domingo, julho 03, 2011

O REENCONTRO (PARTE I: FRIA INTIMIDADE)



Por Letícia Vidica


Aquela cena podia parecer um pouco incomum para quem me olha à primeira vista. Mas era muito habitual para mim. Sim, lá estava eu fazendo compras às três da madrugada em um supermercado. Sim, eu adoro fazer compras de madrugada. Não só porque eu gosto, mas também porque odeio filas, crianças berrando e esperneando no meio dos corredores implorando a bolacha da moda, aquele congestionamento de carrinhos de compras, donas de casa palpitando sobre a melhor marca de molho e aquela que você tem que comprar porque é muito boa e barata. Por isso, para fugir dessa loucura, eu amo fazer compras de madrugada. E, lá estava eu em mais uma madrugada de compras, entre a lata de óleo e o molho de tomate, quando uma voz familiar me chamou.

- Diana? Tudo bem?

Era o Pierre que me olhava com cara de quem não teria ficado tão assustado se tivesse visto uma alma penada. Que lugar mais ridículo para uma situação mais ridícula para o encontro de dois ex namorados.

E o que eu ia responder? Não estou péssima. Sofri muito por você. Fiz loucuras por sua causa. Inclusive, bom te encontrar porque eu vou lá no carro buscar a fatura pelas horas gastas no terapeuta tentando me entender para entender o porque você me deixou, pelos doces , bombons e doces afins que comi para conter a ansiedade e não ligar para você desesperada quando eu chorava no meio da noite. Bom te ver mesmo. Aqui está a fatura. E estou sendo boazinha cobrando sem juros e correção monetária. Mas não. Apenas respondi...

- Tudo bem.

Antes que o nosso pequeno diálogo pudesse progredir, fomos interrompidos por uma outra voz não tão familiar para mim, mas que parecia ser para o Pierre.

- Amore, encontrei o macarrão! – dizia a mulher que se aproximava de nós.

- Tchau! – eu disse e virei as costas antes que eles pudessem perceber que uma lágrima teimosa queria pular dos meus olhos.

Depois daquele encontro nada casual, um ano e meio depois da nossa separação, no meio daquele supermercado, perdi o rumo. Já não sabia mais o que eu tinha comprado, o que eu precisava. Só pensava enlouquecidamente naquele encontro. Incomum e frio. E pensar que juntos já chegamos aos 80ºC !!!

Logicamente, eu e minhas compras desbancamos no meio da madrugada até a casa da Betina pedindo socorro e abrigo.

- Diana, o que houve? – dizia ela com a cara toda amassada – Achei que era algum golpe quando o porteiro disse que era você.

- Eu vi o Pierre.

- Onde? Como? Calma, explica direito que eu não to assimilando muito.

Ainda um pouco nervosa, esbaforida e chorosa, eu expliquei a ela aquele encontro.

- Mais que coisa mais maluca! Tanto lugar para você encontrar o Pierre e vocês dois se encontram numa madrugada no meio de um supermercado?!

- Pois é, Betina. Foi muito estranho. Acho até que eu e o meu porteiro temos muito mais intimidade do que eu e o Pierre tivemos hoje. Parecia que a gente nunca tinha se visto antes!!! Sem contar naquela mulher...será que é a nova namorada dele?

- Ah, num sei, mas não quero te desanimar...talvez seja bem provável...quem mais ele levaria para um supermercado na madrugada?

- Será que ele já me esqueceu?

Foi o que me perguntei por muitos e muitos dias. O Pierre ainda gostava de mim? Teria me esquecido? Mas aquele encontro no supermercado ao lado daquela mulher indecifrável não fazia parte do script do nosso reencontro.

Por noites sonhei e planejei como seria. A gente se encontraria e eu linda e poderosa num tubinho preto escutaria as juras de amor dele, implorando para voltar. Dizendo que estava arrependido, suplicando o meu perdão. Mas não. Nosso encontro foi totalmente fora do script. Eu estava horrorosa de moleton e sapatos croqui (nada poderosa) e ele não tinha implorado para voltar. Pelo contrário, a moça do macarrão era como se ele tivesse me dito.’Tô em outra’. E agora, sem resposta, eu me questionava se ele tinha me esquecido.

Aquele encontro não saiu da minha cabeça. Deprimi total. Minha vontade era pegar o telefone, ligar para ele e dizer: ‘Escuta aqui. Eu mereço uma explicação. Quem era aquela mulher? Como assim a gente se amava ontem e hoje mal consegue conversar?’ Mas, antes que eu cometesse uma loucura, minhas amigas vieram me salvar.

***

Para me tirar daquela paranóia e daquele buraco negro, Betina me convidou para ir a um jantar da Ordem dos Advogados com ela. Prometeu que eu ia me divertir, ver homens com H maiúsculo, bonitos, bem sucedidos e que meu ego sairia agradecido de lá. Com pouca fé, resolvi acreditar naquele jantar salvação.

- Diana, dá para mudar essa cara de velório?

- Desculpe, Be, mas acho que não sou uma boa companhia hoje. Não paro de pensar no Pierre, no macarrão...

- Vai ficar velando esse cara até quando, Diana? Dá para enterrar ele logo? Nem que seja por hoje?

Antes que eu decidisse se daria procedimento ao funeral do Pierre naquela noite, um homem (muito elegante, por sinal) se aproximou e tirou Betina para dançar. Fiquei observando os dois. Bailavam lindamente no salão. Assim como eles, os meus pensamentos também divagavam e bailavam na minha cabeça.

- Nossa, quem é o gato hein? – eu perguntava enquanto Betina sentava na mesa.

- O Guto.

- Guto...Guto...GUTO???!!! O SEU EX NOIVO??? – perguntei inconformada com a calma a qual ela me respondia.

- Ele mesmo. Em carne e osso. – respondia friamente Betina, dando o último gole no champagne.

- E você fala assim com essa tranqüilidade depois de tudo que ele fez com você????? E você ainda consegue dançar com ele? Você é surpreendente, Betina!

- Diana, ao contrário do que as mulheres pensam, ignorá-lo seria quase como dizer ‘Olhe para mim , pelo amor de Deus. Eu te amo. Mas não se aproxime porque esse amor que tá aqui quietinho pode despertar’. Não existe mais esse amor. Eu não sinto mais nada por ele.

- Quando crescer quero ser como você! Mas vocês pareciam tão íntimos...

- Ele estava me elogiando, dizendo que fiquei mais bonita, que estou diferente...

- E você? Não balançou?

- Não. Só disse que devo tudo a ele. Que a mulher que eu sou hoje é graças a ele. Fui obrigada a mudar por ele. Só que a mulher que eu sou hoje não o ama mais. E não suportaria amá-lo hoje.

- Será que um dia eu vou falar isso pro Pierre?

Era o que eu não conseguia parar de pensar. Adoraria ter a mesma frieza e serenidade da Betina (não é à toa que eu a admiro), mas eu não tinha. Tudo que eu tinha era um coração quebrado com os cacos colados com superbonder e que ainda tentava se recuperar. Com aquele coração na UTI, eu jamais conseguiria ter uma postura como a da Betina. Ainda estava muito atrás de toda aquela maturidade amorosa superiora.
Eu ainda tinha muitas perguntas que eu gostaria que o Pierre respondesse e só assim eu tiraria o meu coração da UTI. Por quê ele me deixou? Por que a insegurança tinha tomado conta dele quando estávamos juntos? Para onde tinha ido toda aquela nossa intimidade que se esfriara tanto naquele encontro no supermercado? Será que a mulher do macarrão era melhor do que eu?

Continua...

PAPO DE CALCINHA: Já reencontrou algum(a) ex? Qual foi a sua reação?

7 comentários:

Rafael disse...

Me parece que voce esta sofrendo a sindrome "mulheres que adoram cafajestes". Nao derrame lagrimas por quem nao vale a pena. A vida continua. Ignore as pessoas que te fizeram mal, aprenda com os erros e tente nao repeti-los. sera um grande avanco :))

Joyce disse...

Aconteceu algo engraçado, há duas semanas.

Estava eu conversando com um antigo "caso" (saímos só umas 3 ou 4 vezes) pelo msn, qdo entramos no papo sobre alguns momentos que tivemos juntos. Conversa vai, conversa bem, de repente ele pergunta:

- Você me amava?? O que sentia por mim?

Estranhei totalmente - mesmo pq o marido, que estava ao lado e bem nessa hora olhou para a tela, ficou olhando pra minha cara assustado e soltou uma risada.

Então eu pensei em dizer a ele, "como eu poderia amá-lo se ficamos por tão pouco tempo??". Tendo em vista esse fato, achei estúpida a pergunta...

Respondi simplesmente que "claro que não era amor". Ele insistiu, perguntanto o que era, então. Respondi, "paixão", só pra não ficar chato! rsrs

Mas ele, persistente que era, solta essa: "e hoje?" Logicamente, "um amigo". E ele completou, "o cara do msn".

Não sei qual o intuito da postura dele, mas só sei que a impressão era a de que ele queria ter algo comigo outra vez, após quase 6 anos desde que levei o pé na bunda. Ele, inclusive, está noivo e casará em breve. E eu, 5 anos que estou com o marido.

Há certas histórias amorosas mto estranhas!

Beijão

Rafael disse...

@Joyce: Me surpreende voce ainda conversar com o "cara do msn" apos levar um pe na bunda do mesmo ha 6 anos atras. :P

Anônimo disse...

Bem, eu depois de casada encontrei ele,meio q marcado, vou te dizer que não senti absolutamente nada por ele na hora, ate percebi o qto eu era melhor q ele, mas depois me bateu uma depre...q as vezes vem e as vezes vai....

Anônimo disse...

Reencontros são invevitáveis e não tem hora pra acontecer. Infelizmente.

Comigo foi assim várias vezes, depois me peguei pensando na pessoa, mas logo passou.

Porém, existem pessoas que não esquecemos, principalmente aquelas que deixam sérias marcas em nossos corações e vê-los bem, felizes, encontrando sua alma gêmea, acaba por ocasionar uma grande frustação interna.

Afinal, intimamente, nosso desejo é vê-los ao chão, sofrendo por ter nos deixado e magoado. Mas a vida não é assim!

Temos que lembrar que eles, mesmo sendo os piores homens do mundo, tem o direito de serem felizes. Infelizmente.

Joyce disse...

Rafael,

A vida tem de continuar, meu bem :)

Rafael disse...

Joyce,

concordo com voce, so nao acho positivo manter contato com uma pessoa que nao vai acrescentar nada de bom a minha vida pessoal. So quero coisas boas pra mim :)