domingo, agosto 01, 2010

PACTO DE BUBALOO


Por Letícia Vidica


Depois da minha família, as minhas amigas são a coisa mais importante da minha vida. Eu nunca fui de ter muitas amigas, mas as poucas amizades que conquistei sempre foram muito profundas.

Amigo para mim tem que ser alguém que me dê lealdade, que ofereça o ombro para chorar, que puxe a orelha nos momentos que eu estiver errada, que ria comigo, chore comigo, lute comigo e que eu possa sempre contar. Graças a Deus, encontrei isso nas minhas amigonas do peito Lili e Betina.

Quem olha a primeira vista pode até achar que somos como água e óleo. Não se misturam e jamais daria certo. Porém, uma completa a outra. O que uma não tem, a outra oferece.

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A Betina é a mais realista do trio. Talvez por ser mais velha do que eu e a Lili, é aquela amiga meio mãe. Sempre tem uma palavra dura e uma bronca para nos dar, mas por incrível que pareça a gente sempre reflete depois.

No começo foi um pouco difícil me acostumar a esse jeito general dela, mas a Betina em muitos momentos é quem me coloca nos eixos e me traz à realidade.

Ela é dona do próprio nariz e do próprio negócio. Minha amiga é advogada e tem seu próprio escritório de advocacia. É super bem resolvida com a vida e consigo mesma. Ao contrário de mim e da Lili, homem não faz parte de seus planos. Cansada de sofrer por eles, Betina simplesmente resolveu (praticamente) abolí-los da sua vida. Com exceção àqueles momentos em que o corpo fala mais alto e o vibrador não resolve.

Conheci a Betina num happy hour da minha agência. Ela era advogada de um dos clientes de lá e acabou fazendo amizade com a galera e nos apresentando o bar do Pedrão. À primeira vista,nosso santo não bateu.

- Que cara é essa, Diana? - perguntava Paula, uma colega de trabalho, enquanto todos riam na mesa do bar.

- Tô meio para baixo mesmo.

- Aposto que tem homem no meio. Mulher quando fica assim. Ou levou um pé na bunda ou ... - palpitava a intrometida da Betina, já dando sinais de sua realidade ríspida.

Naquele momento, fiquei muito puta com ela. Quem ela pensava que era para ir me julgando daquela maneira?

- Agradeço o seu palpite, Belina. Ops, Betina, né? Esse é o seu nome né? Mas não tem nada a ver com homens ok? - disse com faísca nos olhos.

O clima ficou meio chato depois disso e eu resolvi ficar quieta o resto da noite para não pular no pescoço daquela intrometida. Fiquei com mais raiva ainda porque ela me parecia uma mulher segura de si, totalmenre ao contrário do meu poço de insegurança. Todos ouviam atentamente suas histórias, seus conselhos e ela sempre parecia ter uma resposta afiada na ponta da língua.

No fim do happy hour, me toquei que estava sem carona para ir para casa e, quando me dirigia para pegar um táxi, Betina apareceu buzinando.

- Quer uma carona?

Eu olhei com desconfiança e, antes que eu dissesse não, ela me interrompeu.

- Pode ficar tranquila, Diana. Não vou perguntar mais nada sobre a sua vida. Inclusive, como forma de desculpas, entra'í que eu te dou uma carona.

Daquele momento em diante, a Betina não só me deu uma carona, como me deu a honra de sua amizade. Descobri que por trás daquela armadura de ferro, existe uma grande mulher. Uma mulher segura que em muitos momentos eu almejo ser. E quando não sou é para ela que eu corro atrás de colo. E lá está minha amiga, mãe, irmã pronta para me dar um conselho, quase sempre acompanhado de uma bronquinha leve ou pesada, mas amigo é para essas coisas né?

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A Lili é a emoção da relação. É a mais insegura de todas. Não consegue viver sem um homem ao lado e é capaz de tudo e de dar tudo (literalmente) para ter um macho do lado. O problema da minha amiga é que ela sempre se envolve com os caras errados. Só beija os sapos. Quase nunca os príncipes. E está sempre acreditando que vai viver um lindo romance como nos filmes de Hollywood.

Ao contrário de mim e da Betina, dinheiro não é problema para ela. Lili, ou melhor, Liliana Bittencourt nasceu em berço de ouro. Filha de um grande empresário gaúcho, ela poderia ser considerada a nova Paris Hilton se não tivesse nos conhecido antes de cair nesse poço de futilidades. Mas, mesmo tendo grana, ela é uma das pessoas mais humildes e solidárias que eu já conheci.

Lili é a mais engraçada e divertida de todas nós. Quase sempre tem uma declaração descomprometida para dar e é quem me apoia quando o assunto é homem. Baladeira nata, é ela quem não deixa o nosso espírito jovial morrer.

Pode parecer engraçado, mas conhecemos a Lili num banheiro de balada chorando aos prantos lá pelas tantas da madrugada de um sábado qualquer.

- Minha nossa, o que aconteceu, mulher? - eu perguntei ao vê-la naquele estado.

- Quer uma água? - perguntou Betina

- Eu quero sair daqui. Me tira daqui, por favor.

Mesmo sem saber nada daquela mulher desesperada, atendemos ao pedido dela e a tiramos da balada. Resolvemos levá-la ao meu apartamento e depois de muito chorar, começou a nos contar o que tinha acontecido.

- Ai, me desculpem, por esse papelão. Vocês duas só podem ser anjos. Prazer, me chamo Liliana, mas podem me chamar de Lili.

- Prazer, Lili. Mas será que agora você pode nos contar o que aconteceu? - perguntava Betina já sem paciência para tanta choradeira.

- É que eu tinha marcado um encontro com o meu namorado e ele não apareceu. Daí, resolvi sair para espairecer e o encontrei com outra mulher lá na boate.

- Sabia que tinha homem no meio. Você tinha que agradecer por ter presenciado isso. Sinal de que esse cara não presta e não serve para você.

- Betina!

- O que é, Diana? Só estou sendo realista.

- Vocês estão certas. O Luís Otávio não me merece.

Daquele dia em diante, não só passamos a conhecer e conviver com a Lili, como também com o canalha do Luís Otávio que aprontaria muitas daquelas ao longo da nossa amizade.

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E assim se vão longos anos de amizade, os quais quero preservar por muitos e muitos anos. Fazemos promessas de sermos madrinhas de casamento uma das outras (com exceção da Betina que não pensa em casar), madrinhas dos filhos uma das outras (com exceção da Betina que não quer ter filhos), entrarmos juntas para o grupo da terceira idade (com exceção da Lili, que já disse que fará quantas plásticas for preciso para rejuvenescer e se recusar a assumir que está na terceira idade).

Quase nunca ficamos mais de dois dias sem nos falar. Sempre ligamos umas às outras e mantemos a tradição da cerveja com frango à passarinho no bar do Pedrão. E, mesmo quando alguma de nós começa a namorar, longo enturmamos o companheiro ao grupo e não admitimos que ele venha podar a nossa amizade.

Brigas? Às vezes acontecem algumas, mas sempre tem alguém de prontidão a pacificar. E, geralmente, esse alguém sou eu porque a Lili e a Betina frequentemente tem arranca-rabos.

- Eu não aguento mais a Lili, Diana! Bendita hora em que fomos ser solidárias e socorrer ela naquele banheiro da balada. - dizia Betina entrando bufando no meu apartamento.

- O que aconteceu dessa vez? - eu perguntava já careca e cansada das brigas infantis das duas.

- Acredita que ela me apareceu de novo lá em casa no meio da madrugada pedindo abrigo porque brigou com o Luís Otávio? Eu não aguento mais!

- E o que ele aprontou dessa vez?

- O que você acha? O mesmo de sempre, Diana. Traição e sacanagem. Daí, eu estava tão de saco cheio que falei umas poucas e boas para ela.

Eu logo podia imaginar o que a Betina tinha dito e como a fragilidade da Lili não tinha sido capaz de aguentar.

Enquanto eu tentava acalmar a Betina, minha campainha tocou. Era a Lili.

- Oi, Diana, posso entrar?

- Claro, Lili. Se a presença da Betina não for um problema para você?

- Ah ela está aí? Eu volto outra hora. Me recuso a ficar no mesmo ambiente dessa insensível.

- Tá me chamando de quê hein, dondoca? - gritou Betina lá do sofá, irritada com a provocação.

- Meninas, por favor, barraco no meu prédio não hein? - eu dizia - acho que vocês duas são bem crescidinhas para ficarem de mal né?

- Eu não estou de mal de ninguém. Se ela não aguenta ouvir verdades, não posso fazer nada.

- O seu problema, Betina, é que você não sabe dizer verdades. Você só sabe ofender. Sempre cheia de razão, se acha no direito de humilhar as pessoas.

- Eu não preciso te humilhar, Lili. Você mesma já faz isso ao rastejar pelo Luís Otávio.

Antes que as duas se atracassem no tapete da minha sala, resolvi levantar bandeira branca.

- Chega! Meninas, hello! Vocês tem noção de que estamos brigando por causa de um homem? Betina, você que nunca deu valor a eles, agora vai perder uma amizade por um que nem vale meio centavo? E você, Lili, me desculpe, mas está mais do que na hora de acordar e perceber o mal que esse canalha te faz né?

As duas ficaram cabisbaixas feito dois pintinhos abandonados. Depois, se olharam e a Lili, como sempre, era a primeira a dar o braço a torcer.

- Desculpa, Betina. É que eu sempre me cego quando o Luís Otávio apronta comigo, mas eu sei que você só quer o meu bem. Me dá um abraço?

- Tudo bem, Lili. Eu te desculpe. Me desculpe também. Se eu falo essas coisas é para o seu bem, é porque eu gosto de você.

- Pazes feitas? Selamos o pacto de bubballo novamente?

Pazes e pactos refeitos seguíamos sempre em frente a espera da próxima briga e curtindo os bons momentos que a nossa amizade sempre nos reservava.

PAPO DE CALCINHA: E você tem amigas (os) com quem contar? Conte como se conheceram e experiências que já viveram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei! :))