sábado, outubro 30, 2010

AMADO AMIGO


Por Letícia Vidica

- Diana?!

- Pedro?! – eu respondi assustada com aquele homem que apareceu de repente, acho até que engasguei com o gole de cerveja que eu estava tomando – Acho bom você ter uma boa desculpa para me dar por não ter me avisado que você viria a São Paulo!

- E onde fica a surpresa? – ele respondeu.

Nos abraçamos, num abraço intenso que acho que durou segundos que pareceram minutos que pareceram horas. Acho que foi assim. As meninas, Betina e Lili, me olhavam sem entender nada. Resolvi contextualizá-las da situação, antes que alguma delas fizesse um comentário irônico.

- Meninas, esse é o Pedro. Aquele meu amigo que mora no Rio. Lembram dele? O Pedro é o meu melhor amigo...homem...antes que vocês fiquem com ciúmes.

Convidei-o para se juntar a nossa mesa, mas ele estava com alguns amigos em outra. Ele prometeu me ligar no dia seguinte para fazermos algo e matarmos a saudade.

- Nossa, não imaginava que esse Pedro era tão bonitão. – comentou Lili sem perder a oportunidade.

- Ih, Lili, não é para o seu bico. O Pedro não tem o perfil de canalha. Você não ia gostar dele. – comentei.

- E será que ele seria para o seu bico? – perguntou Betina começando a colocar fogo na fogueira.

- Para de bobagens, Bê. Eu e o Pedro somos apenas bons amigos.

- Será? Não foi o que pareceu depois desse reencontro e do abraço caloroso.

Para variar, a Betina começava a enxergar maldade onde não tinha. Ou será que haveria?

Eu e o Pedro nos conhecemos ainda na barriga de nossas mães, que engravidaram praticamente no mesmo dia. Com ressalva de que eu, apressada como sempre como ele costumava dizer, nasci duas semanas antes do Pedro. Fomos vizinhos até a adolescência, por isso, crescemos juntos. Como eu sempre fui um pouco moleca, eu sempre brincava com o Pedro e os amigos dele e ele me defendia como uma irmã. Apesar de não termos o mesmo sangue, sempre nos consideramos meio irmãos. O Pedro sabe tudo da minha vida e eu da dele. Até hoje, a gente troca confidências.

Quando chegou a época de faculdade, ele prestou vestibular numa faculdade no interior e passou. Teve então de se mudar e depois de formado conseguiu um emprego no Rio de Janeiro onde mora até hoje. Mesmo com a distância, sempre mantemos contato. Trocamos emails, torpedos, ligações quase toda semana para saber como um ou outro está. Realmente, ele não é de se jogar fora, mas a nossa amizade é forte demais para ser estragada e o afeto que sinto por ele não passa de carinho de amigo.

***


No dia seguinte, logo pela manhã, o Pedro apareceu lá em casa e me levou para tomar café da manhã na padaria da esquina de casa.

- Que bom te ver, Pedro. Veio fazer o que em São Paulo?

- Eu tenho um curso aqui essa semana. Daí, resolvi vir no fim de semana para visitar minha família e, claro, rever os amigos especiais.

- Ai, que tudo! Quer dizer que terei uma semana para abusar do meu amiguinho?

- Sou todo seu. Faça de mim o que quiser. – ele disse rindo – Mas como vai a vida? Ainda sozinha?

- Para variar né? Com um aqui outro lá, mas nada fixo. A coisa tá feia, Pedro.

- Eu não me conformo como uma mulher bacana como você não tem ninguém! Esses caras de Sampa andam mole mesmo.

- Olha, quem fala, até parece que não é daqui...

- Sou, mas não estou. Se eu estivesse, você que não se cuidasse não?

Nos olhamos um pouco sem graça por alguns instantes, mas resolvi quebrar o gelo.
- E você? Galinhando muito no Rio?

- Ah, que nada. Eu estava com um rolo com uma gata aí...mas nada sério...e o Pierre?

- Nem me fale dele. Sumiu.

- É outro Zé Mané, né? Mas, deixa eu ficar quieto.

Terminamos de tomar nosso café e, como o Pedro estava com saudades da minha família, telefonei e minha mãe prontamente nos convidou para almoçar lá. Era sempre assim. Quando ele vinha para São Paulo, era uma ofensa não passar na casa dos meus pais.

Ao chegar, minha mãe foi logo dando um abraço apertado nele e o enchendo de perguntas. Dizendo que estava com saudades, que tinha feito o pudim que ele tanto adorava, etc e etc. Era tanto mimo que eu até chegava a ficar com ciúmes. E, quando o Pedro vinha, parecia festa. Minha irmã trazia a sobrinhada que adorava rolar no tapete da sala com ele – uma das qualidades do Pedro é o seu carinho por crianças, acho até que ele seria um ótimo pai. Até mesmo o baladeiro do meu irmão ficava em casa para ouvir as histórias e aventuras cariocas do Pedro.

- Que menino bom, né? Nossa, seria um sonho se você casasse com ele. – delirava minha mãe enquanto lavávamos a louça.

- Tá ficando louca, mãe? Eu e o Pedro somos apenas bons amigos.

- Eu também acho que vocês fariam um belo casal. Você tá é perdendo tempo! – até a songa monga da minha irmã palpitava.

No fim do dia, passamos na casa do Pedro e aproveitei para visitar os pais dele. O bom era que o mimo que ele tinha na minha casa, eu recebia na dele. E até os comentários sobre como seríamos felizes juntos também pintavam por lá.

- Já cansei de dizer pro Pedro para ele vir morar em São Paulo de vez. Seria ótimo não seria, Di? – perguntava a mãe dele, Dona Neusa.

- Ah, eu ia adorar mesmo, Dona Neusa.

- E eu ia adorar ainda mais se vocês dois ficassem juntos...

- Ih, mãe, desiste. Essa daí é jogo duro. – dizia Pedro rindo da minha cara.
Fiquei sem entender o que ele queria dizer com aquele comentário. Mas fiquei com ele martelando na minha cabeça por muitos e muitos dias.

****

- Nossa, Bê, não sei se fico triste ou feliz pelo Pedro ter vindo a São Paulo. – eu desabafava com a Betina enquanto terminávamos de cozinhar para o jantar que eu ia oferecer para o Pedro e alguns amigos dele no meu apartamento. – Desde que ele chegou aqui, todo mundo não para de dizer que somos um casal perfeito. Mas a gente é só amigo!

- Será que isso tudo é só amizade, Diana?

- Lá vem você. Só porque um homem e uma mulher são amigos significa que eles tem que ficar juntos? Que coisa mais careta!

- Esse não é o xis da questão. Seria normal se você não ficasse toda diferente quando está com ele.

- Como assim?!

- Está nos seus olhos, Di. Eles brilham, você fica parecendo uma adolescente boba ao lado dele...parece uma barata tonta...sem contar no olhar de admiração que ele joga sobre você.

- Meninas, cheguei...tô entrando – dizia Pedro que tinha chegado com a sua patota invadindo o meu apê e interrompendo o meu assunto com a Betina.

O jantar correu muito bem, se não fosse a conversa que tive com a Betina engasgada na minha garganta quase me causando indigestão. A Lili estava adorando, tinha até se entendido com um amigo do Pedro. Até mesmo a Betina conversava empolgadíssima com outro amigo dele. Somente eu, parecia um peixe fora d’água tentando digerir aquela história.

Será que eu gostava do Pedro? Será que eu estava enganando a mim mesma ou seria maluquice da cabeça de todo mundo? Ai, meu Deus, não brinca assim comigo não.

- Diana, tá tudo bem? – perguntava Pedro que me flagrou divagando em meus pensamentos na varanda.

- Tá tudo bem sim. – eu dizia tentando disfarçar.

- Não é o que parece.

É incrível como ele me conhecia. Eu nunca conseguia enganá-lo. Ele me conhecia demais.

- Nada não...só estou com dor de cabeça...

- Pode deixar que eu já vou expulsar todo mundo daqui...está ficando tarde mesmo...hora de nenê ir para cama.

- Não, que isso...não estou expulsando ninguém...pelo contrário, fica aqui comigo essa noite.

- Tá me chamando para dormir com você? Que proposta indecente!
Só ele para me fazer rir.

- Só queria conversar mais com você. A gente se vê tão pouco e amanhã mesmo você já volta para o Rio né?

Voltamos para sala e a galera já começava a se despedir. A Lili ia esticar a noite com o amigo do Pedro e a Betina ia pegar uma carona com outro. E o Pedro ia ficar comigo. Arrumamos a bagunça e ficamos jogando conversa fora enquanto lavávamos a louca. Depois de tudo arrumado, tomamos um banho e nos jogamos um em cada sofá degustando uma taça de vinho e colocando o papo em dia.

Era incrível que, quando estávamos juntos, a hora passava e eu nem percebia. Também a gente tinha muito assunto! Mesmo quando éramos vizinhos, assunto nunca foi problema para gente. Já clareava e a nós nem tínhamos dormido ainda. Só nos demos conta de que havíamos passado a noite acordados quando um raio de sol entrou pela janela e veio parar bem no meu olho.

- Que horas são, Pedro? Meu Deus, seis horas!

- Como você fala, hein, Diana? – ele me zuava.

- Eu né? Ai, Pedro, sinto tanto sua falta.

- Vem comigo pro Rio. – ele me disse implorando de joelhos na frente do sofá em que eu estava deitada.

- Para de graça, Pedro! – eu disse sem graça o empurrando para o chão.

- Mas eu não estou brincando...- ele disse me puxando pelo braço e fazendo com que eu caísse sobre ele – adoraria ter você mais pertinho de mim assim.

Nos olhamos por alguns segundos. Nossas bocas a poucos milímetros de distância. Era a primeira vez que ficávamos naquela situação, com ressalva de quando brincávamos de guerra de lama no quintal lá de casa. E era a primeira vez que eu havia ficado com uma vontade louca de agarrá-lo, beijá-lo e ir correndo para o Rio com ele, casar e ter um casal de filhos. Mas, acordei e recuei.

O Pedro resolveu ficar para almoçar e quis dar um de mestre cuca. Cozinhou uma macarronada à moda Pedro Carioca, como ele diz. Depois do almoço, fui obrigada a assistir o jogo do Flamengo, time que ele agora diz ser do coração (mas sabe que nem me importei com isso?), depois assistimos a um desses filmes que cansam de reprisar na tevê a cabo comendo brigadeiro de panelas (detalhe: dividido na mesma colher).
No fim da tarde, daquela tarde maravilhosa, o Pedro insistiu para que eu o levasse até o aeroporto. Segundo ele, não poderia perder mais nenhum segundo ao meu lado. Detalhe: curiosamente ou coincidentemente, eu fui a única a acompanhá-lo no aeroporto, sob insistência suspeita da mãe dele.

- Adorei passar esses dias com você. Tinha me esquecido o quanto são bons os momentos ao seu lado. – ele dizia me abraçando no aeroporto.

- Eu também adorei sua companhia. Você sabe que sinto saudades de você né?

- Se cuida, mocinha. Tô no Rio, mas tô de olho. Ah, e se mudar de idéia...estou te esperando lá no Rio.

Ele me deu um beijo prolongado na testa, mais um abraço forte e partiu. Fiquei igual estátua parada no meio do aeroporto. Naquele momento, minha vontade era embarcar juntinho com ele. Mas, pera’í, Diana, o que estava acontecendo com você?

- Você está apaixonada por ele, amiga. Sempre esteve. – respondia Betina ao meu indagamento, enquanto eu choramingava a partida do Pedro no apartamento dela.

- Será? Realmente, é sempre mágico quando estamos juntos. Mas a nossa amizade é tão verdadeira...eu não quero estragar isso

- Então, deixa rolar...mas se mudar de idéia...já sabe para onde correr né?
Eu bem sabia, mas até agora não arrisquei. Preferi continuar em São Paulo, por enquanto.

PAPO DE CALCINHA: E aí já teve alguma amizade assim? A amizade virou amor ou não?

7 comentários:

Bel disse...

Já e a amizade não acabou.
Só paramos de nos falar porque cada um tomou o seu rumo e nunca mais nos vimos.
Mas, se eu o reencontrasse, seria aquele abraço!

Letícia Vidica disse...

Fico feliz que a amizade não tenha terminado. É sinal de que a relação era realmente duradoura. Valeu pelo post. Beijinhos Letícia Vidica

Lis disse...

Já tive ao contrario, uma paixãozinha que tornou uma bela e linda história de amizade...
E hoje madrinha de casamento dele e feliz pela mulher de sorte que está ao lado dele!!!

Se a amizade é antes ou depois não importa, o que importa mesmo é que não morra e só se fortaleça!

Mas saiba que quando ha intimidade, ela só melhora as relações e se não der certo, pode ter certeza que ela continuará!
"quem não arrisca, não petisca"

Vai no feriado para o RJ, experimenta e depois escreve contando como foi!!!

beijos

Anônimo disse...

adoreiii..amizade assim é tudo de bom e não acaba nunca!!!

bjos Le

Su disse...

Acho que estou tendo uma amizade... ou um amor assim.rs Ainda não consegui entender e quanto mais busco explicações...fico ainda mais perdida. Tenho medo de arriscar um amor e perder a amizade. Enquanto isso...deixo as coisas acontecerem. beijo

Hanna disse...

Tive: Começou por um jogo via e-mail mas depois se consolidou a amizade. Qdo o amor/paixão entrou no meio ficou muito confuso... foi uma época conturbada. Nos envolvemos mas decidimos que não ia dar certo por causa da distância. Ainda somos amigos e as vezes rola um "papo de duplo sentido" e ele é desse jeitinho... diz que os homens da minha cidade são uns moles. E eu digo que as mulheres da cidade dele são umas cegas. Mas fica por isso mesmo...

Moça adoro seu Blog. Não deixo de ler um post!!!!
Nesse caso eu não teria coragem de desistir da minha vida na minha cidade e nem eu na dele... Mas

Letícia Vidica disse...

MENINAS,
FICO FELIZ QUE TODAS JÁ TENHAM TIDO, TIVERAM OU AINDA VÃO TER UMA DOCE E APAIXONANTE AMIZADE. CONFESSO QUE ESTOU À ESPERA DA MINHA RS. MAS , INDEPENTENDE DE QUALQUER COISA, ACHO QUE O QUE VALE É PESAR O QUE É MAIS IMPORTANTE E SEGUIR EM FRENTE.

BJS E ATÉ O PRÓXIMO POST!