terça-feira, janeiro 24, 2012

O QUE É O AMOR?



POR LETÍCIA VIDICA

- Nossa, mãe, para quê tanto nervoso? Parece até que nunca casou... - para variar, eu brigava com a minha mãe ao vê-la parecendo uma virgem que vai se casar pela primeira vez. Era a boda de prata dos meus pais e eu e a Marisa (minha irmã) ajudávamos minha mãe a se trocar no camarim da igreja.

- Ai, filha! É como eu me sinto. Como se tivesse casando com seu pai pela primeira vez mesmo. - suspirava minha mãe - Será que ele já chegou?

- Calma, mãe, a noiva aqui é a senhora. A senhora tem o direito de se atrasar. Papai deve estar lá fora. - acalmava Marisa.

- Nossa, nem parece que nossa história de amor nasceu há 25 anos, ou melhor. há quase 30 né? - suspirava minha mãe pela quinquagésima vez e sempre suspirava quando falava do papai. - E o melhor de tudo é que eu o amo cada dia mais...

- Ai, que lindo, mãe! Queria tanto que fosse assim entre eu e o Arnaldo... - dizia Marisa, enxugando uma lágrima teimosa que insistia em cair do olhos dela anunciando que o casamento dela talvez nem completasse as bodas de plástico.

Enquanto minha mãe me abraçava, fiquei pensando se um dia eu sentiria o mesmo que minha mãe sente pelo meu pai. Amor. Isso sim é amor. Será que vou amar um único homem um dia por tantos anos? Será que eu já amei? Ou será que nem sei o que é o amor? O que eu sentia pelo Pedro? E o que eu senti (ou sinto) pelo Pierre? Amei algum dos dois? Fiquei delirando nessas e em outras questões enquanto assistia á cerimônia das bodas no altar.

***

- Será que um dia vai ser a nossa vez, Di? - perguntava Pedro na festa, depois da cerimônia.

O que eu ia responder se ao menos sei o que sinto por ele. Será que é paixão suficiente para durar tantos anos? Ou será amor que vai se eternizar e um dia seremos nós? Mas eu quero que seja nós? Quero que seja com ele?


- Calma, apressadinho! Tudo no seu tempo - saí pela culatra.

- Você sempre desliza, né? Mas eu ainda te pego viu? - Pedro me deu um selinho e foi socializar com os outros homens da festa. Resolvi então dar uma fugidinha para a mesa das luluzinhas.

- Parabéns pelos seus pais, Diana - dizia Lili - Chorei tanto na cerimônia. Acho lindo o amor verdadeiro sabe? Quando forem as minhas bodas com o Tavinho quero que seja assim.

- Não me faça rir, Lili. - ironizava Betina - O dia que você completar 25 dias sem terminar com o Luis Otávio já se sinta vitoriosa...

- Pode zoar, Betina, eu não ligo. Eu amo o Luis Otávio e ficaremos juntos sim - batia o pé a insistente da bela adormecida.

- E você sabe o que é amor, Lili?! - senti que o circo ia começar a pegar fogo - O que você sente pelo canalha do Otávio é qualquer coisa menos amor.

- E você sabe, por um acaso? Vive aí sozinha, mal amada... - irritou-se Lili

- Calma, meninas. Não é hora para lavar roupa suja né? - eu tentava amenizar.

- Oi, meninas, posso sentar aqui? - era Marisa que chegava na mesa.

- Senta'í, mana. As meninas estão aqui se atracando para descobrir quem já amou e quem não amou...a Betina ia começar a aulinha dela...

- Que ótimo. Estou mesmo precisando ouvir isso... Eu já nem sei mais o que eu sinto pelo Arnaldo. Ainda não superei a traição. - dizia Marisa se rendendo a um copo de cerveja servido pelo garçom.

- Então, sabichona, você já amou? - alfinetava Lili.

- Já amei sim. Amei e muito...

Betina começou a nos contar que seu ex-noivo foi o grande amor da vida dela. No melhor momento da história, fomos interrompidas por um convidado ilustre da festa. Meu coração parou ou acelerou ou sambou quando vi o Pierre chegando na festa.

- O que o Pierre tá fazendo aqui? - perguntei abismada.

- Calma, Diana. A mamãe não queria que eu te contasse, mas foi ela quem convidou ele.

- Como assim?! A mamãe não tinha o direito de convidar o Pierre sem me contar...ele não tem nada para fazer aqui... eu vou lá falar com ele!!

- Diana, segura a onda.

Dessa vez, ignorei o conselho da Betina e saí como um furacão em direção ao Pierre.

- Oi, Diana, tudo bem?

- O que você tá fazendo aqui?

- A sua mãe me convidou. Ela não te falou nada? Eu não queria vir, mas ela insistiu...

- Falou e disse. Não tinha que vir.

- Te incomodo?

É óbvio que você me incomoda. Que belo dia para ficar entre o ex e o atual. Eu não tava afim de bancar a Dona Flor logo naquela noite em que eu estava me questionando quem eu amei e por quem eu me apaixonei. Mas esqueci que o destino adora me pregar peças né? Antes que eu respondesse ao Pierre, o Pedro se aproximou de mim.


- Tudo bem por aqui, gata? - disse ele me abraçando por trás e marcando território - Oi, Pierre, tudo bem?

Para minha surpresa, os dois se cumprimentaram como dois velhos amigos. Marisa sentindo a temperatura tratou de levar o Pierre para cumprimentar os meus pais.

- Você sabia que o Pierre viria? - perguntei ao Pedro.

- Sabia sim. Sua mãe me consultou antes...

- Que ótimo! Eu fui a única trouxa que não sabia de nada né? E o que você disse para ela?

- Eu disse que tudo bem. O Pierre não me incomoda. Afinal, sou eu que estou com o tesouro...

- Tô falando sério, Pedro. Fez muito mal. - eu disse soltando fogo pelas ventas e me desvencilhando do abraço do Pedro.

- Eu também estou falando sério. O Pierre não me incomoda, mas acho que ele incomoda você. E muito.

Pedro virou as costas e me deixou no vácuo pensativa com as suas frases de efeito. Odeio quando ele faz isso. E ele sempre faz isso. Insinua e deixa uma indireta no ar. Espumante. Só um espumante e uma chacoalhada na pista me fariam desestressar. Porém, nem 3 taças de espumante me fizeram relaxar. Eu estava muito, mas muito, muito puta mesmo e eu não podia falar nada para minha mãe. Afinal, a noite era dela e eu não tinha o direito de estragar tudo. Mas depois da lua de mel de bodas ela vai me ouvir. Oh se vai!!! Resolvi voltar para a mesa das meninas e me surpreendi ao ver o Pierre sentado na mesa delas.

- Senta'í, Diana. - dizia Betina com olhar de quem me diz 'segura sua onda e não desce do salto, nega'.

Eu não segurei a onda, desci do salto, mas sentei na mesa.

- Viram o Pedro por aí? - perguntei tentando disfarçar a minha vontade de expulsar o Pierre da festa.

- Acho que ele foi buscar mais bebida com o seu irmão... - dizia Betina.

- E aí, Pierre, quando nasce o filhão? - perguntou a sem-noção da Lili, loura burra, tocando no último assunto que eu queria tocar naquela mesa.

- Ah... é uma menina. Nasce daqui dois meses. - respondeu Pierre sem graça e não sei por quê olhando para mim.

- Menina? Que bacana! E qual vai ser o nome?


O que eu faço para a Lili calar a boca hein? Não é possível! Será que ela esqueceu que o Pierre fez o bebê enquanto ainda namorava comigo ?!


- Lili, para de ser curiosa... - recriminava Betina.

- Ai, gente...desculpe, Pierre, é que eu adoro crianças, sabe... - insistia Lili.

- Não, tudo bem. Dá uma licença, meninas, eu vou pegar uma cerveja ali... - Pierre saiu pela culatra, mas dessa vez eu nem liguei. Achei ótimo.

- Lili, eu vou dar um tapa na sua cara se você não calar essa boca... - eu dizia.

- Nossa, Diana, quanta ignorância. Eu não quis ofender. Afinal, você não tá com o Pedro? Não está superado?

- É, Diana, segura a onda ou , pelo menos, tenta né?

Será que todo mundo só sabe me dizer isso? Segura a onda? Espera um pouquinho. A festa é dos meus pais, o Pierre não é mais o meu namorado, ele vai ter um filho com a sirigaita que ele traçou quando estava comigo e eu não posso ficar puta? Tenho que segurar a onda? Me poupe né? Para não estragar ainda mais a festa das meninas, resolvi ir respirar no jardim do salão. Um pouco de ar puro podia me ajudar a resolver, mas o problema só estava começando.


- Até que enfim eu te achei hein...te procurei o salão todo. Tá fazendo o quê aqui sozinha? - era o Pedro.

- Só vim respirar um pouco. Tá muito quente lá dentro. - disfarcei. Eu não queria que o Pedro percebesse o quanto eu estava incomodada com o Pierre, mas ele percebeu.

- É o Pierre né? Eu sei. Desde que ele chegou na festa você está assim. Eu sei que ele te incomoda ainda.

- Não, não é isso. Já até esqueci que o Pierre está na festa. - mentira! Era impossível esquecer.

- Não precisa mais mentir para mim, Diana. Tudo bem. Você está certa. Acho que talvez você precise de um tempo mesmo...

Que papo estranho é esse?

- ... tenho pensado muito nisso. Eu te pressionei. Nem te dei tempo para esquecer o Pierre e já fui entrando na sua vida. Acho que você tem direito a esse tempo. Não é justo eu te pressionar assim...

Onde você quer chegar com esse papo, Pedro?

- ... acho que é melhor a gente dar um tempo.

- O quê? - infartei. Isso era tudo que eu não queria ouvir naquele momento. - Você tá brincando, né, Pedro?

- Não. Eu não estou brincando. Estou falando isso numa boa. Pense um pouco. Eu vou te esperar. Sempre. - dizia ele pegando nas minhas mãos.

- Não, não, Pedro. Você entendeu tudo errado. - eu suplicava desesperada. - Não é isso. Ai, meu Deus , por que eu sempre complico as coisas?! Não me deixa sozinha. - nesse momento, as lágrimas já caíam dos meus olhos.

- Vai te fazer bem, Diana. Você precisa desse tempo. Você ainda gosta do Pierre, eu sei.

- Não, NÃO!!! - acho que gritei. - Eu não gosto mais dele.

- Tá, tá... você pode até não gostar mais dele, mas de mim você ainda não gosta...

- Pedro, o que deu em você? Que papo é esse? Eu estou com você porque eu quero estar. Eu escolhi você. - eu disse abraçando ele.

- Diana, você não teve escolha. Eu fui o primeiro ombro que te ofereceram para chorar... eu te amo, você sabe disso. Mas eu não quero ser a sua muleta e também não acho justo te forçar a ter um sentimento por mim que talvez você não tenha ainda. Isso não é culpa sua. Eu não estou bravo com você... para de chorar... - ele levantava meu rosto já melado de tanta lágrima e borrado de maquiagem.

- Sai daqui, Pedro. Vai embora. Pode ir. Me deixa sozinha... - fiquei puta de tanto inconformismo. Por que os homens tem o dom de complicar quando tudo já está tão complicado?

- Não vou te deixar aqui assim. Eu te levo para casa.

- Me solta. Sai daqui. Chama a Betina - eu dizia feito um bebê chorão.

Pedro me deu um beijo na testa. Acho que sussurrrou algo como 'mande notícias ou acho que foi vou te esperar ou vai ficar tudo bem, sei lá'. Só sei que quando fui resgatada pela Betina, eu estava enterrada entre as plantas do jardim, chorando como um bebê.

- Me tira daqui. Me leva para casa. - eu sussurrei.

- Vamos. Eu levo você. Vai ficar tudo bem. - Betina me abraçou e depois saímos sem ninguém ver.

Será que vai ficar tudo bem mesmo? Mais uma vez, a vida foi uma comediante comigo. Nada mais do que tragicomédia do que me questionar sobre os meus sentimentos no dia das bodas de prata dos meus pais, sendo surpreendida pelo meu ex namorado e recriminada por todos porque não queria que aquele filho da puta traidor que eu tanto...tanto...amo, eu acho, estivesse naquela festa. Daí, termino perdendo o meu chão, o meu protetor, o meu amigo amado que me faz tanto bem, mas que não sei se amo, se admiro ou se realmente me apoio apenas. Ai, meu Deus, será que vai ficar tudo bem?


... Continua


PAPO DE CALCINHA: Você já amou alguém? Para você, qual a diferença entre AMOR E PAIXÃO?

3 comentários:

jeane disse...

haim, menina. to em colicas pela continuaçao....

jeane disse...

aos trancos e barrancos sempre fica tudo bem....

Adriana Sipriano disse...

Olá!
quero ler a continuação!!
Li o teu livro "mulheres solteiras não são de marte" no fim de semana passada, adoreiii
e me diverti muito!
parabéns pelo trabalho
mostra nossas dores do dia a dia de forma leve e descontraida.
Afinal, todo problema tem solução, e dor de amor também!!
Sucesso e felicidades!!
Adriana Sipriano