Chega de papo de cueca e de brejas em clubinhos de machos. Agora é a nossa vez! Vamos soltar a voz mulherada! Vamos aterrorizar a rapaziada! Para isso, bem vindo ao 'Papo de Calcinha'...um blog diferente que tenta desvendar o universo feminino. Aqui eu, Letícia Vidica, publico histórias sobre o universo feminino: suas angústias, dúvidas, coisas cotidianas, confusões que só os miolos femininos entendem, enfim, todo o blablablá feminino
sábado, maio 01, 2010
EVA VENENOSA
Por Letícia Vidica
- Meninas, queria que vocês conhecessem esta noite uma pessoa muito especial para mim - dizia Betina com brilho nos olhos
E quem mais poderia ser especial para ela a não ser eu e a Lili? Ah claro, obviamente, antes viria sua família, mas o pouco que nós sabíamos da família da dona Maria Betina bastava para saber que eles não eram tão especiais assim para ela.
- Num creio que você desencalhou! - palpitava erroneamente Lili
- Lá vem você colocando homem na conversa. Quem disse que especial combina com a figura masculina?! - respondia Betina já perdendo o rebolado
- Fala logo, Betina
- A Juju. Ou melhor, Juliana. A Juju era minha vizinha na infância, éramos melhores amigas de colégio, trocamos confidências até a adolescência até que a família dela se mudou de cidade e a gente perdeu o contato.
- E o que essa Juju que sumiu e reapareceu tem de tão especial? - perguntei com uma pontinha de ciúme daquela nova melhor amiga da Betina
- Gente, sabem o que é isso? Eu reencontrei minha primeira melhor amiga. E nem venham com ciuminho besta que coração de mãe Betina é bem grande. Sendo assim, hoje, oito horas da noite, jantarzinho especial lá em casa ok?
Nem tivemos como negar o convite. Apenas nos olhamos e concordamos em comparecer no jantar especial. Confesso que estava morrendo de curiosidade para conhecer a tal Juju.
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Na hora marcada e pontualíssimas, eu e a Lili estávamos na casa da Betina que, pela primeira vez, estava de barriga no fogão.
- O que uma melhor amiga não faz né, Di? Olha lá a Betina no fogão. Isso merecia registro pro Youtube - ironizava Lili
- Parem de me encher o saco e me ajudem aqui que eu estou toda enrolada. A Juju já deve estar chegando...
... e chegou. Naquele instante, a campainha tocou e nos deparamos com uma loira de farmácia, com peitos turbinados de silicone, olhos verdes (que até hoje aposto que são lente de contatos). Uma cópia pirata da Paris Hilton. Eu podia imaginar tudo. Menos que a Betina, tão séria e cheia de pudores éticos, tinha como melhor amiga uma perua como a prima distante da Paris Hilton. Me segurei para não rir.
- Baby - disse a Juju gritando - desculpe a demora. Não estou mais acostumada com esse trânsito caótico de São Paulo.
- Que isso. Entre, Ju - disse Betina entre beijinhos - ah queria te apresentar as meninas. Essa é a Diana e essa é a Lili.
- Prazer - dissemos orquestradamente eu e Lili.
Juju se juntou a nós no sofá e começou a tagarelar sobre a vida dela enquanto Betina terminava o jantar. Por mais que ela tentasse ser simpática, algo naquele rosto de Angélica me dizia estar errado.
A noite até que fluiu bem. O rango da Betina foi comestível e a Juju tagarelou a noite toda sobre sua vida. Disse que estava morando em Londres e que estava apenas de passagem no Brasil. Disse que estava hospedada num flat, mas Betina rapidamente ofereceu que ela ficasse no seu apê. Acho que queriam trocar figurinhas do passado de novo. E a boa moça, claro, aceitou. Segundo Juju, ela era secretária de um banqueiro londrino e estava noiva de um bon vivant.
- Ai, Lili, não sei não, mas eu não gostei dessa amiguinha da Betina - eu dizia enquanto voltava para casa de carona com a Lili
- Tá com ciúmes é, Diana?
- Não é ciúmes. Sei lá, meu santo não bateu com o dela e eu não gosto de sentir iso. Isso tem cheiro de Eva Venenosa.
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Depois do jantar especial, Betina resolveu fazer um happy hour especial e levou a Juju para o bar do Pedrão nos nossos encontros de sexta-feira.
- Nossa, estou tão feliz. Agora posso dizer que somos o Quarteto Fantástico! - dizia Betina cheia de alegria e levantando o copo de chop para um brinde
Aquele cena não seria tão ridícula se não fosse a Betina.
- Ai, gente, estou adorando ficar aqui. O Brasil me faz muita falta sabia?
- Então você não vai mais voltar para Londres? - eu perguntei
- Infelizmente, eu vou...mas adoraria ficar... - disse a Paris com cara de anjo
- E aposto que ficaria de mala e cuia na casa da Betina.
- E qual o problema, Lili? - questionava Betina
- Nenhum. A casa é sua mesmo né?
O clima ficou meio pesado depois disso, mas eu tentei desbaratinar e começamos a jogar conversa pro ar. Para minha surpresa, Pierre apareceu no bar e se juntou a nós. Durante toda a noite, eu percebi Juju jogando olhares e insinuações para ele. Me fingi de morta, mas comecei a sacar que de anjo ela não tinha nada.
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Um mês depois do happy hour, nunca mais eu tinha visto a Betina. Toda vez que a gente ligava ela nunca estava em casa ou, segundo Juju, sua secretária, ela nunca podia falar com a gente.
- Tem visto a Betina?
- Desapareceu, Lili. Acho que está ocupada demais para nós com a amiguinha de infância dela.
- Que tal aparecer lá de surpresa? Quem sabe assim ela nos atende né.
Resolvemos nos desbancar até a casa da Betina e lá estava ela...
- Meninas, que surpresa!!! Porque vocês sumiram?
- Como assim, NÓS sumimos?! - perguntava Lili já ficando puta da vida -
a gente te ligou o mês inteiro, mas parece que você estava muito ocupada para as velhas amizades.
- Eu nunca soube que vocês me ligaram
.
- Acho que a sua amiguinha Juju não quis avisar...
- Ai, gente, vai ver ela esqueceu...
- É bem o que ela quer mesmo né? Fazer com que você se esqueça da gente - dizia Lili
- Não estou entendendo as suas ironias, Liliana - questionava Betina
- Ah não? Eu te explico. Você quer bancar a toda cheia de moral, mas não vê o qual podre e venenosa que essa sua amiguinha é. Ela não passa de uma aproveitadora e encostada que não sairá da sua casa tão cedo e além do mais daqui a pouco nem as amigas você vai ter mais.
- Quem você pensa que é, hein, Lili? Só porque eu tenho outras amigas? Só porque eu não fico só derramando as minhas ladainhas idiotas em cima de uma única pessoa?
Antes que a baixaria descesse ainda mais o nivel, Lili pegou a bolsa e resolveu se retirar com a promessa de que a amizade tinha acabado.
- Acho que você pegou pesado, Betina.
- Pesado? Quem ela pensa que é para vir na minha casa e me dizendo essas maluquices?
- Desculpe, minha amiga, mas a única louca aqui é você. Você está tão cega com essa amizade que não vê que está criando um Eva venenosa dentro da sua casa. Você é macaca velha, Betina. As pessoas mudam. A Juju pode já não ser a mesma boa e inocente adolescente que você conheceu. Pensa nisso.
Peguei minhas coisas e resolvi deixar Betina refletindo sozinha. Na saída do prédio, tive o desprazer de encontrar Juju voltando de sua corrida matinal.
- Oi, Diana, você por aqui?
- Sim e porque do susto?! Já que você resolveu não repassar os nossos recados para a Betina viemos até aqui.
- Eu?!
- Olha, Juju, vamos combinar uma coisa? Comigo não ok? A Betina pode até cair no seu joguinho de boa moça, mas eu estou vacinada contra isso. Conheço muito bem o seu tipinho e olha só acho bom você manter distância do Pierre também ok? Tenha um ótimo dia, QUERIDA.
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Depois do choque de realidade, minha amiga Betina simplesmente desapareceu. Confesso que fiquei super chateada pelo sumiço acreditando até que ela tinha feito sua escolha de amizade. Errada, mas uma escolha.
Numa dessas sextas-feiras típicas, eu e a Lili resolvemos manter a tradição e fomos tomar nosso chopinho com frango a passarinho no Pedrão.
- Ainda não creio que a Betina sumiu.
- Nem me fala daquela falsa.
- Calma, Lili. Ela está cega. Eu tenho fé que ela vai se tocar e eu também dei o meu recado para a Juju naquele dia. Nos encontramos na saída do prédio.
Enquanto eu contava para a Lili o que eu tinha dito, a Betina adentrou no bar. Sozinha. Se aproximou da nossa mesa e perguntou se podia se sentar.
- Agora está sozinha e quer se aproximar.
- Pode me escurraçar, Lili. Eu mereço. Meninas, eu espero que vocês ainda possam me perdoar. Eu fui uma cega.
Diante todo aquele arrependimento de Maria Madalena, fiquei curiosa em saber o que tinha ocorrido. E a minha tese se confirmou.
Betina contou que descobriu que a Juju não passava de uma estelionatária falida. Ela tinha voltado ao Brasil fugida porque tinha aplicado um golpe em Londres e não queria uma amizade e sim um abrigo. Por isso, ela preferia nos afastar para evitar que alguém descobrisse a verdade. Lendo uma agência internacional de notícias, Betina descobriu que ela era procurada e a escurraçou de casa.
- Pois é...isso prova que nem sempre você tem a voz da razão, né Betina? - dizia Lili
- Vou lhe dar mais ouvidos, Lili. Me perdoa?
E com um brinde de choppe selamos nossa reconciliação.
PAPO DE CALCINHA: Você já teve uma Eva Venenosa em sua vida?
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Um comentário:
Nem. No máximo menininhas mimadas, dessas que num dia é super amiga e no seguinte já nem olha mais na cara e não se sabe o porquê.
Beijinhos!
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