terça-feira, maio 01, 2012

SANTAS CASAMENTEIRAS


POR LETÍCIA VIDICA

- Diana, tá tudo bem, filha? – perguntava minha mãe em tom professoral e um quê de Sherlock Holmes em pleno almoço de domingo com a família. Senti que tinha um cheiro estranho no ar.

- Eu estou ótima, mãe. – respondi secamente e coloquei a macarronada guela abaixo para evitar mais comentários. - Tem tido alguma notícia do Pedro? Do Pierre? – perguntava meu pai.

Alguma coisa estava errada. Meu pai nunca pareceu se interessar muito pelos meus relacionamentos e por que da curiosidade?

- A mana deu sumiço nos caras, né, paizão!!! – declarava o intrometido do meu irmão que chegava atrasado para o almoço e já ia sentando na mesa e querendo pegar a janelinha do bonde.

- Filha, você não acha que esse seu jeito assim... assim... meio independente ... dona de si... assusta os homens? Eles tem medo de mulher assim...estou falando isso porque no meu tempo...

Enquanto o meu pai desatou a falar do tempo dele, eu tentava não morrer sufocada com o refrigerante que tinha engasgado na minha garganta depois do comentário dele. Para o mundo que eu quero descer, ou melhor, eu quero fugir! Então quer dizer que agora a culpa de eu estar sozinha e dos homens se afastarem de mim é minha?

- Agora eu estou entendendo vocês. Quer dizer então que estão me chamando de encalhada e que a culpa é minha pelas cachorradas do Pierre e pelo sumiço do Pedro?

- Calma, Diana. Não é isso. A gente só quis dizer que ... vai ver você anda durona demais né? O que o Pierre fez não tem perdão, mas se você tivesse sido mais flexível com ele... o Pedro é um anjo... e mesmo assim desapareceu... – desabafava a minha mãe.

Resolvi me calar porque seu eu respondesse o que eu estava pensando ia fazer não só todos engasgarem como eu perderia minha família inteira. Depois do almoço, enquanto ajudava minha mãe com as louças, achando que o pior já tinha passado, fui bombardeada novamente...

- Filha, lembra da Marilda, aquela minha amiga do clube de costura?

- Marilda? Aquela que tinha a verruga no nariz? Sei...

- Encontrei com ela no supermercado outro dia e ela estava com o filho dela...lembra dele?

- Aquele menino chato que vinha aqui em casa e quebrava minhas bonecas?

- O João Eduardo. Esse mesmo. Tá um moço lindo. Você precisa ver. Formado, advogado e sem namorada viu? - Que sorte a dele né, mãe?

- Claro que eu falei de você para ele né? Daí, ele pediu para você adicionar ele nessa coisa aí na internet que vocês se falam...

Quase quebrei um prato. A minha mãe estava bancando a santa casamenteira e, ainda por cima, estava moderna. Não tem coisa pior no mundo do que os outros te ajudando a te desencalhar e te indicando namoradinhos. Pior ainda se o santo for a sua mãe.

- Mae, eu agradeço, mas eu estou bem ok? Não se preocupe e, por favor, para de fazer promessas e de empurrar para os filhinhos das suas amigas caquéticas.

- Ai, Diana, eu só quis ajudar. – dizia minha mãe bancando a dramática.


- Ai, Diana, como você é insensível!! A sua mãe só queria te ajudar. Precisava ser tão grossa assim? – essa era Lili que defendia a minha pobre mãezinha da minha ofensa.

- O problema não é me ajudar... é me empurrar! – eu relatava (puta) para as minhas amigas a pressão que eu tinha sofrido pela minha família no almoço da semana anterior.

- Mas e aí o bonitão te adicionou no Facebook? – perguntava Betina.

- Não só me adicionou como não para de me mandar mensagens e agora deu para querer marcar um encontro...eu??? sair com o destruidor de bonecas??? NUNCA!!!

Betina e Lili começaram a rir do meu desespero mas, de repente, também se olharam desesperadas quando fomos interrompidas por um homem, até então desconhecido para mim, que chegava esbaforido, tirando o casaco e sentando na nossa mesa pedindo desculpas pelo atraso. Atraso de que? Ou de quem? Alguém pode me atualizar?

- Oi, Sérgio, tudo – tudo bem? – dizia Betina um pouco trêmula e suspeita.

– Essa é a Diana... – terminava a frase apontando para mim e entonando o meu nome como se ele já tivesse sido dito anteriormente àquele desconhecido.

- Diana, muito prazer e mil desculpas pelo meu atraso.

- Que isso! Eu estou até surpresa... você está no lucro. Eu nem sabia que você viria. Então não se atrasou, né, meninas? – eu dizia desvencilhando as minhas mãos dos lábios molhados dele e fuzilando as meninas com meu olhar de ódio e já pressentindo que algo não cheirava bem por ali.

- Faço questão de pagar o meu atraso...garçom, por favor, uma bebida para as damas.

Enquanto o garçom trazia as bebidas, o tal do Sergio foi ao banheiro abrindo uma brecha para que eu matasse as minhas amigas.

- Alguém pode me explicar o que isso significa? Quem é esse Sergio?

As duas ficaram mudas e tomando coragem para ver quem me contaria primeiro. Ameacei ir embora e rapidamente desataram a falar.

- Diana, o Sergio é o meu novo assistente lá do escritório. Ele não é uma gracinha? Outro dia, ele comentou que estava sozinho e tals...e daí por que não apresentar para ele uma garota legal?

- E a garota legal sou eu???

- Digamos que sim. – dizia Betina com aquele tom de calmaria que sempre prenunciava a minha fúria.

- Vocês só podem estar loucas né? Eu estava agora mesmo me lamentando e declarando que eu odeio essa história de me empurrar, me indicar homem e vocês fazem o mesmo?! Eu não acredito. Isso é traição e das grandes. – bufei

- Calma, Diana. A idéia foi minha. A gente só queria ajudar... – confessava a cupido da Lili

– Você andava aí toda tristonha, mal amada... uma diversão não faz mal a ninguém né?

- E daí vocês armam na minhas costas?

Antes que eu ameaçasse ir embora, o tal do assistente voltou para a mesa. Nossas bebidas chegaram e a Betina e Lili tentaram amenizar o climão que eu tinha causado. O cara até que parecia legal, educado, inteligente... mas só de pensar no fato de que ele poderia achar que eu era uma encalhada que precisava das amigas para ajudar diminuía em zero as minhas pretensões com ele.

Ao final do encontro não programado, Sergio me ofereceu uma carona e, sob os olhares fuzilantes das minhas cúpidas, eu aceitei. Ao chegar na porta do meu prédio, educadamente, ofereci que ele subisse, ao contrário do que eu pensei, ele aceitou.

- A Dra. Betina fala muito da senhora... são bem amigas né? – dizia Sergio enquanto bebíamos uma cerveja na varanda.

- Não precisa ser tão formal comigo. Eu e a Betina somos muito amigas sim. Ela é minha amiga meio mãe sabe? E o que ela andou dizendo de mim para você? Pode dizer...segredinho nosso.

Eu estava doida para saber se eu tinha sido descrita como encalhada, mal amada e traída. Mas Sergio acabara de me confessar que minha lindíssima amiga só tinha exaltado as minhas melhores qualidades e nem tinha tocado no assunto sobre Pedro ou Pierre. Me senti tao culpada naquele momento...

- E você? Solteiro mesmo?

- É, entrei para o time dos solteiros recentemente. Fui casado por dez anos e sem mais nem menos ela simplesmente não me amava mais.

Éramos almas gêmeas. Duas almas abandonadas da noite para o dia. Acho que ouvi os sinos tocarem, mas logo eles silenciaram porque o Sergio começou a ter uma crise de choro na minha varanda. Desatou a falar da ex-mulher, dos seus sentimentos, da sua solidão e de todos os seus problemas... mais de duas horas ouvindo e ouvindo.

Quando a esmola é demais , o santo desconfia. O novo solteiro era um problemático que precisava de terapia, mas eu fiz publicidade. Inventei uma desculpa e, com muito custo, enxotei ele da minha varanda e da minha vida.

- Betina, eu mato você! – eu dizia enquanto Betina se divertia com a história.

– E você ri??? Homem bonito, inteligente e solteiro hoje em dia, se estiver disponível tem que ter algum problema. Eu sabia... Por isso que eu digo que eu odeio amor por QI. Sempre dá merda.

- Da próxima vez, prometo que vou me aprofundar melhor na vida sentimental dos meus assistentes. – ria Betina

- Não precisa se preocupar porque eu não vou mais aceitar os currículos que você anda me indicando, mocinha.

- E o destruidor de bonecas?

Quando eu ia contar sobre o filho da vizinha berruguenta, meu telefone tocou. Adivinha quem era? O destruidor de bonecas. Ele tinha conseguido o meu telefone com a minha querida mãezinha e confessava que estava de plantão na porta do meu prédio para me levar para jantar.


- E agora, Betina, o que eu faço? - Calma, Diana. Ele não deve mais destruir bonecas...

- O problema é se ele for destruidor de corações agora... - Só provando para crer amiga... E eu? Resolvi ver. Aceitei o convite para o jantar e embarquei em mais um casinho por QI. O que deu? Conto na próxima!


PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ SE DEU BEM EM ALGUM AMOR POR Q.I. OU GOSTA DE BANCAR A SANTA CASAMENTEIRA?

3 comentários:

Anônimo disse...

Nao é de estranhar se teu personagem acabar virando lésbica.

Anônimo disse...

Eu adoro as suas historias, lembro muito de qdo era solteira e saia com as amigas! Bjs

Ana Maria Cordeiro disse...

Gostei do blog, acho que muita gente se identifica. shuahusha as solteiras é claro.