quinta-feira, março 15, 2012

A VIAGEM

POR LETÍCIA VIDICA

- Diana, a gente tá a um passo da terra do sol, da salsa e do mojito e você fica com essa cara de velório? – dizia Lili em meio às suas trocentas malas cor de rosa para uma semana de viagem.

- Até eu que estava achando essa viagem um mico, estou animada!!! – dizia Betina, enquanto terminava de responder alguns e-mails de trabalho no seu Iphone.
Nem o apoio moral das minhas amigas inseparáveis que tinham preparado aquela viagem que, segundo elas, ia me tirar da fossa, nem o mar azul, a salsa e o mojito que eu encontraria em Cartagena das índias – o novo paraíso caribenho da América do Sul, como dizia Lili. Nada disso melhorava o meu astral. Tudo que eu queria era embarcar naquele voo para Londres que o alto falante anunciava e ir atrás do Pedro em busca de
uma satisfação.

- Desculpa, meninas. Acho que não é uma boa idéia eu ir viajar com vocês. Podem ir.
Eu não vou ser boa companhia. – eu dizia já cansada de esperar por aquele voo
atrasado há mais de 2 horas.

- Diana, você esqueceu que VOCÊ é o motivo dessa viagem?! – relembrava Betina.

Eu não só era o motivo da viagem como tinha feito minhas amigas pararem suas vidas para me acompanhar naquela viagem-jornada. A idéia tinha sido da Lili que convenceu a Betina a fechar o escritório por alguns dias (coisa rara de acontecer) e me imploraram para que eu pedisse alguns dias de folga do trabalho.

Tentei disfarçar o meu mau humor mas aquele dilema Pedro-Pierre avisou logo na porta de entrada do avião que me perseguiria a viagem toda. Durante as cerca de seis horas de voo, nada me fazia dispersar. Nem mesmo os comprimidos que tomei para dormir. Entre uma turbulência e outra a dupla dinâmica dava sinais de que estava ali enraizada em minha cabeça. Pedro tentava expulsar Pierre dizendo que já tinha conquistado seu espaço, mas Pierre relembrava que tinha chegado por lá primeiro e que ainda mandava no pedaço.



Chegamos ao novo paraíso caribenho sob um forte sol de quarenta graus. Partimos rumo ao albergue que a Lili tinha reservado e, que segundo a nossa guia da CVC, era um ótimo lugar para que eu conhecesse gente nova, gente do mundo inteiro e que cabia muito bem no bolso da Betina que tinha exigido não gastar muito dinheiro nessa viagem de última hora.

Logo na recepção, Lili foi logo se encantando com os dois belos rapazes que nos atenderam. Um moreno muy guapo com sorriso encantador de Deus de Ébano e um outro com lindos olhos azuis que depois apelidamos de Jesus Luz. Fomos levadas pelo Jesus até o nosso quarto e no caminho tive a impressão da rapidinha da Lili ter passado o número do telefone dela.

- Meninas, preparem-se porque o gato do Jesus já me passou o nome das melhores baladinhas do pedaço. Amanhã vamos cair na pista hein? – dizia Lili enquanto tomávamos um chope numa bela pracinha da cidade.

- Eu andei olhando também e acho que poderíamos ir numa ilha maravilhosa que vi num guia da cidade lá do albergue...- dizia Betina. – O que acham?

- Tem outra. Aposto!! – eu matava a charada sem ter prestado a mínima atenção no que minhas amigas tinham dito.

- Ahn? Outra balada? – perguntava Lili

- O Pedro. Aposto que ele tem outra. Esse papinho de que precisa de tempo, que eu preciso pensar e que ele tem que me entender?! História para boi dormir. – eu desabafava tomando o meu mojito num gole só.

- Diana, não pira!!! O Pedro não ia fazer uma cachorrada dessas. E olha que eu conheço bem os homens hein?

- Concordo com a Lili. Diana, tenta esquecer dele um pouco e pensar em você?

- Essa história tá muito estranha. Vai ver ele conheceu outra pessoa, ou melhor, aposto que tá ficando com aquela globeleza lá da Camila e resolveu me dar um pé na bunda de maneira sutil. Essa história de que eu preciso de um tempo para pensar e me resolver com o Pierre é balela!!!

- Diana, eu duvido que o Pedro faria isso. Para de se martirizar. Ele não te deu um tempo? Aproveita. Está mais do que na hora de sair dessa vidinha de Pedro e Pierre.

Talvez as minhas amigas estivessem certas, mas naquela noite nada me convenceria ainda de que eu estava pirando. Tanto é que, quando chegamos ao albergue, resolvi ficar mais um pouco na recepção. Não confessei às meninas que aquela era uma tática para dar uma espiadinha na internet em busca de algum recado do Pedro ou alguma pista do seu novo affair em Londres. Aproveitei que elas foram dormir e ataquei de Sherlock Holmes. O problema é que de detetive eu não tenho nada e nada foi o que eu também encontrei em todas as minhas redes sociais, e-mails e afins. Nenhuma mensagem ou sinal de fogo dele.

Poxa, faz três semanas que ele viajou e até agora eu nem sei, ao menos, se o avião caiu, se ele foi sequestrado em Londres ou se ele ainda sente falta de mim. Talvez ele esteja com as mãos um pouco ocupadas demais para me mandar alguma mensagem ou talvez eu esteja realmente pirando. Será que eu tô pirando? Antes que eu respondesse, fui surpreendida por um mojito feito pelo Deus de Ébano e tentei disfarçar limpando rapidamente as lágrimas teimosas que caíam dos meus olhos.

- Aposto que jamais tomará mojito melhor do que o meu. É minha especialidade. – dizia ele sentando-se ao meu lado no sofá da recepção. ((pausa: considere a tecla SAP em nossos diálogos))

- Obrigada. Não precisa se incomodar. – por mais lindo que ele fosse eu ainda estava preferindo a solidão ou uma resposta do Pedro do que um mojito na calada da noite, mas tive que aceitar porque seu rosto parecia de quem acharia minha negativa uma grande desfeita.

- E aí já conheceram a cidade?

- Ainda não. Fomos apenas até uma pracinha aqui próxima hoje à noite beber algo, mas parece ser realmente linda.

- Linda, romântica e caliente... – ele dizia olhando profundamente nos meus olhos.

- Claro, claro... não vai faltar oportunidade. – respondi ainda um pouco sem graça.
Percebi o quanto estou enferrujada para cantadas.

- Que tal agora?

- O quê?

- Vou adorar te mostrar a cidade.

- Mas agora?! Essa hora? Já está tarde. Não quero te atrapalhar... e as meninas...

- Relaxa, muchacha. A noite é uma criança. E se quer saber... Cartagena é ainda mais encantadora de madrugada. Ao menos, uma vez, faça uma loucura na vida.

Nossa, quem é esse homem? Algum amigo da Jane, minha terapeuta?! Só sei que deixei as lágrimas de lado e resolvi desbravar aquela cidadezinha. No caminho, Christian – esse era o nome dele – foi me contando cada detalhe daquele paraíso perdido na costa norte da Colômbia que tinha sido descoberto no século 16 pelos espanhóis e construída com o sangue e o suor da escravidão – motivo de orgulho para ele que carregava em seu sangue esse suor.

No meio do passeio, encontramos um amigo de Christian com sua carruagem costumeira de levar turistas para um city tour. Ele gentilmente nos emprestou seu ganha pão e segui encantada por aquele lugar ao lado daquele negro maravilhoso.

Cada ruazinha, cada beco respirava história. Christian sabia cada detalhe, cada segredo escondido naquelas casinhas coloridas, nas varandas com suas flores primaveras, nos bares que ainda estavam abertos tocando algo como salsa para corações machucados, nas pracinhas que ainda carregavam o perfume dos namorados até as muralhas que cercavam o centro da cidade e que ainda mantinha intactos os seus canhões que em outros tempos atacaram muitos navios piratas.

Permanecemos sentados nas muralhas e em silêncio por algum tempo. Olhando para aquele mar escuro e ouvindo a brisa e o barulho das ondas. Fiquei repensando na minha vida. E, naquele momento, a dupla Pedro-Pierre reapareceu em meus pensamentos, mas foram expulsos pela pergunta do Christian. Eu poderia ter aproveitado aquele lugar propício para bombardeá-los da minha mente.

- Por que estava chorando lá no albergue?

- Coração partido, digamos assim. – eu respondia ainda hipnotizada pela escuridão do
mar.

- E quem teria coragem de machucar o coração de uma moça tão especial? -dizia ele se aproximando mais de mim.

Não sei porque mas senti uma vontade arrebatadora de contar a minha história para ele. Era como se eu me sentisse na obrigação de retribuir aquela gentileza do passeio com algo tão valioso. Contei com mínimos detalhes a minha história com o Pierre – a confusão de sentimentos dele, a traição, a Olívia, o filho, o possível casamento, a nossa história mal resolvida, as investidas dele – e com o Pedro – a nossa amizade de maternidade, o sentimento nobre dele por mim, o carinho, o respeito, o afeto, o tempo, Londres e a minha insegurança.

- Eles não merecem suas lágrimas. Mas tenho que admitir que esse Pedro teve uma atitude nobre.

- Não vejo nada de nobre em me deixar sozinha. Eu não pedi tempo nenhum. Quem é ele para dizer que eu preciso de um tempo para me resolver?

- Talvez seja o cara que te ama de verdade. Eu não sei se teria coragem de abrir mão de uma jóia tão rara quanto você. Mas se ele não tivesse feito isso, eu não teria te conhecido...

Nos olhamos fixamente. Christian foi se aproximando de mim. Pegou nas minhas mãos, acariciou meu rosto e se preparava para me beijar, quando um raio de sol entrou nos meus olhos e me assustei que já estava amanhecendo.

- Meu Deus, já está amanhecendo... uau que por do sol lindo!!! – fiquei petrificada com a vista.

- Meu presente para você!

O beijo acabou não rolando, mas deixemos para depois. Senti que algo naquela noite tinha me mudado. Voltamos para o albergue com a carruagem do amigo do Christian. Nos despedimos na porta com um abraço apertado e prometi aceitar o convite dele de sair para dançar salsa na noite seguinte. Encontrei Lili e Betina acordadas e assustadas.

- Achei que as FARC tinham te sequestrado!!! – dizia Betina.

- Hummm. Tá com cara de quem aprontou hein? Pode contando tudo. – dizia Lili com seu faro infalível.

- Tive uma noite maravilhosa sim. Mas depois eu conto tudo. Vou tomar um banho senão a gente vai perder o passeio para as ilhas. Só quero dizer uma coisa: esse lugar é o paraíso e eu quero piriguetar muitooooo...

Saí dançando feito uma adolescente do quarto e as duas ficaram me olhando com cara de quem não tinham entendido nada...

CONTINUA...


ADQUIRA JÁ O LIVRO "MULHERES SOLTEIRAS NÃO SÃO DE MARTE" (EDITORA UNIVERSO DOS LIVROS) E CURTA AS AVENTURAS DE DIANA, LILI E BETINA.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa que show, eu bem que queria poder fazer uma bela viagem pra aliviar o coração apertado.

je disse...

queria amigas assim...