terça-feira, janeiro 17, 2012

VALE NIGHT



Por Letícia Vidica

- Oi, Di, tudo bem? Como foi seu dia?

- Oi, Pê, nossa que animação!!! O que aconteceu? - fui logo estanhando a ligação dele quase onze horas da noite daquela sexta-feira. Alguma coisa ele queria. Bem conheço os homens!!

- Você vai ficar chateada se eu não for para São Paulo esse final de semana? – dizia ele como uma criança que faz manha para a mãe perguntando se ela não ficaria chateada se ele faltasse à escola no dia da prova de matemática.

Eu sabia que vinha bomba. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Ficar chateada? Eu? Magina... só porque eu saí do trabalho depois de uma reunião fudida, passei no supermercado e usei o limite do limite do meu cartão de crédito comprando quitutes e gostosuras para o nosso final de semana, mas você só me avisou que não vem agora??? Chateada? Bobagem!!! *+#@#$

- É que vai ser a despedida do Rafa... lembra do Rafa?


Não, eu não sei quem é o Rafa, tenho raiva de quem conhece o Rafa e agora eu já odeio o Rafa!!!


- Diana? Diana? Tá na linha? - eu tinha paralisado para digerir melhor - Então, ele vai para Londres e o pessoal vai sair. Só os homens. Tipo clube do Bolinha, sabe? – é aí que mora o perigo. - Faz tanto tempo que eu não saio com eles... tem algum problema?

- Problema? Não. Nenhum. Que isso...vai lá. Aproveite. - incrível como nós, mulheres, temos esse terrível dom da ironia. Por que, na hora da fúria, a gente só consegue dizer mensagens motivacionais positivas???!!!

- Aproveita e sai com as meninas também. Vou te dar uma folguinha... – nossa, muito obrigada pela sua gratidão e pelo prêmio de consolação.

- Ah é... a Betina tinha até me ligado me chamando para sair. Acho que vou aceitar.

Mentira, claro!!! Eu não tinha nenhuma proposta para sair, mas como os meus planos foram por água abaixo, tive que apelar para uma mentirinha. Claro que desliguei o telefone putíssima e joguei todas as sacolas do supermercado em cima da mesa enfurecida. A vida é mesmo engraçada né? Outro dia, eu reclamava porque ia ter mais um final de semana sozinha e agora estou reclamando que vou ter um final de semana sozinha?!

***

- Oi, divas!!! Nem tô acreditando que a gente vai sair juntas... que saudades!! Trouxe até uma bebidinha para um esquenta... - essa empolgada era a Lili que chegava em casa animadíssima para a balada.

- Oi, Lili!!! Gente, tem certeza que querem sair? Tá me batando um soninho... Acho que tô meio enferrujada. - eram 23 horas de sábado e eu queria mais era a minha cama.

- Pode jogar essa preguiça para lá e vamos cair na night. Consegui aquelas entradinhas vips na balada do meu amigo e com direito a camarote hein? - dizia Lili.

- Diana, dá para mudar essa cara? E vê se para de pensar no Pedro...

- Quem disse que eu tô pensando no Pedro, Betina?! - tentei disfarçar.

- E precisa dizer?! Aproveita o seu vale night!!!

****

Depois da saga do estacionamento, da fila enorme e de aguentar as cantadas e assovios dos caras para gente, entramos na tal balada. O lugar era lindo, a música era ótima, tinha uns caras lindos, mas eu me sentia um peixe fora d'água. Só pensava no Pedro, onde estaria o Pedro, no que o Pedro estaria fazendo...eu trocaria tudo aquilo para estar em casa com o Pedro vendo filme e comendo pipoca.

- Poxa, o Pedro nem me ligou hoje. - eu desabafava e conferia mais uma vez a minha caixa de mensagens.

- Dá para esquecer o Pedro essa noite, gata? Ele deve estar curtindo com os amigos...curte também. Vou pegar uma bebidinha para gente... - disse Lili.

- Diana, relaxa!!! O Pedro sabe o que faz...

- Ai, Bê, eu não consigo me desligar. É estranho. Eu adorava uma baladinha, mas agora daria tudo para ficar com ele. Aposto que ele está em algum baile funk dançando com alguma mulher fruta...

- Diana, não pira!! Aproveita a noite. Afinal não é sempre que você tem uma folguinha né?

A Betina estava certa. Duvido que o Pedro esteja pensando em mim agora. Então não vou pensar nele. Resolvi então curtir a noite. E para relaxar um saquêzinho sempre vai bem. Acho que depois de 1, 2, 3...eu relaxei. Caímos na pista para dançar.

- Uhuuuuu!!!! É isso aí!!! - gritava Lili despirocada. Já tinha até esquecido que a minha amiga costumava ser escandalosa na balada e, principalmente, quando bebe. - Diiiiiiiiii... olha quem chegou... o gato do Murilo.

Lili me puxou pela mão e me arrastou até o gato do Murilo. O gato do Murilo é amigo do Luis Otávio. Sempre paguei um pau para ele, mas ele nunca me deu bola.

- Oi, MUUUUUUU - gritava Lili trêbada.

- Oi, Lili, doçura... tá fazendo o quê perdida aqui?

- A Diana tá alforriada essa noite... estamos aproveitando. Eu já venho... – saiu correndo, para variar. Por que a Lili adora correr na balada?

Ela me deixou com cara de pamonha com o gato do Murilo. Engraçado que nem achei ele tão gato assim?

- Tá sozinha?

- Ahn? Não, tô namorando... - eu gritava no ouvido dele tentando me comunicar, mas o som impedia.

- Não. Aqui?

- O quê? Não tô ouvindo...

Murilo pegou nas minhas mãos e saiu me arrastando até o fumódromo, onde era possível conversar sem gritar.

- A Lili não muda mesmo né? A mesma piradinha de sempre. E você? Tá namorando então? - perguntou Murilo com olhar 43. – Continua com o Zé Mané do Pierre?

- Não. – ri – A fila anda né.

- Poxa, já tem outro? Nem deixou me candidatar, gata? E cadê ele?

- Saiu com os amigos hoje.

- E deixou a gatinha sozinha? Se fosse minha namorada, eu não deixava assim dando bobeira não. Se precisar de companhia, estamos aí hein... – dizia ele me dando um abraço cheio de intenções.

Engraçado como eu desejei que o Murilo fosse a minha companhia algumas noites mas, naquele momento, eu queria mais que ele sumisse da minha frente. Não tinha reparado que ele era grudento, chato e tinha xaveco barato?!

- Oi, Diana, achei que tinha ido embora!!!

Graças a Deus, Betina apareceu (como sempre) para me salvar. Inventei que ia ao banheiro e desbaratinei o Don Juan de quinta.

- Rolou algo com o Murilo?

- Que nada. O cara é um babaca. E pensar que eu quis um dia ficar com ele...

- Olha, o Pedro te laçou mesmo hein?

- Ai, Bê...sei lá...mas eu não tô vendo a menor graça nessa balada... e o pior é que eu tô aqui quase infartando querendo saber onde ele está e nem um sinal de fogo... ele não me ligou o dia todo... será que ele arrumou alguma funkeira e esqueceu de mim?

- Diana, hello! Menos ok? É só um final de semana e é muito saudável esses momentos livres sabia? Tô começando a achar que você já não se diverte mais com suas amigas né?

- Não é isso, Betina...

Ou era? O que estava acontecendo comigo? Eu tinha um final de semana todinho só para mim e para as minhas amigas, uma baladinha nova cheia de gatos e eu não consegui achar graça em nada?! Só posso estar doente.

****

- Gente, vocês não vão acreditar... – era Lili que tinha reaparecido – beijei um cara gatooooo...muito gatooooo!!!! E aí pegou o Murilo???

- Tá louca?

- Tá perdendo tempo isso sim. Ele é muito bom de cama.

- Como você sabe? – perguntei.

- Acha que eu nunca provei da fruta? – desabafava Lili.

- Lili, acho que tá na hora de ir para casa né? – era Betina que pressentia que Lili já estava azedando.

- Casa? Agora? Nunca. Eu quero mais é curtir.

Lili ameaçou ir para a pista, mas tropeçou e caiu como merda no chão. Era sempre assim. Ela bebia e quem pagava o mico de levá-la carregada para o carro éramos eu e Betina. E foi o que fizemos. Levamos Lili para o meu apartamento e ela desabou no sofá.

- Melhor agora? – perguntava Betina enquanto fumava na sacada.

- Desculpa, Bê, eu fui uma chata né? – eu disse abraçando Betina como quem abraça um bichinho de pelúcia.

- Tô acostumada com a sua chatice. – zombava ela.

- Ah sei lá. Estou mal acostumada. O Pedro tá sempre comigo e hoje foi estranho essa tal liberdade que ele me deu.

- Posso saber o que estão fofocando? – era Lili que tinha acordado e apareceu na sacada.

- Passou o efeito da cachaça? –perguntava Betina.

- Tô pronta pra outra... E aí, Di, beijou o Murilo?

- Ah Lili, o cara é um babaca. E pensar que eu quis ficar com ele um dia? Xavequeiro falso. Além do mais, não tô afim de pegar baba sua...

- Ah mas de boca fechada ele manda bem ... – desabafava Lili.

Caímos na gargalhada e mal percebemos o dia clarear. Ficamos jogando conversa fora e colocando o papo em dia. Nem me lembrei do Pedro naquele momento e percebi o quanto é bom ter essas folguinhas com minhas amigas. Adormecemos sem perceber. Betina capotou na cadeira da sacada. A Lili se jogou no sofá e eu acordei com o celular vibrando e percebi que estava no tapete.

Quando olhei o visor percebi que era uma mensagem do Pedro me desejando bom dia e dizendo que estava com saudades. Fiquei olhando para a mensagem por alguns minutos, mas resolvi não responder. Afinal, o meu vale night ainda não tinha acabado e eu estava adorando a companhia das minhas amigas na minha alforria. Já que não aproveitei a noite, nada mal aproveitar o ‘vale dia’ né?

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ É A FAVOR OU CONTRA AO 'VALE NIGHT'? COSTUMA DAR UM 'VALE NIGHT' PARA SEU(A) NAMORADO(A)?

4 comentários:

jeane disse...

nao confio em vale-night....

Anônimo disse...

Nem eu...

Adriana Vieira disse...

Eu sou adepta... kkkkk

Adriana Vieira disse...

Eu sou adepta... kkkkk