terça-feira, abril 26, 2011

NA BALADA



Por Letícia Vidica


- Diana, anda logo! Desse jeito, a gente vai pegar o maior trânsito!!!!

- Já vou, Betina! Só vou terminar a maquiagem e colocar o meu sapato.- eu respondia gritando para Betina que estava na sala me esperando. – A Lili já chegou?

- Para variar, não né? Caramba, a Lili é foda! É sempre a mesma coisa!!!

E era mesmo. Toda vez que a gente ia para a balada o roteiro era o mesmo. A Betina chegava na hora marcada para me buscar, mas eu quase sempre ainda não estava pronta, daí ela ficava berrando e me acelerando (porque a Betina é a rainha da pontualidade), porém ela também costuma esquecer que a Lili nunca chega na hora. E ficava puta com o atraso dela. E eu aproveitava o atraso da Lili e o momento de fúria da Betina para terminar de me arrumar.

- Meninassss...cheguei!!! – era Lili que chegava gritando com duas garrafas de bebida nas mãos – Oi, florzinhas, desculpe o atraso é que...

- Lili, não precisa explicar. Eu não sei por que eu ainda te espero...

- Por que você me ama, Betina!!! – respondia Lili beijando Betina na bochecha só para irritar.

- Tá, tá...mas agora vamos??? – perguntava Betina já de chaves nas mãos, bolsa e na porta pronta para sair.

- Só um minutinho, Bê, eu só preciso fazer a maquiagem, não deu tempo.

- Ai, Lili, você é fogo né? Além de se atrasar, ainda não terminou de se arrumar? Vamos, vamos...você termina isso no carro.

E lá íamos nós, correndo colocando o sapato no elevador, retocando a maquiagem no espelho do hall do prédio e entrando correndo no carro da Betina. Eu e a Lili nem ligávamos para o nervosismo dela (até porque ele ia passar),íamos cantando, fazendo planos para a nossa noite e fazendo um esquenta básico no carro.

***

- Ai, eu não acredito que além de enfrentar meia hora para parar o carro no vallet, a gente ainda vai ter que ficar nessa fila para entrar? Pegar fila na balada ninguém merece hein? – bufava Betina.

- Calma, Bê, esqueceu que essa balada é do Helinho e eu sou Liliana Bittencourt? Temos vip’s, meu amor.

A gente sempre esquecia. A Lili é baladeira nata e, além disso, conhece quase todos os donos e promoters de balada da cidade e sempre consegue uns VIP’s para gente. Sem contar que acho que ela já deu mole para todos eles. E, mesmo não gostando muito de admitir que tem sangue azul, quando se identifica como Liliana Bittencourt as portas se abrem para ela...e, para nós, suas fiéis escudeiras.

E lá íamos nós em cima de nossos saltos Luis XV esbanjando charme com nossas escovas progressivas, seguindo para a entrada VIP, enquanto as pessoas nos olhavam curiosas (algumas fuzilavam) querendo saber que tipo de celebridade nós éramos ou quem conhecíamos ou para quem a gente tinha dado para entrar com exclusividade. Chamo isso de meus 15 minutos de fama!!!

- Diana! – alguém gritava meu nome na fila e era uma voz masculina – Nossa, tá poderosa hein? Nem conhece mais os pobres.

Era o Pedro. Um dos melhores amigos do Pierre. É incrível! Por que a gente sempre tem que encontrar amigos, primos, tios e afins dos seus ex-namorados nas baladas? Vamos combinar que esse não é o lugar e o momento para que algo te faça lembrar deles né? Mas é a lei de Murphy. E quase sempre o tal amigo age como se fosse o seu melhor amigo também.

- Oi,Pedro. – eu disse – Nem te vi, desculpa.

- E aí como você está?

- Eu tô bem.

- Não vai pegar fila não? Tá ficando metida hein?

- Desculpe mas eu tenho que ir. Minhas amigas estão me esperando. A gente se vê lá dentro.

Quase sempre sou salva pelas minhas amigas. E evito que o cara tente entrar na minha aba.

Toda vez que a gente entra numa balada algo é sagrado. Ir ao banheiro para dar uma conferida e aproveitar que ele ainda não tem filas quilométricas. Incrível que, em alguns casos, a gente perde mais tempo na fila do banheiro do que aproveitando a balada.

- Ai, que saco, meu cabelo desmanchou. – reclamava Lili.

- Tá ótimo! – eu dizia.

- Será que esse vestido ficou bom? – perguntava Betina.

- Você tá uma gatona!!! – respondia Lili.

Depois de auto aprovarmos os nossos visuais e conferirmos se estávamos sexies e poderosas o suficiente para a noite render, a gente finalmente ia curtir. Enquanto eu e a Betina, íamos procurar a nossa mesa, a Lili ia ao bar para pegar nossas bebidas e começar a se aquecer.

- Lugar bacana aqui né? – eu dizia.

- Pelo menos, parece. Só espero que tenha homens maduros o suficiente. – analisava Betina.

- Oi, genteeeee!!! – era Lili que chegava gritando (ela adora gritar na balada) – Olha o que eu trouxe!!! Tequila!!!... E vocês não sabem, conheci um carinha no bar...gatooooo!!

- Mas já?! – perguntava Betina – A gente mal chegou.

- E a Lili por um acaso perde tempo, Betina?

- Ele está naquele camarote com uns amigos...falou para gente ir lá...vamos?

- Calma, Lili...não seja tão fácil assim...

- Ih, Betina, sem pudor hein? Isso aqui é uma balada e não uma igreja!

E lá íamos nós arrastadas pela empolgação da Lili conhecer os amigos dela. Era sempre assim. A Lili sempre se dava bem ou parecia que ia dar e se dava bem. Não importa. E nós como boas amigas sempre tínhamos que acompanhá-las para conhecer os tais amigos. Que nunca eram bonitos quanto o cara que ela conhecia. Já reparou como isso é engraçado? Sua amiga conhece um cara lindão que sempre está acompanhado de mais amigos que nunca são tão bonitos quanto ele. E foi o que comprovamos ao conhecê-los.

Um parecia o Faustão antes da cirurgia, cheio de piadinhas e com cara de quem ainda era virgem. Foi logo se engraçando pro lado da Betina e outro lembrava o Bill Gates misturado com o Lobão. Era tímido e não conseguia trocar meia palavra comigo. Enquanto isso, a Lili parecia se entender muito bem com o Brad Pitt.

- Vocês nos dão licença? A gente vai dar uma volta,ok? – eu dizia tentando fugir dos monstrinhos e puxando a Betina pelo braço. A Lili? Ah, a Lili, já tinha se arranjado.

Eu e a Betina fomos logo caindo na pista e fomos azarar. No caminho, troquei olhares com alguns caras bonitos, me desvencilhei dos urubus de balada (aqueles caras chatos que ficam puxando o seu cabelo ridiculamente ou o seu braço ou a sua mão ou tentando te beijar a força. Como eu odeio tudo isso!!!)...era uma longa batalha passar por entre as pessoas que dançavam e se espremiam naquele lugar até chegar na pista.

- Ufa!! Até que enfim... – eu dizia suada depois da longa trilha.

- Esse lugar tá cheio demais!!

- Nossa, Bê, olha só que gato...- eu dizia ao ver um belo moreno no bar.

- Lindo mesmo...se não fosse aquele bambolê no dedo...

- Ele é casado? – incrível como eu nunca presto atenção a esses detalhes. – Então deixa para lá...

Depois disso, eu desencanava e caía na pista para dançar. Adoro paquerar e ser paquerada na balada, mas também adoro me acabar de dançar. E foi o que fiz. Eu e a Betina dançávamos feito duas bobas, inventando passinhos ridículos, nos enturmando com um ou dois carinhas que sempre chegam para dançar com a gente, libertando todas as nossas feras na pista...até sermos interrompidas por uma multidão de machos que aplaudiam e assoviavam para uma pessoa que dançava em cima do balcão...e quem era? Era a Lili.

- Ai, meu Deus, agora fudeu. Olha lá a Lili. – dizia Betina.

- Tá bem louca já hein?

- Vamos lá tirar ela dali.

- Deixa, Betina, vai ser pior.

- Dianaaaaa....Betinaaaa...uhuuuu...vem aqui – chamava Lili ao nos avistar no meio da pista e quase caindo do balcão.

De repente, ela pulava do balcão. Era segurada por uma dezena de homens e vinha até a gente.

- Gente, demais! Esse lugar é maravilhoso. – dizia ela.

- Lili, você é doida.

- Eu sou feliz, Diana. A gente não leva nada dessa vida mesmo, né? Vamos ser feliz. Mais uma tequila?

Antes que eu impedisse nossa amiga de tomar mais uma dose, lá ia ela rumo ao bar, cantando e dançando.

O ápice da balada era quando a Betina começava a se invocar e sempre arrumava briga com alguém. E dessa vez tinha se enfezado com uma menina que passara sem pedir licença, quase nos levando junto e pisando no sapato da Betina...novinho!!! Foi quiaca na certa.

- Não sabe pedir licença não? – dizia Betina nervosa para a peituda ruiva.

- Tá falando comigo? – ela respondeu.

- Calma, Betina. – essa era eu tentando apartar.

- Calma o caramba... tudo bem que eu não posso pedir conforto numa balada entupida como essa, mas educação é tudo.

- Escuta aqui...eu pedi licença...você foi quem não ouviu. – respondia a peituda.

- Ah pediu? Eu não ouvi...por favor, dá para pedir de novo? Ou vou ser obrigada a reclamar com a gerência que esse lugar anda muito mal freqüentado...eu sou advogada e sei bem dos meus direitos...

Ixi, quando falava que era advogada e que sabia dos direitos o circo ia pegar fogo. E a essa altura já estávamos rodeadas por curiosos loucos para ver as duas arrancarem os cabelos umas das outras. Mas sempre chegava um segurança e acabava com o show. A Betina dava muita sorte. Até hoje ninguém desmanchou a progressiva dela.

- Que absurdo! Que menina folgada!

- Calma, Betina, não precisa de tanto. Vamos sentar lá na mesa para você se acalmar.

- Eu quero ir embora! Para mim, esse lugar já deu. Cadê a Lili hein? Ela é outra também!! – bufava Betina.

Nesses momentos, prefiro nem me meter. Sentamos à mesa, pedimos algo para comer e beber e ficamos admirando a balada.

***

Lá pelas tantas, quase no fim da noite, nada tinha rendido ainda. Mas eu me divertia mesmo assim falando besteiras com a Betina e vendo as maluquices da Lili que se dividia entre a nossa mesa, o camarote do Brad Pitt e o balcão.

Até que...

- Nossa, Diana, que cara lindo...e está olhando para você. – comentava Betina.

- Pode ser para você também...- eu comentava sobre um lindo rapaz que nos flertava da mesa em frente.

- Mesmo que fosse não faz meu tipo...e vou deixar o território livre para você...- dizia Betina se levantando e me deixando sozinha.

Claro que fiquei sem graça e tentei desviar os olhares, mas ele sorria insistentemente. Levantou um copo de bebida como quem me oferece, neguei. E depois acenou pedindo permissão para falar comigo. Sorri como quem diz ‘Vem logo, meu amor’.

- Com licença. Prazer, Gustavo...e você?

- Diana.

- Diana...lindo nome...onde você estava Diana que eu só te vi agora?

Sabe que eu ia fazer a mesma pergunta??? Passei a noite toda rodando feito um periquito na gaiola dentro dessa balada atrás de uma boca para beijar e só aparece agora ...no final??? Só podia ser brincadeira do cupido. Sempre era. Acho que eles ficam com dó de mim e sempre me mandam alguém no final da balada, quando já estou com sono, suada, fedida, sem maquiagem e... sem muita paciência para enrolação...e terá que ser pá pum.

Ele me ofereceu uma bebida. Dessa vez, aceitei. Falou sua idade, onde morava, que não ia muito àquela balada, sua profissão. Coisas banais e básicas só para que eu não fique com a impressão de quem nem sei quem é que estou beijando. E assim como nossa intimidade fugaz se sela os nossos lábios também.

- Desculpe interromper, Di, mas vamos? Já tá tarde. – era Betina toda sem graça por quebrar o clima.

- Claro!

- Pode me dar seu telefone?

A gente sempre dá né e sempre espera pela ligação, mesmo cansada de saber que alguns casinhos de balada terminam assim que você pega o seu carro no vallet. Mas resolvi arriscar.

- Gatinho hein? – comentava Betina enquanto esperávamos o carro.

- Pois é...deu pro gasto...e a Lili?

- Ah, minha filha, adivinha?

- Foi embora com o Brad Pitt?

- Óbvio né? E ainda queria colocar o Faustão e o Bill Gates na nossa vida...caí fora. Ela que resolva os B.O.s dela né?

E lá íamos eu e a Betina para casa, cansadas e felizes por mais uma night. Com direito a uma parada em uma padaria charmosa para comer algo porque a gente sempre sai faminta de uma balada né? E depois prontas para chegarmos em casa e nos jogarmos na cama para um sono profundo que dependendo da intensidade do cansaço nos impede até de tomarmos um banho...fato que será imediatamente lembrado às 3 da tarde do dia seguinte quando você é acordada por algum tipo de alarme do olfato... e que venha a próxima!!

PAPO DE CALCINHA: E na sua balada, o que rola?

Um comentário:

Amanda disse...

hahahaha, d+ essa blog faz alguns meses que eu e minhas amigas o acompanha, nos identificamos muito, sempre é a história de uma que está em jogo. Parabéns, vc é ótima observadora e experiente ahahhaha