terça-feira, agosto 10, 2010

GAROTO CHICLETE


Por Letícia Vidica

- Oi, coração! Bom dia! Te liguei só para saber se minha bonequinha dormiu bem.

É, isso mesmo que você está pensando. A "coração" e a "bonequinha" do outro lado da linha era eu.

- Oi, Gustavo, tudo bem? Eu estou ótima sim. Nas últimas duas horas que você me deixou sozinha, nada aconteceu. Pode ficar bem tranqüilo.

Fazia menos de duas horas que o Gustavo tinha deixado o meu apartamento. A cama mal esfriara e ele já estava me ligando para dizer que estava morrendo de saudades. Nem me assustei porque isso fazia parte de um ritual que eu estava tentando me acostumar.

Eu conheci o Gustavo numa festa de aniversário de uma amiga de trabalho. Conversamos um pouco, dividimos algumas latas de cerveja e tragadas de cigarro, ele me ofereceu uma carona, eu aceitei, trocamos telefones, saímos uma vez, ficamos e ele não larga mais do meu pé.

Não que ele seja um cara desinteressante, mas o problema é que o Gustavo é do tipo meloso. O típico Garoto Chiclete. Um grude na minha vida. Me liga de manhã para dizer "bom dia", de tarde "para dizer boa tarde" e de noite "para dizer boa noite". Se não bastasse isso, ainda aparece de surpresa quase todos os dias lá em casa e tem uma preocupação excessiva comigo. Sem contar que fica me chamando de nomes no diminutivo de forma babaca e idiota. É coraçãozinho para cá, lindinha para lá e assim vai.

- E porque você não dá um pé na bunda dele, Diana?

- Ai, Be, eu não sei. Ainda tenho esperança de que ele vai mudar. Ele é um cara legal, beija bem, faz amor gostoso, o que me irrita é essa pegação no meu pé.

- Falando no chicletinho, olha ele vindo aí...

Ao olhar para trás, me deparei com Gustavo entrando pela porta principal do bar do Pedrão. Eu confesso que tinha odiado a surpresa. Eu havia dito para ele que eu ia sair com as meninas.

- Oi, gatinha. Gostou da surpresa? - dizia Gustavo me dando um beijo na mão, outro na minha testa e sentando já agarrado ao meu lado - Desculpa atrapalhar, Betina, mas eu não consigo ficar mais de um minuto longe do meu coraçãozinho.

- Que isso, fica à vontade! - dizia Betina tomando um gole de chope para conter o riso.

Ficamos por cerca de uma hora jogando conversa fora, mas eu já estava me sentindo sufocada com aquele cuidado todo, aquelas babações para cima de mim e resolvi fingir que estava cansada e que queria ir para casa.

- Ah, docinho, tá cansadinha tá? Eu te levo para casa - dizia Gustavo alisando a mão em meu rosto e praticamente me pegando no colo.

Tentei convencê-lo de que a Betina poderia me levar para casa, que eu não queria tirá-lo do caminho, mas não adiantou. Ele insistiu em me levar para casa.

Chegando à porta do meu prédio, dei um beijo nele e fui saindo do carro, mas ele me puxou pelo braço e me beijou novamente.

- Não consigo ficar um minuto sem beijar essa boquinha linda, sabia?

Mal ele sabia que estava odiando aquela beijação toda.

- Não vai me deixar subir, gatinha? Adoraria fazer uma massagenzinha nos seus pezinhos.

- Me desculpe, Gu, estou morrendo de dor de cabeça.

- Ai, meu neném tá dodói tá? – dizia me apertando a bochecha da maneira que eu mais odiava – mas tudo bem! Vou deixar meu coraçãozinho nanar e amanhã cedinho estou aqui.

- Gu, não precisa vir cedo não. Eu vou ao shopping amanhã. Preciso fazer umas comprinhas. – eu disse com a esperança de que ele desistisse.

Inútil tentativa a minha. No dia seguinte, praticamente antes do sol raiar, Gustavo já estava de prontidão na minha casa.

- Não acredito que o Gustavo vai fazer compras com a gente! – questionava Lili enquanto eu pegava a minha bolsa.

- Eu tentei de tudo, amiga. Mas ele não se tocou. O negócio é encarar agora.

E lá fomos nós três fazer compras no shopping. Eu nunca imaginei o quão era horrível ir às compras acompanhada e pior ainda era ir acompanhada de alguém que te tratava como um poodle e opinava em tudo que você queria comprar. Se não bastasse escolher até o seu absorvente.

- Adorei essa calcinha, amore. Acho que você devia comprar. – dizia Gustavo enquanto escolhia calcinhas e soutiens para mim.

Na tentativa de tentar acabar logo com aquele martírio, reduzi as minhas habituais quatro horas de compras no shopping a uma hora e meia.

- Gu, se você quiser, pode ir para casa agora. Amei a sua companhia, mas eu e a Lili temos hora marcada no salão do Beto.

- Faço questão de acompanhar as damas, amorzinho.

- Não precisa se incomodar, Gustavo – dizia Lili com olhos suplicantes para mim como quem pede socorro.

E não adiantou de nada suplicar. Ele nos levou até o salão de cabeleireiro e ficou sentadinho esperando a gente fazer unhas, depilação, escova, hidratação. Detalhe: tirando o Beto, que é meio homem, ele era o único naquele ambiente.

- Meninas, quem é aquele bonitão ali? – perguntava o meu cabeleireiro enquanto fazia uma chapinha no meu cabelo.

- Ih, Beto, pode tirar o olho que aquele ali é o novo peguete da Diana – respondia ironicamente Lili enquanto esperava secar as unhas.

- Chiclete, você quer dizer né, Lili?

- Ih, pelo jeito, a coisa tá feia hein? Achei o máximo o bonitão ficar te esperando. Que romântico!

- Não vejo nada de romântico nisso, Beto. Desde que a gente começou a sair, eu não consigo mais respirar. Não tenho um minuto de paz. Se eu espirro, ele diz saúde! – desabafava.

Passamos o restante do dia a falar sobre a melação do Gustavo e mesmo com a demora rotineira de um salão de belezas, o Gu não arredou o pé.

- Nossa, como o meu coração está uma gata! – elogiava o resultado da espera.

- Te fiz esperar demais né? Você deve estar cansado. Não quer ir para casa tomar um banho?

- Na sua ou na minha?

Mais uma tentativa em vão na esperança de eliminar o Gustavo do meu dia. Ele não só tomou banho na minha casa, como preparou um jantarzinho para nós dois, fez massagens nos meus pés e me fez ninar. Tudo perfeito se eu não estivesse de saco cheio de tanta perfeição.

- Eu não agüento mais, Betina! – desabafava no telefone com a minha amiga num valioso minuto de paz.

- Dá um pé na bunda dele.

- Se fosse tão fácil, eu já teria dado. O Gustavo não me deixa pensar, não me deixa respirar...agora mesmo...aproveitei que ele foi na padaria e liguei para você.

- Acho que isso já passou dos limites né? Ele já é bem crescidinho para entender que a coraçãozinho dele não tá mais afim.

- E você ainda consegue ironizar?

Minha amiga estava certa. Eu ia ter que driblar todo aquele mel e dizer com minha amargura de que não dava mais. Foi o que tentei durante todo aquele dia, mas os carinhos e as lambeções do Gustavo não me deixavam falar. No fim do dia, quando finalmente ele resolveu ir para casa dele, eu disse.

- Não precisa mais voltar, Gu. – pronto, falei.

- Como assim, coraçãozinho? – perguntava com olhos tristonhos.

- Pelo amor de Deus, não me chama de coraçãozinho. Eu não sou o seu coraçãozinho.

- O problema é esse? Tudo bem, gatinha, eu não te chamo mais assim.

- O problema não É só esse! Você me sufoca, Gustavo. Eu adoro ser mimada sim, mas toda hora tá difícil. Você não me deixa respirar. Desde que você entrou na minha vida, eu não sei o que é ter um minuto de privacidade.

- Me desculpa, co...digo, Diana. Eu só queria te fazer feliz.

- Eu agradeço, mas eu jamais serei feliz assim.

Gustavo me olhou com olhos de cão tristonho – confesso que fiquei com dó dele e me senti uma bruxa – mas era necessário. Se eu não fosse dura, jamais ele iria entender.

E ele realmente demorou a entender. Resolveu mandar flores, bombons e ursos de pelúcia para reconciliar. Mais uma prova de que se eu perdoasse, a melação continuaria. Resolvi ignorar os presentes e as ligações insistentes. E resolvi também que não quero mais saber de chiclete na minha vida. Se for Bubballoo então, estou saindo fora.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ SE RELACIONOU COM ALGUM HOMEM GRUDENTO? COMO FEZ PARA QUE ELE SAÍSSE DO SEU PÉ?

Um comentário:

Tânia disse...

Oh, já sim, amiga!
Na idade que estou (17 anos) deveria ser a idade de querer ficar perto, querer ficar junto.
Mas os 2 namorados que tive ate agora foram assim
O primeiro era chiclete mas eu ate gostava dele e estava com ele (esse era um falso)
Nao chegou a enfeitar a minha cabeça, mas antes de mim tinha 5 am mesmo tempo.. enfim , ele era um chiclete estranho
o ultimo era um grude incompreensivel!!!
Alem de estudar , faço cursos durante a semana e dou aul de musica na igreja (alias, o 1 chiclete chegou a me desmentir na frente de todos dizendo q ninguem faz trabalho de graça)
continuando..
esse ultimo achava q eu mentia pra ele ao dizer q era ocupada e que ficava dificil.
Antes de começarmos a namorar, ficou bem claro q eu ja era ocupada.
ate q eu disse lra ele que nao dava mais essa falta de confiança e que eu nao era a pessoa ideal pra ele.

eu acho que tudo tem um limite e para tudo ha tempo.
o objetivo do namoro é casar, e para casartem que ter amor, nao chicletismo!
para tudo tem seu tempo.


esse blog está otimo!!!
ele parecia ser boa pessoa até, deu ate pena dele.
Mas imagina q vcs vai adiante e ele te pede pra casar, sendo q antes do casamento vc ja nao consegue ver a ara dele..talbez eu aceitasse mas tb... fica dificil