segunda-feira, fevereiro 18, 2008

O BOM FILHO À CASA TORNA


Por Letícia Vidica


- Gente, o Beto vai casar! – foi o que eu disse à Lili e a Betina naquela tarde de sábado na casa da Bê.


- Num creio e ele te convidou? – perguntou Betina


- Fez questão de me mandar o convite.

Sabe aquele ex-namorado que toda vez que vocês se encontram rola um remember ? O Beto era um desses. A gente se conheceu no cursinho pré-vestibular (faz tempo) e namoramos até o meu penúltimo ano da faculdade. O Beto era o namorado perfeito: a gente gostava das mesmas coisas, ouvia as mesmas músicas, falava sobre tudo e nada, simplesmente, a gente se completava. Era o brother que eu beijava na boca. Pensávamos até em casar, mas um dia apareceu uma oportunidade para ele ir estudar nos EUA e nossos planos de casamento foram adiados. O um ano que ele ia estudar fora se transformou em três e o nosso namoro acabou virando amizade.

Apesar de eu ser gamadona nele, dei um super apoio para que ele fosse estudar fora e achamos melhor terminar a relação pois não ia dar para continuar a trilhões de distância.

Por algum tempo, a gente ainda manteve relacionamento por email, MSN, carta e alguns telefonemas, mas com o passar do tempo a gente parou de se falar. Até que, um belo dia, o Beto voltou e foi me procurar. Fiquei super feliz com a volta dele, mas já não tinha mais nada a ver insistirmos num relacionamento e ele acabou virando o meu amigo colorido (rs).

Toda vez que a gente se via, era mais forte do que nós. Sempre terminava nos braços dele, mergulhada na boca dele ou no apê dele ou no meu. A gente não se cobrava. Rolava e pronto. Tínhamos toda liberdade pra contar de outros relacionamentos, pedir conselhos (nossa, quantas vezes ele me ligou chorando por causa de alguma mulher ou eu liguei aos prantos para ele...)


- Mas, Di, vocês não tinha um rolo?


- Na verdade, Li, a gente sempre foi meio amigo meio amante sabe? O Beto é muito especial para mim, mas é só amizade...


- Será?

Confesso que a chegada daquele convite vermelho aveludado com letras douradas e garrafais com o nome do Beto e sua futura esposa, me convidando para vê-lo fazer juras de amor a uma noiva que não era eu, me deixou deprê.

Eu sei que a gente não era namorado, aliás, já fazia mais de um ano que não rolava mais nada ... eu até sabia que ele estava namorando uma garota que conheceu no trabalho, mas eu ainda tinha uma pequena ponta de esperança de que o Beto era uma das minhas possibilidades de marido. E agora a possibilidade ia subir o altar.

- E você vai no casamento?


- Ainda não sei...


- Ah, se eu fosse você, eu ia... e bem bonita...só pra fazer ele se arrepender de casar com a lambisgóia... – apimentou Betina


- Eu não ia não! E pagar esse mico de solteirona? Além do mais ver o cara todo feliz com outra...


- Ai, gente, vocês me deixam mais confusa ainda.


Faltava um mês para o casamento e ele havia virado artigo de decoração da minha geladeira. Toda vez que eu olhava para ela, vinha a pergunta: ‘Ir ou não ir ao casamento, eis a questão’.

Num desses domingos de sol, resolvi ir caminhar no parque, pois já estava um pouca acima do peso e totalmente preguiçosa. Ouvindo meu MP3 com uma música melancólica da Ana Carolina, eu caminhava e pensava na vida, até uma bicicleta quase me atropelar...

- Beto?!


- Diana?!

Coincidências realmente acontecem e o destino, mais uma vez, pregara uma peça em mim. O noivo e a ex haviam se encontrado no parque.

- O que faz por aqui uma hora dessas? Pelo que eu sei, você não é de acordar tão cedo!
(O chato de reencontrar ex-namorados é que nem dá pra mentir porque o cara simplesmente sabe tudo sobre você. E ser dorminhoca era uma delas!)

- Estou tentando mudar... e você?


- To morando há duas quadras daqui... eu e a Dri alugamos esse apê e eu resolvi me mudar na frente... falando nisso, recebeu o convite?


- Convite?! Ah...recebi, obrigada.


- E você vai né?


‘Por quê ele tinha que fazer essa pergunta?’


- Eu? Vou...vou sim!


- Tá com muita pressa ou tem tempo pra um café?

Educado como sempre, o Beto me levou para tomar café da manhã em uma padaria próxima. Simplesmente, levamos duas horas tomando café. Ele começou a me contar como conheceu a Adriana, a futura esposa, seus planos para o futuro, como estava no trabalho...simplesmente, desandou a falar...ainda bem que ele não perguntou da minha vida, pois trinta segundos seriam suficientes para resumir que sou uma solteirona em busca do homem perfeito... e que ele podia ser esse homem.

- Quer conhecer o meu apê?


- Eu? Mas, Beto, e a Adriana...?


- O que tem? Você é minha amiga!

Realmente, eu era só a amiga. Fui até o ninho de amor dos dois e depois de conhecer o lar feliz, chamei o Beto para almoçar em casa. Ele aceitou. Preparei uma ‘gororoba’ qualquer porque ele também sabia que eu cozinhava muito mal. Comemos e passamos mais algumas horas a conversar...

- Engraçado, né? Quem diria que um dia eu ia no seu casamento...


- É a vida dá voltas...


- E pensar que já sonhei tantas noites em subir no altar ao seu lado...

Neste momento, ficamos mudos como se um filme passasse em nossa memória. O Beto começou a me olhar diferente. Do mesmo modo, que me olhava quando a gente namorava... foi se aproximando... tocou no meu rosto e sem dizer nada me beijou ... e eu continuei. Sei que não estava certa mas, mais uma vez, o remember rolou com a gente e sem cobranças.


- Di, você está louca? O cara vai casar e você serve de despedida de solteiro para ele e ainda quer ir no casamento? – crucificou Betina

Era o dia do casório e eu estava convencendo a Betina a ir comigo. Durona como sempre, ele tentou fazer de tudo para que eu não fosse. Mas eu tinha que ver para que pudesse colocar um ponto final nessa história e acreditar que acabou.

Fui e com a Lili e a Betina a tira-colo. A igreja estava lotada e o Beto lindo como sempre. Só acreditei que não estava sonhando quando o padre disse ‘Pode beijar a noiva e vi que quem ele beijava era a Adriana e não eu’.

Na porta da igreja, encontrei com a mãe do Beto. Ela me abraçou fortemente e desandou a questionar sobre a minha vida. A dizer que me adorava, que eu era a nora que ela queria e blábláblá...

Por fim, respirei fundo e fui cumprimentar os noivos. Eu não sabia o que o Beto tinha contado à sua futura esposa, por isso, corria um sério risco de levar um tapa na cara...

- Parabéns, Beto.


- Diana! – ele abriu um largo sorriso e me abraçou


- Dri, essa é a Diana que eu te falei, aquela minha amigona...

Incrivelmente, a noiva também me abraçou e daí tive a certeza de que colocamos o ponto final na nossa ‘relação’ naquela noite. E o que restava era me conformar...

PAPO DE CALCINHA: E AÍ, AMIGA (O), JÁ TEVE UM CASO DESSES?

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