sexta-feira, junho 06, 2008

O DIA DOS DESENCANTADOS


Por Letícia Vidica

Eu odeio o Dia dos Namorados! Odeio mais ainda quando estou solteira. Parece que os outdoors, as propagandas, as flores tudo berra aos quatro cantos ininterruptamente “Você está solteira!!! Hahahahaha”. Me sinto totalmente depressiva quando essa data se aproxima.

Às vezes, até que tento esquecer e agir normalmente, mas é pior. E mais uma dessas datas estava se aproximando.

No meu trabalho, as meninas não paravam de pedir sugestões umas as outras do tipo de presente que poderiam dar, qual o melhor restaurante para jantar, que lingerie é mais sexy... é tudo tão irritante que eu logo fico de mau-humor. E elas, como quase sempre sabem que eu sou do clube das solteiras, fazem questão de me excluir da conversa. Porém, por mais que eu queira, a internet e o meu e-mail me bombardeam de notícias, promoções e dicas de presentes para o tal dia dos apaixonados.

18h. Fim do expediente. 12 de junho de um ano qualquer.

- Ué, Di... não vai embora? - perguntava Sabrina, uma das minhas colegas de trabalho.

-Ah...eu tenho que terminar um relatório...já vou!!! E você?

- Ai, estou atrasadíssima... O Du ficou de passar lá em casa para me levar para jantar e depois...ah você sabe né?

E como eu sabia. O Du e a Sabrina teriam uma longa noite de amor feliz, que nem as horas que eles passariam no congestionamento na porta do motel seria capaz de desanimar.

- Feliz Dia dos Namorados! - eu disse morrendo de inveja da felicidade e da companhia que a Sabrina teria naquela noite.

E eu?! Sozinha naquele escritório. Na verdade, eu não tinha relatório nenhum para entregar. Eu só queria um momento de paz e não ter que encarar todos os casais apaixonados que eu encontraria pela minha frente. Talvez fosse melhor acampar no escritório, dormir por aqui e fingir que hoje era apenas mais um dia normal...

... impossível! O pensamento de que eu poderia ser uma dessas apaixonadas nessa noite me cortava o coração. Por quê Deus era tão cruel comigo? Pelo menos alguém pudesse me ligar... E me ligou, mas era somente a Betina.

- Oi, Be.

- Nossa, que ânimo é esse?

- E tem algum motivo para festejar hoje?

- Ih, já sei... mais uma deprê de dia dos namorados, acertei?

- Na mosca!

- Te liguei para gente sair e tomar um cerveja. Espairecer um pouco. Te encontro lá no Pedrão,ok?

Se pior estava sozinha na agência, jogar uma conversa fora não seria tão ruim.


Mas o meu drama estava apenas começando. Levei uma hora e meia para chegar no bar do Pedrão. Havia esquecido que hoje era o dia do congestionamento dos apaixonados. Ninguém fazia hora extra naquela noite e todos saíam com os hormônios à flor da pele para o trânsito. Tudo bem, senão fosse ao mesmo tempo.

Tentei ouvir uma música para relaxar e me desestressar do trânsito. Erro número dois: todas as rádios só tocavam músicas de corno apaixonado e os locutores não paravam de dizer que hoje era o dia dos namorados e as ouvintes não paravam de ligar desejando músicas lindas aos seus namorados. Poxa, que injustiça com os solteiros. Ou será que eu era a única naquela noite?!


Ao chegar no bar do Pedrão, o estacionamento estava lotado. Tive que parar na rua. A Betina já me esperava na porta do bar.


- Tá lotado, Di. Uma hora e meia de espera.

- É castigo demais.

- E aí esperamos ou vamos para outro bar?

Resolvemos andar pela rua para achar algum bar mais próximo e que estivesse vazio. Mas foi em vão. Estavam todos lotados de casais apaixonados que pareciam ter grudado a bunda da cadeira e esquecido da vida. Três voltas no quarteirão depois e muitos esbarrões em casais cegos e apaixonados, estávamos de volta ao bar do Pedrão.

Ficamos mais uma hora na espera e nenhuma alma caridosa levantava da mesa. Parecia que ninguém tinha mais nada da vida para fazer e olha que era apenas uma quarta-feira.

Se não bastasse a minha impaciência, ouvi uma voz masculina me chamando. Logo achei que Deus havia me enviado um príncipe para curar minha tristeza, mas era ...

- Pedro?!

- Oi, Diana, tudo bem?

O Pedro era um dos meus rolinhos antigos e um promissor candidato a namorado, se ele não estivesse acompanhado.

- Essa aqui é a Adriana, minha namorada.

Morena, linda e acompanhada da minha promessa de namorado. Nos despedimos e eles foram embora encarar o congestionamento dos motéis.

- Chega, vamos embora!

- Mas agora que esvaziou uma mesa, Di

- Eu não fico aqui nem mais um minuto, Betina. Já olhou à sua volta? Esse bar tá infestado de casais. Se a gente sentar aí, é capaz de acharem que somos um casal de lésbicas. Além do mais, ver o gato do Pedro acompanhado acabou com o meu astral.

Ainda bem que a Betina era minha amiga e não se encanava com essas coisas. Saímos do bar, pegamos mais algum tempo de congestionamento...

- To me sentindo uma extraterrestre hoje. Parece que eu sou a única pessoa da face da terra incapaz de arrumar um namorado. Eu tenho algum problema, Betina? Até a Lili arranjou companhia para hoje...

- Pára de se estressar com isso. Eu to muito bem sozinha.

- Claro... ter um namorado nunca foi o seu plano de vida.

- E não deveria ser o seu também...

- Porra, olha para onde anda seu cego - mais um apaixonado beijava a apaixonada enquanto virava o carro e quase batia no meu. Tudo para encarar o tráfego da porta do motel.

- Que tal um vinho?

- E tem outra saída.

Acabamos parando o carro num posto de gasolina, compramos uma garrafa de vinho barato e ficamos conversando encostadas no capô. Depois de umas goladas, já estava quase me esquecendo que dia era aquele. Eu e a Betina começamos a falar um monte de bobagens, a lembrar das nossas loucuras e a brindarmos o quanto éramos felizes sozinhas...

- Viva a solteirice!! Eeeee - gritou a Betina no posto

- Eeeeee

Logo, os solteiros de plantão que se embriagavam para esquecer a solteirice se juntaram a nós. Terminamos a noite ali, bêbadas e rodeada de solteiros. Final feliz para uma noite estressante, mas eu tinha apenas 365 dias para arrumar um namorado e garantir que o meu stress do dia 12 não se repetisse.

Papo de Calcinha: Qual foi o pior ou o melhor dia dos namorados da sua vida?

2 comentários:

Anônimo disse...

acho que devemos viver cada momento,como se fosse especial,não devemos ter nemhuma neura em não ter namorado.e daí;
curtir este tempo sozinha pra sair com as amigas,curtir azaração,aproveitar pra nos conhecer melhor.......

Anônimo disse...

Na verdade, nunca encanei com dia dos namorados. É como dia das mães, dia dos pais, das crianças ou até mesmo natal, todos pertencentes a um mesmo dia: o dia do comércio. Nada mais.

Namorados não têm que sair, transar em motel, jantar fora ou serem perdidamente apaixonados somente no dia dos namorados, mas sempre. Por isso mesmo, não deve ser motivo para desgosto dos solteiros! :-)