quarta-feira, outubro 14, 2009

DISCUTINDO A RELAÇÃO


Por Letícia Vidica

Crise...eu sempre ouvi falar que todo casal - seja namorado, casado, enrolado ou amante - um dia vai passar por uma crise. Seja hoje, amanhã ou depois, mas ela vai chegar. E a minha havia chegado. E num momento como esse nada melhor do que conversar e beber umas cervejas (na ordem que você quiser) com suas melhores amigas...

- Que cara é essa, Diana? - perguntava Betina percebendo que eu não estava nada bem
- Meu namoro está uma merda!! - eu disse ao dar o último gole na cerveja e bater o copo com força na mesa.
- Nossa, mas o que o Pierre fez?
- Esse é o problema, Lili...o Pierre não fez nada...não faz nada...
- Então eu não tô entendendo, Diana... você está querendo terminar o seu namoro, é isso?
- Ai, Bê...eu não sei...não é isso...eu gosto do Pierre, mas tá tudo muito na mesma, a mesmice de sempre sabe? O mesmo beijo, os mesmos filmes, as mesmas meias amarelas que ele usa deitado no sofá de casa, as mesmas posições...esse mesmo do mesmo tá me irritando...sem contar que eu não aguento mais ver ele enfurnado na minha casa.
- Quem não te conhece que te compre hein, Diana?! Nunca vi pessoa mais confusa.

Minhas amigas estavam certas. Eu estava confusa. Ou melhor, nós mulheres somos confusas. Queremos sempre aquilo que não nos dão e se nos dão não queremos mais. Se tenho o preto quero o branco, se tá gelado quero quente, se está inverno quero verão... Ai, meu Deus, bem que Eva poderia ter facilitado né?

Eu e o Pierre estávamos juntos há um ano e meio e parecia (pelo menos para mim) que a gente tinha caído na rotina. Tudo que eu sempre odiei (e temi!!!) num relacionamento era a rotina. Já vi muitos relacionamentos que morreram por causa dela. No começo, nosso namoro foi fogo, paixão, surpresas, novidades. Só que agora a gente parecia um casal que acaba de completar bodas de ouro e com sua vidinha programada. Nos víamos nos mesmos dias de sempre, nos falávamos na mesma hora cotidiana, ele sempre chegava na minha casa e fazia as mesmas coisas, até na cama a gente já não inventava mais (será que eu já tinha testado todas as posições do Kama Sutra?). O que eu sabia é que daquele jeito não dava mais para ficar.

*********

Domingo. Três horas da tarde. Como sempre, o Pierre estava deitado de meias amarelas no sofá da minha casa embaixo do meu edredon preferido de infância zapeando de canal. Como sempre, ele pediria que eu sentasse do ladinho dele, fizesse cafuné, o clima ia esquentar e a gente ia transar até o jogo do Corinthians começar. Foi dito e feito.

- Amore - pediu com voz de gatinho manhoso - senta aqui do meu ladinho e me faz um cafuné
- Não quero. Não tô afim - eu dizia debruçada na sacada do apartamento enquanto olhava o movimento na rua para ver se me animava um pouco
- Mas você sempre faz isso?! - questionava o gato manhoso com voz de criança mimada
- Por isso mesmo. A gente sempre faz isso.
- Não tô te entendendo, Diana...o que foi que eu fiz?
- Nada, Pierre, você nunca faz nada.
- Você está de TPM?
- Caramba, meu Deus...será que nós mulheres não temos o direito de ficarmos com a pá virada sem estar de TPM?!
- Claro que tem desde que eu entenda o porquê você está tão irritada assim.
- Será que você não percebe que estamos vivendo uma crise, Pierre?
- Crise?! Que crise? Eu não estou vendo crise nenhuma...isso deve ser coisa da sua cabeça, Diana.
- É sempre coisa da minha cabeça né?
- Quer saber de uma coisa? Eu vou embora e amanhã a gente conversa quando você estiver mais calma.
- Ahá...homens, homens...são todos iguais. Sempre saindo pela culatra para evitar discutir a relação né? Mas tudo bem...pode ir...vai, mas vai e só volte quando eu pedir.

Pierre me olhou com olhos de raiva e de quem também não estava entendendo o porquê tinha sido o alvo, pegou suas coisas e saiu batendo a porta sem dizer nada. Eu sei que eu estava colocando em jogo o meu namoro e que ele poderia nunca mais voltar, mas eu precisava nos testar. Uma coisa eu aprendi nos tombos que levei na vida: homens só agem sob pressão. Quem sabe assim o Pierre ia parar e repensar o nosso relacionamento? Ou então ia acordar e ver que a gente estava precisando de mais cor?

*****************

Duas semanas se passaram e o Pierre tinha sumido do mapa. Nenhum telefonema, nenhum email, nenhum scrap ou sinal de fumaça. Confesso que já estava achando tudo aquilo muito estranho. Será que ele tinha desistido de mim?

- Diana, pelo amor de Deus, para de comer chocolates!! - brigava Betina enquanto eu me empanturrava de uma caixa de bis deitada no sofá
- Os chocolates são a única coisa que curam minha carência.
- Carência? Me poupe, Diana...foi você quem escurraçou o Pierre da sua vida
- Eu não escurracei o Pierre!!!!...eu apenas pedi um tempo ...só isso!
- E se você pediu o tempo porque tá com essa cara de enterro?
- Porque eu tenho confessar que ele está fazendo falta.
- Liga para ele.
- Mas eu não queria que fosse assim. Ele tem que se tocar que a gente está em crise e que precisamos melhorar.
- Diana, você depois de trocentos relacionamentos ainda não aprendeu que os homens não tem sexto sentido e por isso nunca enxergam que estão numa crise se a gente não disser?

A Betina estava certa, apesar de relutar por uma semana eu tive que dar o primeiro passo e ligar para o Pierre. Combinamos de nos encontrar na sexta à noite na minha casa. Ele chegou pontualmente e com uma cara não muito boa.

- Pode falar, Diana - como eu odeio esse ar de superioridade que os homens tem o dom de assumir quando a gente vai ter uma DR - discussão de relacionamento
- Acho que a gente precisa conversar né? - eu disse com voz meiga e doce para amansar o clima
- Por isso mesmo eu estou aqui...pode falar...sou todo ouvidos - respondeu Pierre com o seu pior grau de arrogância, mas eu não podia cair no jogo dele.
- Acho que você não deve ter entendido nada do que eu fiz, mas era necessário. Eu gosto muito de você, mas a gente está passando por uma crise e isso não dá para negar. Será que você não vê? Nós não somos mais aquele casal cheio de vida , de energia, de tesão...lembra como a gente era? A gente se perdeu...descumprimos a promessa de que não cairíamos na rotina, mas a gente caiu...eu sei que a culpa não é só sua...é minha também...mas me irritou muito o fato de você achar que estava tudo bem.
- Olha, Diana, eu ainda não sou adivinha. Esse dom, infelizmente, Deus não me deu (ele nem precisava falar isso. Eu já sabia). Tudo bem que você ache que a gente já não é o mesmo, achei que isso era normal. Acontece com todos os casais. E teria sido bem melhor se ao invés de me expulsar da sua casa como uma blusa velha que você não quer mais usar...se a gente tivesse conversado. Como agora. Como dois adultos.
- Eu sei que eu posso até ter sido infantil, Pi...mas eu não sei o que me deu...na hora subiu aquela raiva, aquele desespero de sair da mesmice que foi a primeira reação que eu tive...mas essas três semanas longe de você me fizeram pensar e eu descobri que viver na mesmice é ficar sem você.
- Eu também pensei muito nesses dias e cheguei a conclusão, Diana, que eu preciso de um tempo.

Como assim ele precisava de um tempo?! Ele tinha que me lascar um beijo, dizer que me ama, pegar as flores no carro e fazermos amor desesperadamente no chão da minha sala. Dizer que queria um tempo não fazia parte do script. Mas infelizmente a vida não é um filme.

- Tudo bem, eu entendo. Vou respeitar o seu tempo. E quando você chegar a uma conclusão espero que eu possa ser comunicada.

Nos abraçamos num tom de último abraço e ele saiu pela mesma porta que eu o expulsei. Riam. Podem rir...eu sei que estava provando do meu próprio veneno. Mas poxa, ele poderia ter facilitado né?

- Facilitar, Diana?! Me poupe...você cria uma crise entre vocês que nem existia...ela realmente aparece, você enxota o cara da sua vida e espera que ele te receba jogando rosas de helicópteros na varanda da sua casa?
- Você bem que podia ser menos realista né, Betina?
- Se eu fosse você corria atrás dele...esse negócio de tempo só vai fazer ele escapar e se afastar de você.
- E onde fica o meu orgulho, Lili? Eu disse a ele que respeitaria o tempo e preciso cumprir a promessa por mais duro que seja.

**********************************

E duro foi...o Pierre desapareceu da minha vida por um mês. Ficou incomunicável. Até a Dona Mary, minha sogra, me ligou algumas vezes para entender o que estava acontecendo, mas se nem eu estava entendendo como eu ia fazê-la entender, você me entende? Cheguei a pensar que meu namoro realmente tinha chegado ao fim e por culpa minha. Não, não era culpa minha. Era culpa nossa. Culpa do nosso orgulho, da rotina que nos enfiamos, do nosso cotidiano que nos matou e da nossa falta de coragem de dar o braço a torcer.

Foi num dia desses desesperançado da vida que o Pierre apareceu na minha casa. Estava com um semblante enigmático. Desses que só os homens conseguem fazer. Tentei disfarçar, mas meu coração acelerou. Era a hora da decisão final...

- Posso entrar? - perguntava Pierre num certo tom de formalidade
- Claro...fique à vontade...você nem precisa pedir. Quer um café, uma água? - é incrível como a gente fica sem saber o que falar, perde o tom , fica parecendo barata tonta na frente de uma pessoa que até ontem era tão íntima
- Não, não quero nada não.
- Então...
O silêncio prevaleceu. O Pierre esfregou as mãos suadas de nervoso e eu fiquei ali esperando que ele dissesse algo.
- Olha, Diana...eu pensei muito na gente esses dias...
- Ah que bom...e pensou o quê? - fala, fala logo
- Pensei e cheguei a conclusão de que você está certa.
Eu certa? Certa do quê meu Deus...
- A gente realmente se perdeu e não percebeu. Eu não tinha reparado que tudo estava na mesmice como você me disse...agradeço por me fazer enxergar isso...a mesmice cansa mesmo né?
- E como...
- Mas eu gosto dela.
Já vi tudo...
- Eu gosto de acordar todos os dias depois de ter sonhado com a mesma mulher, de ligar pela manhã e dar bom dia para a mesma mulher, de me acabar de prazer suado nos braços da mesma mulher, de beijar, abraçar e chorar nos braços da mesma mulher. Eu gosto da sua mesmice, Diana. Mas o que me preocupa é que eu acho que você já não gosta mais da minha mesmice.

Naquele momento, um punhal cravou meu peito e eu fiquei sem palavras, sem ar e sem saber o que dizer. O Pierre com toda a sua objetividade masculina tinha chegado a melhor conclusão de toda a minha vida. Eu não tinha parado para pensar nisso...

- Não fale besteira, Pierre...
- Não é besteira, Diana. Seja sincera. O nosso problema é que somos os mesmos e talvez a mesmice que te incomoda seja a mesmice de ter o mesmo homem por tanto tempo. Será que você está preparada para isso? Um ano e meio com o mesmo homem não é fácil.
- Desse jeito você está me ofendendo, Pierre.
- Não é isso que eu quero...só quero saber se você ainda gosta da minha mesmice...porque eu posso até mudar, te encher de rosas, fazermos sexo em locais inusitados...mas ainda serei o mesmo Pierre.

O Pierre conseguiu atingir o meu ponto fraco. O problema de toda nossa relação estava no fato de eu estar tanto tempo com o mesmo cara. Eu - que era uma pessoa tão inconstante na busca incessante pelo príncipe - e agora quando acho quero pular do cavalo?!

- Olha, Pierre...realmente não é fácil para mim ficar tanto tempo com uma única pessoa. Você sabe muito bem que por anos eu pulei de galho em galho...mas se eu pulei não era porque eu gosto disso ou não goste de mesmice...é porque simplesmente eu não tinha encontrado ninguém como você...e em toda a minha loucura de mulher acho que me assustei um pouco com o fato de que eu achei o meu ponto de parada e isso me assustou um pouco que eu comecei a exigir a inconstância dos meus relacionamentos nada duradouros...mas que adianta viver de sonho se ele é em vão né?

Nos olhamos, nos aproximamos e nos beijamos com o mesmo ardor da primeira vez. Naquele beijo que era tão o mesmo mas ao mesmo tempo tão diferente, eu percebi que eu amo a mesmice do Pierre.

Confesso que aquela crise reacendeu o nosso amor. Nos acostumamos com as nossas mesmices e continuamos felizes para sempre. Ou pelo menos até a próxima crise nos pegar?

PAPO DE CALCINHA: Qual foi a pior crise que você já passou? Como superou essa DR?

4 comentários:

Diário de Solteiras disse...

Ta vendo...uma DR, sempre faz beeem! Não entendemos por que os hoemens, não conseguem entender isso, :S.
Olha aí depois, vocês dois, conseguiram reacender toda a chama, que estava um pouco adormecida,:)
Parabéns, e muiitas felicidades a você e ao Pierre, :)

Penny Lane disse...

eu tenho uma amiga que está passando por isso.ela e o namorado não andam mais se entendendo,e mesmo conversando,parece que as coisas andam escuras pra eles.

mas ainda sim , acredito que conversando, a gente se entende.mesmo eles não gostando rsrsrsrs

bjs

Anônimo disse...

Agora eu compreendo a dúvida do Pierre do post do dia 06/12...

EDUARDO disse...

Bom meninas , estava procurando outro blog e cai aqui... dei uma lida em alguns topicos..realmente voces mulheres são complicadas !!!
Esou casado a - ou - 7 anos (como assim + ou -??!!!)estou em crise com a minha mulher a 1 ano, sempre que tendo fazer uma DR ela foge...Fala que está com sono, etc e tal...Ela me pediu um tempo saiu de casa, ficou uma semana na casa da mãe, voltou, não fazemos mais sexo com tanta regularidade que gostaria.. tendo saber o pq?? disso e não tenho resposta .. domingo de Carvanal .. puxei uma DR porque fazia um mes de nada ( abraço, beijo (beijo mesmo) sexo então ...nem via ela mais nua... bom , resumindo depois de uma ano faltou que está pensando ainda...dá pra entender ??!!! Só quero uma posição se fode ou sai de cima..pq a vida dai...

Um abraço