quinta-feira, outubro 21, 2010

AMOR VIRTUAL


Por Letícia Vidica

- Diana, é impressão minha ou aquela mulher parecendo um espantalho do Mágico de Oz parada no meio do shopping é a Betina?

Nem foi preciso responder a pergunta da Lili. Ao nos aproximarmos do tal espantalho, pudemos confirmar que se tratava da nossa querida amiga.

- Betina? – eu perguntei assustada com a cena.

- Tá fazendo o quê vestida ridícula desse jeito? – engatou Lili.

- O-oi, meninas, tudo bem? Eu posso explicar. – respondeu Betina com cara de criança que é pega no flagra pela mãe fazendo arte – é que eu tenho, ou melhor, tinha um encontro às escuras.

- Encontro o quê? – perguntei.

Acho que esqueci de me dizer que a Betina tinha como uma de suas características manter alguns mistérios e segredos e aquele era mais um deles. Descobri que a Betina adorava conhecer pessoas pela internet e que estava teclando há alguns meses com um carinha, o qual acabara de dar um bolo virtual nela.

- A coisa tá feia mesmo. Nem mesmo pela internet estamos livres de levar um bolo – desabafava Betina tristonha enquanto comíamos um lanche na praça de alimentação.

- Mas você queria o que, Bê? Vestida desse jeito parecendo um espantalho, é claro que o cara não ia se aproximar né?

- Opa, Lili. Menos hein? Não precisa avacalhar. – respondia Betina irritada.

- Mas como era o príncipe cibernético?

- Ah, Di, ele disse que era...

- ... alto, moreno, sarado, solteiro e que adorava praia! – completou Lili

- Como você sabe?! – perguntamos.

- Ai, gente, eu sou macaca velha nesse lance de romance virtual. Eu nunca contei para vocês, mas eu também adoro conhecer pessoas pela internet. Já conheci muita gente. E você acaba de cair no golpe do moreno sarado. Acorda né, Betina, você acha mesmo que caras deuses como esse precisam MESMO da internet para conhecer alguém?

Apesar do diálogo parecer incomum, era real. A Lili acabara de dar uma lição de realidade para a Betina, a senhora da verdade. Aquela declaração também me revelou um segredo da Lili. Minha amiga adorava ter encontros mais picantes na internet. Se é que me entendem! Naquela conversa percebi que o único peixe fora d’água, ou melhor, fora de conexão era eu.

Eu nunca fui muito ligada nesse negócio de conhecer gente na internet. Prefiro a realidade do que o cibernético. Nada melhor do que olho no olho, pele com pele. Além disso, confesso que sempre tive um pouco de medo de quem poderia estar do outro lado da tela.

Até que, em uma noite chuvosa e fria de sexta-feira, eu estava de bobeira em casa e não tinha nenhum programa com as meninas, resolvi entrar na internet. Ninguém interessante no MSN para conversar, nenhum scrap novo no Orkut, nenhum álbum interessante no Facebook para xeretar. Foi aí que meu dilema começou. Fiquei por alguns instantes brigando com minha consciência e com o mouse, até que não resisti e entrei numa sala de bate papo.

Escolhi a que me parecia mais ‘normal’. Daí, então gatinhamanhosa atacou. Em menos de dez minutos online, alguém puxou papo comigo.

Gatinhomanhoso: De onde tc?

Gatinhamanhosa: SP.

Gatinhomanhoso: O q faz aki nessa noite fria?

O assunto que começou meio frio e insonso, logo ficou interessante e quando me dei conta passei quase a noite toda teclando com o tal gatinhomanhoso. Trinta e cinco anos, advogado, alto, moreno, esportista. Foi assim que ele se definiu para mim. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte na mesma sala e no mesmo horário. É claro que eu disse que estaria on, mas era só para ser simpática.

Porém, não só no dia seguinte como em todos os outros que se seguiram, eu estava online sempre na mesma sala e por muitas noites a gente teclava. Sem perceber, comecei a me envolver com aquele homem que eu nada sabia.

- Meninas, acho que estou ficando louca. – confessei para minhas amigas.

– Não consigo parar de imaginar como o gatinho manhoso é. Esse negócio tá ficando viciante. Não durmo mais em paz se eu não falo com ele. Se ele não está on, fico triste e sinto saudades. Isso é normal?

- Ih..bem-vinda ao mundo dos amores virtuais. – dizia Betina brindando com um copo.

- E você acha graça? O que eu faço?

- Relaxa, Diana. Marca um encontro com o gato.

- Ai, Lili, eu acho que não tenho coragem.

E por mais alguns dias fiquei brigando com a minha coragem e curiosidade para convidá-lo para um encontro. Mas ele acabou sendo mais rápido e me convidou primeiro. O que eu faria? Aceitava ou não?

- Pára de ser boba, Diana. É claro que você tem que aceitar, mas precisa tomar alguns cuidados – me orientava Betina – Marca com ele em algum local público, em caso dele ser um louco tarado, você grita e todos vão te ouvir. Diz que você vai com uma roupa, mas vai com outra completamente diferente.

- Mas você vai comigo?

Depois de muita insistência, Betina aceitou me acompanhar no encontro e eu aceitei conhecê-lo. Marcamos num shopping do centro da cidade. Ele disse que estaria de jeans e camisa azul e eu de vestido amarelo. Fui de rosa, claro. A Betina ficou sorrateiramente me espionando sentada no banco do shopping. Na hora e local marcado, cheguei. E logo avistei um homem com a roupa que ele me disse no local combinado.

Meu coração acelerou. E agora? Minha vontade era de sair correndo do shopping, mas eu não podia fazer aquilo. Fui me aproximando vagarosamente.

- Alexandre? Gatinho manhoso?

- Diana!!! – ele disse me medindo dos pés a cabeça e me dando um beijo e um abraço.
Ele não era de se jogar fora, mas era completamente diferente do que eu imaginei.

- Poxa, você é bonita mesmo hein?

- Ah, obrigada. – preferi não dizer o mesmo.

Fomos tomar um suco na praça de alimentação, enquanto a Betina nos seguia sorrateiramente. Começamos a conversar sobre nossas vidas, perguntávamos sobre coisas que já tínhamos conversado na internet. A conversa até que fluiu legal, mas a minha ansiedade continuava.

- Achou que eu era um monstro?

- Ai, que isso.

- Pode confessar. Conheço bem esse lance de encontros às escuras.Logo imaginei que você não viria com a roupa que me disse e que também estaria acompanhada.

- Acompanhada? Eu?

- Ou você acha que eu não percebi a sua amiga nos espionando?

Fiquei super sem graça com a declaração. O cara era realmente um expert em encontros virtuais. Isso não me cheirava bem porque para quem tem tantos encontros, alguma coisa errada tem. Acabei desmascarando a Betina que se juntou a nós.

Ao final do encontro, prometemos continuar se falando pela internet e a manter nossos encontros virtuais. E ele se despediu com um beijo na minha boca.

- Nossa, amiga, um gatinho...

- É todo seu.

- Como assim , Di?

- Desanimei.

- Eu não te entendo. Estava aí toda ansiosa para sair com o gatinho manhoso e agora amarela?

- Ah, eu acho que perdeu a graça. Preferia ele no mundo virtual. Me dava mais emoção.

E foi assim que minha iniciação no mundo dos amores virtuais terminou. Percebi que não nasci para isso. Deixo para a Betina que supre sua carência com esse tipo de relacionamento e com a Lili que, às vezes, alivia a tensão pela internet. Eu ainda prefiro os romances reais.

PAPO DE CALCINHA: E você já teve algum amor virtual? Gosta dos romances cibernéticos ou prefere os reais? Conte-nos sua história.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi Letícia. Me identifico muito com as suas histórias e adoro a forma como vc consegue nos transportar para dentro da trama!!
Bom...
Eu sempre tive pavor de encontros com pessoas de internet, até que um dia, como vc, eu estava sem nda para fazer e decidi entrar em um chat. Deu no que deu! Conheci o rapaz que hoje é meu namorado!! Nos apaixonamos a primeira vista! Posso dizer que nós dois somos bem atraentes, chamamos atenção, então discordo do fato de pessoas bonitas não entrarem em chat! rsrs Eu nunca acreditei em amor a primeira vista e tinha horror a encontros às escuras acabei me dando muito bem!!! Fazemos inúmeros planos e temos a intenção de permanecer juntos pro resto da vida (ilusão talvez, mas por enquanto estou adorando tudo)!!
Tudo de bom pra vc sempre!!! Bjsss

Pretica disse...

Puts!

Já tive uma amor cibernético sim viu ... Mas nunca nem o encontrei pessoalmnte. Ele mora do outro lado do aceano. O máximo que eu consegui foi ouvi-lo pelo telefone durante 1 ano.
Mas valeu a pena!

Bjus

Letícia Vidica disse...

É muito bom saber que os amores virtuais podem ter um final feliz. Eu, assim como a Diana, não me ligo muito neles, mas vou prestar mais atenção...vai que minha alma gêmea está do outro lado da tela né?

Anônimo disse...

Oii .
Começei a ler o blog a pouto tempo mas estou adorando as histórias ! Tive um amor virtual sim e deu muito certo .
NÓS TERMINAMOS , MAS SOMOS AMIGOS AGORA .. muiito amigos !
Felizmente deu certo , mas vamos ficar de olho né .. nunca se sabe quem está do outro lado!

Bel disse...

Algumas vezes. Todas elas não passaram de ilusão.
Mas teve um rapaz que me marcou bastante. Ele dizia ser do Rio, moreno de olhos verdes e se mostrava muito interessado em mim. Teclamos por ICQ (faz tempo, heim!) durante 06 meses e quando eu comecei a insistir que ele me mandasse uma foto (até então, só ele havia visto minha foto, ele nunca me mandou uma dele), arrumou uma desculpa para sair do ICQ e nunca mais nos falamos. Fiquei com muita raiva e disse a mim mesma que nunca mais caía nessa. Tudo bem que me enganei de novo, mas... A gente faz muita besteira quando está carente.
Hoje, se acontecesse de eu me separar, não procuraria outra pessoa pela internet. Preferia tudo pessoalmente mesmo, ao menos tem um ar mais romântico!