sábado, janeiro 22, 2011

UM LANCE NÃO É ROMANCE


Por Letícia Vidica


Era sábado. O dia estava lindo. Uma boa pedida para uma feijuca, uma cervejinha gelada e um bom pagode com as amigas. Mas resolvi ficar enfurnada no meu apartamento a espera de uma ligação. Resolvi me ocupar com as tarefas domésticas para não enlouquecer com o tormento daquela ligação que não vinha.
Foi quando, de repente, o telefone tocou. Corri tanto que até tropecei no tapete da sala, bati a perna na mesa de centro e, ainda caída no chão, consegui estender a mão e atender.

- Alô? – disse eufórica achando que era ele.

- Oi, amiga.

- Ah, oi, Betina...é você? – respondi um pouco desapontada.

- Nossa, te decepcionei? Pelo visto está esperando alguma ligação...

- Pois é, o Lucas.

- Vai sair com ele hoje?

- Ah, não sei, tenho esperanças. Nos falamos no meio da semana e ele disse que me ligaria.

- Eu ia te chamar para um passeio...tá afim?

- Desculpe, Bê, tô aqui no meio de uma faxina...valeu!

A Betina bem sabia que, na verdade, eu queria mesmo era sair com o Lucas. Então, não insistiu e se colocou de prontidão, caso o meu passeio não desse certo. Passei a tarde toda, esperando ele ligar. E nada. Olhei o celular muitas vezes. Até imaginava que ele tocava e nada.

Já eram quase nove horas da noite e nada. Resolvi me jogar no sofá e me conformar com a idéia de que ele não me ligaria. Mas então porque ele tinha dito que me ligaria? Porque me Iludiu? Eram perguntas que rondavam minha mente e que só uma pessoa poderia me responder. Minha querida amiga Betina. Liguei para ela e aceitei o convite para um chope.

- Di, você tem que desencanar. Vocês nem são namorados. Saíram três vezes!

- Mas, Be, ele disse que me ligaria...

- E você acreditou? Di, você não é mais criança ne? Tá cansada de saber que todos os homens dizem isso, mas poucos cumprem...

- Poxa, mas ele me pareceu um cara tão bacana...eu tinha tantos planos...

- Planos?! Diana, você conheceu o cara ontem...ele é apenas um lance...e um lance não é romance!

Aquela frase me fez refletir que, de repente, eu seria apenas um lance mesmo. Talvez tenha sido desde o começo.

Eu conheci o Lucas em uma balada. Ele era lindo, foi logo se engraçando para o meu lado. Ficamos. Trocamos telefones. Fiquei quinze dias esperando por uma ligação dele e nada. Foi quando, coincidentemente, nos encontramos na mesma balada. Ficamos novamente. A carência era tanta que eu preferi os beijos aos esclarecimentos. Depois de uma semana, ele me ligou de novo. Nos encontramos em um bar e ele tinha me dito que me ligaria. E eu, inocentemente, acreditei e agora estou aqui, pagando pela minha ilusão.

- Será, Betina? Será que eu fui só um caso dele?

- Não sei. Mas sei que você tem que aprender a pegar e não se apegar. Nem todo cara hoje em dia quer um relacionamento sério...

- Mas o Lucas pode ser diferente...

- Se fosse não teria te deixado a ver navios.

Como sempre, os conselhos da Betina confundiam minha cabeça. Talvez ela estivesse certa. Eu tinha sido um lance. Resolvi tentar esquecê-lo. Mas estava difícil. Ele não saía do meu pensamento. Algo nele tinha me fascinado. Mas ele tinha sumido! E se eu ligasse para ele? Convidasse para sairmos? Preparasse um jantar? Não, era melhor não.
Para não enlouquecer, resolvi sair para dançar e chamei a Lili que, nas horas que fico triste, é a melhor companhia para me animar. Fomos a mesma balada em que conheci o Lucas. Eu estava dançando na pista, quando avistei o Lucas no bar.

- Lili, olha lá...o Lucas...

- Vai lá falar com ele.

- Será?

Antes que eu respondesse, a Lili me puxou pelo braço e fomos indo em direção ao bar.

- Oi, sumido!

- Gata? – disse ele engasgando com o chope que bebia e um pouco assustado com a minha presença.

- Achei que tivesse sido abduzido por ETs...

- Que nada..ando muito ocupado...

- Ahhh, e que tal dançar comigo agora, já que tem tempo livre?

- Ah, não vai dar...é que...

Antes que ele respondesse, uma morenaça de parar o trânsito, toda malhada, se aproximou dele e o abraçou pelo pescoço, como quem quer marcar território.
- Sheila, essa é a Diana, uma amiga minha.

Meu mundo caiu naquele momento. Estava explicado com o quê ele andava se ocupando e também por quê tinha desaparecido. Só lembro das três primeiras caipirinhas que tomei e depois de ter acordado tonta e com uma longa dor de cabeça na cama da Lili.

- Já cheguei ao céu? – dizia sentindo um peso enorme na minha cabeça.

- Ainda não, mas se continuar bebendo desse jeito toda vez que um homem vacilar contigo, nega, vai para lá rapidinho...

- Ai, Lili, diz que foi um pesadelo. Que o Lucas não estava com aquela morena do Tchan?

- É duro, amiga, mas ele estava com aquela vagaba. Ai, esquece ele e parte pro próximo. Ele nem é tão bonito assim. – dizia Lili tentando me animar.

Passei o resto dos dias, triste e cabisbaixa. Tentando engolir mais aquele fora que eu tinha levado. E fazendo esforço para não me lembrar do Lucas, mas parecia que o via em todo canto. Ai, meu Deus, será que nunca vou acertar?

***

Depois de mais de um mês sem notícias do Lucas, surpreendentemente, ele me ligou. Agiu como se nada tivesse acontecido naquela balada e me convidou para ir ao cinema. E eu? Burramente, aceitei. Ai, gente, eu estava numa carência danada, não dava para esnobar.

Nem me lembro direito o filme, só me recordo dos beijos e amassos que trocamos no escurinho do cinema. Depois do filme, ele sugeriu que ficássemos mais à vontade e, a burra aqui, o levou para a casa e o resto correu como pede o figurino.
Pela manhã, enquanto ele ainda dormia, acordei e preparei um super café da manhã para ele. Será que agora finalmente ele tinha percebido o quanto eu era especial? Será que tinha dado um pé na bunda da Sheila Carvalho?

- E a sua namorada? – perguntei enquanto a gente tomava café.

- Namorada? – ele respondeu assustado, engasgando com o café com leite.

- É, aquela que estava com você naquela balada... – sondei.

- Ah, a Sheila...não é nada não...apenas um lance...eu não quero me apegar a ninguém agora não.

Dessa vez quem tinha engasgado com o café com leite, era eu. Como assim, NÃO QUER SE APEGAR A NINGUÉM AGORA????? E eu o que eu era? Um LANCE TAMBÉM????

- Então, quer dizer que...eu e você...também somos um lance? – bufei.

- Calma, gata, para quê o nervosismo? A gente tem que ir devagar...eu não quero te magoar...eu terminei um relacionamento sério há pouco tempo e não estou preparado para mergulhar de cabeça novamente...

- E enquanto isso, você me enrola...come uma aqui e outra ali?...Não precisa responder não! Eu conheço o seu tipinho. Olha, nada contra, mas sei que sou mulher para ser muito mais que um lance...e como eu não quer ser seu lanchinho e muito menos lance...termine de comer e pode se retirar da minha casa e da minha vida!
Pronto, falei. Eu mal me reconheci, mas disse tudo que estava engasgado na minha garganta. Cansei dessa história de conhecer, se iludir, se envolver e depois ver que tudo não passou de um lance.

- Nossa, amiga, pegou pesado hein? O coitado deve estar tonto até agora – ria Lili.

- Bem feito. Estou cansada.

- Nossa, até eu me surpreendi. Mas vê se agora aprende a pegar sem se apegar e a diferenciar um relacionamento de um lance, assim você sofre menos.

- Ai, Betina, vou tentar. Vai ser difícil...mas vou tentar...prometo!

Até hoje, venho tentando diferenciar e entender. Não é nada fácil. Ainda mais porque já percebi que não sou mulher de lance, mas enquanto o príncipe não chega, vou lanceando por aí. kkkkk

PAPO DE CALCINHA: E VOCÊ JÁ VIVEU ALGUM LANCE? TAMBÉM ACHA QUE UM LANCE NÃO É ROMANCE?

5 comentários:

Su disse...

Essa é a crise da mulher moderna! Nunca sei quando um lance é um lance ou um romance. Busco deixar rolar, mas quando bate a carência...

Anônimo disse...

olha... o negocio é encarar tudo como um lance.. se for romance, as provas serão mostradas não só em uma única atitude, mas em várias!

Ritinha disse...

Hoje em dia a mulher virou lanchinho desses caras de pau. O Amor virou mercadoria de luxo, homem não quer esta 'mercadoria', quer apenas sexo animal, quando ele está no cio procura um depósito de esperma, não se incomodando com o nosso sentimento. Lutem meninas contra estes tipinhos, sei que é difícil, mas não impossível. Somos superiores a eles.

Rafael disse...

Qual o problema de nao ser algo serio, ser so sexo ? Sexo sem compromisso e bom, sexo com compromisso tambem. sejam flexiveis. sexo e amor sao coisas distintas. ;)

jaqueline disse...

nossa é horrivel passar por essa situaçao...e quanto mais agente ke um relacionanmento serio mais agente so encontra os q qerem pegar sem se apagar