Chega de papo de cueca e de brejas em clubinhos de machos. Agora é a nossa vez! Vamos soltar a voz mulherada! Vamos aterrorizar a rapaziada! Para isso, bem vindo ao 'Papo de Calcinha'...um blog diferente que tenta desvendar o universo feminino. Aqui eu, Letícia Vidica, publico histórias sobre o universo feminino: suas angústias, dúvidas, coisas cotidianas, confusões que só os miolos femininos entendem, enfim, todo o blablablá feminino
quarta-feira, maio 26, 2010
NO DIVÃ
Por Letícia Vidica
- Nossa, Diana, tenho te achado tão cabisbaixa e quieta esses dias. Aconteceu algo? – perguntava Cristina, uma das minhas colegas de trabalho enquanto olhávamos a vitrine de algumas lojas na hora do almoço
- Ah, sei lá, Cris. Ando meio desanimada sabe? Estou achando a minha vida meio sem sentido, não sinto mais prazer em fazer quase nada...tô de bode! – eu respondia com total desânimo enquanto olhava um sapato verde na vitrine da loja
- Ah, eu bem sei o que é isso. Já me senti assim como você, mas graças a Jane, a minha vida mudou.
Jane? Quem seria essa tal de Jane? Faltou pouco para eu gritar “Pelo amor de Deus, me apresenta a Jane!”, mas Cristina foi mais rápida na explicação...
- A Jane é a minha terapeuta. Ela é ótima. Estou com ela há um ano e meio e não vivo mais sem ela. Acho que você deveria ir lá, marcar uma hora. Aposto que ela vai te ajudar. Quer que eu te dê o telefone?
Aquela foi uma das perguntas que ficaram me martelando até o final do dia. Terapeuta? Será que o meu caso era tão grave a ponto de uma terapia? Não que eu tenha preconceitos ou talvez eu tenha, mas sempre achei que um desabafo no bar do Pedrão, uma choradinha no ombro da Betina ou uma boa noite de sexo resolveria os meus problemas. Porém, naquele momento tudo isso só piorava o meu estado de espírito.
- Acho que vou começar a fazer terapia. O que vocês acham? – eu questionava à Lili e Betina durante mais um de nossos encontrinho no apê da Betina.
- A maior perda de tempo do mundo – respondia prontamente a dona da pensão – eu já gastei muita grana com isso e não resolveu nada. Só dinheiro jogado fora e horas falando de mim para alguém que mais parecia uma parede
- Ah, eu acho ótimo. Não escuta ela não, Di. Todo mundo precisa de terapia na vida. Eu já fiz, me ajudou muito e estou louca para retomar, pena que já recebi alta.
- Então o seu terapeuta te deu alta porque não agüentava mais te ouvir falar do Otávio e das burrices que você faz né? – retrucava Betina
- Não sei, gente. Ando meio triste, cheia de questionamentos, sem rumo...a minha colega lá da agência me indicou a terapeuta dela e meus dedos estão coçando para eu ligar.
- Você é quem sabe, Diana. Só acho que não vai adiantar...
- Só porque você não quis se ajudar na terapia, dona Maria Betina, não significa que a Diana não vai ser ajudada ok?
Antes que as duas se atracassem no sofá, resolvi mudar o rumo da conversa, mas não o rumo dos meus pensamentos. Passei a semana inteira relutando comigo mesma se eu ligaria ou não para a terapeuta. Sempre fui daquelas de achar que terapia era coisa de louco ou de gente rica que não tem o que fazer ou com o que gastar dinheiro, mas talvez tivesse chegado o momento no qual todas as minhas teorias preconceituosas iam por água abaixo.
Durante aquela semana, tentei de tudo para levantar o meu astral. Comprei roupas novas, fui ao cinema, tentei responder sozinha a todos os meus questionamentos até apelei indo na casa da minha irmã choramingar as pitangas com ela. E me surpreendi ao descobrir que até a quadrada da minha irmã - casada há séculos e obediente àquele marido grosso e gordo - já tinha feito terapia uma vez na vida (e a danada não me contou nada?!)
Resolvi tomar coragem e marquei uma sessão com a tal da Santa Jane. No trajeto até o consultório, fui rezando para que ela fosse uma santa mesmo e me desse uma solução para os meus problemas. Também não contei a ninguém que estava indo lá, nem mesmo para as meninas, afim de evitar qualquer pré conceito e se eu não gostasse seria apenas um segredo íntimo entre a tal da Jane e eu.
Chegando ao consultório, me deparei com uma sala bem aconchegante com um sofá branco e tão fofo que dava vontade de se jogar e dormir na hora. Uma mulher morena, alta e de óculos me atendeu. Era a tal da Jane. Sorridente, me fez entrar, sentar e ficar o mais à vontade possível. Será que alguém é capaz de ficar à vontade com uma pessoa que nunca viu na vida prestes a saber os seus segredos mais íntimos? Mas confesso que eu me esforcei...
- Fico feliz que tenha vindo me procurar, Diana. Espero que eu possa lhe ser útil. Quero que saiba que eu não estou aqui para julgá-la, então não tenha medo de me dizer o que lhe aflige – a voz dela era doce e mansa que me fez lembrar a minha primeira professora do primário e o seu sorriso era brando que conseguiu ir me acalmando.
- Bem, doutora, ou melhor, Jane... eu resolvi apelar para a sua ajuda porque me sinto muito confusa ultimamente...sem ânimo para fazer as coisas e sem saber quem sou eu...me sinto como alguém que está nadando para chegar na praia e nunca chega...minha vida amorosa está uma bosta...só encontro homens que não querem saber de compromisso ou que só entram na minha vida para magoar meu coração...o meu trabalho não me dá mais prazer...trabalho dia e noite como um burro de carga e não vejo recompensa...
Desatei a falar das coisas que me afligiam e nem vi o tempo passar. Era como se eu e a Jane fôssemos velhas amigas. Confessei a ela coisas que nunca tinha dito a ninguém e aos poucos fui me sentindo mais aliviada e retirando um peso no ombro que parecia pairar sobre mim...
- Diana, a culpa das coisas da nossa vida darem certo ou errado é nossa mesmo. A gente é quem conduz a nossa vida. Você é quem sabe a resposta para tudo que quer saber. Basta saber se ouvir e você vai encontrar.
Mas como assim? Eu passo cinqüenta minutos falando sobre mim, querendo uma resposta para essa mulher me dizer que eu tenho a resposta?! Quero o meu dinheiro de volta.
Saí de lá batendo as tamancas, mesmo sob a recomendação de voltar na semana seguinte.
- E aí, Di, fiquei sabendo que foi lá na Jane...gostou? – gritava Cristina no meio da recepção da agência quase esbanjando o meu segredo mais obscuro
- Ah, eu gostei sim – respondi com o maior esforço de falsidade que pude
- Já vi que não gostou. Mas não desanima, não. Ela é ótima. É uma questão de costume.
Seria apenas uma questão de costume? Passei a semana seguinte inteira me questionando se eu voltaria à terapia ou não. Achava até que estava me sentindo melhor, mais aliviada. Não precisava mais de terapia. Pronto, eu não vou.
Eu não iria até ter um pesadelo numa noite dessas. Sonhei que estava dentro de uma piscina me afogando e que várias pessoas me olhavam ao redor e riam de mim sem me ajudar. Acordei assustada e suada no meio da noite e despenquei a chorar.
Incrivelmente, chorei por quase uma hora. Não era um choro de TPM (eu tinha acabado de menstruar) e muito menos de tristeza. Foi um choro chorado de uma forma que eu nunca chorei.
No dia seguinte, aquele sonho me perseguiu. E, antes que eu ficasse louca, dei meia volta no quarteirão e toquei o carro para o consultório da Jane. Eu estava resolvida a dar mais uma chance a ela, mas apenas uma!
- Diana, que bom de te ver de novo – disse a terapeuta me dando um abraço maternal
Sentei e desatei a falar. Disse a ela sobre o meu pesadelo e a minha reação depois dele. Ela tentou me ajudar a interpretá-lo e disse que aquilo era um sinal de algo na minha vida que não ia bem e que as pessoas do sonho não me ajudaram porque apenas eu é quem poderia me autoajudar a sair daquele sufoco. Uma loucura dessas, mas que até fez sentido.
Comecei a falar mais sobre a minha vida desde a decisão de sair da casa dos meus pais para poder ter mais liberdade até o fato de estar sempre tentando encontrar o meu príncipe encantado e cair do cavalo. Enquanto eu revivia alguns momentos da minha vida, desatei a chorar de novo. Jane me cedeu uma caixa de lenços e eu chorei como uma criança que perde a chupeta.
O mais engraçado de tudo é que não tive vergonha de chorar na frente da Jane e, apesar dela mais me ouvir do que falar, comecei a perceber algo muito importante – acho até que isso é a chave da terapia – comecei a me ouvir.
- Diana, você é um passarinho que nasceu para voar. Você tem essa necessidade de ser livre. Sair da casa dos seus pais não foi apenas uma decisão cômoda, mas foi uma forma de dizer a eles que você é livre e de respirar melhor. Essa sua busca incessante pelo príncipe não é à toa. Acho até que você já possa ter encontrado bons pretendentes a príncipes, mas resolveu relutar a eles do que talvez ter que podar a sua liberdade.
Tudo ainda parecia um pouco confuso quando saí do consultório, mas as frases ditas pela Jane não saíram da minha cabeça durante o resto dos dias.
Sem me dar conta, percebi que eu precisava daquela terapia e que eu não estava ficando mais ou menos louca com aquilo. Eu apenas estava sendo apresentada a uma pessoa tão próxima de mim,mas que eu desconhecia: eu mesma. Toda vez que eu ia nas sessões, saía de lá com questionamentos que me faziam refletir ou tinha o prazer de encontrar respostas que estavam diante dos meus olhos mas que eu não conseguia ver.
E assim se passoaram os dois anos de terapia que tive com a Jane. Sem perceber, eu tinha resolvido todos os impasses da minha vida. Podia muito bem me virar sem ela agora e acabara de receber a tal da ‘alta’.
- Tentei te ligar ontem à noite, mas deu caixa postal, o que houve? – perguntava Betina
- Fui na Jane.
- Jane?! Quem é essa? – perguntava minha amiga sem me dar conta de que eu tinha mantido esse segredo das sessões
- Ah era a minha terapeuta.
- Terapeuta? Você estava fazendo terapia e nem nos disse nada?
- Dois longos e ótimos anos. Dizer para quê? Para você me sacrificar na cruz? Quem não te conhece que te compre, dona Betina. E se quer saber? Foi a melhor coisa que fiz da minha vida.
- Bem que eu percebi você um pouco mudada mesmo...mas e aí deu resultado? Ela é boa? – perguntava Betina com ar de curiosidade
- Quer saber para quê? Você não acredita nessas coisas...
- Ah, Di, sabe como é né...vou confessar...acho que agora eu é que estou precisando de terapia. – confessava ela com vergonha de assumir tal coisa
- Ai, Betina...então anota o telefone da Santa Jane.
Não só indiquei a Jane para a Betina como para todos que se aproximavam de mim e falavam de terapia. Mesmo sem precisar continuar as sessões, a minha mão ainda coça com vontade de querer voltar. Acho que sempre vou precisar da Jane hahahahaha
PAPO DE CALCINHA - VOCÊ JÁ FEZ TERAPIA?
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3 comentários:
Faço e amo! adorei teu texto!!!
Tenho vontade de fazer mas sinto vergonha e medo ...!! :/
medo de que, eu tbm faço e amo tbm
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