quarta-feira, março 02, 2011

DROGA DE AMOR


Por Letícia Vidica


O fim do meu relacionamento com o Pierre acabou comigo. Sofri muito, chorei muito, me decepcionei muito, engordei muito e muitos muitos mais. Era duro ter que assumir a mim mesma que o príncipe que eu acreditei que ele fosse nesses três anos de namoro não existia (ou, talvez, nunca tivesse existido. Assim como a Fada do Dente, seria fruto da minha imaginação).

Eu apenas sentia uma voz que gritava desesperadamente dentro de mim para que alguém me socorresse, me tirasse daquela solidão e curasse aquela dor. Por três meses, eu gritei, supliquei, implorei (in)conscientemente até que alguém me ouviu e me socorreu.

O Davi foi o que eu costumo chamar de ‘homem salva vidas’. Aquele que aparece para te resgatar quando você já está quase sem respirar nas profundezas do mar. Nos vimos, nos apaixonamos arrebatadoramente à primeira vista, saímos, ficamos, transamos e começamos a namorar. Tudo em um mês.
***
- Gentem, agora não tenho dúvidas. Encontrei o homem da minha vida! – eu contava, repartindo minha felicidade, às minhas amigas.

- Vai com calma, dona Diana! – era Betina colocando pimenta no meu angu.

- Calma? Eu não quero calma. Eu tô a-pai-xo-na-da!!!! Ele é perfeito, ele é...- nem percebi, mas acho que suspirei nessa hora – não tenho palavras para descrever...- acho que suspirei mais uma vez.

- Nossa!! Nunca vi a Diana desse jeito! A coisa é séria mesmo, hein Betina? – comentava Lili espantada com a minha reação.

- Só toma cuidado para não sufocar o garoto com todo esse amor reprimido. Mulher quando termina relacionamento e começa outro é pior do que loba no cio. – opinava Betina.

***

E eu realmente era uma loba no cio.

O começo do nosso relacionamento foi incrível, perfeito. O Davi era maravilhoso, romântico, companheiro, educado, inteligente, bonito...E conseguia preencher todas as lacunas e feridas deixadas abertas pelo Pierre. Falando em Pierre, essa era a última coisa que eu conseguia pensar naquele momento.

Eu só queria saber do Davi. Uma dose de Davi de manhã, de tarde, de noite, sete dias por semana. Eu estava viciada nele. Viciada no beijo dele. Viciada na inteligência dele. Viciada no sexo dele. Ah, o sexo. Era maravilhoso. Com ele descobri que não só existe o ponto G como o alfabeto inteiro no meu corpo!!! Quanto mais amor ele me dava, mais eu queria...

- Onde você se escondeu por todo esse tempo, hein, anjinho??? – esse ser meloso era eu.

- Eu estava do seu lado. Você que não me via. – ironizava Davi.

- Você é tão diferente dos homens que eu conheci. Me entende tanto. A gente se dá tão bem. Não consigo mais viver sem você. – lá estava eu me derretendo novamente para ele.

(Pausa para uma dica de relacionamento: nunca se derreta a um homem. Não aja como uma criança boba. Sempre deixe uma dose de dúvida e mistério sobre os seus sentimentos)

***

O grande problema começou quando eu, já viciada no Davi, não conseguia mais fazer nada sem ele. E me tornei uma louca apaixonada possessiva e sufocadora. Só que tinha um detalhe. Eu não estava me dando conta disso.

- Diana, você vai ligar pro Davi de novo??? – recriminava Betina ao me ver pegar o celular.

- Vou só dizer para ele que estou com saudades.

- Mas você fez isso há 15 minutos!! A gente mal chegou no bar do Pedrão e você já falou com o Davi cinco vezes!!!! Ou você quer estar com a gente ou você quer estar com ele!!! – ralhava Betina comigo.

- Ai, meninas, desculpem...é que eu não consigo mais ficar um segundo sem o Davi.

- Diana, isso já está passando dos limites.

E estava mesmo, mas eu não percebia e também não estava nem aí. Afinal de contas, eu tinha sido resgatada por um príncipe e estava recebendo todo o amor que me faltava com o Pierre.

Daí, para completar a besteira, resolvi fazer uma surpresinha para ele. O Davi tinha me dito que iria jogar futebol com os amigos em uma quadra. Resolvi aparecer lá. Afinal de contas, que mal tem fazer um surpresinha?

***

- Diana?? O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI??? – gritou Davi assustado.

- Calma, amor, vim te fazer uma surpresa. – eu disse já agarrada ao pescoço dele.

- Mas eu não te disse que hoje eu ia jogar bola?

- Eu sei e vim ver o meu Fenômeno. Você não gostou da surpresa?

- Não...eu odiei...hoje é um dia sagrado, eu quero ficar com os meus amigos...

- Mas, amor...eu não estou te entendendo... – opa? Cadê toda aquela delicadeza? O que aconteceu com o meu príncipe que se tornara um dragão de uma hora para a outra?

- Diana – dizia ele olhando profundamente nos meus olhos – eu preciso de espaço! Você ultimamente me sufoca. Eu não estou agüentando mais.

- Davi! Eu achei que estava tudo bem entre a gente...

- Mas não está...e eu acho que preciso de um tempo.

- Como assim??? – eu dizia chorando feito uma criança e implorando para que ele não me deixasse. Como eu viveria sem aquela droga de amor???

Saí de lá arrasada e ainda inconformada com o fora que tinha levado. Corri para casa da Betina e chorei descontroladamente no colo dela. Apesar de querer uma palavra de afeto e de apoio naquele momento, minha amiga com toda sua franqueza me disse:

- Bem feito.

- Betina, eu estou aqui arrasada por ter levado um fora, desconsolada e você me diz bem feito??? Que tipo de amiga você é? Que tipo de ser humano você é?

- Sou a única pessoa sensata capaz de te abrir os olhos. Eu te avisei desde o começo para parar com esse amor infantil. Diana, você sufocou o Davi. E a culpa é do Pierre.

- O que o Pierre tem a ver com isso?

- É por causa dele que você está assim. No fundo no fundo, você não ama o Davi e sim vê nele a salvação para curar o amor que você ainda sente pelo Pierre.

- Agora você me confundiu.

- O Davi é o que os terapeutas costumam chamar de síndrome de herói. Aquele cara que aparece depois das decepções amorosas. Sensível, a gente se entrega e acha tudo nele perfeito. É o nosso herói. Só que você está tão frágil e louca por atenção que nem percebe se ele realmente é tudo isso.

- É...é duro, mas acho que você tem razão. Eu realmente exagerei. Mas, poxa, seu estava sufocando o Davi porque ele não me disse nada?

- Talvez porque você nunca tenha dado espaço para ele dizer isso.

***

Mais uma vez, na história das minhas confusões amorosas, a Betina estava certa.

Alguns dias depois e um pouco mais recuperada, fui procurar o Davi. Ele me atendeu ainda um pouco ressabiado, mas alertei que tinha ido em missão de paz.

- Vim te pedir desculpas. Eu não tinha noção do que eu estava fazendo.

- Diana, você é uma mulher bonita, incrível, legal... mas eu não sou o homem perfeito para você...eu tenho defeitos também...e eu jamais vou conseguir curar a ferida que o seu ex deixou...quem tem que curar isso é você mesma e sozinha...

- Você tem razão. Eu estava tão magoada com tudo que eu passei com ele que logo me apeguei a você. Espero que não tenha te assustado tanto. Talvez seja melhor eu ficar sozinha um tempo para me entender. Mas quem sabe um dia você possa me conhecer de verdade né?

- Pode ter certeza de que vou esperar por isso.

Ele me abraçou, me beijou e ali selamos o fim daquele relacionamento viciante. Dali para frente, resolvi me internar numa clínica de recuperação para me livrar daquele vício. E ficar sozinha um tempo seria a melhor forma de me recuperar. Eu tinha que voltar a aprender a viver sem me viciar em ninguém, a não ser em mim mesma. E, como dizem os anônimos, eu viveria um dia de cada vez.

PAPO DE CALCINHA: E você também já se viciou em alguém? Como se livrou do vício desse amor?

2 comentários:

Bete disse...

Já sim! Foi mto difícil desviciar, só consegui depois que ele me humilhou. Fiquei mto decepcionada e sem esperança, mas pouco tempo depois meu grande amor, que é meu atual marido, apareceu e finalmente consegui esquecer o outro. Hj eu vejo que aquele não tinha nada a ver comigo!

Thiago Crespo disse...

Opa!
Da Escuta para a literatura na rede!!!!