sexta-feira, novembro 12, 2010

NA HORA H



POR LETÍCIA VIDICA

- Acho que o Pierre não me ama mais.

- De onde você tirou essa besteira, Diana? – perguntava Betina enquanto bebíamos nossa rotineira breja de sexta.

- Da nossa vida sexual. Está uma merda. Ele deu para me evitar agora. Ontem, disse que estava com dor de cabeça. Semana passada, preferiu ir ao Pacaembu do que ao motel comigo. Estou arrasada! – confessava às minhas amigas.

- Ixi, acho que você não tá dando no couro hein? – ironizava Betina.

- Nada disso. Você precisa apimentar a sua relação. – dizia minha conselheira sexual e amorosa, Lili

- Lá vem você com as suas fantasias...

- Confia em mim ou não?

Eu bem que confiava, mas o apetite sexual e a mente criativa da Lili às vezes amedrontava. Porém, dessa vez, ela até que foi um pouco sensata. Me convidou para ir a uma sex shop. Eu sempre tive curiosidade de ir a uma dessas lojas, mas morria de vergonha de ser flagrada entrando ou da recepcionista ser a filha da minha vizinha.
Combinamos o passeio a três para o dia seguinte. Era caso de vida ou morte. Eu e o Pierre sempre tivemos uma relação sexual muito ativa. Para gente nunca tinha tido hora, nem lugar, nem razão para pimbar na cachulinha, mas de uns tempos para cá tudo andava muito monótono e programado. E, o pior de tudo, é que parecia que só eu me importava.

- Tá tudo bem com você, Pi? – eu dizia acariciando os cabelos dele.

- Tá sim. – ele respondia sem manifestar nenhuma reação aos meus carinhos.

- Tem certeza? – eu acariciava o tórax dele e continuava a não demonstrar nenhuma reação.

- Ih o que é, Diana? – perguntava o brutamonte quebrando todo o clima.

- Tô te achando meio frio. Nem fica mais pertinho de mim. A gente nem transa mais...

- Lá vem você com esse papo de novo. Já disse que está tudo bem e que é coisa da sua cabeça!

- Coisa da minha cabeça? E você lembra ao menos a última vez que fizemos amor?

...

- Ah lá, nem consegue lembrar porque faz tanto, mas tanto tempo né? Aposto que você tem outra.

- Pára de besteira, Diana. Eu lá tenho tempo para isso? Não é nada. Só não sou uma máquina de fazer sexo né?

E assim seguia a nossa discussão sobre nossa vida sexual que sempre terminava em brigas, mas nunca em sexo. Nem para isso mais as brigas serviam.

Então eu tinha que tomar uma iniciativa. Resolvi me desbancar até a tal da sex shop. A Lili já foi entrando na maior naturalidade e me apresentando aos produtos enquanto eu tentava me esconder atrás da bolsa e por entre as prateleiras. A Betina também pareceu familiarizada com o ambiente e resolveu ver as novidades em vibradores, seus velhos amigos.

- Olha só isso aqui, Diana. É uma loucura!

- Fala baixo, Lili. Alguém pode ouvir.

- Qual é, Diana? A gente está numa sex shop e não na igreja. Acho bom você relaxar se não desse jeito não vai dar certo.

Ficamos por umas duas horas na loja. A Lili me explicava quase tudo. Para quê servia, como usar, dava dicas etc etc etc. Saí de lá com uma sacola regada de fantasias, gel, máscara, acessórios, joguinhos eróticos. Uma bela compra sexual.
Liguei para o Pierre e pedi que ele passasse em casa mais tarde que eu tinha uma surpresa. Preparei um jantar gostoso à luz de velas, coloquei uma musiquinha especial, joguei pétalas de rosas pela casa, perfumei com incenso e vesti a tal fantasia de empregada.

A campainha tocou, meu coração disparou e abri a porta. O Pierre me olhou assustado e ao invés de começar a me beijar ferozmente, começou a rir.

- Não estou entendendo qual é a graça! – eu disse furiosa.

- Nada, amoré, você tá uma gatinha...mas é que eu lembrei...

- Do quê?

- Deixa para lá.

Resultado: me senti uma ridícula, desmanchei tudo, mandei o Pierre para casa e fiquei sem sexo.

- E aí, amiga, como foi a noite de amor? – perguntava Lili ao telefone logo cedo.

- Não teve noite de amor. Acredita que o Pierre riu de mim? Que idiota que eu sou!

- Não vamos desistir dessa batalha, amiga.

- Como não?

- Tenho uma idéia ótima. Que tal um passeio a quatro no sábado?

- Faço tudo para voltar a transar

Sem saber o que a Lili aprontava, convidei o Pierre para sair junto com ela e o Luis Otávio. A necessidade era tanta que eu me submeti a passar a noite ao lado daquele babaca.

- Chegamos! – dizia Lili toda empolgada enquanto parávamos o carro em frente ao um local que mais parecia um bar.

- Posso saber onde a gente está? – perguntava Pierre desconfiado.

- No paraíso, meu amigo, vamos entrar que você não vai se arrepender. – diz Luis Otávio dando tapinhas nas costas de Pierre e parecia familiarizado com o local.

Desconfiados, fomos adentrando o ambiente, sentamos em uma mesa que estava reservada, pedimos umas bebidas e fui percebendo a chegada de vários outros casais. Até aí, tudo bem. De repente, a recepcionista nos perguntou:

- Vocês vão participar?

- Claro! – respondia Lili empolgada.

- Do quê? – perguntei.

- Da sessão de swing. – dizia a recepcionista como quem diz que vamos cantar no karaokê, com a maior naturalidade.

O Pierre me olhou fuzilando e eu fuzilei a Lili. Nós estávamos numa casa de swing.

- COMO ASSIM SWING? – berrou o Pierre.

- Calma, Pierre. – tentei amenizar a situação.

O que era para ser pura diversão - se é que eu conseguiria me divertir - virou um porre. Enquanto a Lili e o Luis Otávio se esbaldavam com a galera, eu e o Pierre assistíamos a tudo sem o menor clima e sem ao menos nos tocarmos. Pouco tempo depois, levantamos e fomos embora.

Pierre foi o tempo inteiro calado e só resolveu falar quando parou o carro na frente da minha casa

- Acho que hoje você foi longe demais com isso né?

- Pierre, eu sabia o tanto quanto você. Nada. A Lili só me convidou para sair.

- Então quer dizer que suas amigas estão com piedade da gente? O que elas tem a ver com a minha vida sexual?

- Com a nossa, você quer dizer né? Eu me abro com elas sim! Confesso que não esperava isso dela, mas o que tem? Podia ao menos ter te animado né?

- E ficar transando com a minha namorada na frente dos outros? Você enlouqueceu né?

- Realmente, eu enlouqueci, Pierre. Enlouqueci porque quero que meu namorado me deseje, só isso! Mas acho que é pedir muito para você né?

Desci do carro, bati a porta com força e deixei ele falando. Subi para o meu apartamento batendo as tamancas. Para minha alegria ou tristeza, o Pierre subiu atrás de mim e, assim que eu abri a porta, ele me agarrou, me beijou com vontade e o resto você já sabe né? Lererê a noite toda. Finalmente, ele cedeu. Passamos o final de semana trancados no meu apartamento colocando a conversa em dia.

***

- E aí, Diana, resolveu o problema?

- Ai, Lili, você é uma figura. O Pierre odiou a surpresa, mas graças a sua idéia ele se redimiu e nos amamos novamente.

- Pelo menos, funcionou né? O bichinho acordou.

- Pois é, mas pelo amor de Deus, da próxima vez não inventa mais nada não ok? Deixa que eu me viro

- Tudo bem, eu só quis ajudar.

Até o momento, a chama ainda não baixou, mas quando vejo que ela está ficando morna dou meu jeitinho. Claro, sem bancar a empregada e nem muito menos querer encarar swing.

PAPO DE CALCINHA: E você já teve que usar alguma artimanha para reacender a chama? Qual foi a sua? Deu certo?

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou casada há 15 anos e escrevo um blog com estórias e histórias para apimentar o meu amor: www.odiariosecretodeumamariposa.blogspot.com

Dita Panul