terça-feira, outubro 18, 2011

PLANO B



Por Letícia Vidica


- Nossa, Lili, que demora! Quem era no telefone? – eu perguntava curiosa para minha amiga que tinha saído da mesa para atender a uma chamada no celular do lado de fora do bar do Pedrão, deixando eu e Betina curiosíssimas (claro!).

- Vocês não vão acreditar...era o Rômulo! – respondia Lili com brilho nos olhos.

- Rômulo? Quem é esse? – perguntávamos tentando puxar do fundo de nossa memória qual dos rolos da Lili seria esse Rômulo.

- Aquele que eu conheci lá na praia, lembra?

- Ah o casado que prometeu que ia separar da mulher? – dizia a memória da Betina que tinha funcionado melhor do que a minha.

- Ué, você não tinha voltado com o Luis Otávio? – perguntei ainda um pouco perdida na história.

- Ai, meninas, o Luis Otávio me deu mais um bolo esse final de semana. Então, vamos partir para o plano B né?

- Plano B de quem, Lili? Só você não se tocou que VOCÊ é que é o plano B desse tal de Rômulo. Não só dele como de todos os caras que você se envolve né? – precisa dizer que era a Betina falando?

- Tá, tá, Betina. Agora eu não tô afim de sermão ok? Olha, meninas, eu vou ter que ir para casa porque o Rômulo vai passar lá em uma hora. Beijinhos. – disse Lili dando um último gole na cerveja e saindo rapidamente pela culatra.

- Ah se ele desistir, estaremos aqui hein? – ironizava Betina rindo e tomando um gole de chope ao ver Lili sair desesperada.

- A Lili não tem jeito né? Eu não entendo. Ela é tão bonita, tem tudo para ter um cara legal, mas fica aí se sujeitando a cada coisa.

- Diana, não adianta falar. Você viu. Eu tentei, lavo minhas mãos. Mas prepare-se porque vai ser no nosso ombro que ela vai vir chorar hein? Enquanto isso, vamos beber... Garçom!

***
Irritada e, entre várias olhadas no relógio do meu celular (porque o meu ginecologista estava com a minha consulta atrasada em mais de uma hora e eu não sabia mais qual desculpa dar no meu trabalho pelo meu atraso), fui surpreendida enquanto lia uma daquelas matérias de leitoras sobre suas histórias picantes de sexo (tentando esconder a revista para que ninguém percebesse que eu lia ’10 POSIÇÕES QUE VÃO ENLOUQUECER SEU HOMEM’), vi que quem saía de dentro do consultório do meu médico era uma mulher de rosto familiar. Tentando puxar na memória, levei um susto ao ver que o doutor me chamava, mas entrei na sala ainda encucada com a tal mulher.

- Doutor, acho que conheço aquela sua paciente... – eu disse enquanto ele olhava o meu prontuário.

- Quem? A Dona Olívia? – respondeu ele em tom natural, como quem diz, ‘como você não conhece a Dona Olívia?’

- Olívia, Olívia... Claro, Olívia! – repentinamente me lembrei que aquela moça era a ex-namorada do Pierre. Aquela que ele namorou enquanto estivemos separados.

- Doze semanas. É minha paciente antiga. – continuou o doutor.

- Doze semanas?! – o que isso significa?!

- É, ela está grávida. Uma gravidez perfeita. Inclusive, amanhã ela estará aqui com o pai da criança...acho que é ... Pierre o nome dele...ele sempre acompanha ela nos ultrassons...acho isso super importante. – respondia o médico babão emocionado com a responsabilidade do papai Pierre.

Nesse instante meu coração parou. Como assim a Olívia estava grávida? Como assim o Pierre é o pai da criança? Como assim 12 semanas? ‘Peraí, então ele já sabia que ia ser pai e não me contou nada? E como assim ele já sabia que ia ser pai, não me contou nada e ainda queria voltar comigo? Ah mas eu vou tirar essa história bem a limpo viu!

Nem sei como a consulta terminou. Só sei que fui para casa com pensamentos fuzilando minha cabeça. Eu me sentia uma tremenda tonta ao (quase) acreditar que o Pierre tinha mudado, mas ainda bem eu tinha optado pelo Pedro. Mas aquilo não podia ficar assim. Confesso também que fiquei magoada e senti meu mundo caindo ao saber que agora o Pierre seria pai de uma criança que não era minha. Confesso que, no fundo, eu ainda carregava uma esperança de que se não desse certo a minha história com o Pedro eu poderia apelar para o Pierre, mas agora era diferente...

- Diferente em que, Diana? Não tô entendendo porque desse estresse todo...- perguntava Betina enquanto eu explicava a história para ela.

- Betina, eu não posso mentir para você. Eu ainda gosto do Pierre. Eu sei que não é certo. Tô tentando esquecer ele. Estou me dando uma segunda chance com o Pedro, mas um filho não estava nos meus planos... – eu dizia me jogando no sofá da minha casa inconformada.

- E não tem que estar nos seus planos mesmo, Diana. Até porque isso agora é um problema que o Pierre é quem tem que se preocupar... Problema dele. Vacilão. Mais uma prova de que ele não tinha que ser seu...

- Betina, mas agora ele vai ter um laço afetivo eterno com essa Olívia entende? Mesmo que se a gente voltar um dia...a Olívia e o Olivinho estarão sempre presentes na nossa vida... Pior...ela tá de 12 semanas...isso significa que ele já sabia disso, mas ainda queria me esconder e me enrolar...queria voltar comigo para fugir da raia e ainda me tachar de madrasta? – concluía minha tese ainda inconformada.

- Diana, esquece o Pierre e para de fazer dele o seu plano B também.

Antes que eu dissesse algo, o interfone tocou. Coincidências do destino à parte, mas era o Pierre. Betina, que adora ver um circo pegar fogo foi se esconder no meu quarto, porque como ela disse ‘essa eu não perco por nada’.

Apesar da minha vontade incontrolável de socar a cara do Pierre quando abri a porta e vi a cara lavada dele fazendo o tipo cachorro sem dono, resolvi bancar a boa samaritana. Ofereci uma bebida e fiquei escutando suas ladainhas...a cada palavra eu imaginava ele numa cruz e eu pregando cada pedacinho do seu corpo (Ai, como eu sou perversa!!!)

- Vim aqui para saber se você mudou de idéia... – dizia ele tentando se aproximar de mim no sofá.

- Sobre? – levantei rapidamente. Eu não (podia) queria cair em tentação.

- Sobre eu e você... seu prazo já venceu né? E eu sei que você vai cansar do Pedro...ele não é homem para você. – olha só quem está falando né?

- Ah não? E quem seria, Pierre? Você? – ironizei dando uma risadinha sarcástica.

- Claro!! Diana, não faz sentido a gente ficar separado. A gente foi tão feliz quando estávamos juntos. Vamos recomeçar... – dizia ele pegando em minhas mãos.

- Pierre, eu já recomecei, mas sem você. E acho que você também fez o mesmo. – estava aí a deixa que eu precisava.

- Como assim? – perguntava ele bancando o desentendido.

- Você ia esperar até quando para me contar que vai ser pai, hein, Pierre? – coloquei a mão na cintura e mostrei que sou de arerê.

Naquele momento, o olho dele arregalou e ficou mudo por alguns minutos.

- Eu ia te contar... – disse ele de olhos baixos.

- QUANDO? – acho que berrei nessa hora - Quando eu caísse mais uma vez na sua ladainha cheia de promessas e daí você ia me dizer que estava num momento confuso, que precisava de um tempo porque daqui nove meses eu ia ver o resultado? Pierre, chega!!! – respondi bufando e batendo as tamancas de um lado a outro da minha sala.

- Calma, Diana! Foi de repente – dizia ele tentando me segurar porque eu andava de um lado a outro da sala me segurando para não tacar a garrafa de cerveja na cabeça dele. – A Olívia descobriu meio sem querer... e a gente já não estava quase que juntos...

- Como assim não estava QUASE que juntos? Então, vocês estavam juntos? Ou, melhor, vocês estão!!! Já entendi tudo, Pierre, mais uma vez, eu seria o seu plano B. Se eu aceitasse voltar, você daria um pé na bunda da Olívia, mas se a Olívia te aceitasse, era eu quem seria descartada né? Esse é o seu problema, Pierre. Você nunca sabe o que quer, mas sempre quer ter um plano B. Mas, escuta aqui, eu cansei de ser o seu plano B. Ou, melhor, eu não vou ser o plano B de ninguém. Se não for para ser a primeira opção, a segunda, meu bem, eu também não quero. E estou muito feliz porque agora tenho quem me queira única e exclusivamente como primeira opção. Por favor, Pierre, não perca mais o seu tempo comigo. Agora você tem uma criança que precisa de você...tchau!!! – eu disse abrindo a porta e apontando para ele onde ficava a saída.

Pierre ainda tentou gaguejar mais meia dúzia de palavras, mas a minha fúria não me permitia ouvir. Ele levantou, me deu um beijo na bochecha e saiu como um cão molhado de chuva com o rabinho entre as pernas.

- Amiga, você foi fenomenal! Espetacular! Mal te reconheci! – dizia Betina batendo palminhas e me abraçando pela performance.

- É, foi difícil, mas pronto, falei. Acho que estou me sentindo melhor. – me joguei no sofá para digerir aquele momento.

- Isso merece uma comemoração!!! Tem champagne nessa casa?

Enquanto a Betina comemorava, eu fiquei hipnotizada e confusa. Não é que eu finalmente tinha criado coragem e botado o Pierre para correr? O sentimento continua o mesmo e vai continuar por um tempo ainda eu sei, mas consegui me valorizar e me posicionar...

... coisa que a Lili ainda não tinha conseguido muito porque apareceu lá em casa aos prantos como a Betina previa.

- Quem te deu o pé na bunda dessa vez, Lili? – perguntei já meio sem paciência.

- O Rômulo. Ele sumiu. Marcamos de nos ver hoje, mas ele desapareceu. Daí, entrei no Facebook dele e vi que ele viajou com a família. – dizia ela com a voz embargada como a de um bebê embargada.

- E por que você tá chorando? O cara não é casado? Ele vai ficar com você quando conseguir uma folga com a família, poxa! Não é assim que você gosta? – respondia Betina com paciência zero.

- Mas é sempre assim? – chorava Lili.

- É sempre assim porque você quer que seja assim, Lili – eu dizia – Olha para você. Uma loiraça bonita, rica, inteligente...

- É, Lili, tá mais do que na hora de você se ligar e parar de ser a segunda opção dos outros hein? Até quando vai comer os restos, garota?

Lili ficou nos olhando sem resposta, mas como conheço minha amiga sei que ela ficou pensativa. Se ia parar de ser a segunda opção dos homens, eu já não sei e nem me arrisco a colocar a mão no fogo por ela porque em questões de amor Dona Liliana não é muito confiável, mas o que sei é que eu não vou mais ser plano B, C, D, E, F de ninguém... se não for o A, nem adianta arriscar o resto do alfabeto.

PAPO DE CALCINHA: E, você, já foi o Plano B de alguém ou já teve um Plano B na sua vida?

7 comentários:

Joyce disse...

Numa sociedade em que as pessoas são descartáveis e as relações acontecem muito mais por convenção que por sinceridade, é natural que todo o mundo já foi ou já teve um plano B.

Priscila disse...

Nooossa, eu estou amando o blog! Não vejo a hora de ver a próxima postagem! Quero um Pedro para mim =(

Nath disse...

Muitoo bem diana nossa salvei a fala dela para o Pierre pretendo fazer a um ex um dia! Sempre leio o blog muito bons os textos estao de parabensss!

jeane disse...

jah fui o plano b ate 2 semanas atras. meti o pe na bunda dele!!!!

Ana Cláudia Marques disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Cláudia Marques disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Cláudia Marques disse...

Nunquinha! Sou exclusivista em matéria de relação homem x mulher e não aceito ser a "nº2" de ninguém.