sábado, fevereiro 28, 2009

O DILEMA DO CONVITE


Por Letícia Vidica

Há mais de dois meses, eu estava afim de um cara lá do meu serviço. O Jonatan, uma gracinha. Ele era novo na agência e também era publicitário. A gente conversava formalmente sobre assuntos do trabalho, às vezes, saia para almoçar, nada além disso. O problema é que no meu íntimo de mulher, eu sentia que o meu afeto por ele era correspondido. Só que ninguém dava o primeiro passo.

Eu sempre fui daquele tipo de mulher que acha que o primeiro passo tem que ser dado por eles. Seria mais gentil e deveria ter continuado assim desde os tempos de Adão e Eva. Só que no meio do Jardim do Éden, os papéis se inverteram. Parece que são os homens que hoje esperam uma iniciativa nossa.

Ótimo se eu fosse boa em dar iniciativas. Eu sempre fui péssima nisso. Confesso que já tentei algumas vezes. Umas deram certo, tantas outras eu quebrei a cara e agora estava com medo de arriscar.

- Acho que você e o Jonatan fazem um casal tão bonito – perguntava Carol, minha amiga do trabalho.
- Mas por que você acha isso?
- Ah, Di, tá na cara. O jeito que ele te trata, o jeito que ele te olha, o jeito que ele fala com você... só você que não percebe.
- Você esta vendo coisas demais, Carol. Não tem nada a ver. Ele é apenas educado comigo, como é com todas...
- Sei, sei...mas uma coisa você não pode negar. Está caidinha por ele. E olha que não sou só eu quem acha isso não... daqui a pouco vai rolar até um bolão para saber se vocês vão ficar ou não.
- Credo! Esse povo não tem o que fazer não?
- É a rádio peão. Você sabe...

Terminamos de almoçar, o dia também passou rápido e eu fui para casa engasgada com a conversa que eu tive no almoço com a Carol. Será que o Jonatan está mesmo afim de mim? Acho que não. Ele deve ser do tipo educado com todas e com jeitinho meigo de conquistador. Mas se eu estiver errada?

- Por que você não convida ele para sair?
- Ai , Betina, não é tão simples assim.
- Como não? Chama ele para tomar um chopp, tipo um happy hour, sei lá...
- Mas e se ele me achar muito atirada?
- Diana, não vem dar uma de puritana agora. Desde quando tomar um chopp é sinal de alguma coisa. Você não está chamando ele para ir pro motel.
- Não sei, Be. Ainda acho que é cedo, eu posso me precipitar demais e acabar quebrando a cara.
- Se você não tentar, nunca vai saber.
- Mas eu acho que e ele quem deveria me chamar para sair e não eu.
- Como ele vai te convidar para sair se você ainda não deu nenhum sinal para ele?
- Tá bom...você me convenceu... eu vou chamar ele para tomar um chopp.


Prometi, mas não cumpri. Quase um mês já tinha se passado e eu não criava coragem para convidá-lo para sair. Toda vez que eu tentava ou alguém chegava ou eu desistia. O medo de quebrar a cara era maior do que tudo.

Certo dia, fui almoçar sozinha. Sentei na mesa do restaurante, de repente uma sombra me perguntou:

- Posso sentar aqui? – era ele.
- Claro, fique à vontade.

Eu não sabia o que dizer. Gelei. Foi uma cena ridícula. Ele começou a puxar papo comigo sobre o trabalho, sobre o tempo, coisas idiotas do tipo. Ótimas para quem não tem assunto. O almoço acabou, ele foi embora pois tinha uma reunião com um cliente e eu fiquei chupando o dedo.

- Não acredito que o Jonatan almoçou com você e você não deu uma indireta?
- Pode acreditar, Carol. Eu travei. Foi ridículo! Eu desisto.
- Desistir? Jamais. Semana que vem eu vou comemorar o meu níver naquela balada que eu te falei. A galera disse que vai, inclusive, o seu gatinho. É a sua oportunidade.


A Carol armou tudo quase tão perfeito e inventou uma história tão maluca que eu acabei indo de carona com o Jonatan para a balada. No caminho, fomos conversando sobre nossos gostos. Descobri que ele adorava surf music, que surfava aos finais de semana em Ilha Bela e que estava solteiríssimo (um ponto positivo para mim. Faltava saber qual era o tipo de mulher que ele curtia).

A balada foi ótima, com apenas um detalhe: nós não ficamos. O Jonatan ficou o tempo todo conversando com a Susi, a secretária da agência. Fiquei super deprê, era melhor tirar meu time de campo. O pior é que eu ainda tive que voltar de carona com ele com a oferecida da Susi, que não parou de falar um minuto o caminho todo. O Jonatan deixou a Susi primeiro e depois me levou para casa.

- Ufa, ainda bem que ela foi embora. Não estava mais agüentando ouvir a voz dessa garota.
- Nossa, achei que você estava gostando.
- Tá louca? Que mulher chata!
Vocês não sabem o quanto eu fiquei aliviada de ouvir isso. Até criei coragem...
- É...foi uma pena que a gente nem pode conversar direito.
- Mas não vai faltar oportunidade...afinal de contas, segunda já tá aí.
O que foi isso? Um xaveco do tipo ‘Hello, se liga mina que eu quero você” ou um modo educado de dizer “Se quiser falar comigo, dirija-se a minha sala?” Odeio homens enigmáticos.

Ele me deu um beijo na bocheca (como eu queria virar o rosto naquela hora) e a gente se despediu.


- Você tá ficando mole demais, Diana... o cara te deu o maior mole e você não fez nada?
- Que mole que eu não estou vendo?
- Ele deu a deixa para você convidar ele e nada? Desisto, perdi o bolão e eu fiz a minha parte.

A Carol estava certa. O quê estava acontecendo comigo? Parece tão simples porque eu não consigo convidá-lo para sair?

....

No final do dia, eu tive uma reunião com ele. Acabamos saindo tarde e estressados da agência. O Jonatan me ofereceu uma carona e como o meu carro, graça a Deus, estava no mecânico eu aceitei.

- Nossa, mas o Sr. Otávio é difícil demais...estava tão claro que a campanha era perfeita - desabafava ele
- Ele é assim mesmo. Gosta de nos instigar, deixar a gente à flor da pele... (convido ou não convido?)... falando nisso acho que a gente merece um chopp depois de um dia desses né?
- Ótima idéia! Isso é um convite?
- Encare como quiser.

Foi mais fácil do que eu imaginava. Não doeu e ele não teve nem tempo de negar o meu convite. Agora restava saber qual era a dele. Fomos ao bar do Pedrão, pedimos umas cervejas e ficamos conversando até o último cliente, bem, acho que nós fomos os últimos clientes. Depois de sermos expulsos do bar, ele me levou para casa...

- Nossa, Diana, você não sabe o bem que esse happy hour me fez. Já vou dormir melhor...
- Que bom que você gostou da cerveja.
- Não só disso, como principalmente da companhia.
Fiquei muda. Aquela frase não podia estar sendo dita. Não sabia o que responder... continuei calada, mas ele desatou a falar.
- A gente conversa pouco na agência, mas sempre te achei uma pessoa super simpática. Ouvi ótimos comentários sobre você e hoje pude confimar com os meus próprios olhos que não era mentira...só tem uma coisa que ninguém soube me confirmar...
- O que? – perguntei ingenuinamente.

Jonatan se aproximou de mim, nos olhamos e ele me beijou. Acho até que vi estrelas nessa hora e que a trilha sonora do Titanic tocou para nós. Era bom demais para ser verdade.

- Posso te confessar uma coisa ? ... Há muito tempo eu esperava por esse momento, mas não sabia como falar com você, como te chamar para sair...achei que você ia me dar um fora ... tá rindo do quê? Estou sendo ridícula né?

- Nada disso... é que eu também pensava a mesma coisa. Desde a primeira semana, comecei a te observar, mas você não notava, não dava sinal nenhum e eu não sabia como chegar em você.

Nos olhamos e começamos a rir como dois bobos. Ficamos juntos mais algum tempo e depois ele foi embora. Continuamos ficando por mais alguns meses, até ele ser transferido para outra agência no Rio de Janeiro. O mais interessante da nossa relação é que na agência ninguém nunca soube o que rolou entre a gente,nem que eu tinha tomado coragem. Estão até hoje fazendo bolão e no suspense. Hahahaha

Mas uma coisa eu aprendi com ele: quem não arrisca não petisca.

Papo de Calcinha: Já passou por esse dilema?

7 comentários:

Anônimo disse...

Putz !!!!! Foi assim com esse meu jeito machista que perdi uns anos atras um belo partido !!!! Eu achava ele amigo demais, simpático demais comigo ... E no fundo não era nada do que eu imaginava. As vezes a gente imagina demais, que óhh !!!!

Só depois que eu me casei que o FDP veio me dizer que eu nunca dei entrada para ele. É não se fazem mais homens como antigamente.

Como não se faz mais homens como antigamente .. Mulheres um passinho, uma entradinha na frente do coleguinha não custa nada.

Vivi Lolis

Anônimo disse...

Uma graça esta estorinha! :-)

Anônimo disse...

nossa que historia otima !!!!!!adorei!!!!tava torcendo o tempo todo pra vcs ficarem ...rs....parece ate que era eu quem tava vivendo isso ! agora vou tomar coragen e chamar o cara que arruma meu computador pra tomar um chopp sem neura ,gracas a sua historia!!!!!legal!!!!!

Anônimo disse...

hahahahhahahhahhaahha

Anônimo disse...

Uffa pelo menos a sua historia deu certo e eu to aqui na duvida chamo ou não chamo o carinha pra sair?
Mas como vc disse quem não arrisca não petisca. O não eu ja tenho vamos atrás é do sim.... Adorei a historia ;)

Anônimo disse...

Gente, que lindo. Ontem eu chamei um gatinho pra sair e ele topou, mas tb fico naquele dilema, pois eu acho que o homem eh quem deveria tomar a titude, maas....Agora é só torcer pra ele gostar de mim do jeito como eu gostaria. :*

Anônimo disse...

Que linda a história! Eu estou passando por uma situação parecida. Estou muito interessada no meu preceptor do estágio. Já consegui criar uma intimidade com ele a qual conversamos sobre outras coisas que não são sobre o trabalho (e através dessas conversas descobri que temos muitos gostos em comum). Porém o meu estágio com ele está perto de acabar. Estou naquele dilema para chamá-lo para sair. Confesso que estou com medo, mas vou arriscar. Como uma amiga minha me disse, "quem não arrisca não petisca".