha da Lili?
- A Lili é uma grande amiga...
- Mas só?
- Já sei o que você quer saber... faz um tempo que eu vejo que a Lili mudou comigo, está agindo estranho ... ela está gostando de mim não está?
- Nossa, você e modesto ... mas acertou!
- O problema é que eu não quero magoá-la... eu não gosto dela, eu gosto de outra pessoa...

Não há coisa pior no mundo do que ouvir o cara que a sua amiga venera dizer que não está afim dela. É como se você tivesse levado um fora!

- Poxa, Johnny... que pena, mas tente, saíam, quem sabe...
- Num rola, Di... é difícil , mas ... eu gosto de você!
- O quê?!

Pior ainda é descobrir que o cara que a sua melhor amiga está apaixonada é afim de você. A gente se sente uma traidora, mesmo sem ter feito nada com ele. E agora?!

***

- O Johnny apaixonado por você?! – perguntou boquiaberta Betina
- Ele confessou há duas semanas e não para de me ligar... e eu estou sem coragem de contar pra Lili ...
- Dificil mesmo, mas temos que contar... a Li esta cada vez mais apaixonada ... ela não pára de falar no Johnny ... ela precisa se desiludir ...
- Amanhã mesmo , eu vou contar ...

Fui para casa confusa. Eu nunca havia passado por situação semelhante e não era nada fácil. Ao chegar na porta do prédio, um homem se aproximou de carro, parou, abriu os vidros e disse:

- Oi, mocinha...

Era o Johnny me convidando para comer algo. Como estava faminta e precisava dar um ponto final naquela história, aceitei. Fomos até um bar próximo.

- Pensou na minha proposta?
- Que proposta?
- A de ficar comigo
- Johnny, isso é loucura. A minha melhor amiga é gamadona em você e eu não posso fazer isso...
- Já falei que não tem nada a ver entre eu e a Lili ... meu negócio é você ... você vai deixar de ser feliz por isso? A Lili é crescida e vacinada. Ela vai entender.
- Não dá, Johnny ... ela é minha melhor amiga.

Terminamos de comer e o Johnny me deixou em casa. Na porta do prédio, quando estávamos nos despedindo, ele se aproximou. Olhou no fundo dos meus olhos e tentou me beijar, mas eu fui mais forte e o evitei.

***

No dia seguinte, fui até a casa da Lili. Eu tinha que alertar a minha amiga, antes que o estrago fosse maior.

- Di, que surpresa... entra aqui, preciso te mostrar uma coisa... acabei de ler meu horóscopo e diz que um amigo próximo vai se declarar... será o Johnny?
- Ai, que bobagem, Lili...
- Ué, você acha que não? Mas é muita coincidência, Di
- Horóscopo é tudo bobagem ...
- Não to te entendendo ...
- O assunto é sério, Lili

Eu não sabia como dizer. Se eu fosse curta e grossa, seria mais fácil, mas a Lili poderia ter um treco e cair dura na sala. Se eu ficasse rodeando, poderia perder a coragem de contar.

- É sobre o Johnny ... eu conversei com ele ... e ... e ... ele disse que ... você é uma grande amiga, mas que não passa disso.

Os olhos de Lili se encheram de lágrimas e ela sentou no sofá. Permanecemos caladas por alguns minutos. Ela se levantou, enxugou as lágrimas e começou a andar.

- Me sinto ridícula, Di. Eu me apaixonei como uma adolescente ... fiquei cega e nem percebi que o cara não queria nada comigo ... que idiota! Como eu vou olhar na cara dele agora?

- E tem mais, Li ... o Johnny está... está... afim de mim – pronto falei!

- O quê?! De você? Mas ... mas...

- Calma, não rolou nada e nem vai rolar. Ele não pára de me ligar, esta insistindo, mas eu não posso fazer isso com você ... nossa amizade vale muito mais do que um homem.

- Poxa, Di... eu não esperava, mas se tiver afim... vai fundo...eu vou entender

Nos abraçamos. O Johnny era uma cara gato, legal e simpático. Eu poderia ficar com ele, mas preferi prezar pela amizade – dele e da Lili. Tem coisas que não valem a pena. E perder dois grandes amigos só para saber como era beijar e ir pra cama com o Johnny não valia...

A Lili sofreu por uns tempos. O Johnny insistiu mais um pouco, mas logo outro rabo de saia chamou mais a atenção dele e nós continuamos bons amigos.

Papo de calcinha: Isso já aconteceu com você?

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