terça-feira, julho 26, 2011

AQUELE SONHO



Por Letícia Vidica


Parei o carro no semáforo e abri os vidros porque aquele calor estava insuportável e, como meu carro não tem ar condicionado, tive que apelar para a ventilação natural. Olhei no carro do lado e me surpreendi. O Pierre era o motorista e me olhava profundamente nos olhos com um brilho misterioso e um sorriso afetuoso. Quando ele hesitou em me dizer algo, o farol abriu e o carro partiu.

Acordei assustada e suada, levantando da cama numa rapidez ofegante. Mais uma vez, aquele sonho tinha me perseguido. Fazia semanas que eu andava sonhando com o Pierre. E era sempre a mesma coisa, a gente se via, se olhava e ninguém dizia nada, apesar de parecer querer dizer. A primeira noite que sonhei com ele, achei normal. Podia ser saudade, coincidência, sei lá, mas aquela era a centésima noite que aquele sonho me perseguia e não havia nada de normal naquilo.

Olhei no relógio e vi que eram apenas duas e meia da manhã. Levantei e fui tomar um copo d’água para me acalmar. ‘Calma, Diana, você não está louca. Foi apenas um sonho. Volte a dormir que amanhã será um longo dia’. Tentei acalmar a mim mesma de que aquilo não seria paranóia. Em poucos minutos, adormeci. Acho até que dormi com um olho aberto a fim de tentar vigiar meus pensamentos e temendo que o Pierre aparecesse no quarto tentando se infiltrar em meu subconsciente.

Acordei com uma cara péssima. Parecia que um trator tinha passado no meu rosto e entrado na minha cabeça, tamanha era minha dor de cabeça. O pior é que eu tinha uma reunião logo cedo e tinha acordado atrasada. Tudo culpa daquele sonho maldito que, por sinal, insistia em me perseguir em pequenos flashes durante todo o meu dia.
Eu tinha que dar um jeito naquilo e só uma pessoa poderia me ajudar. Não hesitei e corri para o consultório da Jane, a minha terapeuta, no final do dia.

- Pela sua carinha, minha flor, posso até adivinhar sobre quem você veio falar...- dizia Jane ao me dar um daqueles abraços maternais e adivinhando que o Pierre era o motivador da minha ida ao consultório às dez da noite de uma sexta-feira.

- É ele mesmo. O Pierre. Jane, eu não sei mais o que fazer! Eu não paro de sonhar com ele. O Pierre tá me perseguindo até em sonho!!!

Contei para ela sobre os sonhos que andava tendo com ele e como eu me sentia toda vez que isso acontecia.

- Diana, isso é muito mais do que um sonho. Pode parecer loucura, mas é mais realidade do que você imagina.

- Como assim? Quer dizer que eu tenho encontrado o Pierre de verdade?

- Digamos que sim. A gente tem o poder de se manter conectado , através de nossas energias e pensamentos, com quem tem alguma ligação especial conosco. Já reparou que, às vezes, você pensa em uma pessoa e logo ela liga? Te procura? É o que está acontecendo com vocês. A energia de vocês está ligada e vocês andam se procurando. Vocês se falam no sonho?

- Nunca. Tenho sempre a impressão de que ele quer me dizer algo ou que eu quero falar, mas algo sempre acontece e eu acordo.

- E o que você sente quando sonha com ele?

- A sensação é boa. Sinto tudo aquilo que eu sentia quando estávamos juntos, mas quando acordo fico me punindo pelo que senti e pelo sonho. Isso me atormenta demais. Eu não agüento mais, Jane. Tem algum remédio para isso? - eu suplicava.

- Minha linda, não se culpe. Isso é normal e significa que vocês ainda tem questões a resolver. E estão tentando fazer isso no sonho, mas não está dando muito certo né? A melhor saída seria vocês se encontrarem e conversarem para finalizar o que ainda ficou aberto.

- Eu? Encontrar o Pierre? Jamais! Se ele quiser, ele que me procure. Ainda mais agora que está namorando aquela Olívia Palito...

- Diana, não faça isso por ele. Faça por você. Aposto que vai se sentir melhor e vai ter noites maravilhosas de sono.

Será que eu me sentiria melhor? Será que eu devia procurar o Pierre? Saí do consultório, como sempre, com a cabeça cheia de minhocas. Procurar o Pierre não fazia parte dos meus planos. Depois daqueles nossos encontros, tudo o que eu menos queria era vê-lo de novo, além do mais motivado por mim. Mas, por outro lado, eu não suportaria continuar a ter aqueles sonhos indesejáveis. O que eu faria? Só um chope e alguns franguinhos a passarinho me ajudariam naquele momento. Parti pro Pedrão. E, obviamente, minhas fiéis escudeiras me esperavam lá.

- Diana, onde você estava? A gente tava quase ativando a Polícia Federal para te achar – dizia Lili.

- Pela carinha, aposto que não está nada bem. – analisava Betina com seu tom maternal.

- Eu estava na Jane, minha terapeuta.

- O que aconteceu?

- Questão de saúde pública. Preciso de um chope urgente. Acontece que eu não paro de sonhar com o Pierre e ando cada dia mais atormentada com isso.

- Num creio que nem em sonho ele te deixa em paz?

- Pra você ver, Betina. Tenho sonhado constantemente com ele. É sempre a mesma coisa.

A gente se vê, se olha , quer falar algo e não fala. Daí, eu acordo esbaforida, atormentada e a cena se repete. Tive que apelar para Jane.

- E qual foi o conselho espetacular que ela te deu dessa vez? – zombava Betina.

- Não brinca não que é coisa séria! Ela disse que eu e o Pierre ainda estamos ligados e, por isso, temos no encontrado em sonho . Disse que ainda temos questões mal resolvidas e que eu devia procurá-lo.

- Procurar o Pierre? Você não vai fazer isso né, Diana? Chega dessa história! – palpitava Betina.

- Eu acho que ela tem que procurar sim. Se você acha que ainda tem algo para falar para ele, Di, procura sim. Deixa esse orgulho bobo de lado. – dizia Lili.

- Lili, você é a última pessoa que pode aconselhar a Diana, já que correr atrás de homem é o seu dom.

- Calma, meninas! – eu dizia para acalmar os ânimos – agradeço os conselhos, mas vou pensar porque não sei o que fazer. Não fiquem bravas, mas eu não tô legal. Passei aqui só para dar um ‘oi’, vou para casa.

- Quer que a gente te acompanhe?

- Obrigada, mas preciso ficar um pouco sozinha. Amo vocês, meninas. Dou notícias quando resolver o que fazer.

Entrei no carro e comecei a dirigir sem rumo. Ou, melhor, eu tentava achar um rumo. Continuar a sonhar com o Pierre ou procurá-lo? Para qual direção eu devia seguir? Eu não sabia. Na verdade, acho que no fundo uma voz me dizia que eu devia ir conversar com ele. Dizer tudo o que eu pensava, expor todo o meu sofrimento, mas de quê adiantaria? Depois de quase dois anos de separação, nada mais parecia fazer sentido. O Pierre me olharia e diria:’Ok, muito obrigado, mas o que eu posso fazer a essa altura? Só agora você vem me dizer isso?’ E o que eu responderia? Só sei que ficaria com cara de tacho.

Em meio a minha confusão, resolvi não procurá-lo e deixar a vida seguir seu rumo natural. Acredito que se a gente tiver que se cruzar, nós vamos nos cruzar. E se tivermos de conversar e nos olharmos frente a frente para colocar os pontos nos ‘is’, também o faremos. Só peço a Deus para que me prepare para esse momento e que eu possa ser racional. Enquanto isso não acontece, prefiro tentar amansar o meu inconsciente e pedir para ele cortar o fornecimento de energia entre eu e o Pierre. Prometo que pago essa conta depois.

PAPO DE CALCINHA: ALGUM SONHO JÁ TE PERTURBOU?

2 comentários:

Joyce disse...

Aconteceu-me algo parecido.
Lá se ia 1 ano e meio que eu e meu primeiro namorado tínhamos terminado. Eu tinha 16 anos qdo começamos e o namoro durou mto pouco tempo, cerca de 3 meses. No entanto, a maneira como terminou foi mto conturbada pra mim e mta coisa ficou pendente. Sofri mto.

Até que, transcorrido esse 1 ano e meio, sendo impossível tirá-lo da cabeça e seguir minha vida, decidi convidá-lo a ir à minha cada pra conversar. E ele apareceu.
Conversamos. Falei o que sentia, que eu não conseguia esquecê-lo, enfim. Ele disse que eu estava... Equivocada. É a única coisa que me lembro, mesmo pq já se passaram 10 anos. Mas ele deixou claro que não queria mais nada comigo.

Hj, penso que era exatamente isso que eu precisava ouvir: "não te quero mais" (claro que não foi nessas palavras), pois ao terminarmos, ele me tinha enchido de esperança dizendo que um dia, qdo a vida dele tivesse sido feita, reataríamos o relacionamento. Na época, nova e bobinha, acreditei no tempo que ele tinha me pedido.

Demorei mto pra perceber que ele tinha me passado pra trás, só depois dessa conversa é que pude seguir em frente, mesmo que ainda tenha demorado um pouco pra deixar ele pra lá.

Por isso, pensando na Diana, acho que seria importante se ela conversasse com o Pierre, senão ela vai ficar com isso na cabeça por mto tempo - e talvez o resto da vida. Às vzs, a gente precisa esquecer um pouco dessa coisa de orgulho e tal, e resolver as coisas de uma vez por todas. Do contrário, a gente fica sonhando por ainda mto tempo.

Dani Fuller disse...

Ahhh a maioria dos meus sonhos são meio assim perturbados.. mas tb reveladores.. as vezes eu desejo até viver nos sonhos =)

Tenho sensações bem clara pessoalmente.. mas a outra pessoa parece fugir e tal.. e ai eu sonho com o q deveria mesmo acontecer se a pessoa ñ fugisse e parece tão real e é tão bom.. mas ai qdo vamos para realidade.... é frustrante rs

Aii eu queroa q a Diana se acerte com o Pierre.. mas ñ agora.. só qdo ela parar com a indecisão ehehe