sexta-feira, novembro 05, 2010

PAIXÃO ANTIGA


Por Letícia Vidica

- Peticooooo?!

Fiquei pasma com aquela voz feminina que gritava o nome do meu namorado no meio do restaurante com tanta intimidade. E mais pasma ainda ao ver o abraço caloroso trocado entre os dois. E eu assisti de camarote àquela cena patética até os dois se tocarem da minha presença.

- Ah, Di, essa é a Valéria. – me apresentava Pierre ao relembrar que eu estava ali, estática e pasma.

- Então, você é a famosa Diana? – disse a tal da Valéria ao me cumprimentar com dois beijinhos no rosto.

Se não bastasse o encontro caloroso, os dois ficaram mais uns cinco minutos filosofando sobre a vida um do outro. Como você está, como você mudou e mais outros blábláblás até o meu ataque de tosse. Cof, cof.

- Senta’í com a gente. – oferecia o educado do meu namorado.

- Não, que isso. Eu não quero incomodar. – dizia Valéria ao perceber minha cara de poucos amigos.

- Mas a gente já pediu o prato...para DOIS...lembra, Pierre?! – relembrei de que se tratava de um jantar a sós.

- Sempre tem espaço para mais um. – insistia Pierre.

Valéria disse que estava esperando uma amiga e, que se ela topasse, se juntaria a nós.

Enquanto isso, rezei para ela não topar.

- Valéria?! Espera’í , Pierre, essa daí não é...

- A Val, minha ex-noiva. – disse ele na maior tranqüilidade.

- Como assim? E você fala nessa calma? E ainda a convida para jantar com a gente? Você pirou né?

- Quem tá pirando é você, Di. Não tem mais nada a ver. A gente já se separou há muito tempo. E outra quem vive de passado é museu, hein!

Antes que eu pudesse retrucar, a tal da Val retornou para a nossa mesa. Para o meu azar, a tal amiga tinha ligado dizendo que não poderia vir. Sendo assim, tive que engolir a ex-noiva na mesa do nosso jantar. Tudo bem se a sessão flashback não tivesse começado.

- Como está a sua mãe, Pe? A mãe dele é adorável né? Ela já fez para você aquele bolo de abacaxi cremoso? Hmmm...uma delícia! Eu adorava.

Bolo de abacaxi? Cremoso? Mas eu nem sabia que ela cozinhava! Quando vou lá é um tal de congelado para cá e para lá?

- E o Petico continua com aquela superstição boba de assistir ao jogo do Corinthians comendo pipoca doce com batata Ruffles? – ria a tal da Val ao relembrar detalhes tão pequenos dos dois.

E assim a noite seguiu. Regada de muitas intimidades reveladas. Algumas que eu desconhecia e outras que só me provavam o quão profunda tinha sido aquela relação. Ainda para ajudar, a bonitona estava sem carro. Daí, o Pierre prestou a solidariedade de deixá-la em casa. Eu, claro, fui o caminho todo muda e com uma tromba de elefante.

- Posso saber o motivo dessa tromba? – perguntou Pierre na porta do meu prédio enquanto tentava me dar um abraço em vão – Já sei. Não vai dizer que ficou com ciúmes da Val né?

- Eu? Ciúmes? Da Val? Que bobagem! – respondi com ironia.

- Então o que é? A comida não estava boa?

- Pierre, meu amor, tem coisas que a gente não precisa responder. Tenha uma boa noite...Petico! – desci do carro e bati a porta o mais forte que pude.

***

Depois de uma semana martelando aquele reencontro, só mesmo uma cerveja gelada no bar do Pedrão com minhas amigas para aliviar a minha tensão.

- Gente, eu me rendo. Como diz Capitão Nascimento, vou pedir para sair. Estou sendo eliminada do BBB. – eu lamentava.

- Do que você tá falando, Di? Qual é o problema agora?

- O problema, Betina, é que a ex-noiva do Pierre ressurgiu das cinzas. Encontramos com ela num restaurante na semana passada e o Pierre teve a pachorra de convidá-la para jantar com a gente. Você acredita? E os dois ainda passaram a noite toda de tititis...

- Ué, mas não é ex? Para quê o estresse? – questionava Betina.

- Muito simples para você que é desencanada né? Como é que eu vou competir com uma mulher que passou oito anos ao lado do meu namorado? A gente só tá junto há um ano e meio e eu nem sabia que a mãe dele cozinhava!!! Você acredita que ela fazia bolo de abacaxi cremoso para tal norinha? A broaca só me dá lasanha congelada!!!

- Mas ela é bonita, Di? – aguçava Lili.

- Ah...é ... é...ela é bem bonitona. Toda cheia de classe. Advogada, bem-sucedida... aposto que o Pierre vai terminar comigo.

- Não exagera, Diana, vai entregar o ouro assim? – incentivava Lili – Ela até pode ser tudo isso, mas é você que está com ele, meu bem.

- Dessa vez, tenho que concordar com a Lili. – dizia Betina.

Por mais conselhos e incentivos que minhas amigas tentassem me dar, nada me tirava aquilo da cabeça. O medo de perder o Pierre para a tal da Valéria me atormentava. E me atormentava mais ainda porque Tim Maia estava certo. Paixão antiga sempre mexe com a gente

Pouco tempo depois que eu conheci o Pierre, eu reencontrei certa vez um antigo affair. O Mauro. A gente tinha ficado juntos um ano, mas foi uma paixão arrebatadora, um amor louco. Praticamente como nove semanas e meia de amor. Mas na ferocidade que veio, foi.

Nos reencontramos num domingo no Parque Villa Lobos. Eu estava lendo um livro embaixo de uma árvore para desestressar e ele corria por lá. Nos surpreendemos com o encontro, fomos almoçar e o Mauro voltou a me ligar.

Naquela época, cheguei até a ficar um pouco balançada. Ele me propôs que voltássemos, tentou me encontrar mais intimamente, mas eu sempre neguei. Mas, confesso, que fiquei bem balançada com aquela situação.

E agora? Será que o Pierre não sentia o mesmo? E se ele resolvesse voltar com a Valéria?

- Sabe quem ligou aqui em casa ontem,filho? A Valéria! Disse que encontrou vocês né? – comentava minha querida sogra durante um almoço familiar regado de lasanha congelada.

- Inclusive, ela comentou que a senhora faz um bolo de abacaxi cremoso de dar água na boca. – alfinetei.

- Nossa, ela lembrou do bolo? Faz tanto tempo que nem lembro mais a receita. – saiu pela culatra.

**

- Di, desde aquele dia do jantar você está diferente. O que está acontecendo? – perguntava Pierre logo após o almoço.

- Nada, Pierre. – eu estava tão irritada que ia ser pior explicar.

- É a Valéria né? Eu sei. Pode falar.

- Se sabe então porque pergunta?

Antes que ele respondesse, a campainha tocou e, para minha indigestão, era a tal da Valéria. A moça resolveu fazer uma visitinha surpresa para a ex-sogrinha que a recebeu de beijinhos e abraços. E só não fez o tal do bolo porque, segundo ela, a visita foi surpresa, mas se tivesse avisado...Ué, será que ela lembrou da receita tão rápido?!

Aquela visita tinha sido o fim da picada. O cúmulo da intimidade. Para não piorar o clima, resolvi ir embora. O Pierre ainda insistiu que eu ficasse, mas inventei uma enxaqueca e fui para casa. Acho que o casal de pombinhos precisava de mais um tempo à sós. Melhor seria me retirar da história de amor.

Claro que fui aos prantos para a casa da Betina que me atendeu assustada. Depois de três copos de água com açúcar, consegui explicar a história para ela.

- Diana, para de ser infantil. Com quem o Pierre está namorando? Se eles terminaram é porque já era mesmo. Para de criar historinhas na sua cabeça.

- Mas, Bê, é páreo duro. Foram oito anos! – eu respondia com os olhos aionda marejados.

- E daí? Foram. Não são mais. Pode tratar de engolir esse choro, colocar uma maquiagem e ir buscar o seu príncipe. – ordenava Betina.

Antes que eu pudesse dar um tapa no visu, a campainha tocou e me assustei ao ver o Pierre parado na porta.

- Como você sabia que eu estava aqui? – disse assustada e enxugando as últimas lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos.

- Não foi nada difícil adivinhar. Podemos conversar?

- Gentem, fiquem à vontade, eu estou lá no quarto ok? Qualquer coisa, gritem. – disse Betina nos deixando à sós.

- EU não consigo, Pierre... – diz cabisbaixa com medo de encará-lo nos olhos.

- Não consegue o quê? – perguntava ele com cara de quem não estava entendendo o drama.

- Disputar com essa tal Valéria. É um páreo muito duro. Vocês ficaram juntos por oito anos...ela sabe tudo de você...!!!

- Realmente, Diana, nós ficamos juntos todo esse tempo aí. Quase casamos. Mas acabou. E você sabe muito bem disso. Agora, eu estou com você. É de você que eu gosto. A Valéria já era.

- Mas vocês ainda parecem tão íntimos! E a visita inesperada dela na sua casa?
- Eu nem ia te contar, mas já que chegamos a esse ponto. Há um tempo, ela vem me procurando. Diz que quer voltar. Anda me perseguindo...

- COMO ASSIM??? E VOCÊ NÃO IA ME FALAR NADA?????? – berrei.

- Calma. Hoje foi a gota d’água. Nós conversamos e eu pedi para ela se afastar da minha vida. Eu disse a ela que exijo respeito a você. E que a mulher que ocupa meu coração agora se chama DI-A-NA. Conhece?

Nos olhamos e me joguei como uma criança carente nos braços dele. Daí então, percebi a boba que fui. Parecia adolescente insegura. Os braços do Pierre me reconfortaram e me senti tão importante quanto Michele Obama se sente por ser a primeira-dama dos EUA.

Nem sei e nem quis saber mais da tal da Valéria, mas aprendi que, por mais difícil que seja, quem vive de passado é museu. E me desculpe, Tim, mas paixão antiga nem sempre mexe com a gente.

PAPO DE CALCINHA: Alguma paixão antiga sua ou de algum (a) namorado(a) já mexeu com você?

2 comentários:

Bel disse...

No início, eu tinha mto ciúmes, mas agora desencanei. Não vale a pena!

Anônimo disse...

estou vivendo esse mesmo dilema, e pra piorar a ex tah morando de aluguel, numa casa próxima a dele aff fico perturbada...