terça-feira, janeiro 22, 2013

A REGRA DO JOGO


POR LETÍCIA VIDICA


- E aí, Diana, algum sinal de vida do gato tarado? – perguntava Lili em mais um de nossos happy hours no bar do Pedrão.

- Podem me chamar de burra... burra, burra é isso que eu sou! – eu afogava as minhas mágoas num chope – Coloquei tudo a perder. O William tomou chá de sumiço isso sim.
Faz mais de uma semana que ele não me procura e não dá sinal de vida.

- Ainda bem que você sabe o que fez. – preciso dizer que era a Betina quem falava?!
– Mas isso faz parte da regra do jogo.

- Regra do jogo?! Lá vem você com suas teorias. – eu bufava. O que eu menos queria naquela noite era mais um dos sermões da Betina e ter que admitir que ela estava certa, mas foi em vão...

- Essa eu quero saber... que tal de regra é essa? – interessou-se Lili.

- Enquanto a Diana estava dando uma de durona, de difícil... o gatinho estava de quatro... é do tipo de cara que gosta de ser motivado pelo que é mais difícil, mas foi só você vir com esse papinho de carência, de que quer algo mais e pum! O gato subiu no telhado... perdeu a graça... é simples assim... essa é a regra do jogo. O negócio é ser durona.

Será que a Betina estava certa? Eu não tinha obedecido a essa tal regra do jogo? Bela amiga, hein? Por que não me ensinou isso antes? Mas, independente de regras, tudo que eu mais queria era ouvir a voz do William e, confesso, sentir aquele corpo sobre o meu também.

- Bom dia, seu Tomás! Alguém procurou por mim? – eu investigava ao chegar ao prédio da agência.

- Bom dia, dona Diana! Ninguém procurou a senhora não.

- Tem certeza? Nenhuma carta? Ninguém diferente perguntando por mim? – perguntei desapontada.

- Nadinha, dona. – respondia ele criterioso.

Subi o elevador até minha sala bem desapontada. Saudades do dia em que o William deu plantão na porta do meu prédio e eu ainda fiquei puta ... que idiota!!! Mas como a esperança é a última a morrer, entrei na agência na expectativa de encontrar um telefonema perdido.

- Bom dia! – disse para a minha secretária – Alguém me ligou?

Suei frio e meu coração descompassou, enquanto ela listava os nomes intermináveis de quem tinha me ligado, mas nenhum era o William.

- Algum William me ligou? – insisti.

- Não me recordo desse nome não.

- Tem certeza? Algum recado na secretária eletrônica?

- Não. Eu anotei todos. Mas se ele ligar...

- ... passe imediatamente para a minha sala. Pode me interromper. Eu autorizo.

Passei o dia todo trabalhando na expectativa de um telefonema, um torpedo, um whatsapp, uma mensagem inbox, um sinal de fogo ou fumaça. Porém, terminei o dia sem nenhum deles. Fui para casa bem decepcionada e querendo bater na minha própria cara. A teoria da Betina parecia se confirmar. Nada de William no hall ou na frente do prédio, nem na porta do estacionamento, nem na porta do meu prédio, nem na porta do meu apartamento e, muito menos, na minha cama.

****

Ligar ou não ligar, eis a questão! Era o pensamento que me consumia deitada em minha cama encarando o visor do meu celular. Ah, quer saber? Eu vou ligar... seja o que Deus quiser.

Tum, tum, tum... a sua mensagem será encaminhada para a caixa postal.

Droga! É um sinal divino. Não vou ligar. Ah, mas vai que estava fora de área?

Tum, tum, tum...


- Alô?

Estremeci quando ouvi a voz dele do outro lado da linha.

- Oi, Will-William, tudo bem? É a Diana.

- Oi, gata, tudo bem? – respondia ele como se nada tivesse acontecido. Parecia até que tinha acabado de sair da minha cama.

- Tudo...liguei para saber se está tudo bem com você.

- Tô bem sim. Posso te ligar daqui uns dez minutinhos? Só estou resolvendo uma pendência aqui e já nos falamos. Espera que eu vou ligar hein? Beijos.

Dez minutinhos? Sei. Até parece que vai ligar e até parece que eu vou esperar né? Pendência? Sei. Uma pendência loura de olhos azuis. Aff!

.... trinta minutinhos depois e nada. Eu já estava babando na minha cama. Ligo de novo?! Vai parecer que sou uma carente chatonilda necessitada. Um torpedo, acho que não pega mal né? O que eu escrevo?

“Oi, William, tdo bem? Se qzer, pode ligar. Ainda estou acordada. ((( NÃO! APAGO )))” Melhor ser mais informal. “Oi, gatinho, saudades. Qdo der, me procura ((( NÃO! APAGO)))” Muito meloso e carente. Melhor ser mais formal mesmo e objetiva. “William, precisamos conversar. Me liga! ((( NÃO! APAGO ))) Nem eu ligaria para mim. Por fim... “Tenha uma ótima noite, bjs, Di”. Enviado.

Tenho que confessar que ainda esperei mais duas horas, entre piscadas e sonecas, mas ele não retornou e nem respondeu ao torpedo. Saiu pela culatra. A Betina estava certa.

****

- Que ânimo, hein, amiga! – dizia Lili enquanto tentavam me convencer a ir comer pizza na casa do Tavinho. – Bora, levantar esse astral!

- Tá difícil. Podem ir, meninas. Eu não estou no clima. Vou ficar por aqui mesmo.

- Isso tá me cheirando William, hein? – dizia Betina. – Ligou para ele ne?

- Semana passada. Atendeu, disse que retornaria em dez minutos e estou esperando até hoje. Você, mais uma vez, estava certa amiga. Caí no conto da tal regrinha. – eu respondi desolada.

- Não dê ouvidos para tudo que essa terapeuta barata diz. Bora se trocar e dar umas paqueradas. Já tá na hora de trocar de amigo e hoje vai ter vários novos por lá. –
Lili me empurrava até o quarto para me trocar.

****

Não tive muita escapatória e, quando dei por mim, estava na casa do Tavinho. O apê estava bombando. Mais um pouco, caía gente da sacada. Realmente, tinham vários gatinhos novos, mas eu não estava afim de olhar para nenhum. Peguei minha caipirinha e sentei num canto do sofá. Três caipirinhas depois e ouvi uma voz familiar entrando na sala. Arrepiei quando vi que era o William.

Ao me ver, ele abriu um largo sorriso, abaixou o rosto e me deu um beijo... na bochecha!! Murchei! Cadê aquele tesão todo? Depois, virou as costas e se infiltrou no meio da homarada. A minha vontade era sair correndo dali, mas eu tinha que tirar aquela história a limpo. Tá na chuva é para se molhar.

- Esse homem é um pedaço de mal caminho né? – comentava uma morena sentada ao meu lado que, até então, eu não tinha notado.

- Quem?! – perguntei desbaratinando.

- Esse William. Eu acho ele o maior gato. Tem uma amiga minha que tem um trelelê com
ele e diz que ele é tudo de bom na cama.

- Deve ser mesmo... – respondi ainda meio passada – E a sua amiga... está aqui?

- Não, ela não pode vir. Mas pediu para eu ficar de olho no gatão. Tarefa difícil ne? Quer mais uma caipirinha, amiga? Eu vou buscar.

Era tudo que eu precisava ouvir àquela altura. Uma confissão sexual de uma amiga de uma peguete do William. Estava mais do que na hora de partir para o tudo ou nada. Percebi que ele bebia sozinho na varanda e me aproximei.

- Fugindo de mim? – ataquei com uma voz doce.

- Oi, gata! – respondeu ele colocando os braços sobre os meus ombros. – Eu? Jamais. Por que eu fugiria de você?

- Não me procurou mais. Disse que ia me ligar e nada... tá tudo bem?

- Está tudo ótimo. É que eu estou com umas pendências aí... – coçou a cabeça.

- Sua mãe adoeceu de novo?

William me olhou sem graça e logo baixou os olhos.

- Pode ser sincero, vai. Fala, eu estou preparada. Não quer mais ficar comigo, é isso? Enjoou de me comer? – era o álcool falando mais alto. – Tem outra na parada?

- Diana... – puxou meus braços e me olhou profundamente nos olhos – Não é nada disso. Você é espetacular. Eu jamais enjoaria de você. O problema sou eu. Eu não estou preparado para assumir o que você quer agora... agora não dá para mim... se quiser um lance informal, como a gente tava levando... tudo bem... mas eu não sou o cara para você, entende?

Ele estava sendo sincero de verdade? Agarrei ele e o beijei na varanda. O beijo já não era o mesmo.

- Já sei. É a regra do jogo. Eu me rendo. Tudo bem. Um lance informal? É isso que você quer?

- É o que dá para ser... topa?

- Acho que não vale a pena. Deixa quieto, gato. – virei as costas com cara de durona e fiz o teste da regra do jogo.

Cruzei a sala disfarçadamente, peguei minha bolsa e saí sem que as meninas percebessem. Chamei o elevador e, quando a porta já ia se fechar, ouvi uma voz. Era William que chegava desesperado.

- Retiro tudo que eu falei.

A porta do elevador se fechou e ele me deu um daqueles beijos de tirar o fôlego, me empurrou contra a parede e nos atracamos no elevador. Não é que essa tal de regra do jogo tinha funcionado mesmo?! Se eu tivesse entendido isso mais rápido, não tinha sofrido tanto. Do elevador seguimos para a casa dele e, daí, o final você já sabe.
Confesso que ele não é o meu ‘algo mais’, mas é o que tem para hoje. E, se com ele tem que ser assim, custa nada arriscar.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ CONCORDA COM ESSA REGRA DO JOGO? ACHA QUE ELA REALMENTE EXISTE? JÁ FEZ O TESTE? PARA OS HOMENS: É ASSIM MESMO QUE FUNCIONA? QUANTO MAIS DIFÍCIL MELHOR?

6 comentários:

Elisabele Oliveira disse...

Amooo esse textos...

;)

Anônimo disse...

Nossa, aconteceu exatamente isso comigo. Sim, a regra do jogo funciona, mas infelizmente eu não sabida disso.
Meu gato evaporou .. =(

Mirella G disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKK .. Fico aqui só imaginando esse cara !! Are baba.. Bom, pelo menos agora vbc já sabe a real, pq nao tem nada pior do q nao ter nem idéia do q o gato ta pensando e querendo no final das contas, quando comecei a ficar com meu namorado ele tb disse isso.. não quero namorar nao to preparado etc etc etc, mas o tesão rolava solto e o sexo uma delicia. Deixei rolar, sem pressão, até q um dia ELE quis algo mais serio, era oq eu mais queria tb, mas nao forcei a barra e aconteceu espontaneamente pela parte dele.. a vida é assim .. quando agente menos espera as coisas acontecem! Amei o textooo !! agurdando os proximos !!

Anônimo disse...

Essa regra existe mesmo, mas é bem machista! Quer dizer que se você ceder e revelar o que quer, deixa de ser atraente? E se posteriormente rolar "algo mais"? Você vai ficar fazendo joguinhos de gato e rato, sem ter uma coisa mais profunda com a pessoa.

Isa disse...

Sim, para os homens as mais difíceis tem mais valor. Ñ da p entender o pq, mais deve ser p alimentar o ego deles. E já q eles preferem assim, vamos deixar q eles corra atrás! Rsrsrs Bju!

Deinha disse...

È dificil só quem passa por isso sabe estou saindo com um cara que é medico trabalha muito faz plantão a gente se vê uma vez por mes, tem hora que acho que ele me coloca na reserva sempre me manda msg de estou com saudades mas nao comparece, não sei se falo com ele abro o jogo do que estou sentindo ou fico na minha e vou levando. Me ajudem!